O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano III — Setembro de 1860.

(Idioma francês)

Boletim

DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS.

Sexta-feira, 27 de julho de 1860. – (Sessão geral.)

Reunião da comissão.

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 20 de julho.


Comunicações diversas: 1º Relatório da Srta. P… sobre o poema que o Sr. de Pory, de Marselha,  †  enviou à Sociedade, intitulado Linda, legenda gaulesa. A Srta. P… analisa o assunto da obra é reconhece pensamentos de grande elevação, muito bem expressos; mas, salvo as ideias cristãs, em geral nele nada vê, ou vê pouca coisa que tenha relação direta com o Espiritismo. O autor lhe parece mais espiritualista que espírita. Nem por isso, diz ela, sua obra é menos notável, e será lida com interesse pelos amantes da boa poesia.

2º Carta do Sr. X… com uma análise sucinta da doutrina do Sr. Rigolot, de Saint-Étienne.  †  Conforme tal doutrina, o mundo espírita não existe; depois da morte do corpo os Espíritos são imediatamente reunidos a Deus. Somente três Espíritos podem comunicar-se por via mediúnica: Jesus, diretor e protetor de nosso globo; Maria, sua mãe; e Sócrates. Todas as comunicações, qualquer que seja a sua natureza, emanam deles. São os únicos, diz, que a ele se manifestam, e quando lhe ditam coisas grosseiras, pensa que é para o provar.

Trava-se uma discussão a esse respeito, assim resumida:

A Sociedade é unânime em declarar que a razão se recusa a admitir possa o Espírito do bem por excelência, o modelo das mais sublimes virtudes, ditar coisas más, havendo uma espécie de profanação em supor que comunicações de torpezas revoltantes, e até obscenidades, como se vê algumas vezes, possam emanar de uma fonte tão pura. Por outro lado, admitir que todas as almas são imediatamente reunidas a Deus depois da morte, é negar o castigo do culpado, porquanto não se poderia pensar que o seio de Deus, que nos ensinam a olhar como suprema recompensa, seja, ao mesmo tempo, um foco de dor para aquele que viveu mal. Se nessa fusão divina o Espírito perde a individualidade, trata-se de uma variedade do panteísmo. Num e noutro caso, conforme essa doutrina, o culpado não tem nenhum motivo para deter-se no caminho do mal, sendo supérfluos os esforços para praticar o bem. É, pelo menos, o que ressalta dos princípios gerais que parecem formar a sua base.

A Sociedade não conhece bem o sistema do Sr. Rigolot para o julgar em seus detalhes; ignora como ele explica uma porção de fatos patentes: o das aparições, por exemplo; aqueles em que o Espírito de um parente evocado prova materialmente sua identidade. Seria Jesus, então, que simularia tais personagens; seria ainda quem, no fenômeno dos Espíritos batedores, viria bater o tambor ou as árias ritmadas; depois de ter representado o odioso papel de tentador, viria servir de divertimento? Há incompatibilidade moral entre o trivial e o sublime, entre o bem absoluto e o mal absoluto.

O Sr. Rigolot sempre se manteve isolado dos outros espíritas, o que é um erro. Para bem conhecer uma coisa é preciso ver tudo, aprofundar tudo, comparar todas as opiniões, ouvir os prós e os contras, escutar todas as objeções e, finalmente, só aceitar o que a lógica mais severa pode admitir. É o que incessantemente recomendam os Espíritos que nos dirigem, e é por isso que a Sociedade tomou o nome de Sociedade de Estudos, nome que implica a ideia de exame e de pesquisas. É lícito pensar que o Sr. Rigolot, caso tivesse seguido este passo, teria reconhecido em sua teoria pontos em notória contradição com os fatos. Seu afastamento dos outros espíritas não lhe permite ver senão comunicações de uma só natureza e naturalmente o impede de enxergar o que poderia esclarecê-lo sobre sua insuficiência para resolver todas as questões. É o que se constata na maior parte dos médiuns que se isolam, os quais se encontram na condição daqueles que, ouvindo apenas um sino, não ouvem senão um som.

