O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VII — Julho de 1864.

(Idioma francês)

Extrato da Revista Espírita de Antuérpia.  † 

Sobre a cruzada contra o Espiritismo.
(Número de junho de 1863.)

“Decididamente o Espiritismo é uma coisa horrível porque jamais a Ciência, nem doutrina herética, nem o próprio ateísmo levantaram contra eles tão forte comoção no seio da Igreja, como o fez o Espiritismo. Todos os recursos imagináveis, leais ou não, foram postos em jogo, a princípio para o abafar e depois, quando demonstrada a impossibilidade de o destruir, para o desnaturar e o apresentar sobre o negro aspecto de pecados. Pobre Espiritismo! Ele só pedia um lugarzinho ao sol para fazer que o mundo gozasse, gratuitamente, de seus benefícios; não pedia a essas criaturas que, na qualidade de supostos discípulos do Cristo, do Homem-amor, presumem trazer a palavra caridade inscrita em letras brilhantes sobre suas vestes eclesiásticas; não lhes pedia senão conduzir ao bom caminho esses milhares de ovelhas que eles tinham sido incapazes de conservar; só lhes pedia o poder de secundá-los em sua obra de devotamento, curando por uma esperança legítima os pobres corações corroídos pela gangrena da dúvida, e esse pedido tão desinteressado, de intenção tão pura, foi respondido por um decreto de proscrição! Realmente veem-se coisas estranhas neste mundo: os mensageiros oficiais da caridade condenam às penas eternas mais de nove décimos dos homens, porque escapam à sua influência, e condenam mais profundamente ainda os que querem salvar aqueles infelizes!

“Assim, sem a menor dúvida, o Espiritismo é algo muito culpável, tamanha é a maneira por que é combatido; mas é de causar admiração que uma doutrina tão perversa tenha caminhado tanto em tão curto lapso de tempo. Mas o que parece ainda mais notável é que esse abominável Espiritismo se tenha estabelecido tão solidamente e seja tão lógico; que todos os argumentos que lhe opõem, longe de o destruir e o reduzir a nada, longe mesmo de o abalar, ao contrário, todos vêm contribuir, por sua inanidade e manifesta impotência, para a sua propagação e solidificação. Com efeito, é pelos entraves que lhe quiseram suscitar que ele deve, em notável parte, a rapidez de sua extensão, não tendo sido desprezível o auxílio prestado pelas prédicas desenfreadas de certos adversários para a sua generalização. É assim na ordem das coisas: a verdade nada tem a temer de seus detratores e são esses mesmos que involuntariamente contribuem para fazê-la triunfar. O Espiritismo é um imenso foco de calor e de luz, e quem soprar sobre esse braseiro, além de se queimar um pouco, não consegue outro resultado senão o reavivar ainda mais.

“Entretanto, pastorais e conferências parecem insuficientes para aniquilar o Espiritismo — e estamos longe de negar essa influência patente. Assim, a Congregação romana acaba de pôr no Índex todos os livros do Sr. Allan Kardec [v. O Índex da Cúria Romana], livros que contêm o ensino universal dos Espíritos, aos quais todos nós, espíritas, estamos ligados. Que nos permitam fazer a respeito as duas reflexões seguintes: Os livros espíritas em questão encerram, em toda a sua pureza e com os desenvolvimentos que exige o estado atual do espírito humano, os ensinos e preceitos de Jesus, em quem os Espíritos reconhecem um Messias. Condenar esses livros e pô-los no Índex não é condenar as palavras do Cristo e, de certo modo, ali colocar os Evangelhos, que estão de acordo conosco? Parece-nos que sim, mas é verdade que não somos infalíveis como vós! Segunda reflexão: Esta medida que hoje tomam não é um tanto tardia? Por que esperaram tanto tempo? Além de ser mais ou menos inexplicável (a menos que se creia que o Espiritismo vos pareça de tal modo verdadeiro e que estejais de tal sorte persuadidos do seu triunfo, que durante muito tempo vacilastes em atacá-lo abertamente, e que um interesse pessoal deveras poderoso, já que não cometeremos a injúria de vos supor ultraignorantes, vos decidiu a fazê-lo), além de ser mais ou menos inexplicável, dizemos nós, ainda revela muita falta de habilidade. Com efeito, O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e a Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo, estão atualmente nas mãos de milhares de pessoas e duvidamos muito que a condenação da Congregação de Roma possa agora fazer achar mau e abjeto o que cada um julgou grande e nobre.

“Seja como for, os livros espíritas foram postos no Índexn Tanto melhor, porque muitos dos que ainda não os leram irão devorá-los. Tanto melhor! porque de dez pessoas que os percorrem pelo menos sete se convencerão ou ficarão fortemente abaladas e desejosas de estudar os fenômenos espíritas; tanto melhor! porque os nossos próprios adversários, vendo seus esforços redundar em resultados diametralmente opostos aos que esperavam, ligar-se-ão a nós, se forem sinceros, desinteressados e possuírem as luzes que seu ministério comporta. Aliás, assim o quer a lei de Deus: nada no mundo pode ficar eternamente estacionário, pois tudo progride e a ideia religiosa deve seguir o progresso geral, se não quiser desaparecer.

“Que os nossos adversários continuem, então, a sua cruzada. Já puseram em jogo as pastorais, os sermões, os cursos públicos, as influências ocultas, algumas vezes aparentemente vitoriosas, por causa do estado dependente daqueles sobre os quais pesam tiranicamente; serviram-se do auto-de-fé, queimando publicamente nossos livros em Barcelona; só tendo podido queimar alguns exemplares, e estes se substituindo em número impressionante, por fim os puseram no Índex. Ah! não sendo mais tolerada a Inquisição, embora, sob uma forma ou outra, continue existindo, e ajudados pelas influências ocultas de que acabamos de falar, não lhes resta senão a excomunhão em massa de todos os espíritas, isto é, de uma notável fração de homens e, em particular, de uma considerável fração de cristãos (e só falamos dos espíritas confessos, pois inapreciável é o número dos que o são sem saber).”



[1] [Index Librorum prohibitorun et expurgandorum. Elenco de livros proibidos pela Igreja  que se começou a fazer desde o IV Concílio Lateranence, 1515.]


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