O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Jovens no Além — Familiares diversos — 1ª Parte


Augusto Cezar — 2ª Mensagem

— 02 de novembro de 1974 —

1 Querida mamãe, é a hora de começar a nossa conversa falando em Deus. Não se pode mudar uma entrada assim tão clara e tão boa. Repito: Deus nos proteja.

2 Sou eu mesmo. Seu Augusto. Para servir só? Não. Para dizer que amo você, mãezinha, cada vez mais.

3 Gostei de sua decisão. n Acabar com os impedimentos e aparecer por aqui, de modo a termos a ideia de que a gente melhora na comunicação. É só a ideia. Porque união mesmo é em qualquer lugar. Nossa Vila n é aquele negócio de amizade e beleza. Todos irmanados, quase que pensando com uma cabeça só. 4 Mas, hoje é um dia triste para quem coloca a imagem da morte na frente da vida. E tanta lágrima nessa fronteira que se exprime por passagem de um estado a outro, que fiquei contente de pintar nesta sala para aquele abraço. É isso aí.

5 Problemas não faltam. Perguntas sobram. E a saudade parece sete pontas de punhal retalhando a alma principalmente quando gritam aí por nós como se estivéssemos mortos e encalcados n na Terra, sem recurso de alteração. Graças a Deus, não estamos nessa.
A onda para nós é confiança e amor.
Amor que não muda e confiança em que Deus é a base firme.

6 Agradeço, mamãe, por tudo.
Compreendo. Sei que o seu carinho queria e não queria a mensagem de hoje. n Queria porque a falta que sentimos uns dos outros é uma espécie de doença crônica, sem tranquilizante que aguente. E ao mesmo tempo você não esperava por mim, porque desejava que as nossas amigas recolhessem palavras dos filhos que vieram também para cá, assim como acontece a tantos de nós.

7 Temos, porém, aqui diversos companheiros. Uma curriola de moços, como diria o Jair Presente, n meu colega de incursão hidráulica. Entretanto, não sei se as mágoas do dia de hoje estão virando nuvens grossas de pensamentos amargos em torno da rapaziada. O certo é que fui considerado veterano para rasgar os obstáculos e dizer qualquer coisa. Por eles e por mim.

8 O Cristiano e o Gabriel n estão realmente aqui, lembrando pássaros ansiosos de pouso. Pouso no coração dos pais, que é sempre para nós um ninho de socorro infalível. Entretanto, não puderam reorganizar forças e enfileirar pensamentos para sustentar o lápis neste bailado das letras a que me vou habituando. 9 Ainda assim, recomendam a este pobre estafeta da Vida Espiritual para transmitir-lhes as lembranças e os agradecimentos. Ambos sorriem e choram ao mesmo tempo. É aquela emoção de calouros da nova estrada, contentes por se verem na memória dos pais queridos e encucados no regime de carência afetiva a que nos submetemos. Enfim, a situação é esta mesma.

10 Ninguém pode alterar o inalterável. E, para transformar o que deve ser transformado, em coisas que fogem ao nosso bedelho, qual acontece com a vida e com a morte, só Deus consegue modificar o que consideramos como coisa necessitada de mudança. 11 Querer estar aí com todos, a qualquer hora, e ligar pra vocês como quem toca telefones e campainhas, a gente quer mesmo. No entanto, é preciso esperar e esperar.

12 Este é preciso parece fatalidade. É preciso nascer e é preciso morrer, é preciso lutar por melhoria e é preciso melhorar sempre. Sequência de imposições benéficas que a pessoa agradece porque não há saída melhor para estes assuntos e casos de evolução. 13 Mas não se impressionem com isto. Não. Continuem auxiliando a gente com o pensamento de paz e amor. Isso é importante. Qualquer cara por aqui tem necessidade disso. 14 Não é fácil esquecer o que ficou pra trás. Somos alunos felizes porque nos achamos resignados e contentes na escola da vida diferente a que fomos trazidos; contudo, somos ainda presos, muito presos ao carinho de vocês. Falo aqui, mãezinha, a todos os presentes.

