O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Conversa firme — Cornélio Pires


9


Assunto de descanso

  1 Em carta, você me pede,

  Meu caro Joaquim Picanço,

  Que eu diga do Mais Além,

  O que há sobre descanso.


  2 Diz você: “— Fale, Cornélio,

  Sem exagero e sem corte,

  Que se pensa do repouso

  Na vida depois da morte.”


  3 Olhe, Quincas, de começo

  É meu dever afirmar:

  Se você sente fadiga,

  O remédio é descansar.


  4 Quem serve perdendo forças

  Em ação ou pensamento,

  Precisa, de quando em quando,

  Restauração a contento.


  5 Não conheço engenho algum

  Mesmo só quando se arraste,

  Que não espere o socorro

  Da pausa contra o desgaste.


  6 Pense na Terra girando;

  Luz do dia — ação acesa,

  A sombra que envolve a noite

  É o sono da natureza.


  7 Trabalhar no bem de todos,

  De qualquer modo é dever,

  Quem desiste de servir

  Larga o melhor a fazer.


  8 A criatura cai fora,

  Busca sossego e mais nada.

  Depois… é a própria criatura

  Que fica prejudicada.


  9 A grande questão no assunto,

  Exposta, em linhas gerais,

  É a série de prejuízos

  Quando o descanso é demais.


  10 Além da morte, meu caro,

  É que se vê, dia a dia,

  Que se vive, sobretudo,

  Nas formas que a mente cria.


  11 Você recorda a preguiça

  Do nosso Antônio Corazza;

  Morreu… mas vive escondido

  Num canto da própria casa.


  12 Viveu Julinha em repouso

  No Roçado da Parede,

  Agora desencarnada,

  Vive atolada na rede.


  13 Recusou qualquer encargo,

  O nosso amigo João Gama,

  Sem corpo; pensa no céu,

  Dormindo de cama em cama.


  14 Sempre fugiu do trabalho

  Nosso caro Ludgero,

  Agora chegou aqui,

  Lutando na estaca zero.


  15 Viveu, por gosto, em poltrona,

  Nossa Lalaia Joaninha,

  Noutra vida quer ação,

  Quer andar, mas não caminha.


  16 Nenhum esforço na Terra

  Apareceu em João Tampa…

  Sem corpo, vê-se nos céus,

  Morando na própria campa.


  17 Viveu parado, mas tanto,

  Nosso amigo Albergaria,

  Que após largar-se do corpo

  Entrou em paralisia.


  18 Desencarnado em preguiça,

  O nosso Juca Dirceu,

  Vive xingando o serviço

  Estirado num museu.


  19 É isso aí, caro amigo,

  Não fuja de luta boa,

  Se você quer melhorar

  Não queira descanso à-toa.


  20 Todos temos dons na vida

  Para servir e aprender,

  Mas quem não queira trabalho

  Que progresso pode ter?


  21 O tempo é assim como o sol

  Que segue fazendo o bem;

  Brilha, passa e ajuda a todos

  Mas não espera ninguém.


Cornélio Pires


Abrir