O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Claramente vivos — Familiares diversos


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“Deixo o coração correr no lápis”

1 Meu caro papai, n abençoe seu filho.

2 Antônio Carlos, n receba o meu abraço.

3 Não me sinto ainda perfeitamente reintegrado em mim mesmo. São muitas surpresas juntas. E, com as novidades, os problemas que se agigantam.

4 Sinceramente, estou a escrever porque o meu avô — bisavô — me impele a receber essa bênção. Ele me sabe aflito, descontente.

5 Vejo-me na condição do enfermo hospitalizado, espiando todas as oportunidades para um tiro de notícias.

6 Não sei se as lágrimas me descem dos olhos e ignoro se as minhas alegrias deste momento são vozes por dentro de mim que não consigo trazer ao papel.

7 Creio hoje que existe um estado emocional em que pranto e júbilo se transfundem numa só expressão.

8 Aceitem-me assim qual me reconheço agora. Não disponho de meios para burilar esta carta. O tempo avança.

9 Reconheço-me usando a força de muitos amigos, concentradas na pessoa que me serve de intérprete, e deixo o coração correr no lápis.

10 Pai, perdoe-me se lhe ocasionei tanto trabalho.

11 Antônio Carlos, ajude-me, de algum modo ao lado de nossos pais e especialmente da mamãe que ainda não se recuperou.

12 Despertar por aqui, de improviso, é um problema que tive de enfrentar. Habituado a guiar sem preocupações, não estava muito atento ao velocímetro dos outros.

13 Quando esbarrei no elevado e compreendi a extensão do choque, n era muito tarde para raciocinar, mesmo porque, embora me sentisse capaz de alcançar as clínicas com o auxílio dos outros e falar algumas palavras, não tive dúvidas quanto à hemorragia interna. 14 Por dentro de mim as emoções e os pensamentos se entrechocavam, qual se me visse em meio de vasta corredeira de águas profundas.

15 Inútil a tentativa de prosseguir explicando, porque as águas da catarata que me esbravejava na intimidade do crânio, eram um redemoinho ensurdecedor para mim.

16 A princípio, ouvia as pessoas ao meu lado, mas depois foi um sono provocado e repentino a que não conseguia escapar.

17 Quero dizer, porém, que os meus pensamentos de fé em Deus naqueles últimos lances estavam com a mamãe operada, a quem não desejava alarmar.

18 E os assuntos da separação de meu próprio corpo continuaram sem pausa, até que o sono a que me referi me tomou inteiramente. Quanto tempo gastei naquele repouso compulsório, não posso ainda saber.

19 Desejo informar ao papai que o meu avô Trita n me havia conduzido para lugar distante. Soube depois que ele estava com enfermeiros daqui para me balsamizarem as dores do choque.

20 Hoje, penso que a pessoa acorda no Mundo Espiritual à maneira de uma criança quando nasce numa casa terrestre. Se perguntarmos à criança de onde terá vindo, a resposta será silêncio, pois aqui o assunto não é muito diverso. 21 A vantagem daqui é o sofrimento positivo que vai ganhando terreno por dentro de nós, à medida que me conscientizava, sob o olhar do meu bisavô, que não conheci de pronto.

22 Começava a escutar as preces e as lamentações de casa, e no centro dessas lamentações a imagem de mamãe e papai sobressaíam cada vez mais.

23 Não foi fácil para mim acreditar que perdera o corpo, de vez que guardava a ideia de haver perdido apenas numa competição de rua.

24 Pouco a pouco, no entanto, meu avô Trita me bordou um mapa de informações. Era um mapa auditivo porque, de momento a momento, as informações dele me esclareciam que a minha casa era agora muito outra. Amigos dele me ampararam e ainda me auxiliam.

25 Somente depois, reconheci que fora conduzido para Tatuí. Meu benfeitor tivera esse cuidado, alegando que a mãezinha Helena n estava muito doente e seria melhor que houvesse mais distância espacial para meu refazimento, que tem sido demorado.

26 O Professor João Florêncio n tem sido um amigo paternal, e estou informado de que me encontro numa escola-hospital criada por aqui, na vida diferente, por afeições das benfeitoras Dona Chiquinha Rodrigues n e Dona Carolina Renoir Ribeiro, n que não conheço.