15 A indesejada n vai chegando e ataca de gigante, colhendo pessoas aqui e ali, deitando-as e levantando-as ao mesmo tempo. A gente entra à força na ideia de que está fazendo istripitisi. É aquele clamor de arrasar igualmente a qualquer um. Depois dessa operação obrigatória em que a criatura é deslocada em definitivo de seu próprio encaixe, começa a luta maior pela adaptação. 16 Vocês aí, fazendo força para nos reencontrar e nós daqui arrebentando energia para dar pra vocês a certeza de que ninguém morre… Mas tudo deve estar certo. Eu não posso andar invocado com problemas que não são para mim. Falo em saudade, falem outros com explicações. Dou, porém, uma voz à saudade e com ela peço a coragem de que não devemos estar desligados a fim de vencer a chuva parada de nossas indagações molhadas de lágrimas e prosseguir pra frente, dando duro no melhor por fazer.

17 Você, mãezinha, leve a meu pai o carinho de sempre e fique animada. Corpo terrestre é máquina de costura em mãos do alfaiate, enxada nos braços do lavrador. Qualquer coisa de precioso que se deve conservar. A senhora tem que segurar o apito por muito tempo ainda e, por isso, deve dar uma revisada na saúde física a fim de sabermos qual é o melhor remédio para a enquadração no equilíbrio das forças. n

18 É preciso (outra vez o “é preciso”) viver a vida tanto quanto seja possível na Terra para que se retire o máximo da escola do mundo. Às vezes encontro você matutando coisas. Será? Não será? Tenho ainda muito tempo no mundo? O seu pensamento me busca longe e eu fico mais perto de você para auxiliar as suas ideias no reajuste. Viver sim, mãezinha, e viver feliz como o figurino recomenda. n

19 Otília, Zuca, n Marli e a meninada estão chamando… Papai é nosso, um gigante de trabalho e de bondade, a pedir sempre mais atividade para ser mais útil. E nós não podemos ir para o brejo do desânimo. Com os nossos de casa, temos nossos amigos e eles todos formam hoje uma família só em nosso favor. 20 Sigamos pro Alto, que pro Alto é que a gente se manda com segurança. Mas isso tem que ser devagar. Pouco a pouco. A subida será por deveres cumpridos e por bênçãos do amor ao próximo. O melhor negócio é trabalhar com todos os necessitados do caminho por sócios ativos em nossos dividendos, por menores que sejam.

21 Mãezinha, hoje é um dia de aniversário geral. Todos lembrados nos dois Planos da vida.
Muito grato por sua presença com os nossos laços do coração nas preces de hoje. Convertam vocês aí as flores das homenagens em apoio aos que sofrem mais que nós mesmos. Teremos três benefícios juntos: pouparemos as flores em seus ninhos de origem, cooperaremos em favor de irmãos matriculados na penúria inesperada e prestaremos serviço a nós mesmos. Porque, como se vê na prece famosa — “é dando que se recebe”. n

22 Mãezinha, continuemos dando ao papai todo aquele apoio. Diga a ele que não estou ausente. Cada vez mais em casa para melhorar-me aprendendo amor e dedicação com vocês todos.

23 Agora, é aquele beijo do filho reconhecido. A carta pronta, as datas lembradas, aniversários em dia n e avisos colocados entre nós para dizer que não há sinal vermelho nas estradas de nossa fé. Agora é me arrancar para outras tarefas. Não para outras ligações, que não as tenho maiores do que a nossa.

24 Deixamos, companheiros e eu, muito carinho e muitas lembranças para os amigos presentes.

25 Quanto a nós dois, querida mamãe, é aquele mundo de flores do coração que entrego em seus braços. Flores de ternura e de gratidão. Desculpe seu filho pela pobreza. Tudo o que tenho de melhor é o seu amor e o amor dos nossos. 26 Com esse amor peço aceite o seu rapaz que você criou com tantos mimos e que não aprendeu a criar mimo algum para o seu carinho. Mas sei que você, querida mamãe, não quer tanto o que eu lhe pudesse trazer com as mãos repletas e sim espera o amor, acima de tudo o nosso amor, que trago nas mãos vazias. São vazias? Nós dois sabemos que não. Essas mãos, as mãos que Deus me concedeu, me trazem para o seu coração.

