O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano I — Outubro de 1858.

(Idioma francês)

O magnetismo e o sonambulismo ensinados pela Igreja.

Acabamos de ver o magnetismo reconhecido pela Medicina, mas eis uma outra adesão que, sob outro ponto de vista, é de importância não menos capital, visto ser uma prova do enfraquecimento dos preconceitos que as ideias mais sãs fazem desaparecer cada dia: a adesão da Igreja. Temos à vista um pequeno livro intitulado Abrégé en forme de catéchisme [ Resumo em forma de catecismo], do Curso Elementar de Instrução Cristã; para uso dos catecismos e das escolas cristãs, pelo abade Marotte, vigário geral do arcebispado de Verdun; 1853. Esta obra, redigida sob a forma de perguntas e respostas, contém todos os princípios da doutrina cristã sobre o dogma, a História Sagrada, os mandamentos de Deus, os sacramentos, etc. Num de seus capítulos sobre o primeiro mandamento, onde são tratados os pecados que se opõem à religião, e após referir-se à superstição, à magia e aos sortilégios, lemos o seguinte:

P. Que é o magnetismo?

Resposta. – É uma influência recíproca que às vezes se opera entre indivíduos, segundo uma harmonia de relações, seja pela vontade ou pela imaginação, seja pela sensibilidade física, e cujos principais fenômenos são a sonolência, o sonambulismo e um estado convulsivo.


P. Quais são os efeitos do magnetismo?

Resposta. – Diz-se que o magnetismo produz ordinariamente dois efeitos principais: 1º – um estado de sonambulismo no qual o magnetizado, privado inteiramente do uso dos sentidos, vê, ouve, fala e responde a todas as perguntas que lhe são dirigidas; 2º – uma inteligência e um saber que só existem na crise; conhece seu estado, os remédios convenientes às suas doenças, bem assim o que fazem certas pessoas mesmo afastadas.


P. Em consciência, é permitido magnetizar ou se deixar magnetizar?

Resposta. – 1º – Se, para a operação magnética, empregam-se meios, ou se por ela obtêm-se efeitos que supõem uma intervenção diabólica, trata-se de obra supersticiosa e jamais deve ser permitida; 2º – Dá-se o mesmo quando as comunicações magnéticas ofendem a modéstia; 3º – Supondo que se tenha o cuidado de afastar da prática do magnetismo todo abuso, todo perigo para a fé ou para os costumes, todo pacto com o demônio, é duvidoso que a ele seja permitido recorrer, como o fazemos com um remédio natural e útil.


Lamentamos que o autor tenha posto esse corretivo final, em contradição com o que o precede. Realmente, por que não seria permitido o uso de uma coisa reconhecidamente salutar, quando se afastam todos os inconvenientes assinalados em seu ponto de vista? É verdade que ele não exprime uma proibição formal, mas uma simples dúvida sobre a permissão. Seja como for, isto não se encontra num livro erudito, dogmático, somente para uso dos teólogos, mas num livro elementar, para uso dos catecismos; consequentemente, destinado à instrução religiosa das massas; não se trata absolutamente de uma opinião pessoal, mas de uma verdade consagrada e reconhecida que o magnetismo existe, que produz o sonambulismo, que o sonâmbulo goza de faculdades especiais, que no número dessas faculdades está a de ver sem o concurso dos olhos, mesmo a distância, de ouvir sem o auxílio dos ouvidos, de revelar conhecimentos que não possui em estado normal, de indicar remédios salutares. A qualidade do autor é aqui de grande peso. Não é um homem obscuro que fala, um simples padre a emitir sua opinião: trata-se de um vigário-geral que ensina. Nova derrota e nova advertência para os que julgam com muita precipitação.


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