O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IV — Novembro de 1861.

(Idioma francês)

Reunião geral dos espíritas bordeleses.

14 DE OUTUBRO DE 1861.

DISCURSO DO SR. SABÔ.

Senhoras, Senhores,

Rendamos a Deus a sincera homenagem do nosso reconhecimento, por haver lançado sobre nós um olhar paternal e benevolente, concedendo-nos o precioso favor de receber os ensinamentos dos bons Espíritos que, por sua ordem, vêm diariamente ajudar-nos a discernir a verdade do erro, dar-nos a certeza de uma felicidade futura, mostrar-nos que a punição é proporcional à ofensa, mas não eterna, e fazer-nos compreender esta justa e equitativa lei da reencarnação, pedra angular do edifício espírita, que serve para a nossa purificação e para nos fazer progredir em direção ao bem.

Eu disse reencarnação! Mas, para tornar essa palavra mais compreensível, cedemos um instante a palavra a um dos nossos guias espirituais, que se prontificou, para nossa instrução espírita, a desenvolver em algumas palavras este tão grave e interessante assunto para a nossa pobre Humanidade.

Diz ele: “A reencarnação é o inferno; a reencarnação é o purgatório; a reencarnação é a expiação; a reencarnação é o progresso. É, enfim, a santa escada, pela qual devem subir todos os homens; seus degraus são as fases das diversas existências a percorrer para atingir o topo, pois Deus disse: Para chegar a ele é preciso nascer, morrer e renascer até que se tenha alcançado os limites da perfeição, e ninguém chega a Ele sem ter sido purificado pela reencarnação.”

Ainda neófito na ciência espírita, só dispúnhamos do zelo e da boa vontade para divulgá-la. Deus se contentou com isto e abençoou nossos frágeis esforços, fazendo germinar no coração de alguns de nossos irmãos de Bordeaux a semente da palavra divina.

Com efeito, desde o mês de janeiro nos ocupamos da ciência prática e vimos ligar-se a nós um certo número de irmãos que dela se ocupavam isoladamente; outros que ouviram falar pela voz da imprensa ou pela fama, essa trombeta retumbante que se encarregou de anunciar, em todos os pontos da nossa cidade, o aparecimento desta fé consoladora, testemunha irrecusável da bondade de Deus para com os seus filhos.

Não obstante as dificuldades encontradas no caminho, fortalecidos pela pureza e retidão de nossas convicções, sustentados pelos conselhos de nosso amado e venerado chefe Sr. Allan Kardec, tivemos a grata satisfação, após nove meses de apostolado, com o auxílio de alguns dos nossos irmãos, de poder reunir-nos hoje, sob suas vistas, para a inauguração desta Sociedade que, assim o espero, continuará a dar frutos em abundância e se espalhará como orvalho benfazejo sobre os corações dessecados pelo materialismo, endurecidos pelo egoísmo, intumescidos pelo orgulho, e levará o bálsamo da resignação aos aflitos e sofredores, aos pobres e aos deserdados dos bens terrestres, dizendo-lhes: “Confiança e coragem; as provas terrenas são curtas, comparativamente à eterna felicidade que Deus vos reserva, em recompensa de vossas lutas e sofrimento aqui embaixo.”

Sim, confesso em alto e bom som, estou feliz por ser o intérprete de um grande número de membros da Sociedade Espírita de Bordeaux, protestando nossa fidelidade em seguir a rota traçada pelo nosso caro missionário, aqui presente, pois compreendemos que, para ser seguro, o progresso não se faz senão gradativamente, e que, combatendo fortemente certas ideias recebidas há séculos, adiaríamos o momento de nossa emancipação espiritual. É possível que haja entre nós opiniões divergentes a este respeito; nós as respeitamos. Por nós, marchemos pouco a pouco, seguindo esta máxima da sabedoria das nações: que va piano va sanon Talvez cheguemos mais tarde, mas chegaremos mais seguros, porque não teremos rompido com a fé de nossos ancestrais, sempre sagrada para nós, seja ela qual for. Sirvamo-nos da luz do Espiritismo, não para abater, mas para nos melhorarmos, para progredirmos. Suportando com coragem e resignação as vicissitudes desta vida, onde estamos de passagem, mereceremos o favor de sermos conduzidos ao fim de nossas provas, pelos Espíritos do Senhor, para desfrutar da imortalidade para a qual fomos criados.

Permiti, caro mestre, que em nome dos membros desta Sociedade, que vos cercam, eu vos agradeça a honra que lhes destes, vindo pessoalmente inaugurar esta reunião familiar, que é uma festa para todos nós, e que sem dúvida marcará ponto nos fastos do Espiritismo. Recebei, igualmente, neste dia que ficará gravado em nossos corações e de maneira muito particular, a expressão muito sincera do nosso vivo reconhecimento pela bondade paternal com que encorajastes os nossos frágeis trabalhos. Fostes vós que nos traçastes a rota e nos sentimos felizes por vos seguir, previamente convencidos de que vossa missão é fazer marchar o progresso espiritual em nossa bela França, a qual, por sua vez, impulsionará as demais nações da Terra de modo a permitir, pelo progresso intelectual e moral, que elas cheguem pouco a pouco à felicidade.



[1] N. do T.: A frase ficará perfeita se substituirmos o vocábulo que (francês) por chi (italiano).


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