O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Amor e Luz — 2ª Parte — Testemunhos diversos


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Adélia Machado Figueiredo n

“A mão que consola…”


Meu pai era Encarregado Geral da Companhia Industrial de Belo Horizonte e, por motivos profissionais foi como gerente para a fábrica em Pedro Leopoldo, onde veio a falecer, quando já havia cumprido seu compromisso. Acompanhou-o meu irmão José Flaviano Machado, para ajudá-lo. Com isso, conheceram bem de perto Francisco Cândido Xavier. José esteve ao lado de Chico trinta e cinco anos, deixando-o pelo seu desencarne.

Lembro-me como se fosse hoje, quando vi Chico pela primeira vez. Foi em casa de papai. Ainda meninote, cantarolava, acompanhado na viola por seu pai João Cândido Xavier. Aquela cena agradou-me bastante. Fiquei muito feliz.

Eu e os demais familiares ficamos residindo em Belo Horizonte. Papai e José vinham juntar-se a nós nos fins de semana. Ofereciam-nos, também, a oportunidade de estarmos sempre em Pedro Leopoldo.

O tempo passou. Chico cresceu e, com a graça de Deus, sua mediunidade cresceu junto. Desenvolveu-se, lutou muito, mas nunca perdeu a serenidade, a simplicidade e o carinho, que lhe são peculiares.

As reuniões do Centro Espírita Luiz Gonzaga iniciavam-se. Aí buscávamos o lenitivo para nossas dores e os primeiros conhecimentos à luz da Doutrina Espírita. Foi um começo difícil.

As primeiras reuniões que assisti em Pedro Leopoldo, eram em casa da viúva de José Xavier, irmão mais velho de Chico. Depois do seu desencarne, foi fundado o Centro Espírita Luiz Gonzaga.

Naquela época, o mundo não conhecia o valor de Chico Xavier. Poucos sabiam de sua existência.

No Centro, as reuniões eram presididas pelo Dr. Rômulo Joviano, que foi o primeiro diretor da Fazenda Modelo, onde Chico trabalhou muitos anos. Às vezes, nessas reuniões, nem havia número suficiente de pessoas para formar a mesa. Frequentava as reuniões das segundas-feiras. Estava muito feliz.

Como não podemos fugir do nosso carma, entrei num período de grandes provações. Meu esposo me animava muito, com muitos problemas a surgirem, comecei a desesperar-me e, em 1934, recebi pela primeira vez uma mensagem de um Espírito familiar. Tratava-se de uma tia, que me trouxe palavras de renovação, animando-me, demonstrando a necessidade do cultivo da humildade e alicerçando minha fé.

Em Belo Horizonte, eu frequentava as reuniões em casa do Sr. Hermínio Perácio e casualmente, vindo de Pedro Leopoldo, Chico participou da reunião, durante a qual transmitiu-me este recado:

“Adélia, há um Espírito que está transmitindo a você esta mensagem.”

Respondi-lhe: — Não estou percebendo nada. Por favor, receba-a para mim.

— “Adélia, quero ler contigo, minha querida irmã, o livro da paciência e resignação.”

O conforto veio nas linhas trazidas pela sua psicografia. Na assinatura, pude saber tratar-se do Espírito de titia Margarida, a quem amava muito desde os tempos de minha infância. Outras mensagens recebi de titia.

Procurava viver da melhor maneira possível, trabalhando, até que veio a dor maior, o desencarne do meu filho, em 25 de setembro de 1941. O meu filho William n adoecera em consequência de um calo infeccionado, quando pretendia tirar sua carteira de reservista na companhia Quadros. Com o choque fui para a casa de papai em Pedro Leopoldo.

Apesar de toda a minha fé, estava completamente abatida, como se o mundo tivesse acabado. Como Deus é Suprema Bondade e não esquece de seus filhos, entra papai em meu quarto. Pergunta-me se adivinharia quem estava me visitando.

Sem muito interesse, respondi-lhe: — Quem?

E ele fez entrar Chico Xavier.

Pediu-me que lhe arranjasse papel e lápis.

Depois de trocarmos algumas palavras, concentramo-nos em preces. Começou a psicografar.

Em dado momento, parou como se estivesse uma pessoa dirigindo sua mão como no princípio do aprendizado da escrita. Terminou.

Não deixei que falasse. Tinha certeza que se tratava de William. Era dois de novembro de 1942.

Essa mensagem trouxe um alívio muito grande; devolveu-me a vontade de viver. Fiquei muito feliz. Quando em determinado trecho ele dizia:

— “Com que prazer grafo estas palavras em seu caderninho. Creia, mamãe, a vida é muito mais bela do que podemos idealizar…”, reviveu-me sua imagem, marcou demais.

