O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Antologia dos Imortais — Autores diversos — 1ª Parte


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Américo Falcão


QUADRAS

1 A vida compra a granel
Na ilusão que a desfigura.
O tempo cobra, fiel,
À porta da sepultura.


*


2 Medalha, comenda e pluma,
Exigindo apreço e aceno,
Parecem montões de espuma,
Cobrindo sabão pequeno.


*


3 Paixão é fogo por nada.
Febre alta e recaída… n
Tanta tinta derramada,
Tanta conversa perdida. n


*


4 Fitai o juízo à frente;
Excesso, taça e folia
Acabam frequentemente
Na sala de anatomia.


*


5 A lei é peso e medida;
Tende cautela, mortais!
Do que buscamos na vida,
Na morte teremos mais.


ACENDALHAS

1 Pensei que a morte ocultasse
A noite pesada e fria,
E a morte deu-me outra face
Dos sonhos de cada dia.


*


2 Acolhe, afaga e conserva
O passo sem ilusão.
Toda carne é igual à erva
Que nasce e retorna, ao chão.


*


3 Se a flama do amor te invade,
Não tentes ócio e prazer.
Amor é felicidade
A refulgir no dever.


*


4 O verbo enfeitado e ameno,
De muita beleza humana,
Parece mel com veneno
Em taça de porcelana.


*


5 Remorso fremindo em chaga,
Na desculpa que alivia,
É como a dor que se apaga
Ao toque da anestesia.


*


6 Esse diamante que vês,
De faces luminescentes,
Viveu séculos talvez
No chavascal de serpentes.


*


7 Ergue ao Céu a moradia
Da própria felicidade.
Na Terra toda alegria
Paga imposto de saudade.


*


8 Escritor que atende ao mal
Dando o mal por satisfeito,
Da pena talha o punhal
Que, um dia, lhe vara o peito.


*


9 Quando o corpo, inerte, expira,
Notamos, amargamente,
Quanta gente na mentira,
Quanta mentira na gente. n


*


10 Afirmas que é hipocrisia
Sorrir para a falsidade.
Mas que outra coisa seria
O ensino da caridade?


*


11 Humilhado! Mesmo assim,
Perdão é a glória que levas.
A noite ensombra o jardim,
O jardim perfuma as trevas. n


*


12 Muita cautela, Maria,
Cuidado no coração.
Um namoro, cada dia…
Amor não é isso, não.


*


13 Evita a palavra turva,
Sê claro, de longe ou perto.
Na estrada de muita curva,
O desastre chega, certo.


*


14 Não condenes quem resvala
Onde o vício se avolume.
Muita flor que enfeita a sala
Nasceu na fossa de estrume.


*


15 Desfaz-se a ostra em escolhos,
Brilha a pérola na rua.
A morte nos cerra os olhos,
Mas a vida continua.


HISTÓRIAS EM QUADRINHAS

1 No sepulcro, em desconforto,

Quanta mágoa em Maristela!

A triste, buscando o morto,

E o morto, fugindo dela.


*

2 Noutra vida, o potentado

Batia, em fúria tremenda…

Hoje é um colono aleijado

Em sua velha fazenda.


*

3 Era paixão incomum…

No entanto, o tédio, depois,

Trouxe morte para um n

E obsessão para dois. n


*

4 Leontina, sempre enganada,

De tão vaidosa e faceira,

Embora desencarnada,

Não se desfaz da caveira.


*

5 Queria tanto conforto,

Carícias, redes e abanos,

Que mesmo depois de morto,

Dormiu por duzentos anos.


*

6 Sentava-se em mesa de ouro,

Passava fome por vício,

Mas deixou todo um tesouro

Na fossa do desperdício.


*

7 Outrora, sabia tudo,

Era um homem de apogeus.

Agora, é um doente mudo,

Rendendo graças a Deus.


AMÉRICO Augusto de Sousa FALCÃO — Fez os estudos primários e secundários em João Pessoa, formando-se, em 1908, pela Faculdade de Direito do Recife. Redator de A União e diretor da Biblioteca Pública do Estado da Paraíba. Sócio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. “Poeta magnífico,” afirma Edgard Rezende (Os Mais…, pág. 179) — “produziu composições impregnadas de lirismo suave e encantador.” Era-lhe, porém, a trova um dos gêneros prediletos, e Luiz Pinto (Ant. da Paraíba, pág. 23) afirma ter sido ele, A. Falcão, “um repentista temido e de incomparável fecundidade”, a manejar com inteligência a sátira, sua insuperável arma de combate. (Praia de Lucena, Município de Santa Rita, Paraíba, 11 de Fevereiro de 1880 — João Pessoa, Paraíba, 9 de Abril de 1942.)

BIBLIOGRAFIA: Auras Paraibanas; Visões de Outrora; Soluços de Realejo; etc.



[1] Leia-se com hiato: Fe/bre/ al/ta.

[2] “Tanta… /Tanta…”: Anáfora — “Nome dado à FIGURA que resulta quando se repete a mesma palavra ou frase no começo de vários VERSOS, …” (Geir Campos, Op. cit.)

[3] Anáfora. Cf. nota anterior deste capítulo.

[4] “… o jardim,/ O jardim…”: Anadiplose — “Nome dado à FIGURA que resulta quando se repete no começo de um VERSO a palavra ou frase final do verso anterior, …” (Geir Campos, Op. cit.)

[5] Leia-se com hiato: pa/ra/ um.

[6] Quanto à palavra “o-b-ses-são”, cf. nota 1, do cap. 10, da 1ª Parte (suarabácti).


(Psicografia de Francisco C. Xavier)


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