O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Chico Xavier inédito — Autores diversos — F. C. Xavier / E. C. Monteiro


4


Chico Xavier e Maria Máximo

(Sumário)

A experiência humana é o caminho da ação pela qual somos compelidos a passar se pretendemos acesso à Vida Superior.

Ismênia de Jesus / Chico Xavier

(Praça da Amizade)


Chico Xavier iniciou sua carreira mediúnica para o grande público em 1932 com o lançamento da obra Parnaso de Além-Túmulo, trazendo a psicografia de grandes poetas brasileiros e portugueses como Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, João de Deus, Antero de Quental, Castro Alves, Rodrigues de Abreu e outros. Maria Máximo “explodiu” com sua mediunidade por volta de 1937. Logo que começou a tomar consciência de sua missão mediúnica e iniciou suas tarefas espirituais, Maria Máximo começou, no fim da década de 1930, a cartear com o médium mineiro e logo se formou sólida amizade.

Em setembro de 1940, Maria Máximo fez uma visita a Chico Xavier na cidade de Pedro Leopoldo (MG), onde o médium residia, para conhecê-lo.

Naquela aprazível cidade, Maria Máximo participou de vários trabalhos no Centro Espírita Luiz Gonzaga e recebeu inúmeras mensagens dos Espíritos através de Chico. Conseguimos resgatar algumas, duas delas de Emmanuel, de incentivo aos trabalhadores do Centro Espírita Ismênia de Jesus, fundado pela médium. Todas são inéditas em livro e estavam amarelecidas e adormecidas em alguma gaveta da Instituição. Vale a pena tomarmos contato com as comunicações.


Um estímulo de Emmanuel

1 Meus amigos.
Deus vos conceda sua bênção e sua paz.

2 Vossa união para o bom trabalho com Jesus não se verificou com um acontecimento eventual. O compromisso do esforço em comum, nas luzes do Evangelho, vem de muito longe. No pretérito espiritual, onde as almas edificam as bases das mais elevadas realizações.

3 A vida terrestre passa com o império das más ilusões.
A experiência varre os enganos da juventude, e quando as flores da fé se abrem ao sol das meditações, o Espírito recorda os seus altos e abençoados deveres.

4 A claridade da crença vos reuniu os corações para a construção ditosa do Reino de Deus, com os labores de Jesus Cristo.

5 Uni-vos cada vez mais.

6 Protegei, no mundo íntimo, n as flores da fraternidade contra o assédio das víboras da discórdia. O mundo está cheio de ervas daninhas que alimentam a sombra, n e só o clima da humildade evangélica e solidariedade sadia pode oferecer ambiente à obra de Deus.

7 Enlaçai-vos na mesma vibração de fé e nunca esqueçais a doce recomendação da tolerância.

8 Ainda e sempre, em toda a comunidade cristã, o maior para Jesus será sempre aquele coração devotado e sincero que se fizer o menor de todos. ( † )

9 Nas hesitações, buscai a força do Evangelho, nas dores, procurai a fraternidade legítima, no assédio das tentações, perdoai-vos uns aos outros. Não vos faltará o amparo espiritual dos mais desvelados amigos das Esferas da luz.

10 E, assim, amparando-vos reciprocamente, haveis de atravessar o oceano das provas executando as sábias determinações do Plano superior a vosso respeito, resgatando o pretérito obscuro e fundindo todos os sentimentos humanos que vos animam o coração em sentimentos divinos, os quais são transformados por Deus na auréola da vitória que fulge na fronte dos escolhidos.


Emmanuel


(Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier em Pedro Leopoldo/MG, em 5 de setembro de 1940.)




Hino da Casa dos Pobres

1 Neste templo da bondade,
Onde a luz da caridade,
Adoça todo amargor,
Jesus nos estende os braços,
Da terna luz dos espaços
Nas suas bênçãos de amor.


2 Nesta casa da bonança,
Onde palpita a esperança,
Das claridades do Além,
Toda ideia é da verdade
Todo esforço é da humildade,
Toda palavra é do bem.


3 Neste sacrário da vida
Toda dor, toda ferida
Encontra consolação!
A força que nos redime
É a do Evangelho sublime.
De verdade e redenção.


4 Nas lutas de cada dia,
Procuramos a alegria
De caminhar para a luz!
Cantemos na paz ditosa
A ventura luminosa
De trabalhar com Jesus.

João de Deus


(Psicografado por Francisco Cândido Xavier em Pedro Leopoldo/MG, em 5 de setembro de 1940.)




