O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Outubro de 1865.

(Idioma francês)

VARIEDADES.


Vossos filhos e vossas filhas profetizarão.

O Sr. Delanne, que muitos de nossos leitores já conhecem, tem um filho de oito anos. Esse menino, que a todo instante ouve falar de Espiritismo em sua família, e que muitas vezes assiste às reuniões dirigidas por seu pai e sua mãe, foi, assim, iniciado muito cedo na doutrina, muitas vezes surpreendendo pela justeza com que raciocina seus princípios. Isto nada tem de espantoso, pois é apenas o eco das ideias com que foi embalado. Também não é o objetivo deste artigo: é apenas para entrar no assunto do fato que vamos relatar e tem seu propósito nas circunstâncias atuais.

As reuniões do Sr. Delanne são graves, sérias, e conduzidas com perfeita ordem, como devem se todas aquelas nas quais se quer colher frutos. Embora as comunicações escritas nelas ocupem o primeiro lugar, aí também se cuida de manifestações físicas e tiptológicas, mas como ensinamento e jamais como objeto de curiosidade. Dirigidas com método e recolhimento, e sempre apoiadas em algumas explicações teóricas, estão, pela impressão que produzem, habilitadas a levar à convicção.

É em tais condições que as manifestações físicas são realmente úteis. Falam ao Espírito e impõem silencio à zombaria. A gente se sente em presença de um fenômeno, cuja profundeza se entrevê, e que afasta até a ideia da brincadeira. Se estes tipos de manifestações, de que tanto se tem abusado, fossem sempre apresentados dessa maneira, e não como divertimento e pretexto para perguntas fúteis, a crítica não as teria acusado de charlatanice. Infelizmente, muitas vezes deram ensejo a isto.

O filho do Sr. Delanne muitas vezes se associava a essas manifestações e, influenciado pelo bom exemplo, as considerava como coisa séria.

Um dia se encontrava com uma pessoa de suas relações e brincava no pátio da casa com sua priminha, de cinco anos, dois meninos, um de sete, outro de quatro anos. Uma senhora que morava no térreo os compeliu a entrar em sua casa e lhes deu bombons. As crianças, como se pode imaginar, não se fizeram rogadas.


A senhora perguntou ao filho do Sr. Delanne:

P – Como te chamas, meu filho?

Resposta. – Eu me chamo Gabriel, senhora.


P – Que faz teu pai?

Resposta. – Senhora, meu pai é espírita.


P. – Não conheço esta profissão.

Resposta. – Mas, senhora, não é uma profissão. Meu pai não é pago para isto; ele o faz com desinteresse e para fazer o bem aos homens.


P – Menino, não sei o que queres dizer.

Resposta. – Como! Jamais ouvistes falar das mesas girantes?


P – Muito bem, meu amigo, gostaria que teu pai estivesse aqui para as fazer girar.

Resposta. – É inútil, senhora; eu mesmo tenho o poder de as fazer girar.


P. – Então, queres experimentar e me fazer ver como se procede?

Resposta. – Com muito gosto, senhora.


Dito isto, ele se senta ao pé da mesinha da sala e faz sentar os seus três amiguinhos; e eis os quatro, gravemente pondo as mãos em cima. Gabriel fez uma evocação em tom muito sério e com recolhimento. Mal terminou, e para grande estupefação da senhora e das crianças, a mesinha ergueu-se e bateu com força.

— Perguntai, senhora, quem vem responder pela mesa.

A vizinha interroga e a mesa soletra as palavras: teu pai. A mulher torna-se pálida de emoção. E continua: Pois bem! dizei, meu pai, se devo enviar a carta que acabo de escrever? – A mesa responde: Sim, sem falta. – Para provar que realmente és tu, meu pai, que estás aqui, poderias dizer-me há quantos anos estás morto? – Logo a mesa bate oito pancadas bem acentuadas. Era justamente o número de anos. – Poderias dizer o teu nome e o da cidade em que morrestes? – A mesa soletra os dois nomes.

As lágrimas jorraram dos olhos daquela senhora que, consternada por esta revelação e dominada pela emoção, não pôde mais continuar.

Seguramente este fato desafia toda suspeita de preparação do instrumento, de ideia preconcebida e de charlatanismo. Também não se podem pôr os dois nomes soletrados à conta do acaso. Duvidamos muito que esta senhora tivesse recebido tal impressão numa das sessões dos Srs. Davenport, ou qualquer outra do mesmo gênero. Aliás, não é a primeira vez que a mediunidade se revela em crianças, na intimidade das famílias. Não é a realização daquelas palavras proféticas: Vossos filhos e vossas filhas profetizarão? (Atos dos Apóstolos, 2:17.)


Allan Kardec.



Paris. – Typ. de COSSON ET Ce, rue du Four-Saint-Germain,  †  43.


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