O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Março de 1860.

(Idioma francês)

Boletim

DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS.

(Sexta-feira, 30 de dezembro de 1859. – Sessão particular.)

Lida e aprovada a ata da sessão de 20 de janeiro.

Recebimento de um pedido de admissão. Adiados sua leitura, exame e parecer para a próxima sessão particular.


Comunicações diversas: 1º Carta do Sr. Hinderson Mackenzie, de  Londres,  †  membro da Sociedade Real dos Antiquários, dando detalhes do mais alto interesse sobre o emprego dos globos de cristal ou metálicos como meio de obter comunicações espíritas. É o que usa, com o auxílio de um médium vidente especial, conforme conselho de um de seus amigos que, há trinta e cinco anos, faz as mais completas e concludentes experiências. O médium vê, nessa espécie de espelho, as respostas escritas às perguntas propostas, assim obtendo comunicações muito desenvolvidas e tão rápidas que muitas vezes é difícil acompanhar o médium.


2º Leitura de um artigo do Siècle, de 22 de janeiro de 1860, em que se nota a seguinte passagem: “As mesas falavam giravam e dançavam muito tempo antes da existência da seita americana que pretende ter-lhes dado origem. Esse baile de mesas já era célebre em Roma,  †  nos primeiros séculos de nossa era, e eis como, no capítulo XXIII da Apologética , exprimia-se Tertuliano, ao falar dos médiuns de seu tempo: “Se é dado aos mágicos o poder de fazer com que os fantasmas apareçam, de evocar a alma dos mortos, de forçar a boca das crianças a dar oráculos; se esses charlatães imitam um grande número de milagres, que parecem devidos aos círculos e às correntes que as pessoas formam entre si; se induzem sonhos, se fazem conjurações, se têm às suas ordens Espíritos mentirosos e demônios, pela virtude dos quais as cadeiras e as mesas que profetizam são um fato vulgar, etc.”

Observa-se, a esse respeito, que os espíritas modernos jamais pretenderam ter descoberto ou inventado as manifestações. Ao contrário, têm constantemente proclamado a ancianidade e a universalidade dos fenômenos espíritas, e a própria ancianidade é um argumento em favor da doutrina, demonstrando que ela tem o seu princípio na Natureza e que não resulta de uma combinação sistemática. Os que pretendem opor-lhe tal circunstância, provam que falam sem conhecer-lhe os princípios, pois de outro modo saberiam que o Espiritismo moderno se apoia no fato incontestável de que se encontra em todos os tempos e entre todos os povos.


Estudos: 1º Perguntas sobre o fenômeno dos globos metálicos ou de cristal, como meio de obter comunicações. É respondido que: “A teoria desse fenômeno não pode ainda ser explicada; para sua compreensão faltam certos conhecimentos prévios, que nascerão deles mesmos e decorrerão de observações ulteriores. Ela será dada em tempo oportuno.”

2º Nova evocação de Urbain Grandier, que confirma e completa certos fatos históricos e dá, além disso, sobre o planeta Saturno, explicações que apoiam o que a esse respeito já foi dito.

3º Dois ditados espontâneos são obtidos simultaneamente: o primeiro, de Abelardo, pelo Sr. Roze; o segundo, de João, o Batista, pelo Sr. Colin.

Em seguida, tendo-se pedido a um dos Espíritos sofredores, que havia solicitado o auxílio de preces, para vir comunicar-se espontaneamente, um dos médiuns escreveu o que se segue: “Sede abençoados por terdes consentido em orar pelo ser imundo e inútil que chamastes e que se mostrou ainda tão vergonhosamente ligado às suas riquezas miseráveis. Recebei os sinceros agradecimentos do Père Crépin.”


SEXTA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 1860.
(Sessão Particular.)

A ata da sessão de 27 de janeiro é aprovada. Leitura da lista nominal dos ouvintes que assistiram à última assembleia geral. Nenhum inconveniente assinalado em sua presença.

O Sr. Dr. Gotti, diretor do Instituto Homeopático de Gênova  †  (Piemonte), é admitido como membro correspondente.

Leitura de dois novos pedidos de admissão. Adiados para a próxima sessão particular.


Comunicações diversas: 1º O Sr. Allan Kardec anuncia que uma senhora assinante da província, acaba de enviar-lhe uma soma de dez mil francos, para ser usada em favor do Espiritismo.