27 Um padre, de nome Cônego Clímaco, n me prestou muitos serviços. E, desse modo, não posso queixar-me.

28 Meu avô, aqui ao meu lado, é que me determinou: — “Escreva, meu filho, ao nosso caro netinho porque seu pai não se acha muito melhor que sua mamãe. É preciso dizer a eles para se aprumarem na confiança em Deus. Temos o Antônio Carlos com a esposa e um filhinho, a Isabel e o José precisando da saúde deles, n e convém que você se desfaça de qualquer moleza para renovar-lhes a coragem. Diga a seu pai que o Dr. Alberto Seabra não morreu, n e vem tratando da restauração de Helena e, ainda agora, desejamos que isso se faça dito ao amigo Sr. José Gonçalves, de quem o Dr. Seabra se serve muitas vezes para o auxílio ao próximo.”

29 Pai, estas palavras são de meu avô, no entanto, se posso lhe pedir alguma coisa, rogo-lhe confiança em Deus. O Antônio Carlos está aí conosco e será um companheiro para a sua reintegração no trabalho.

30 Não julgue que algo nos faltará. Pense, papai, nos pássaros. Até eles, que parecem criaturas sem rumo certo, possuem vida providenciada por Deus.

31 Perdoe o seu filho, se vim tão depressa. Acontece que o regresso não estava em minhas mãos. Fui colhido de tal modo que uma palha na ventania, talvez pudesse resistir mais do que eu.

32 Entretanto, o seu filho corredor não está morto. Trabalharei. A vida nova me trará novos caminhos.

33 Contemplemos o Céu. Tanta grandeza verte do alto, que nós humanos não podemos duvidar de que uma porta se nos abrirá para a renovação esperada.

34 Peço ao senhor e à mamãe muita coragem, e a coragem nasce da fé no Poder Maior.

35 Os dias estão passando, mas nós somos os mesmos brilhando sempre. Estou ainda chocado, mas otimista.

36 A esperança que o senhor e a mamãe nos cultivaram no coração, está melhorando. Com essa esperança voltada para Deus, venceremos.

37 Aqui, tenho encontrado muitos amigos, no entanto, agora preciso terminar.

38 Aos queridos Antônio Carlos, Milena, e ao pequeno Alexandre, ao José e Isabel, o meu abraço.

39 O vovô Amaral n se faz lembrado com um outro amigo, o irmão Pires de Campos, não sei se Olívio n é o primeiro nome.

40 Escrevo aqui de oitiva e não posso me evidenciar, papai, com seu coração e com a querida mamãe, o beijo de muito carinho e respeito do seu filho reconhecido,

Luiz Augusto

Luiz Augusto Trita


PRANTO E JÚBILO NUMA SÓ EXPRESSÃO


De nossa entrevista com os pais de Luiz Augusto Trita, na manhã de 27 de maio de 1978, em Uberaba, colhemos os seguintes informes, complementados em carta de 25 de junho de 1979, e dispostos de acordo com a sequência que obedecem no capítulo anterior — “Deixo o coração correr no lápis” —, página psicografada pelo médium Xavier, na reunião pública da noite de 25 de março de 1978, no Grupo Espírita da Prece, exatamente à uma hora da manhã:


1 — Meu caro papai: Sr. Antônio de Moura Trita, distinto comerciante e funcionário de banco, aposentado.


2 — Antônio Carlos: o mais velho dos quatro irmãos.


3 — “Quando esbarrei no elevado e compreendi a extensão do choque…” — A 31 de dezembro de 1977, vinha Luiz Augusto da casa da namorada e, no Elevado Costa e Silva, em seu Dodge Polara, desviando-se de um Opala, perdeu o controle da direção e foi de encontro a uma Kombi, cujo motorista ficou com ambas as pernas fraturadas. Do Opala, nada mais se soube depois. A senhora mãe de Luiz Augusto, a distinta professora D. Helena Sewaybricker Trita, recolheu, do local do acidente, uma das hastes dos óculos do filho. Talvez por isso, tenha o Espírito se referido ao assunto.


4 — Avô Trita: Antônio Tricta Júnior, nascido em Porto Feliz, Estado de São Paulo, a 8 de abril de 1887, e desencarnado a 31 de dezembro de 1952. Homem público — político —, administrador e agricultor respeitado na região.


5 — Mãezinha Helena: Cf. o item 3, acima.


6 — O Professor João Florêncio: Dr. João Florêncio Gomes, nascido em Tatuí, Estado de São Paulo, a 3 de setembro de 1886, e desencarnado a 29 de maio de 1919, era médico famoso, homem ligado à pesquisa científica.


