O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Coração e vida — Maria Dolores


9


O poder da prece

  1 O jovem milionário

  Adamastor Macário,

  Rapaz rude e violento,

  Derramando alegria,

  Sentia-se feliz em seu mais belo dia,

  Pois era o dia de seu casamento.


  2 No palácio rural de sua habitação,

  Tudo era festa em ascensão.


  3 Pela manhã, porém, ele recebe à porta

  Uma pobre viúva, a carregar nos braços,

  Um filhinho de meses,

  Portador de moléstia fulminante…

  Sentindo a morte a lhe rondar os passos,

  Dirige-se a Macário e pede suplicante:


  4 — Socorre-nos, senhor,

  Salve meu filho! Pague-lhe um tratamento…

  E rematou com lágrimas na voz:

  — Por amor a Jesus, tenha pena de nós!…


  5 Com surpresa geral, Adamastor

  Não se fez rude como de outras vezes,

  Fitou o pequenino,

  Compadecidamente,

  Depois recomendou a um antigo empregado:

  — Leve a criança ao médico… Ação pronta.

  Em seguida,

  Busque a farmácia com presteza,

  Seja o gasto que for, qualquer despesa

  Corre por minha conta…


  6 A viúva, andrajosa e enternecida,

  Agradeceu-lhe a caridade,

  Qual se estivesse recebendo

  No filho em tenra idade

  Plena renovação da própria vida.


  7 Adamastor, porém,

  Mesmo casado

  Continuou brutalizado

  E um modelo completo de avareza…

  Recolhia, ele próprio, as migalhas da mesa

  Que sobrassem de cada refeição

  Para fazer negócio, às escondidas…

  E ei-lo, dia por dia, a repetir fremente,

  Na mais estranha desesperação:

  — Dinheiro, sim… Beneficência, não…

  Nada me peçam que não dou vintém,

  Não dou nem mesmo um pão à fome de ninguém.


  8 O tempo foi passando,

  Pedisse quem pedisse,

  A resposta era não… Toda aquela secura

  Parecia loucura

  Em vez de sovinice.

  Talvez decepcionada, alma triste e vazia,

  Com as atitudes do marido avaro,

  Breve, morreu a esposa em desamparo,

  Sem deixar-lhe um só filho à casa enorme e fria…


  9 Mais tempo decorreu

  E Macário a lutar, sem qualquer companheiro,

  Só queria dinheiro e mais dinheiro…

  Até que, um dia, a morte veio arrebatá-lo.

  Adamastor, velhinho,

  Num lance do caminho,

  Caíra do cavalo,

  Fora pisoteado e, ante as perdas de sangue,

  Gritava, agonizante, entre as pedras de um mangue:

  — Eu não quero morrer, eu não quero morrer…

  Mas a morte, por si, não queria saber

  Se ele queria ou não

  E, assim, agiu na hora…


  10 Desencarnado agora,

  O antigo milionário,

  Sente-se louco, aflito e solitário,

  Sob o fardo das lágrimas que leva…

  Só pensava em dinheiro e via-se na treva…

  Era um mendigo apenas

  Que somente trazia

  A lembrança vazia

  De moedas terrenas…

  Cego, desesperado, atônito, sozinho,

  Fez-se triste fantasma, errando no caminho…

  Até que, num momento inesperado,

  Logo após largo tempo em profunda cegueira,

  Sentiu algo a buscar-lhe os íntimos refolhos,

  Uma luz que lhe dava outra luz para os olhos…


  11 Fitou, em derredor, e notou espantado

  Que uma pobre velhinha orava junto dele,

  Quase que, lado a lado;

  E ouviu-a murmurar, em voz segura e mansa,

  Como se lhe trouxesse a bênção da esperança:

  — Rogo, Deus de Bondade, ao teu imenso amor,

  Concede a paz do Céu a “seu” Adamastor,

  Ele foi para mim de uma bondade rara,

  Não te esqueças, Senhor,

  Que um dia ele salvou o filho que me ampara…

  Abençoa, meu Deus,

  Quem foi em nossa casa

  O grande benfeitor!…


  12 O antigo milionário,

  Sob um clarão divino,

  Recordou a chorar o passado momento

  Em que ajudara a um pequenino,

  No dia justo de seu casamento…


  13 Banhado em nova luz

  Ele gritou: — Por que? por que, Jesus?

  Não dei tudo o que eu tinha e tudo quanto quis,

  A fim de ser agora mais feliz?


  14 Era tarde, porém… Precisava voltar…

  Renascer sobre a Terra,

  Aprendendo a servir, a compreender e amar…

  Nesse instante, contudo,

  Retratava na face,

  Embora atarantado, ansioso e mudo,

  O júbilo de quem se libertasse

  Das algemas de longo cativeiro,

  Pois percebia, enfim, que acima do dinheiro,

  Mostrava mais poder e muito mais valor

  A lembrança do bem numa prece de amor!…


Maria Dolores


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