O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano V — Janeiro de 1862.

(Idioma francês)

Testamento em favor do Espiritismo.

Ao Sr. Allan Kardec, presidente da Sociedade Espírita de Paris.  † 

Meu caro senhor e muito honrado chefe espírita,

Estou anexando meu testamento hológrafo,  †  em envelope lacrado em cera verde, com orientação do que deverá ser feito após a minha morte. Desde o momento em que conheci e compreendi o Espiritismo, seu objetivo, sua meta final, tive a ideia e tomei a resolução de fazer meu testamento. Tinha programado neste inverno, depois de minha volta do campo, esta obra de minhas últimas vontades. No lazer e na solidão do campo pude recolher-me e, à luz desse divino facho do Espiritismo, aproveitei todos os ensinamentos que recebi, sob todos os pontos de vista, dos Espíritos do Senhor, para me guiar no cumprimento desta obra da maneira mais útil aos meus irmãos da Terra, quer sentados no meu lar doméstico, quer à minha volta ou longe de mim, conhecidos e desconhecidos, amigos ou inimigos, e da maneira mais agradável a Deus. Lembrei-me do que esse respeitável Sr. Jobard, de Bruxelas,  †  cuja morte súbita nos anunciastes, vos escrevia, na sua linguagem profunda e, ao mesmo tempo, divertida e espirituosa, relativamente a uma sucessão de vinte milhões, dos quais se dizia espoliado: que esta soma colossal teria sido uma alavanca poderosa para ativar de um século a nova era que se inicia. O dinheiro, que muitas vezes e do ponto de vista terreno dizem ser o ponto nevrálgico das batalhas, é, com efeito, o mais temível, o mais poderoso instrumento, tanto para o bem quanto para o mal aqui na Terra. Então eu disse a mim mesmo: “Posso e devo consagrar a essa nova era uma notável porção do modesto patrimônio que adquiri para a realização de minhas provas, com o suor de meu rosto, à custa de minha saúde, através da pobreza, da fadiga, do estudo e do trabalho, durante trinta anos de vida militante de advogado, um dos mais ocupados nas audiências e no escritório.

Reli a carta de 1º de novembro de 1832 que, depois de sua viagem a Roma,  †  Lamennais escreveu à Condessa de Senfft [Vide a carta nas Oeuvres posthumes de F. Lamennais, par Félicité Robert de Lamennais - Google Books,] e na qual, expressando sua decepção após tantos esforços e tantas lutas consagrados à procura da verdade, encontrei estas palavras, se não proféticas, pelo menos inspiradas, anunciando esta era nova.


(Seguem-se várias citações, que a falta de espaço não nos permite reproduzir.)


O envelope contém o seguinte sobrescrito:

“Dentro deste envelope, lacrado com cera verde, está meu testamento hológrafo. O envelope só deverá ser aberto e o selo quebrado após a minha morte, durante sessão geral da Sociedade Espírita de Paris. Nessa sessão será feita a leitura integral do testamento, pelo presidente da Sociedade que estiver em exercício naquela ocasião. O dito envelope e o selo mencionado serão rompidos pelo presidente. O presente envelope selado, contendo o meu testamento e que vai ser entregue ao Sr. Allan Kardec, atual presidente da dita sociedade, será por ele guardado nos arquivos da referida Sociedade. Um original desse mesmo testamento será encontrado, na época de minha morte, na sala de estudo da Sra.***; um outro original será, na mesma época, encontrado em minha casa. O depósito ao Sr. Allan Kardec é mencionado nos outros originais.”

Tendo sido a carta comunicada à Sociedade Espírita de Paris, em sua sessão de 20 de dezembro de 1861, seu presidente, o Sr. Allan Kardec, foi encarregado de agradecer, em nome da sociedade, às generosas intenções do testador em favor do Espiritismo, e de o felicitar pela maneira por que compreende a sua finalidade e o seu alcance.

Embora o autor da carta não tenha recomendado omitir seu nome, caso se julgasse conveniente publicá-la, compreende-se que, em tais circunstâncias e num ato dessa natureza, a mais absoluta reserva é uma obrigação rigorosa.


Nota. – Adiamos para o próximo número a publicação de diversas evocações e dissertações espíritas de grande interesse.


Allan Kardec.



Paris. — Typ. de Cosson et Ce rue du Four-St-Germain, 43.  † 


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