O caderno a que se referia, havia sido presente de meu marido para que registrasse todas as mensagens de tia Margarida. E certo dia, necessitando de um caderno para o colégio, quis levá-lo e não deixei, fornecendo-lhe o dinheiro para a aquisição de outro.

São tantas as coisas lindas que Chico nos trouxe que não dá para enumerá-las.

Apenas dois casos bem pequenos que foram importantes e acho que vale a pena contar.

“Estava em uma das dependências de minha casa, quando senti-me muito mal. Perdi todos os movimentos psicomotores do corpo.

Lúcida e com todos os sentidos, achava que aquilo era o meu fim no corpo. Pensava: “Meus Deus, se isto é a morte, que bom a gente morrer.” Repetia isso muitas vezes. Minha filha, assustada, saiu à procura de um médico.

Depois de algum tempo, voltei. Fiquei triste. Estava achando tudo aquilo muito bom. Isto aconteceu comigo num fim de semana.

Na segunda-feira, fui à reunião do Centro. Muito surpresa ouvi de Chico estas palavras:

“Adélia, o que aconteceu?

William veio me falar que passou um grande aperto; você desprendeu-se do corpo, e não queria voltar de forma alguma, tendo que lutar muito pelo seu retorno.”

Uma outra vez, estava aflita pelo desaparecimento de um dos meus filhos.

Reuníamo-nos às quintas-feiras na casa de uma companheira. Durante o trabalho, perguntei ao guia espiritual se poderia dar-me alguma informação de meu filho.

Em resposta à minha pergunta, pediu que não me afligisse, pois teria notícias dele mais rápido que pudesse imaginar.

Dirigindo-me a Pedro Leopoldo como de costume, encontrei Chico que visitava seus familiares, saindo de casa com seus amigos de São Paulo.

Depois das apresentações disse:

— “Adélia, sabe quem esteve comigo em Uberaba? Seu filho.”

Muito surpreendida, respondi: — “Deveras, Chico, como você o viu?”.

— “Com o temperamento alegre que ele tem. Apresentei-o aos amigos e todos gostaram muito dele”. No dia seguinte, meu filho chegou em casa.

Para mim, Chico Xavier é o missionário da Terceira Revelação, trazendo-nos ensinamentos profundos através das mensagens e livros ditados pelos Irmãos Maiores.

Como disse Jesus: “Não vim trazer a paz, mas a divisão” — capítulo XXIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

No meu entender, observamos daí que em toda família nem sempre podemos querer que todos tenham a mesma formação religiosa.

Aí está o ensinamento de Jesus, demonstrando-nos que devemos seguir dentro das nossas afinidades e encontrar a paz por nós mesmos. Por isso, apraz-me dizer, Francisco Cândido Xavier é o exemplo traduzido em nossa união de respeito ao seu trabalho e pessoa.

Aliando por estas linhas o meu testemunho informal a outros de semelhantes aspectos na dor e na alegria, na tristeza e na felicidade, com a permissão dos caros leitores, gostaria de juntar a este volume que marcará o ano de 1977, como o do cinquentenário da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, a presença de uma das mensagens de meu filho William, onde poderemos perceber que a mão que a trouxe, através dos anos de trabalho e amor, nos mostrará sempre a verdade que consola os corações aflitos, hoje, amanhã e sempre.

Deus te abençoe, Francisco Cândido Xavier.


Adélia Machado Figueiredo


MENSAGEM DE WILLIAN


1 Mamãe, peço a senhora que me abençoe com o grande amor de todos os dias.

2 Um ano passou sobre nossa separação. A senhora e eu choramos tanto.

3 Este céu de chuva dá ideia do pranto que nós dois temos vertido, mas repito, ao seu carinho a solicitação de coragem.

4 Neste primeiro ano de nossa batalha de saudade, a senhora ainda tem sido minha enfermeira santa, porém, os papeis ficaram trocados.

5 Naqueles dias de sofrimento físico, sua palavra me animava, me encorajava, me refazia, depois, quando eu vim para cá, a senhora ficou tão triste, tão desalentada e eu, embora doente de espírito, fui obrigado a tomar o papel de quem consola e reconforta.

6 Muitos poderão passar desapercebidos de nossa dor. 7 É tão fácil passar ao lado de um túmulo que nos seja indiferente!

8 Mas nós, mamãe, entendemo-nos mutuamente. Entendemo-nos e isto basta.

9 Há situações onde a palavra falada ou escrita é inexpressiva e incapaz.

10 Entretanto, sou o primeiro a reconhecer que precisamos renovar atitudes no caminho de redenção.

11 Ajude-me com seu espírito valoroso e fiel. Auxilie-me a secar também a fonte das lágrimas e sepulte no mais íntimo do coração as lembranças amargas.

12 Aqui os Espíritos benfeitores me recomendam incessantemente lhe fale que a morte é ilusão e que a vida é a única realidade.