Tendo essa senhora recebido uma herança; com a qual não contava, quer que dela participe a Doutrina Espírita, à qual deve supremas consolações e o ser esclarecida sobre as verdadeiras condições de felicidade, nesta e na outra vida. “Vós me fizestes – diz ela em sua carta – compreender o Espiritismo, mostrando-me o seu verdadeiro objetivo; somente ele pôde vencer as dúvidas e incertezas que, para mim, eram fonte de inexprimíveis ansiedades. Eu marchava na vida ao acaso, maldizendo as pedras que encontrava no caminho. Agora vejo claro à minha volta; diante de mim o horizonte se expandiu e caminho com certeza e confiança no futuro, sem me inquietar com os espinhos semeados na estrada. Desejo que este singelo óbolo vos ajude a espalhar sobre os outros a luz benfazeja que me tornou tão feliz. Empregai-o como entenderdes: não quero recibo nem controle. A única coisa que faço questão é do mais estrito incógnito”.

Respeitarei – acrescenta Allan Kardec – o véu da modéstia com o qual essa senhora se quer cobrir e esforçar-me-ei por corresponder às suas generosas intenções. Creio não poder melhor atendê-la senão aplicando essa quantia naquilo que for necessário para a instalação da Sociedade, em condições mais favoráveis para os seus trabalhos.

Um membro exprime o pesar de que o anonimato, guardado por essa senhora, não permita à Sociedade testemunhar-lhe diretamente a sua gratidão.

Responde o Sr. Allan Kardec que, não tendo o donativo nenhuma destinação especial senão o Espiritismo em geral, ele se encarregou de sua guarda em nome de todos os partidários sérios do Espiritismo. Insiste na qualificação de partidários sérios, tendo em vista que não se pode aplicar esse nome aos que, vendo no Espiritismo apenas uma questão de fenômenos e de experiências, não lhe podem compreender as elevadas consequências morais e, o que é pior, dele se aproveitam ou fazem que outros o aproveitem. [Vide também: Testamento em favor do Espiritismo.]

2º O presidente depositou na secretária uma carta lacrada, enviada pelo Dr. Vignal, membro titular, que só deverá ser aberta no fim de março próximo.

3º O Sr. Netz envia um número da Illustration, contendo o relato de uma aparição. O fato será objeto de exame especial.


Estudos: 1º Observações a propósito dos efeitos de visões em certos corpos, tais como vidros, globos de cristal, bolas metálicas, etc., de que se tratou na última sessão. O Sr. Allan Kardec pensa ser necessário que se descarte cuidadosamente o nome de espelhos mágicos, dado vulgarmente a esses objetos. Propõe chamá-los espelhos psíquicos. Na opinião de vários membros, julga a assembleia que a designação de espelhos psicográficos corresponderia melhor à natureza do fenômeno.

2º Evocação do Dr. Vignal, que se ofereceu para um estudo sobre o estado do Espírito das pessoas vivas. Responde com perfeita lucidez às questões que lhe são dirigidas. Dois outros Espíritos, o de Castelnaudary e o do Dr. Cauvière comunicam-se ao mesmo tempo por um outro médium, daí resultando uma troca de observações muito instrutivas. Os médicos terminam cada um por um ditado, que traz a marca das altas capacidades que lhes são conhecidas. (Publicado mais adiante).

3º São obtidos dois outros ditados espontâneos: o primeiro, de São Francisco de Sales, pela Sra. Mallet; o segundo, pelo Sr. Colin, assinado Moisés, Platão e, depois, Juliano.


SEXTA-FEIRA, 10 DE FEVEREIRO DE 1860.
(Sessão Geral.)

Lida e aprovada a ata de 3 de fevereiro.

Carta com pedido de admissão – Decisão adiada para a próxima sessão particular.

Leitura das comunicações recebidas na última sessão.


Comunicações diversas: Comunicações diversas – O Sr. Soive transmite a nota seguinte, indagando se não seria útil que se fizesse uma evocação a respeito: “Um tal Sr. T…, de trinta e cinco anos, residente no Boulevard de l’Hôpital,  †  era perseguido por uma ideia fixa, a de involuntariamente ter matado um de seus amigos numa rixa. Malgrado tudo que se tinha feito para o dissuadir, mostrando-lhe o amigo vivo, ele julgava estar diante de sua sombra. Atormentado pelo remorso de um crime imaginário, asfixiou-se.”

