O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Fotos da vida — Augusto Cezar


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Teste difícil

1 A história, aliás autêntica, se desenrolou, na fase terminal de um bazar de caridade, promovido por uma instituição espírita com finalidade assistencial.

2 A festa desdobrava-se ao ar livre, num pedaço de campo, cedido por família ligada ao grupo que se esforçava no máximo de atividade, em benefício da promoção.

3 A reunião alcançava o fim da alegria que reinava em todos os corações, quando uma jovem, primorosamente vestida, foi convidada a comparecer no palco improvisado para comentar o empreendimento.

4 Muita gente. Música de câmara. Ambiente de paz e meditação.

5 A oradora, apresentou-se com esmero, exibia vários brilhantes raros, nos brincos, na pulseira e em outros enfeites a lhe adereçarem o fino vestido azul.

6 Usando expressões fascinantes, a comentarista explanou com segurança sobre a caridade, enfatizando o imperativo do amor ao próximo, por fator de harmonia entre os homens.

7 Depois da famosa alocução, a palavra livre foi concedida a todos os presentes que desejassem complementar as ideias que a jovem expendera.

8 Alguns minutos de silêncio e, logo após, um homem, ainda moço, pediu permissão para externar-se e, sendo atendido, dirigiu-se particularmente à oradora que havia suscitado grande empolgação no público e falou com sarcasmo:
— “Moça, você pregou a caridade a nós todos, os seus ouvintes, e mostrou a excelência dessa virtude, mas a sua apresentação é um contrassenso. Sou auxiliar de serviço em uma joalheria e sei que você está usando brilhantes autênticos. Isso não lhe dói no coração? Falar com tanta beleza sobre a caridade e parecer uma vitrine de joias, exaltando a beneficência?…

9 A comentarista não se deu por molestada e respondeu, graciosamente:
— “O senhor não me conhece. Já fui pior, muito pior. Meu pai é negociante de pedras, classificadas em alto preço e a minha apresentação de hoje chega a ser humilde, porquanto, em muitas ocasiões, aparecia em público, ostentando brilhantes, considerados os mais caros. A Doutrina Espírita é que está garantindo a minha renovação. Estou deixando o uso de joias aos poucos, até que não me veja atraída por elas. Penso que, muito breve, estarei mais comedida em meus contatos com os amigos que me ouvem.”

10 Destacaram-se aplausos em geral e os companheiros foram festejar o êxito da iniciativa na residência de um dos irmãos de ideal, não longe da instituição.

11 A jovem oradora, dirigindo o próprio carro, chegou em casa, na cidade grande, lá pelas onze da noite.

12 Guardou o veículo, convenientemente, e voltou ao jardim que precedia a entrada da mansão.

13 Preparava-se para girar a chave da porta que lhe daria acesso à intimidade doméstica, quando um homem mascarado abeirou-se dela e intimou-a a lhe entregar todas as joias em uso.

14 Muito calma, a oradora da tarde começou a desatarraxar os próprios brincos de modo a entregá-los ao assaltante, quando um guarda, armado de revólver, apareceu na cena e, com a melhor presença de espírito, ela disse ao mascarado:
— “Alfredo, retire o seu disfarce. O policial pode pensar que estamos agindo seriamente.”

15 O assaltante, colhido de surpresa, diante da arma que o recém-chegado lhe apontava, desfez-se da máscara e a moça reconheceu nele o mesmo homem que lhe havia reprovado o uso dos brilhantes, no entanto, com invejável serenidade, explicou ao policial:

— “O senhor, por obséquio, nos desculpe. Estamos, o meu primo e eu, ensaiando uma cena de comédia, em que ele faz o papel de lobo mau… Desejo, porém, esclarecer ao senhor que este meu primo atirou-se a tamanhas dívidas de jogo que estou oferecendo a ele as minhas joias que lhe darão a cobertura necessária.”

16 E, à frente do guarda espantado, entregou ao assaltante todas as suas joias do momento, uma por uma, e lhe falou em tom significativo:
— “Veja, primo, estes brilhantes são seus, como se pertencessem a uma festa da caridade.”

17 O guarda boquiaberto acompanhava toda a cena e o assaltante se retirou de carro, lançando àquela jovem corajosa e digna, um inesquecível olhar, qual se estivesse falando a ela, através dos olhos, que jamais esqueceria aquela inesperada lição.


Augusto Cezar


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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