7 — Dona Chiquinha Rodrigues: Sra. Francisca Pereira Rodrigues, nascida em Tatuí, a 4 de maio de 1896, e desencarnada a 9 de outubro de 1966. Educadora, escritora, mulher de muita influência política.


8 — Dona Carolina Renoir Ribeiro: Nascida em Paraisópolis, Estado de Minas Gerais, a 19 de setembro de 1902, e desencarnada a 20 de novembro de 1975. Educadora, escritora, diretora de entidade ligada ao ensino.


9 — Um padre, de nome Cônego Clímaco: Cônego João Clímaco de Camargo, nascido em Tatuí, tendo sido batizado no dia 7 de abril de 1838, e desencarnado a 31 de maio de 1905. Era cônego honorário de São Paulo, Deputado Provincial, famoso pela sua caridade e humildade.


10 — “Temos o Antônio Carlos com a esposa e um filhinho, a Isabel e o José precisando da saúde deles…” — O Espírito se refere à D. Milena Vernareccia do Amaral, atualmente, D. Milena do Amaral Trita, esposa do Dr. Antônio Carlos Trita, distinto engenheiro e nosso conhecido do item 2.

O filhinho do casal — Alexandre —, na época da entrevista, com três anos e meio de idade.

José Fernando — 3º irmão do Espírito comunicante, estudante de Engenharia.

Isabel Trita — a sua irmã caçula, então com 16 anos de idade.


11 — “Diga a seu pai que o Dr. Alberto Seabra não morreu…” — Trata-se do famoso escritor, cientista ligado à pesquisa homeopática, médico e psiquiatra espiritualista.


12 — Vovô Amaral: Bisavô — Benedito do Amaral, nascido em São Paulo, a 22 de junho de 1897, e desencarnado a 5 de dezembro de 1968. Comerciante e esportista filiado à Federação Paulista de Futebol.


13 — “O irmão Pires de Campos, não sei se Olívio é o primeiro nome.” — Dr. Ovídio Pires de Campos, nascido em Tatuí, a 8 de maio de 1884, e desencarnado a 3 de julho de 1950. Médico famoso, Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; membro da Academia Nacional de Medicina e da Sociedade Brasileira de Neurologia; Diretor Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e de outras importantes entidades científicas. Foi instituída na segunda Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo a Medalha de Ouro Professor Ovídio Pires de Campos.


Conclusões:

1) Luiz Augusto Trita nasceu em São Paulo, Capital, a 9 de agosto de 1954, aí desencarnando a 31 de dezembro de 1977. Cursava o 4º ano de Engenharia Mecânica, na Faculdade Mauá, em São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo.

Quando perdeu um amigo, em acidente de moto, campeão brasileiro de pólo aquático, Luiz Augusto, que não apreciava os velórios, não compareceu ao do amigo, limitando-se a ir-lhe ao enterro. Na ocasião, chegou a afirmar que a morte chegava sempre na hora certa; que acreditava numa Vida Maior; que possivelmente para quem partia, a morte por acidente seria o melhor tipo, para o qual se julgava preparado.

Era estudioso e responsável ao extremo.

Vendo-o estudar, a senhora sua mãe como que tinha certeza de que ele não se formaria e nem chegaria a se casar. Quando ele fez o vestibular, a ansiedade materna atingiu limites inimagináveis por causa do estranho pressentimento.

Era um rapaz sincero e leal.


2) Vovô Amaral, o bisavô de Luiz Augusto, era um comerciante modesto, simples. Alimentava amizade com o Professor Dr. Pires de Campos. Nas horas vagas, grande entusiasta do futebol, atuava como juiz nas partidas entre os grupos de médicos, na Faculdade de Medicina, tornando-se grande amigo deles, principalmente daquele que era detentor de renome internacional.


3) Segundo o Sr. Antônio de Moura Trita, Dona Chiquinha Rodrigues e o vovô Trita, quando na Terra, eram rivais políticos. Hoje, como vimos, ambos, no Mundo Espiritual, se encontram juntos, trabalhando na Seara do Bem.


E, deste modo, mais uma vez, chegamos à conclusão de que, com efeito, a vida continua e, tanto aqui quanto lá, desce sobre nós, a Misericórdia Divina a nos insuflar esperança, alegria e reconforto, inundando-nos de luz e paz.


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