O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Ante o futuro — Familiares diversos


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Rosana Maria F. Temporal de Lara

ESCLARECIMENTOS


Nascimento: 05 de dezembro de 1963. Desencarnação: 08 de junho de 1982. Idade: 18 anos.

Pais: José Temporal e Ana Maria de Figueiredo Temporal. Rua Nunes Valente, 136 — Apto. 504. Fortaleza — CE.

Ivonete — Genitora de Renato.

Francisco Logatto — avô de Renato, já falecido.

Affonso — irmão de Rosana, falecido no mesmo acidente.

Dulce — esposa de Affonso.

Júlio — Cunhado de Rosana, falecido no mesmo acidente. Esposo de Maria do Carmo.

Maria do Carmo — irmã de Rosana.

Renato — Cunhado de Rosana.


COMENTÁRIOS


Estou feliz porque hoje posso contar, animar e conversar com as pessoas que sofrem como eu sofri há 7 anos. Lembro-me que fiquei desesperada depois do choque pela perda de quatro filhos, Affonso e Rosana filhos consanguíneos, Renato e Júlio, meus genros e filhos do coração num acidente de aviação em Fortaleza, com o impacto da aeronave da VASP contra uma serra, restando a dor, a pergunta, e a presença constante deles na minha vivência.

Mara, esposa de Júlio, grávida, veio morar comigo. Por intermédio de Eugênia, amiga, conheci Maria Augusta. Seguidora da Doutrina Espírita, dizia que um dia eu receberia uma mensagem espiritual e que meus entes queridos estavam bem no Plano da Espiritualidade.

Calada, chorava, mas uma esperança aparecia.

Comecei a ler livros espíritas sem entendê-los bem, mas lia. Somente a esperança me alimentava para compreender ser verdade tudo aquilo e que um dia pudéssemos nos encontrar.

Mudamos para o apartamento no qual resido hoje. Cansada pelo esforço empreendido na mudança, procurei logo o leito para dormir. Na madrugada acordei e percebi um braço com a mão estendida acima de mim. Entendi tratar-se de Rosana. Quis por instinto pegá-la e nada encontrei, mas ela continuava ali: “ Oh! Rose, sei que você está contente por termos feito a mudança e estarmos em nossa casa novamente. Não me assusto”. Rosana foi embora e adormeci tranquila. Isso ajudou a consolidar minha crença.

Minha amiga e companheira de dor, Ivonete de Lara, mãe de Renato, mora em São Paulo, mas foi através de meu filho Ricardo que conheci Sr. Orlando Moreno, do Instituto Divulgação Editora André Luiz, o IDEAL. Disse-nos que quando possível, viajaríamos para Uberaba. Daí comecei a me preparar para a emoção e para não me desiludir caso não recebesse a mensagem.

Em 05.11.1983, tendo ido a Brasília, meu irmão nos levou a Uberaba, onde me encontrei com o casal Lara vindo de São Paulo.

Na sexta-feira que lá estávamos, fomos ao Grupo Espírita da Prece. Aos poucos juntavam-se a nós outros corações com a mesma saudade, a mesma dor e a mesma esperança.

Entramos no salão, quietos, atentos aos acontecimentos. De repente toca uma música, “Fascinação”, a mesma que Rosana escolhera para tocar em seu casamento. Para mim, mais um sinal de sua presença..

A chegada de Chico durante a tarde. A passagem de cada pessoa contando e pedindo algo para alguém.

A força do seu olhar e suas palavras a mim dirigidas:

“Quanta dor minha filha. Quanta saudade!”

À noite, de volta ao trabalho, sentando-se à cabeceira da mesa começou o seu trabalho de amor: a psicografia.

O silêncio era interrompido apenas pelo ruído do lápis. Depois de algumas horas termina e faz a chamada das pessoas recebedoras das mensagens.

Alguém diz: é para a mãezinha Ana Maria. Achei que era para mim e Ivonete. E era.

Fui chamada e a mensagem foi lida. A dor voltou. Meu Deus, quanta dor e sofrimento, meus filhos passaram! Eram tantas as emoções. Voltei logo para São Paulo.

Amigos, hoje conto esta maravilha com o coração feliz! Tenho certeza que minha experiência e a mensagem de Rosana trarão algum alento ao coração de quem sofre.

Acredito! Rosana, Affonso, Júlio e Renato, meus pais e José, meu marido que morreu 10 meses depois do acidente, estão todos juntos.