Tal é a impressão que a Sociedade experimenta a respeito dessa doutrina, que lhe parece impotente para explicar a razão de todos os fatos.

3º Menção a uma carta do Dr. Morhéry, com novos detalhes sobre a Srta. Godu e a continuação de suas observações sobre as curas obtidas; e a uma outra do Dr. de Grand-Boulogne, sobre o papel dos Espíritos batedores. Tendo em vista sua extensão, a leitura foi adiada para a próxima sessão.

4º O Sr. Allan Kardec relata um fato interessante ocorrido em sua casa, numa sessão particular. Nessa sessão estava presente o Sr. Rabache, excelente médium, pelo qual Adam Smith se havia espontaneamente comunicado num café de Londres. Tendo sido evocado através de outro médium – a Sra. Costel – Adam Smith respondeu simultaneamente, em francês, por essa senhora, e em inglês pelo Sr. Rabache; várias respostas eram de uma identidade perfeita e até mesmo a tradução literal uma da outra.

Relato de várias manifestações físicas ocorridas com o Sr. B…, presente à sessão. Entre outros fatos, o do transporte de uma rolha atirada num quarto, e o de um frasco de água fluidificada, que tinha tão forte odor de almíscar que impregnou todo o apartamento.


Estudos. 1º Evocação do muçulmano Seid-ben-Moloka, falecido em Tunis  †  com 110 anos, cuja vida foi marcada por atos de beneficência e generosidade. Suas respostas revelam um Espírito elevado, embora, durante a vida, não estivesse isento dos preconceitos de seita.

Dois ditados espontâneos são obtidos, o primeiro pelo Sr. Didier Filho, sobre a consciência, assinado por Lamennais; o segundo pela Sra. Lub…, sobre conselhos diversos, assinado por Paul.


SEXTA-FEIRA, 3 DE AGOSTO DE 1860.
(Sessão Particular.)

Reunião da comissão.

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 27 de julho.

Leitura de uma carta do Sr. Darcol, através da qual propõe à Sociedade fazer uma subscrição para os cristãos da Síria. Fundamenta a proposta nos princípios de humanidade, de caridade  e de tolerância, que são a própria essência do Espiritismo e devem guiar a Sociedade.

Examinando a proposta e fazendo justiça às boas intenções do Sr. D…, a comissão pensa que a Sociedade deve abster-se de qualquer manifestação estranha ao objetivo de seus estudos e que deve deixar cada membro livre para agir individualmente.

A Sociedade não enxerga nessa atitude nada que possa ser visto com maus olhos; muito ao contrário. Mas, considerando-se a ausência da maior parte dos sócios, em razão da temporada, adia o exame da proposta para a volta.

Por sugestão do comitê, a Sociedade resolve tirar férias no mês de setembro.


Comunicações diversas: 1º Carta do Dr. Morhéry.

2º Carta do Sr. Indermuhle, membro da Sociedade, falando da boa aceitação das ideias espíritas, encontrada entre gente da classe rural. A propósito, cita um opúsculo alemão, intitulado Die Ewigkeit kein geheimniss mehr (Não há mais segredos sobre a eternidade) e que se propõe enviar à Sociedade.

3º Carta do Dr. de Grand-Boulogne sobre as manifestações físicas como meio de convicção. Pensa ele que seria erro considerar todos os Espíritos batedores como pertencendo a uma ordem inferior, já que ele mesmo obteve, através de batidas, comunicações de ordem bastante elevada.