A evocação do Sr. T… será feita, caso haja tempo.


Estudos: 1º Cinco ditados espontâneos são obtidos simultaneamente: o primeiro, pelo Sr. Roze, assinado por Lamennais; o segundo, pela Srta. Eugénie, assinado por Stäel; o terceiro, pelo Sr. Colin, assinado por Fourier; o quarto, pela Srta. Huet, de um Espírito que, diz ele, dar-se-á a conhecer mais tarde e anuncia uma série de comunicações; a quinta, pelo Sr. Didier Filho, assinada por Charlet.

2º Após a leitura do ditado de Fourier, o presidente observa, para a compreensão das pessoas estranhas à Sociedade e que podem não estar a par da sua maneira de proceder, que essa comunicação lhe parece, à primeira vista, susceptível de alguns comentários; que, entre os Espíritos que se manifestam, os há de todos os graus; que suas comunicações são o reflexo de suas ideias pessoais, nem sempre perfeitamente justas; a Sociedade, conforme o conselho que lhe foi dado, as recebe como expressão de uma opinião individual e se reserva o direito de julgá-las, submetendo-as ao controle da lógica e da razão. É essencial que se saiba muito bem que ela não adota como verdadeiro tudo quanto vem dos Espíritos; por suas comunicações o Espírito dá a conhecer o que ele é em bem ou em mal, em ciência ou em ignorância. São para ela assuntos de estudo; aceita o que é bom e rejeita o que é mau.

3º Evocação da Srta. Indermuhle, de Berna,  †  surda-muda de nascimento, de trinta e dois anos, viva. Essa comunicação oferece um grande interesse, do ponto de vista moral e científico, pela sagacidade e precisão das respostas, que nela denotam um Espírito já adiantado.

4º Evocação do Sr. T…, do qual falamos atrás. Dá sinais de grande agitação e quebra vários lápis antes de poder traçar algumas linhas quase ilegíveis. A perturbação de suas ideias é evidente; inicialmente persiste na crença de que matou seu amigo, acabando por convencer-se de que era apenas uma ideia fixa; mas acrescenta que, se não o matou, tinha vontade de fazê-lo, não o fazendo simplesmente por lhe ter faltado coragem. – São Luís dá algumas explicações sobre a situação desse Espírito e as consequências de seu suicídio.

Essa evocação será repetida mais tarde, quando o Espírito estiver mais desprendido.


SEXTA-FEIRA 17 DE FEVEREIRO DE 1860.
(Sessão Particular.)

Lida e aprovada a ata da sessão de 10 de fevereiro.

São admitidos como membros titulares, conforme pedido escrito e parecer favorável: Sra. Regnez, de Paris;  †  Sr. Indermuhle de Wytenbach,  †  de Berna;  †  Sra. Lubrat, de Paris.

Leitura de dois novos pedidos de admissão. – Adiados.

para a próxima sessão particular.

O Sr. Allan Kardec transmite à Sociedade as seguintes observações, a respeito do donativo feito:

Diz ele: “Se a doadora não reclama, no que lhe concerne, nenhuma conta do emprego dos fundos, não devo, para minha própria satisfação, permitir que seu emprego não seja submetido a um controle. Essa soma formará o primeiro fundo de uma Caixa Especial, que nada terá de comum com meus negócios pessoais, e que será objeto de uma contabilidade distinta, sob o nome de Caixa do Espiritismo.

“Essa caixa será aumentada posteriormente pelos fundos que poderão chegar-lhe de outras fontes e destinada exclusivamente às necessidades da doutrina e ao desenvolvimento dos estudos espíritas.

“Um de meus primeiros cuidados será a criação de uma biblioteca especial, e, como já disse, prover a Sociedade daquilo que lhe falta materialmente, para a regularidade de seus trabalhos.

“Pedi a vários colegas que aceitassem o controle dessa caixa e constatassem, em datas que serão ulteriormente determinadas, o emprego útil dos fundos.

“Esta comissão está composta pelos Srs. Solichon, Thiry, Levent, Mialhe, Krafzoff e Sra. Parisse.”

Leitura das comunicações recebidas na última sessão.

Em seguida a Sociedade ocupou-se do exame de várias questões administrativas.


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