Obrigada meu Deus, por ter conhecido Chico Xavier! Obrigada meu Deus, por ter conhecido pessoas que me orientaram para a Doutrina Espírita! Obrigada, pela força de viver com essa saudade, mas em paz com Jesus!


MENSAGEM


1 Querida mãezinha Ana Maria e querida mãezinha Ivonete. Peço-lhes para que nos abençoem.

2 O avô Francisco Logatto me designa para as notícias às mãezinhas queridas e, conquanto estimassem, fosse o Renato ou algum outro amigo dos nossos que me substituísse nesse desempenho, estou feliz, ou quase feliz, depois da nossa viagem acidentada que culminou com a nossa vinda para cá.

3 Mãezinha, quando tomamos o avião para Fortaleza, efetivamente nem de leve imaginei pudéssemos ser protagonistas do acontecimento que não sei qualificar. 4 Compreendo que as Leis de Deus são exatas e se cumprem com segurança; por isso, não desejo grafar uma carta alarmista, em que o pânico seja chamado a senhorear o ânimo dos que a lerem.

5 Renato e eu trocávamos ideias pela noite adentro, enquanto o nosso Affonso e o nosso Júlio descansavam. 6 Se estivéssemos numa paisagem de guerra, não seríamos tomados de tamanho assombro. 7 O primeiro estampido no choque da máquina com o corpo da serra me pareceu o grito lancinante de alguém anunciando-nos a morte.

8 Renato abraçou-se a mim evidentemente com a ideia de proteger-me contra qualquer eventualidade, no entanto, esse gesto dele perdurou por um instante só. 9 Outros brados do avião se fizeram seguidos por uma dispersão de tudo o que éramos nós e de toda a bagagem de mão que havíamos acomodado no interior. 10 Tive a ideia de que a velocidade do avião era tamanha que o contato indescritível do aparelho com a dureza da terra imprimia um estranho movimento a nós todos e a tudo o que nos cercava.

11 Explico-me assim porque a ligeireza daquele engenho enorme passou a comandar-nos, atirando-nos à distância e nada mais vi senão a queda ao longe, na qual me senti esfacelada, a princípio, para depois reconstituir-me.

12 Ouvia vozes de criaturas beneméritas a pedir-nos calma e fé na Divina Providência e sem que me fosse possível retirar um dedo sob o controle de minha própria vontade, fui deposta em maca tipo banguê no interior da qual entrei num sono longo, do qual despertei num aposento-enfermaria de grandes proporções.

13 As lágrimas haviam desaparecido de meus olhos, e por mais as procurasse para exprimir o sofrimento que me chegava à sensibilidade, após conscientizar-me, não as encontrei.

14 Tinha a cabeça pesada e ocupada por visões estranhas e naquele mal-estar indefinível que me possuiu, seria impossível para mim coordenar ideias ou palavras com as quais pudesse me dirigir às enfermeiras que deslizavam ali em silêncio. 15 Tive medo. Quis gemer, no entanto, a minha voz morrera na garganta. Indagava de mim própria o que teria ocorrido, mas não dispunha de meios para qualquer manifestação.

16 Aquelas santas mulheres que iam e vinham perceberam que o medo me ocupara todos os espaços da própria alma e, aos poucos, me ensinaram de novo a balbuciar palavras.

17 Perguntei por meus pais, pela mãe Ivonete e pelos nossos entes amados do coração…

18 Eram os primeiros vocábulos que me escapavam da boca e fui informada de que voltáramos todos, os que viajávamos na máquina gigante, à Vida Espiritual.

19 Esforcei-me. Ganhei novas energias e indaguei do Renato. Vim a saber que ele, Affonso e Túlio se encontravam em um local diferente. 20 Sofri o que o seu maternal coração e a querida mãe Ivonete podem imaginar até que, depois de providências sobre providências, fui transportada para perto dos amigos e do meu irmão, a fim de vê-los.

21 A cena que se desenrolou não pode ser descrita, por falta de terminologia que nos corresponda ao espanto. 22 A muito custo levantei-me, necessitando de alguém que me escorasse e as queridas mãezinhas aqui presentes conseguirão imaginar o sofrimento sem limites que me tomou o coração. 23 Em horas semelhantes apenas a confiança em Deus me renovava as energias para ouvir o que me contavam…

24 Não procurei estender minha visita. O receio de conturbar-me me empolgava a cabeça.

25 Impossível associar ideias e traçar novos rumos, quando estávamos abatidos, sem cousa alguma por preservar ou defender que não fosse as nossas próprias almas transidas de dor. 26 Um amigo nos exortou à paciência de profundidade, convidando-nos a pensar e com esse estímulo, foi possível iniciar a nossa conversa. O Affonso e o Júlio falavam em Dulce e Maria do Carmo, enquanto o Renato me tomava as mãos.