O Sr. Allan Kardec responde que a tiptologia é um meio de comunicação como qualquer outro, do qual podem servir-se os mais elevados Espíritos, quando não dispõem de outro mais rápido. Nem todos os Espíritos que se comunicam por batidas são Espíritos batedores, e a maioria deles repudia tal qualificação, que só convém àqueles que chamamos batedores profissionais. Repugna ao bom-senso acreditar que Espíritos superiores venham passar o tempo divertindo uma reunião com demonstrações de habilidades. Quanto às manifestações físicas propriamente ditas, jamais contestou sua utilidade, mas persiste na opinião de que, por si sós, são impotentes para levar à convicção. Ainda mais, diz ele, quanto mais extraordinários os fatos, mais excitam a incredulidade. O que é necessário, antes de tudo, é compreender o princípio dos fenômenos. Para aquele que o conhece, eles nada têm de sobrenatural e vêm apoiar a teoria.

O Sr. de Grand-Boulogne diz que a carta que acabam de ler é um pouco antiga e que, depois, suas ideias se modificaram sensivelmente. Ele partilha inteiramente a opinião do Sr. Allan Kardec, tendo-lhe a experiência demonstrado quanto é útil compreender o princípio antes de ver. Assim, não admite em sua casa senão as pessoas que já se deram conta da teoria, evitando, desse modo, uma porção de questões ociosas e objeções. Reconhece ter feito mais prosélitos por esse sistema do que pela exibição de fatos que não são compreendidos.


Estudos: 1º Evocação de James Coyle, alienado, morto com 106 anos, no hospital Saint-Patrick, de Dublin,  †  onde se encontrava desde o ano de 1802. A evocação oferece um interessante assunto para estudo sobre o estado do Espírito na alienação mental.

2º Apelo, sem evocação especial, aos Espíritos que reclamaram assistência. Dois se manifestam espontaneamente: a Grande Françoise e o Espírito de Castelnaudary, agradecendo aos que oraram por eles.

3º Um ditado espontâneo é obtido pelo Sr. D …, assinado pela Irmã Jeanne, uma das vítimas dos massacres da Síria.


SEXTA-FEIRA, 10 DE AGOSTO DE 1860.
(Sessão Geral.)

Reunião do comitê.

Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.

O Sr. Allan Kardec anuncia que uma senhora, membro da Sociedade, lhe confiou 10 francos para sua subscrição em benefício dos cristãos da Síria, ou qualquer outra obra de caridade à qual julgue por bem aplicá-los.


Comunicações diversas: 1º Carta do Sr. Jobard, de Bruxelas,  †  sobre Thilorier, do qual foi amigo, e que foi evocado a 15 de junho de 1860. Dá interessantes detalhes sobre sua descoberta, sua vida e seus hábitos, retificando várias asserções contidas na nota publicada a seu respeito no jornal Patrie. Entre outras particularidades conta como a audição lhe foi restabelecida pelo magnetismo. (Publicada adiante) .

2º O Sr. B…, ouvinte estrangeiro, narra diversos casos de manifestações físicas espontâneas ocorridas com um de seus amigos. Não podendo este comparecer à sessão, o próprio Sr. B… relatará os fatos com mais detalhes, posteriormente.


Estudos: 1º Perguntas diversas e problemas morais dirigidos a São Luís, a respeito da morte de Jean Luizerolle, condenado no lugar do filho, em 1793, devotando-se a ele para salvar-lhe a vida.

2º Evocação de Alfred de Marignac, que deu ao Sr. Darcol uma comunicação sobre a penúria, assinada por Bossuet.

3º Evocação de Bossuet a esse respeito e várias outras perguntas. Termina por uma dissertação espontânea sobre o perigo das querelas religiosas.

4º Evocação da Irmã Jeanne, vítima dos massacres da Síria, que comparecera espontaneamente na última sessão e havia pedido para ser chamada novamente.

5º Apelo a um dos Espíritos sofredores que reclamam assistência. Um Espírito novo se apresenta sob o nome de Fortuné Privat, e dá detalhes sobre sua situação e as penas que sofre. Esta comunicação suscita inúmeras explicações interessantes sobre o estado dos Espíritos infelizes.

6º Ditado espontâneo sobre o nada da vida, assinado por Sophie Smetchine, recebido pela Srta. Huet.


SEXTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 1860.
(Sessão Particular.)

Reunião da comissão.

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 10 de agosto.

