O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 20


Antônio João Beira


VOZES PREMONITÓRIAS

A família de Celestino Pampolin Beira estava prestes a mudar-se de Monte Aprazível, SP, para Porto Velho, RO.

Um dos filhos, Antônio João, de 16 anos de idade, vibrava, entusiasmadíssimo, com essa transferência. Na Capital rondoniana, que já conhecia, iria cursar o Colegial e trabalhar de técnico de som, a mesma tarefa que desempenhava na Rádio Difusora de Monte Aprazível. Tudo parecia favorável, pois lá, o progenitor possuía uma Loja de Autopeças e cultivava várias amizades, sendo que um dos amigos havia oferecido sua residência para passarem o fim do ano juntos, até se acomodarem melhor na nova cidade.

Nesse clima de muita alegria, uma semana antes da mudança, que seria de automóvel, surgiu um amigo que estava de partida, em seu caminhão, para Porto Velho. E, Antônio João, com a autorização de seus pais, preferiu a “aventura”, seguindo antes dos familiares, pela primeira vez viajando de caminhão.

Na longa viagem, ao descer a Serra de S. Vicente, próximo de Cuiabá, MT, o veículo colidiu violentamente com a traseira de outro caminhão, no lado em que estava o jovem, único atingido no acidente, com lesões graves que o levaram à desencarnação no próprio local. Eram 14:30 horas do dia 12 de dezembro de 1985.


A carta mediúnica de Antônio João, psicografada em 11 de abril de 1987, trouxe muito consolo à família, destacando-se, dentre outros esclarecimentos, a informação de que ele foi preparado espiritualmente para a inesperada provação. Uma “voz íntima”, intuitiva, a princípio, e depois uma “voz que se fez tão viva” alertou-lhe que “o caminho seria a meta final” para ele.

Observa-se que tudo obedeceu a uma programação superior. A mudança de cidade, que até hoje não se concretizou, pois o projeto foi abandonado… a oportunidade da carona e a pressa do jovem em seguir viagem… As abençoadas vozes premonitórias…




1 Querida mãezinha Gessi e querido papaizinho Celestino, Deus nos abençoe e nos proteja.

2 Assumi o compromisso de não chorar ao escrever-lhes e estou firme na resistência necessária em que os vejo, sem que me vejam, por leis que governam a tudo neste novo Plano que passei compulsoriamente a habitar.

3 Não acreditem que eu tivesse sofrido fisicamente na hora em que o caminhão achou, involuntariamente, o meio de aproximar das rodas de nosso veículo, estabelecendo aquele desequilíbrio de que tiveram notícias exatas.

4 Uma pancada na cabeça me silenciou de tal modo que, um sono ou desmaio de longa duração se me apossou de todas as faculdades, obrigando-me a repousar numa inconsciência difícil de descrever.

5 Refletia na renovação do caminho que enfrentaria em Porto Velho, mas no íntimo uma voz insonora qual a onda do rádio desligado, me afirmava que o caminho seria a meta final para mim. 6 Houve um momento em que essa voz se fez assim tão viva, que me lembrei de Jesus, que sofreu o martírio e a morte fora de casa, sob o céu azul que se tornou tempestuoso e escuro. 7 Lembrei-me dele, o nosso Senhor e Mestre, recordando as orações da mamãe Gessi, quando batalhava para que eu compreendesse a importância da prece.

8 Com esses pensamentos vi que o caminhão se aproximava, acreditando o motorista, por certo, que tomaríamos diferente rumo, entretanto o choque de ambos os veículos foi fatal.

9 A princípio ainda escutei vozes em torno de mim, mas admito que a hemorragia interna me dominou a cabeça e de nada mais soube, como se um grande branco se fizesse em meu cérebro. 10 Depois de algumas horas, acordei ao lado da senhora que se me fizera enfermeira voluntária. “Chame-me por vó Gertrudes”, disse ela, e ao notar-lhe o sorriso de bondade me senti mais seguro. A minha voz parecia de uma pessoa retardada, porque em vão tentei balbuciar frases de indagação e reconhecimento. 11 Só mesmo à custa de tempo, consegui que as minhas cordas vocais fossem reavivadas ou revitalizadas, e pude falar vagarosamente.

12 Vim a saber que os pais queridos estavam desolados em Monte Aprazível, e segui as preces da vó Gertrudes pedindo a Jesus os confortassem, levantando-lhes o ânimo.

13 Poderão imaginar o que foi a minha provação em forma de surpresa. Chorei muito, ao modo de um menino habituado aos mimos domésticos, e minha querida Vó Gertrudes deixou que eu derramasse aquele pranto de saudade e de amor enquanto quisesse. 14 Ao término da crise emocional que me tomou de assalto, perguntei por todos e pela nossa Cristina em particular, obtendo respostas consoladoras da vó Gertrudes, que me ouviu com invejável paciência.

15 Os dias correram sobre os dias, embora para mim andassem lentamente. Quem é feliz não vê o tempo; entretanto para quem sofre como sofria, o tempo se assemelha a um relógio parado. Mas vencendo todos os obstáculos fui à nossa casa e pude ver a aflição e a tristeza que ali reinavam.

16 Já que estava com vó Gertrudes, o meu único reconforto foi acompanhá-la nas preces, a fim de que a segurança do papai Celestino e as forças da mãezinha Gessi voltassem a levantá-los do abatimento em que se encontravam.

17 Agora queridos pais, que lhes disse quase tudo com respeito às minhas pobres notícias, peço-lhes me desculpem se cometi alguns erros ao escrever-lhes, e agradeço quanto fizeram por mim e quanto fazem por nossa Cristina, que está igualmente em meu coração.

18 Mãezinha Gessi e meu paizinho Celestino abençoem-me, para que eu esteja mais seguro de mim próprio, e recebam com a nossa Cristina e todos os nossos, o abraço de amigo, reconhecidamente do filho e irmão que nunca os esquecerá e que lhes será constantemente reconhecido,


Antônio João

Antônio João Beira.


Notas e Identificações

1 - Mãezinha Gessi e papaizinho Celestino — Casal Celestino Pampolin Beira e Gessi Aparecida Alvarenga Beira, residente à Rua Presidente Vargas, 829 — Monte Aprazível, SP. Pais adotivos desde os primeiros dias de vida de Antônio João. Chico Xavier informou-lhes que o jovem era um verdadeiro filho espiritual: “Ele foi encaminhado à sua mãe verdadeira.” De fato, sempre houve uma permuta de afeto muito grande no relacionamento pais-filho.

2 - Vó Gertrudes — Avó de Dª Gessi, desencarnada em 12/10/1963. Antônio João não a conheceu em vida material. Foi dedicada parteira, sempre humilde e caridosa.

3 - Só mesmo, à custa do tempo, consegui que as minhas cordas vocais fossem reavivadas — Os órgãos do corpo espiritual também sofrem consequências do trauma do corpo físico, requerendo tratamento médico especializado.

4 - Nossa Cristina — Gessi Cristina Beira, irmã.

5 - Antônio João Beira — Nasceu em José Bonifácio, SP, a 12/6/1969. A sua adoção trouxe grande alegria aos pais Celestino e Gessi, “porque antes dele chegar a nossa vida era triste e sem sentido.” Concluiu a 8ª série na E.E.P.G. “Feliciano Sales Cunha”, de Monte Aprazível. Frequentava com os progenitores as reuniões do Centro Espírita “Apóstolo Paulo”. Já tinha lido Nosso Lar e outras obras doutrinárias especialmente O Evangelho, de Kardec.


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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