27 Então, como se as nossas forças últimas se entrelaçassem, conseguimos chorar, qual se o pranto fosse um poder capaz de aliviar-nos os corações. 28 Não mais nos achávamos nas cercanias da Aratanha, porque o refúgio a que fôramos conduzidos era um lugar ameno, adequado a se pensar na importância da calma após a tempestade.

29 Saber-nos no corpo real, de que o corpo físico é apenas uma imperfeita exteriorização, espantou-nos, de vez que, em nosso entendimento, conservávamo-nos tais quais éramos. 30 Não nos sentíamos leves porque a dor nos pesava em todo o ser, entretanto, com os dias a tensão emocional de que nos víamos possuídos cedeu lugar a uma serenidade que atribuo à influência das preces de muitos amigos em nosso novo ambiente.

31 Mãezinha Ana Maria e mãezinha Ivonete, não traço aqui qualquer quadro tendente a suscitar receios infundados naqueles que, porventura, nos lerem, pois estamos conscientes de que o choque das primeiras horas não deveria permanecer. 32 Um dos orientadores que nos reconfortavam chegou a dizer-nos sorrindo que se estivéssemos no Plano Físico, não vacilaríamos em encomendar passagens para a volta e para outras viagens, com naturalidade e bom senso, acrescentando que o avião é instrumento de elevado alcance para a inteligência humana e não seria por havermos perdido a bagagem física que haveríamos de mostrar qualquer ojeriza pelas máquinas que nos prestam tamanhos serviços, voando na atmosfera do Planeta.

33 Parecia-me absurdo ouvir com paciência detalhes técnicos de aviação e acidentes, num momento daquele em que mal nos refazíamos do assombro destrutivo que nos impelira à própria desencarnação e passei a chorar com mais angústia. As explicações foram interrompidas e a nossa luta pela própria restauração se processou, até que eu pudesse vê-la em nossa casa.

34 Acompanhei os dias finais de meu pai José que, a meu ver, não encontrou resistência para a moléstia de que se viu acometido, por haver perdido todas as defesas corpóreas com a emoção cruel de meses antes.

35 Mãe querida, perdoe-me se me estendo neste relato. É que desejo agradecer-lhe toda a energia de sua compreensão. Encontro-a tomando ensinamentos sobre a vida e a morte, ao mesmo tempo que lhe vejo o esforço na cooperação nas tarefas da beneficência, supervisionadas por mentores da caridade e do amor para as criaturas humanas. 36 Estou grata por haver procurado por sua filha ou, aliás, por nós todos, entre os que necessitam de socorro e auxílios de emergência.

37 Caímos de grande máquina que se espatifou contra uma serra a três minutos de nosso ponto de chegada e você, mamãe Ana Maria está buscando os que jazem caídos em provação, necessitando de migalhas para garantir a própria sobrevivência. Aprendo consigo os esclarecimentos novos e peço-lhe continue…

38 Os seus pensamentos estão nos meus e os nossos igualmente se beneficiam com todas as atitudes de conformação e de serviço ao próximo, em que somos lembrados, com a luz de nossa fé em Deus.

39 O Renato me recomendou transmitisse à mãezinha Ivonete os seus carinhos de filho e ambos lhes pedimos, às nossas duas mães aqui presentes, para que nos abençoem.

40 A emoção me exauriu as possibilidades de continuar e, por isso, encerro aqui o meu noticiário do coração.

41 Mãezinha, o papai José igualmente se recupera nas próprias faculdades marteladas pela dor que lhe agravou os constrangimentos e cada um de nós em nossa vida nova estamos efetuando o possível por restabelecer-nos em tempo breve. 42 O avô Francisco Logatto me faz companhia para vir até aqui e lhes deixa lembranças.

43 Rogando ao seu coração de mãe me desculpe se me alonguei tanto, na tentativa de expressar o que senti e ainda sinto embora saiba que a sua ternura me compreende.

44 Para a mãezinha Ivonete, o nosso carinho imenso e para você, querida mãezinha Ana Maria, todo o coração de sua filha, sempre sua


Rosana Maria de Figueiredo Temporal de Lara.


Rubens S. Germinhasi


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