O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano V — Outubro de 1862.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


A razão e o sobrenatural.

(Sociedade Espírita de Paris.  †  – Médium: Sr. A. Didier.)

O homem é limitado em sua inteligência e em suas sensações. Não podendo compreender além de certos limites, pronuncia, então, a palavra sacramental, que põe fim a tudo: Sobrenatural.

Na ciência nova que estudais, o vocábulo sobrenatural é palavra convencional: existe para nada exprimir. Efetivamente, o que significa? Fora da Natureza; além do que é conhecido. Nada mais insensato; nada mais absurdo do que aplicá-la a tudo que está fora de nós. Para o homem que raciocina a palavra sobrenatural não é definitiva; é vaga e faz pressentir. Conhece-se a frase banal do incrédulo por ignorância: “É sobrenatural. Ora, a razão, etc., etc.” O que é a razão? Ah! quando a Natureza, alargando-se e agindo como soberana, nos mostra tesouros desconhecidos, a razão, nesse sentido, se torna irracional e absurda, pois persiste, malgrado os fatos. Ora, se há um fato, é que a Natureza o permite. Certamente a Natureza tem, para nós, algumas manifestações sublimes, mas muito restritas, se entrarmos no domínio do desconhecido. Ah! quereis explorar a Natureza; quereis conhecer a causa das coisas, causa rerum, e julgais desnecessário pôr de lado vossa razão banal? Mas estais brincando, senhores. O que é a razão humana, senão a maneira de pensar do vosso mundo? Correis de planeta a planeta e pensais que a razão vos deve acompanhar? Não, senhores; a única razão que deveis ter em meio a todos esses fenômenos é o sangue-frio e a observação quanto a esse ponto de vista, e não do ponto de vista da incredulidade.

Ultimamente temos abordado questões muito graves, como vos lembrais. Mas, no bojo do que dizíamos, não concluímos que todo o mal vem dos homens. Depois de muitas lutas, de muitas discussões chegam também os bons pensamentos, uma nova fé e esperanças novas. Como vos disse há pouco, o Espiritismo é a luz que deve iluminar, doravante, toda inteligência dedicada ao progresso. A prece será o único dogma e a prática exclusiva do Espiritismo, isto é, a harmonia e a simplicidade. A arte será nova, porque secundada pelas ideias novas. Pensai que toda obra inspirada por uma ideia filosófico-religiosa é sempre manifestação poderosa e sã; o Cristo será sempre a Humanidade, mas não a Humanidade sofredora: será a Humanidade triunfante.


Lamennais. n


Allan Kardec.



Paris. — Typ. de Cosson et Ce rue du Four-St-Germain, 43.  † 


[1] [v. Lamennais.]


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