O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Contos e apólogos — Irmão X


5


“Eu” contra “eu”

1 Quando o Homem, ainda jovem, desejou cometer o primeiro desatino, aproximou-se o Bom Senso e observou-lhe.

— Detém-te! Por que te confias assim ao mal?

2 O interpelado, porém, respondeu, orgulhoso:

— Eu quero.

3 Passando, mais tarde, à condição de perdulário e adotando a extravagância e a loucura por normas de viver, apareceu a Ponderação e aconselhou-o:

— Pára! Por que te consagras, desse modo, ao gasto inconsequente?

4 Ele, contudo, esclareceu, jactancioso:

— Eu posso.

5 Mais tarde, mobilizando os outros a serviço da própria insensatez, recebeu a visita da Humildade, que lhe rogou, piedosa:

— Reflete! Por que te não compadeces dos mais fracos e dos mais ignorantes?

6 O infeliz, todavia, redarguiu, colérico.

— Eu mando.

7 Absorvendo imensos recursos, inutilmente, quando poderia beneficiar a coletividade, abeirou-se dele o Amor e pediu:

— Modifica-te! Sê caridoso! Como podes reter o rio das oportunidades sem socorrer o campo das necessidades alheias?

8 E o mísero informou:

— Eu ordeno.

9 Praticando atos condenáveis, que o levaram ao pelourinho da desaprovação pública, a Justiça acercou-se dele e recomendou:

— Não prossigas! Não te dói ferir tanta gente?

10 O infortunado, entretanto, acentuou, implacável:

— Eu exijo.

11 E assim viveu o Homem, acreditando-se o centro do Universo, reclamando, oprimindo e dominando, sem ouvir as sugestões das virtudes que iluminam a Terra, até que, um dia, a Morte o procurou e lhe impôs a entrega do corpo físico.

12 O desditoso entendeu a gravidade do acontecimento, prosternou-se diante dela e considerou:

— Morte, por que me buscas?

— Eu quero, — disse ela.

13 — Por que me constranges a aceitar-te? — Gemeu, triste.

— Eu posso, — retrucou a visitante.

14 — Como podes atacar-me deste modo?

— Eu mando.

15 — Que poderes te movem?

— Eu ordeno.

— Defender-me-ei contra ti, — clamou o Homem, desesperado, — duelarei e receberás a minha maldição!…

16 Mas a Morte sorriu, imperturbável, e afirmou:

— Eu exijo.

E, na luta do “eu” contra “eu”, conduziu-o à casa da Verdade para maiores lições.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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