Pão da Vida


Em 1943, Maria Máximo lança, em edição própria, a obra Pão da Vida com mensagens pelo Espírito do Dr. Aurélio Augusto de Azevedo (Pai Aurélio) que foi seu pai na presente encarnação.

O livro, cuja venda reverteu em beneficio da Maternal Ismênia de Jesus, traz comentários evangélicos e doutrinários espíritas.

Chico Xavier se fez presente no apoio à obra, participando com o Prefácio de Emmanuel e a poesia Ao leitor, psicografada por Casimiro Cunha, reverenciando Pai Aurélio. Na sequência, uma bela prece de autoria da própria Maria Máximo, em que faz referência à sua mediunidade e bendizendo as tarefas para as quais fora convocada.


Prefácio de Emmanuel

1 Minha Irmã,
Que as bênçãos de Jesus te felicitem o coração consagrado à Verdade e ao Bem.

2 Refaze tuas forças, multiplica energias, mantém aceso o fogo sagrado de tua confiança e continua servindo Àquele Mestre amoroso e sábio que nos dirige os destinos.

3 Não te doa o espinho da incompreensão ou a pedra da malícia no campo imenso da semeadura evangélica. Não poderíamos só seguir entre flores. Àquele que demandou a ressurreição, coroado de sofrimentos, nem poderíamos percorrer, por encontrá-Lo, outra senda que não seja a via-sagrada de supremas renunciações. A cruz do Senhor Jesus é símbolo morto. O discípulo fiel não se esquivará ao seu peso, porque o madeiro do testemunho individual é passaporte para a Redenção.

4 Na mediunidade, encontraste a cruz repleta de espinhos e de rosas, de sombras e de luzes, de alegrias e de padecimentos, que é indispensável não menosprezar. Quantas vezes há ouvido à observação injusta, a ironia dos que te não podem compreender? Não importa. Auxilia a todos, entende-lhes as necessidades, espera-os no caminho com a lâmpada fraternal e, seguindo o Senhor, com a tua cruz, faze com que os espinhos floresçam, que as sombras se dissipem na claridade divina, que os sofrimentos se transformem cada dia em hinos de esperança.

5 Acusam em torno de teus passos, caluniam em derredor de ti? Continua a marcha para frente. Cada homem colherá o que houver plantado, cada trabalhador viverá na edificação que construir. Quem ajunta sombras conhecerá o nevoeiro, quem carrega pedras lhe sentirá o peso na estrada, pois, se vivem esquecidos do próprio Pai, se lhe não entendem a obra divina, que possuirão por nos oferecer senão as sombras que lhes amortalham o coração? É preciso cuidar do trabalho de Jesus, renovando a nós mesmos, no vasto programa da redenção espiritual.

6 Não te perturbem os ecos do passado em outras expressões da existência, pois, não somente tu, minha irmã, e sim todos nós, somos endividados a quem o Senhor concedeu grande material de misericórdia e possibilidades, a fim de que não faltemos aos resgates justos. A prova e o trabalho constituem a nossa grande oportunidade. 7 Louva sempre o Divino Amigo, que te conferiu a tarefa da distribuição de seus recursos amorosos junto aos que têm fome de pão do corpo e sede de Luz espiritual. Prossegue em teu serviço de irmã dos infortunados. Lembra que os escarnecedores são grandes desventurados nos caminhos terrestres. Planta as sementes da caridade para colheres os frutos de iluminação eterna e espalha a Luz do Cristo n para que todos aprendam a semear.