13 Pense, medite que estou pleno de vigor. Idealize-me a seu lado, sem doença, sem cansaço, sem desânimo. Isto me auxiliará imensamente.

14 Estou amparado, tenho as minhas necessidades atendidas. Há quem cuide de mim que me entende mãos fraternas.

15 Tenho estado quase feliz. Mas eu mesmo, aí na Terra, não sabia que amava tanto. Depois é que descobri este manancial, que andava oculto em minh’alma.

16 E o amor é o nosso tesouro. Com que prazer grafo estas palavras em seu caderninho!…

17 Creia, mamãe, que a vida é muito mais bela do que possamos imaginar, que a esperança deve subir além da morte, para lá das próprias estrelas!

18 Tudo é vida e quando a fé nos revela Deus, como tudo se modifica!

19 Não, não se mantenha num círculo de amargura. Quando alegrar-se lembre-se de que está contentando a seu filhinho.

20 Estarei com a senhora em todos os minutos de paz e contentamento. 21 Sua fortaleza ainda é meu remédio. A senhora não teria coragem de me negar qualquer sacrifício para alívio de meu coração. Não desanime pois. 22 A transição da morte é mudança de cena, mas o ambiente da vida é o mesmo.

23 Quando ora, medita, aproximo-me sempre ansioso de faze-la sentir meu restabelecimento, minha vontade de cooperar na sua paz.

24 Às vezes, contudo, sua mente lembra-me nos dias de enfermidade, de dor, de expectativa dolorosa e continuo sentir inquietações novas que tentam voltar.

25 Recorde o seu William dos 15 anos, seu William quase soldado que se passou a outra vida e aproveitará a nova fase para saber defendê-la melhor.

26 Os inimigos existem e quem não os terá? O próprio Jesus ainda trabalha para que os adversários de sua luz não lhe avassalem as Obras Divinas. 27 Seríamos nós, falidos de outras eras, devedores de Deus e dos homens que passaríamos incólumes? Não. Consolemo-nos, certos de que o Pai nunca nos negou sua bênção de infinita bondade.

28 Até eu mesmo, nos primeiros dias, andava indeciso ignorando como explicar a mim mesmo o porquê do desprendimento doloroso. 29 Mais tarde mostraram-me um quadro expressivo em que eu e a senhora depois de menosprezar o ideal sublime de um irmão, afastando-o das lutas humanas, inculpamos a outros do gesto delituoso que nos ensombrava a consciência. 30 Ai! A culpa! A culpa! E hoje, sem sermos culpados de sofrimentos que beneficiam, a senhora e eu temos andado com essas ideias de culpa, sem razão de ser.

31 É que essa dor vem de mais longe, mas, Deus que é tão bom permitiu que eu lhe trouxesse à alma carinhosa essas afirmativas de consolação. Isso significa débito liquidado.

32 Jesus não esquece o martírio das mães, porque Ele também contemplou a Dele do alto da Cruz, entre a aflição e o padecimento.

33 Acaso não bastará à senhora o resgate pesado de cada dia no lar que tantas auréolas de espinho lhe traz ao coração?

34 Não bastará esta luta tremenda, mamãe, em que a senhora se levanta com a incerteza para dormir com a súplica? Pense nisso e esqueça a ideia de culpa.

35 A fé anestesia o coração cansado. Entregue-se a ela totalmente para nos encontrarmos aqui, embora continue a senhora no posto de amor e renúncia ao lado do papai e dos irmãos.

36 Tudo passa da Terra e eu estou vivo, esperando-a. Foi melhor que eu viesse, porque deste modo estarei auxiliando-a diariamente, na medida de minhas forças.

37 As reuniões evangélicas lá em casa tem sido muito úteis. Ajudam-nos a todos e nelas tenho encontrado caricioso bálsamo ao coração.

38 E agora que lembramos o primeiro ano de minha vinda, creia que seu filho está muito esperançoso.

39 Não tema as nuvens. Quando caírem hão de ser transformadas em chuva benéfica.

40 Atravesse espinhos, pedras, sorva os tragos de fel indispensáveis à experiência, não receie a mágoa, a necessidade, o sofrimento.

41 Aqui é que vemos o valor dessas cousas e observamos na luta um tesouro de possibilidades sem fim.

42 Seu filho está presente. Quando estiver cansada serei seu bastão de arrimo e Jesus será o bastão de nós dois. [Há um livro de co-autoria de William de nome “Bastão de arrimo”]

43 Minhas lembranças para os meninos e papai.

44 E rogando a Deus conceda a senhora as luzes do Céu para nunca desanimar na nossa subida para a redenção, beija as suas mãos com muito carinho e com muito e muito amor, o seu


William



[13] Rua Tupinambás, 190 — Apto. 113 — Belo Horizonte — MG.


[14] WILLIAM MACHADO FIGUEIREDO — Nascimento: 04/04/1925 — Desencarnação: 25/09/1941.


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