O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos.

(1ª edição)
(Idioma francês)

NOTAS

Nota IV — (Nº 139)

Algumas pessoas veem, na necessidade de sofrer novamente as tribulações da vida, algo de penoso, e pensam que Deus, em sua justiça, houve por bem encher delas sua medida aqui. Assim, creem que nosso destino é fixado de modo irrevogável após nossa partida da Terra. Parece-nos mais racional, ao contrário, que Deus, em sua justiça, haja deixado aos homens os meios de realizar noutra existência o que nem sempre dependeu deles fazer nesta vida. Convidamos os que não partilham esta opinião a se dignarem, em alma e consciência, de responder às seguintes questões:

Suponhamos que um homem tenha três operários, um trabalhando bem e muito, porque é laborioso e tem experiência de seu ofício; o segundo, pouco e mediocremente, porque ainda não é bastante hábil; o terceiro, quase nada ou mal, porque não passa de um aprendiz. Esse homem deve remunerar os três operários da mesma forma? — Suponhamos que sejais um dos obreiros e que fostes impedido de fazer vossa tarefa por moléstia ou outra causa independente de vossa vontade; acharíeis justo, então, que o patrão vos pusesse na rua? — Que pensaríeis desse patrão se, ao contrário, vos dissesse: Meu amigo, o que não pudestes fazer hoje fá-lo-eis amanhã e reparareis o tempo perdido; não vos demito pelo fato de não haverdes trabalhado tão bem quanto vosso camarada, que tem mais experiência; trabalhai, instruí-vos, recomeçai o que fizestes mal feito e, quando fordes tão hábil quanto ele, eu vos pagarei como a ele?

Credes ter atingido toda a perfeição moral de que o homem é suscetível na Terra? Em outras palavras, acreditais haver pessoas que valham mais que vós, e outras valendo menos? — Entre todos os homens que têm vivido na Terra desde que é habitada, haverá muitos que tenham alcançado a perfeição? — Outros tantos que não puderam alcançar a perfeição por causas independentes de sua vontade, isto é, por lhes ter faltado as condições para serem esclarecidos sobre o bem e o mal? — Se a condição dos homens após a morte é a mesma para todos, qual a necessidade de se fazer o bem, em vez do mal? — Se, ao contrário, essa condição é relativa ao mérito adquirido, acharíeis justo que as criaturas, cuja perfeição não dependeu da vontade delas, fossem privadas para sempre da felicidade futura? — Se admitis que há homens melhores que vós, julgaríeis justo serdes recompensados como eles, sem ter feito igual bem? — Se Deus vos propusesse a seguinte alternativa: ou ver vossa sorte irrevogavelmente fixada após a existência atual, privando-vos assim para sempre da bem-aventurança dos que valem mais que vós, ou poder gozar da felicidade, facultando-vos para isso meios de aprimorar-vos em novas existências, qual das duas escolheríeis? — Se, em presença da eternidade, vísseis diante de vós seres mais bem aquinhoados, não seríeis o primeiro a pedir a Deus que se dignasse de vos permitir recomeçar, a fim de agir melhor?

E assim, por dedução lógica, chegaremos a reconhecer que o dogma da reencarnação é, ao mesmo tempo, mais justo e mais consolador, pois deixa ao homem a esperança. Acha-se, além disso, explicitamente expresso no Evangelho:


Quando desciam da montanha (depois da transfiguração) Jesus lhes ordenou: Não faleis a ninguém do que acabastes de ver, até que o Filho do homem tenha ressuscitado dentre os mortos. Perguntaram-lhe então seus discípulos: Por que dizem os escribas ser necessário que Elias venha primeiro? E Jesus lhes respondeu: É verdade que Elias há de vir e que restabelecerá todas as coisas. Mas, eu vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram; antes fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer nas mãos deles. Então os discípulos compreenderam que era de João Batista que Ele lhes falava (Mateus, 17: 9 a 13).


Se João Batista era Elias, houve, portanto, a reencarnação do Espírito ou da alma de Elias no corpo de João Batista.

O progresso que nos cabe realizar compreende o desenvolvimento de todas as faculdades. Em cada existência nova, seja neste mundo, seja em outro, damos um passo a mais no aperfeiçoamento de algumas dessas faculdades. Precisamos de todos os conhecimentos e de todas as virtudes morais para atingirmos a perfeição, razão pela qual devemos percorrer sucessivamente todas as fases da vida para ganhar experiência em todas as coisas. A vida corpórea não passa de um instante na vida espiritual, que é a vida normal, e nesse breve tempo bem pouco podemos fazer por nosso melhoramento; por isso Deus permitiu que tais instantes se repetissem como os dias na vida terrena. Para os Espíritos, os diferentes mundos são como os diferentes países para o homem terreno; eles os percorrem todos, fixando residência neste ou naquele, conforme lhes permita seu estado, a fim de se instruírem em tudo.

Um homem cuja vida fosse bastante longa para poder passar por todos os graus da escala social, exercer todas as profissões, viver entre todos os povos da Terra, aprofundar todas as artes e todas as ciências, teria, sem sombra de dúvida, conhecimentos e experiência inigualáveis. Pois bem! O que o homem não pode fazer em uma só existência, realizará em tantas existências quantas forem necessárias para isso. É nessas existências que ele aprende o que ignora, que pouco a pouco se aperfeiçoa, se depura e, quando houver percorrido todo o ciclo, gozará a vida eterna e a suprema felicidade no seio de Deus. [Questão 222.]


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