8 Continua, pois, vigilante na fé e devotada ao bem, amando a todos e confiando, acima de tudo, no Senhor.


Emmanuel




Nas verdades do Evangelho

1 Nestas páginas, amigo,
Tecidas no afeto irmão,
Há luzes silenciosas
Que falam ao coração.


2 Em todas, ouve-se a voz
Que exorta, consola e atrai,
São cartas do Mensageiro
Que convida ao Nosso Pai.


3 Estás cansado, oprimido,
Ao peso de tua cruz?
Vem buscar a força nova
Que alivia e reconduz.


4 Padeces? Perdeste o rumo
Em campos de sombras e espinho?
Encontrarás claridade
Para as lutas do caminho.


5 Enganaram-te? Medita,
Não olvides a bondade,
Terás, de novo, o roteiro
Dos tesouros da Verdade.


6 A calúnia visitou-te
E choras na incompreensão?
Vem buscar o lenitivo
Em bálsamos de perdão.


7 Suportas perseguições
Do mal criminoso e vário?
Descobrirás a esperança
Que brilhou sobre o Calvário.


8 Tens vivido ao desamparo,
Sem consolo, sem ninguém?
Receberás a harmonia,
A paz, o conforto, o bem.


9 Se o desejo da verdade
É a força que te governa,
Encontrarás nesta fonte
As águas da Vida Eterna.


10 Não mais sandálias de sombra,
Nem roupagens de ilusão,
Caminheiro deste mundo,
Atende ao teu coração.


11 Vem ouvir a voz amiga
Do grande trabalhador,
Que oferece o Pão da Vida
Em nome do Pai de Amor.


12 Na sede de nossas almas
Ouçamos o nobre Aurélio
O nosso irmão missionário
Das verdades do Evangelho.


Casimiro Cunha


(Versos recebidos pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo, em 14/3/1943).




Súplica


Senhor!
Eis-me aos vossos pés. Por vós eu fui criada, meu Pai, simples e ignorante. Deste-me, Senhor, para meu progresso, a lei do livre-arbítrio, mas, quando cheguei ao grau de raciocinar, não tive a felicidade de me sentir capaz de me encaminhar como devia e como me podia tornar feliz!

Quando meu Espírito ainda se tornava despido, completamente nu, vesti-lhe as roupagens da vaidade, da ambição, da maledicência, do egoísmo, da inveja, calcando com os tacões do orgulho tudo que sob meus pés podia pôr. Cobri-me, Senhor, com a capa da ignorância e coloquei no peito o emblema do ciúme! Não habitou em mim a inveja, talvez por não encontrar lugar para alojar-se, e assim vivi anos e anos, até que, num dia de muito calor e frio ao mesmo tempo, despertei pela alternativa que me sacudiu, e senti-me agasalhada e refrescada pelo véu que vossa infinita misericórdia me deixou cair nos ombros, envolvendo-me toda para, por ela, essa capa bendita, despertar!

Era a mediunidade que me ofertava o vosso grande amor por mim, para que me salvasse e dela tivesse o proveito que me oferecia, libertando-me dos grilhões que me prendiam e cobriam ao mesmo tempo!
Despertei, Senhor!

Mas que luta em que tive de lançar-me comigo mesma para poder confeccionar as roupagens que tinha de substituir, todas as que já estavam podres de tanto serem usadas e cobrir minha carcaça ambulante e quase errante. Porém, um dia, Senhor, de olhos fitos em Vós, implorando-Vos a força bastante para arrancar de mim tudo quanto me dificultava os movimentos e as ações, vi raiar sobre mim o sol de vosso amor que, pelo calor, fez derreter e cair esses envoltórios nojentos e prejudiciais!

E, ao ver o meu espírito despido, curvei a cabeça, agradecendo-Vos, por me haverdes mandado que as arrancasse com vontade de me ver liberta; mas, embora o esforço fosse grande, Senhor, ainda me incomodam os movimentos e dificultam os passos os fragmentos que se enraizaram primeiro, dando-me a agitação dos que ainda não compreendem que a natureza não dá saltos! Mas eu Vos suplico, Pai, a força do Vosso amor, para que me torne calma, refletida, tolerante e humilde! Dai-me, Senhor, a paciência, a coragem e a resignação, para que não esmoreça, nunca, quando sou forçada a ver por mim própria, o que aos outros fiz passar. Que o ódio que me votam seja o meu amor; a ofensa que me dirijam, receba o meu perdão e que eu veja sempre, em tudo o que me faça sofrer, a Vossa infinita misericórdia, como prova da Vossa sabedoria infinita na justiça de Vossas sábias e imutáveis Leis tendo como redenção para os que erram a sublime lei de causa e efeito. Louvado sejais, Senhor, Pai e Juiz de todos nós, que a todos dais a possibilidade de até Vós podermos ir.
— Vossa filha,

Maria Máximo




Dedicado aos companheiros da Obra Cristã

Premida pelas dificuldades encontradas na sua obra de benemerência e de consolo espiritual, Maria Máximo escreve para Chico Xavier, e o Espírito Protetor de Maria Martins de Andrade envia-lhe a seguinte mensagem em 12 de novembro de 1944, que é impressa e entregue a todos os colaboradores do “Ismênia” com o seguinte recado do Chico: Cara Irmã, ela escreveu as páginas me recomendando que lhe mandasse e dedica a todos os companheiros da Obra Cristã.