Por sugestão da comissão, e após a leitura da ata, a Sociedade admite como sócio livre o Sr. Jules R…, de Bruxelas, domiciliado em Paris.


Comunicações diversas: 1º Numa carta da Condessa D…, de Milão,  †  dirigida ao Sr. Allan Kardec, encontra-se a seguinte passagem: “Ultimamente, folheando velhas revistas de Paris, encontrei uma historieta de um maravilhoso escritor, Charles Nodier, tendo por título: Lídia ou a ressurreição. Achei-me em plena Revista Espírita; é uma intuição de O Livro dos Espíritos, embora escrita em 1839. Nodier era um crente? Naquela época já se falava de Espiritismo? Se pudesse, gostaria muito de evocá-lo; era um coração puro e uma alma apaixonada. Evocai-o, por favor, vós que podeis tanto! Se, encarnado, sua moral era tão suave e tão atraente, o que não será agora, quando seu Espírito se acha completamente desprendido da matéria?”

Há muito tempo a Sociedade deseja evocar Charles Nodier. Fá-lo-á na presente sessão.

2º Leitura de duas dissertações obtidas pelo Dr. de Grand-Boulogne, assinadas por Zénon; a primeira, sobre a dúvida suscitada quanto à identidade de Bossuet, na sessão anterior; a segunda sobre a reencarnação, cuja necessidade o Espírito demonstra, do ponto de vista moral, e sua concordância com as ideias religiosas.

3º Leitura de duas comunicações recebidas pela Sra. Costel, assinadas por Georges; a primeira, sobre o progresso dos Espíritos; a segunda, sobre o despertar do Espírito.

4º Leitura da evocação de Luís XIV feita pela Srta. Huet, e de um ditado espontâneo, obtido pela mesma, sobre o proveito a tirar dos conselhos dos Espíritos, assinado por Marie, Espírito familiar.


Estudos: 1º Recorda o Sr. Ledoyen que há tempos São Luís tinha começado uma série de dissertações sobre os pecados capitais. Pergunta se ele gostaria de continuar esse trabalho.

São Luís responde que o fará de boa vontade e que da próxima vez falará sobre a Inveja, pois a hora está muito avançada para fazê-lo naquela mesma noite.

2º Perguntam a São Luís se, na próxima sessão, poderão chamar novamente a rainha de Oude, já evocada em janeiro de 1858, a fim de julgar dos progressos que ela poderia ter feito. Ele responde: “Seríeis inspirados pela caridade se a evocásseis e se lhe falásseis amigavelmente, ao mesmo tempo instruindo-a um pouco, pois ainda está muito atrasada”.

3º Evocação de Charles Nodier. Depois de ter respondido, com extrema benevolência, às perguntas que lhe foram feitas, promete começar um trabalho contínuo na próxima sessão.

4º Ditado espontâneo, obtido pelo Sr. Didier, sobre a hipocrisia, assinado por Lamennais. Em seguida, o Espírito responde a várias perguntas sobre a sua situação e o caráter que se reflete em suas comunicações.


SEXTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO DE 1860.
(Sessão Geral.)

Reunião do comitê.

Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.

O presidente procede à leitura da seguinte instrução, concernente às pessoas estranhas à Sociedade, a fim de preveni-las contra as falsas ideias que poderiam formar quanto aos objetivos de seus trabalhos.

“Julgamos dever lembrar às pessoas estranhas à Sociedade, e que não estejam ao corrente dos nossos trabalhos, que não fazemos nenhuma experiência, e que elas se enganariam se pensassem encontrar aqui assuntos para distração. Ocupamo-nos seriamente de coisas muito sérias, mas pouco interessantes e pouco inteligíveis para quem quer que seja estranho à ciência espírita. Como a presença de tais pessoas seria inútil para elas mesmas e, para nós, uma causa de perturbação, nós nos recusamos a admitir as que não possuem, ao menos, os seus primeiros elementos e, sobretudo, as que a ela não sejam simpáticas. Antes de tudo somos uma Sociedade científica de estudos, e não uma Sociedade de ensino; jamais convocamos o público porque sabemos, por experiência, que a convicção só se forma por uma longa série de observações e não por ter assistido a algumas sessões, que não apresentam nenhuma sequência metódica. Eis por que não fazemos demonstrações que, devendo recomeçar cada vez, paralisariam nossos trabalhos. Se, apesar disso, aqui se encontrassem pessoas que só fossem atraídas pela curiosidade, ou que não partilhassem nossa maneira de ver, nós lhes pediríamos se lembrassem de que não as convidamos e que esperamos de sua dignidade o respeito às nossas convicções, como respeitamos as suas. Não pedimos de sua parte senão silêncio e recolhimento. Sendo o recolhimento uma das mais expressas recomendações dos Espíritos que desejam comunicar-se conosco, exortamos insistentemente as pessoas presentes a que se abstenham de qualquer conversação particular.”

Decidiu a comissão que, embora haja uma 5ª sexta-feira no dia 31 deste mês, a de hoje, 24, será a última sessão antes das férias, e que a próxima será na primeira sexta-feira de outubro.

A comissão tomou conhecimento de uma carta com pedido de admissão como sócio livre, do Sr. B…, de Paris; mas, tendo em vista que a sessão do dia é geral, o exame fica adiado para depois das férias.


Comunicações diversas: 1º Leitura da evocação particular, feita pelo Sr. Jules Rob…, de Père Leroy, falecido ultimamente em Beirute. A evocação é notável pela elevação dos pensamentos do Espírito, que em nada desmente o belo caráter de que deu provas em vida, e que é o de um verdadeiro cristão. Ele externa o desejo de ser evocado na Sociedade.

2º Leitura de um ditado espontâneo, recebido pelo Sr. Darcol, sobre os médiuns, assinado por Salles. Obtida na última sessão, essa comunicação não pôde ser lida, porque dela não se havia tomado conhecimento prévio, formalidade que o regulamento prescreve imperiosamente.

3º Outro ditado espontâneo, recebido pela Sra. de B… sobre a Caridade moral, assinado pela Irmã Rosália.

4º Dois outros ditados espontâneos, obtidos pela Sra. Costel, um sobre as várias categorias de Espíritos errantes, e o outro sobre os castigos, assinados por Georges. Estas duas comunicações podem ser classificadas entre as mais notáveis, pela sublimidade dos pensamentos, a verdade dos quadros e a eloquência do estilo. (Serão publicadas, assim como as outras comunicações mais importantes).

O presidente faz observar que a Sociedade é necessariamente limitada pelo tempo, mas que tudo quanto os membros recebem em particular, desde que o queiram trazer, deve ser considerado como um complemento de seus trabalhos. Não deve considerar como dela fazendo parte apenas o que obtém em suas sessões, mas, igualmente, tudo quanto lhe vem de fora e pode servir para a sua instrução. Ela é o centro para onde convergem os estudos particulares para o bem de todos; examina-os, comenta-os e os aproveita, se for o caso. Para os médiuns, é um meio de controle que, esclarecendo-os quanto à natureza das comunicações que recebem, pode preservá-los de mais de um engano. Aliás, muitas vezes os Espíritos preferem comunicar-se na intimidade, onde necessariamente há mais recolhimento que nas reuniões numerosas, pelos instrumentos de sua escolha, nos momentos que lhes convêm e em circunstâncias que nem sempre nos é dado apreciar. Concentrando essas comunicações, cada um aproveita todas as vantagens que elas podem oferecer.


Estudos: 1º Perguntas dirigidas à São Luís sobre o Espírito Georges. Quando vivo ele era pintor e professor de desenho da pessoa que lhe serve de médium. Sua vida não oferece nenhuma particularidade relevante, a não ser que sempre foi bom e benevolente. Suas comunicações, como Espírito, trazem um selo de tal superioridade que se desejou saber a posição por ele ocupada no mundo dos Espíritos. São Luís responde:

“Ele foi um Espírito justo na Terra; toda sua grandeza consiste na bondade, na caridade e na fé em Deus, que professava. Assim, hoje, encontra-se colocado entre os Espíritos superiores.”