1 Irmãos muito amados:
Que as Bênçãos de Jesus nos felicitem, no trabalho do seu Evangelho de Redenção.

2 Edificado o templo das graças divinas, cumpre-nos distribuir a Divina Luz.

3 Quantos obstáculos vencidos nos caminhos ásperos, quantas nuvens de dor transformadas em chuvas torrenciais de misericórdia e alegria?

4 Convidou-nos, o Mestre, a exemplificar-lhe as lições sublimes.

5 Entre as pedras ingratas do mundo e, embora os espinhos da ignorância humana, Jesus ainda vem ao encontro de todos os sofredores e necessitados, iluminando trevas, consolando amarguras, enxugando lágrimas, vestindo a nudez, espalhando esperanças e renovando consciências.

6 É o Senhor, meus amigos, quem nos convoca ao serviço de Sua infinita bondade. Suas mãos generosas auxiliaram-nos na edificação deste novo templo de concórdia e luz espiritual. Seu braço forte dissipou a incerteza dos primeiros dias, guiou-nos o esforço sincero, trouxe-nos cooperação e alento, deu-nos segurança de fé e orientou-nos o ideal. E a sua casa de amor está erguida, com o celeiro farto de bênçãos.

7 Somos seus mordomos e servos, cooperadores e devedores. Que não fazer, portanto, pelo Amigo Eterno e Fiel?

8 Enquanto na esfera das lutas terrestres sobram discussões e dissensões, levantam-se as bandeiras do ódio, erguem-se muralhas do sectarismo e desabam tempestades do desespero, unir-nos-emos na mesma realização sagrada, exemplificando a fraternidade santa, arvorando o estandarte luminoso de paz, criando o novo entendimento entre os homens e restaurando as fontes do Infinito. 9 Nosso templo de caridade cristã será a luz viva para os caminhos da eternidade, consolação aos aflitos, socorro aos desesperados da sorte, pão dos famintos, água viva aos sedentos da alma, lar dos órfãos, teto amigo dos enjeitados, asilo dos pobres sem rumo, estrela da esperança aos que vagueiam na noite da descrença, fortaleza aos fracos, abrigo aos desamparados, hospital aos doentes, ânimo aos tristes, roteiro aos transviados, salvação dos náufragos, bálsamo aos infelizes, amparo aos sofredores e oficina ativa para todos os servidores fiéis.

10 Grandes são as dádivas recebidas! Muito grandes, porém, são as nossas responsabilidades perante o Doador Universal. Façamos, pois, meus amigos, o nosso novo compromisso, diante do Senhor. Aliemo-nos no ministério do amor cristão, entregando ao Mestre os nossos votos de renúncia, de trabalho e de sacrifício.

11 Em Cristo, a renúncia ilumina, o trabalho redime e o sacrifício eleva.

12 A semeadura generosa permanece em nossas mãos. Plantemos a humildade e o bem, para que as luzes celestiais resplandeçam na Terra, através das lâmpadas de nossos corações.

13 Vigiemos contra os vermes da sombra e contra as serpentes da discórdia! Nossas almas iniciam agora um novo ciclo na suprema edificação para Deus.

14 Amemo-nos, profundamente, distribuindo a felicidade com os nossos semelhantes! Aprendamos com Jesus, estendendo-lhe as lições divinas no campo da humanidade.

15 Chama-nos o Mestre ao serviço santificante do amor e da iluminação. Bem-aventurados os corações que souberem responder ao chamamento sublime!

16 Transformemos nossos desejos numa só aspiração, consagremo-nos ao Senhor, executando-lhe a vontade justa e misericordiosa.

17 Estamos convosco, de alma genuflexa, com as lágrimas de nosso júbilo e reconhecimento endereçadas ao Pai Supremo.

18 Agradeçamos a Deus, trabalhando e amando, perdoando o mal e estimulando o bem, servindo a todos e elevando-nos constantemente.

19 Enquanto as nossas portas se abrem ao próximo, cheias de luz cristã, abraçamos nossos corações para Jesus.

20 Hospedemos o Mestre, dentro de nossas almas, convertamo-nos ao Seu Evangelho de renovação e, unidos com Ele, sejamos instrumentos fiéis de Sua divina vontade para sempre.


Maria Martins de Andrade


Eduardo Carvalho Monteiro



[1] No livro impresso: “ínfimo,


[2] No livro impresso: “sombram,


[3] No original: “de Cristo” — Vide explicação de Allan Kardec sobre a anteposição do artigo à palavra Cristo.


Texto extraído da 3ª edição desse livro.

Abrir