2º Evocação de Charles Nodier, pela Srta. Huet. Ele começa o trabalho prometido na última sessão.

3º Evocação do Père Leroy. Como deixara livre a escolha do médium, preferiu-se não utilizar aquele de que se serviu pela primeira vez, a fim de afastar qualquer influência e poder melhor julgar da identidade por suas respostas. Elas estão em todos os pontos de acordo com os pensamentos antes expressos e dignos de um Espírito elevado. Ele termina por conselhos da mais alta sabedoria, nos quais se revelam, simultaneamente, a humildade do cristão, a tolerância da caridade evangélica e a superioridade da inteligência.

4º Evocação da rainha de Oude, já evocada em janeiro de 1858 (ver a Revista de março de 1858). Médium: Sr. Jules Rob… Nota-se nela uma leve disposição para progredir, mas o fundo de seu caráter sofreu pouca mudança.


Observação. – Entre os assistentes achava-se uma senhora que durante muito tempo residiu na Índia e a conheceu pessoalmente. Diz que todas as respostas são perfeitamente conformes com o seu caráter e que é impossível não reconhecer nelas uma prova de identidade.


5º Três ditados espontâneos são obtidos: o primeiro pela Srta. Huet, sobre a Inveja, assinado por São Luís; o segundo pelo Sr. Didier, sobre o pecado original, assinado por Ronsard; e o terceiro pela Srta. Stéphanie, assinado por Gustave Lenormand.

Durante as últimas comunicações, a Srta. L. J…, médium desenhista, recebeu dois grupos, assinados por Jules Romain.  † 

Em seguida a alguns belos pensamentos escritos por um Espírito que não os assina, outro Espírito, que já se manifestou pela Srta. L. J…, interfere na comunicação, fazendo quebrar os lápis e riscando traços que denotam sentimentos de cólera. Ao mesmo tempo comunica-se com o Sr. Jules Rob…, respondendo laconicamente e com altivez às questões que lhe são dirigidas.

É o Espírito de um soberano estrangeiro, conhecido pela violência de seu caráter. Convidado a assinar o nome, ele o faz de duas maneiras. Um dos assistentes, ligado ao governo de seu país, cujas funções lhe deram ensejo de ver muito a sua assinatura, numa reconhece a de documentos oficiais, e na outra a das cartas particulares.

Encerrada a sessão geral, os Senhores membros da Sociedade são convidados a permanecer por mais alguns instantes para uma comunicação.

Numa alocução muito calorosa, o Sr. Sanson expressa o reconhecimento que deve ao Espírito de São Luís, por sua intervenção na cura de um mal na perna que havia resistido a todos os tratamentos e deveria levar à amputação. É, diz ele, ao conhecimento do Espiritismo que deve sua cura, verdadeiramente miraculosa, pela confiança que teve na bondade e no poder de Deus, com o que antes pouco se preocupava. E como deve à Sociedade o ter sido iniciado nas verdades que ela ensina, ele a inclui nos seus agradecimentos. Desde então, todos os anos, oferece ao Espírito de São Luís, no dia que lhe é consagrado, um buquê de flores, em memória do favor de que foi objeto; e é essa homenagem que ele renova hoje, 24 de agosto, véspera de São Luís.

A Sociedade se associa ao testemunho de gratidão do Sr. Sanson. Ela agradece a São Luís a benevolência que tem merecido de sua parte e lhe pede continuar fazendo jus à sua proteção. São Luís responde:

“Sinto-me feliz, triplamente feliz, meus amados irmãos, pelo que vejo e ouço esta noite. Vossa emoção e reconhecimento ainda são a melhor homenagem que possais dirigir-me. Que o Deus de bondade vos conserve estes bons e piedosos sentimentos! Continuarei a velar por uma Sociedade unida pelos sentimentos de caridade e de verdadeira fraternidade.”

Luís.


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