27 Sim, sou eu mesmo. Abrace-me. Estou com muitas saudades, embora sem desespero. Quero você, mãezinha, estar com você e com meu pai, e dar-lhes a certeza de que estou vivo.

28 Recebam todo o meu agradecimento em meu amor inalterável. E abençoe seu filho, sempre mais seu. E tudo de mais belo que espero sempre é a sua bênção.

29 Com todo o meu coração, entrego a você, mamãe, aquele abração do seu, sempre seu,


Augusto


COMENTÁRIOS


Eivada de revelações do total desconhecimento de Chico Xavier, temos a sensação nesta mensagem, como de resto nas outras todas, de que Augusto, acompanhando sua mãe no próprio lar e na intimidade de seus pensamentos, foi recolhendo as impressões recônditas, as preocupações e os anseios, para, através de Chico, pela psicografia, devolver-lhe ao coração materno as respostas correspondentes.

Por exemplo, sentiu as dificuldades que enfrentou o coração materno, no dia de Finados, ao trocar a visita ao túmulo do filho no cemitério, junto de outros familiares, pela viagem a Uberaba.

Anotou também a prece-súplica de D. Yolanda, quando junto de duas mães, profundamente abaladas pela perda recente de seus filhos, Cristiano e Gabriel, rogou a Jesus, que se fosse possível, a despeito do desejo de receber mais uma mensagem do Augusto, que um dos dois jovens se comunicasse em seu lugar, para consolo de suas mães.

Em seu convívio espiritual com a genitora, Augusto surpreende ainda o abatimento físico, aconselhando os cuidados médicos e lhe suplica para não dar pouso em seu espírito a doenças fantasmas. D. Yolanda passou alguns meses alimentando a ideia de que se via prestes a morrer, pois se julgara muito doente… E Augusto, em sua mensagem insiste: “É preciso viver a vida tanto quanto seja possível na Terra para que se retire o máximo da escola do mundo. Às vezes encontro você matutando coisas. Será? Não será? Tenho ainda muito mais tempo no mundo?”

Outros elementos recolhemos a esta mensagem do Augusto e que anotaremos por ordem de aparecimento no texto.

1 — Ver comentário acima.


2 — Nossa Vila — Vila Nova Conceição, bairro da capital paulista, onde Augusto sempre residiu.


3 — Refere-se ao desejo de D. Yolanda, de todo contraditório em seu espírito pela saudade do filho, de ceder a vez, se o pudesse fazer, às outras mães presentes, como já comentamos.


4 — Jair Presente — um dos jovens autores deste livro, presente à reunião ora considerada. Colega de Augusto de incursão hidráulica, porque ambos morreram afogados.


5 — Cristiano e o Gabriel — Cristiano Ricardo Vilaça Lopes, filho de Joaquim Coelho Lopes e Lenira Vilaça Lopes, residentes em São Paulo, faleceu em acidente de automóvel na Estrada Curitiba-Ponta Grossa, com 14 anos apenas, no dia 10 de janeiro de 1974; Gabriel Casemiro Espejo, 25 anos, filho de Gabriel Espejo Martinez e de Irene Casemiro Espejo Martinez, residentes em Campinas, desencarnou, com meningite, em 27 de junho de 1974. As mães desses jovens estavam presentes à reunião em Uberaba, quando da psicografia desta mensagem.


6 — A indesejada — a morte.


7 — Conselhos de Augusto a D. Yolanda, a respeito de sua saúde.


8 — Como no item 7 ver nossos comentários iniciais neste capítulo.


9 — Zuca — apelido íntimo de Zuleica, irmã de Augusto, pouco conhecido fora dos círculos domésticos.


10 — Oração de São Francisco.


11 — Augusto refere-se à passagem de seu aniversário de nascimento a 27 de setembro, pouco mais de um mês antes da psicografia desta mensagem.


Caio Ramacciotti



[1] Obs. Para melhor compreensão de algumas expressões utilizadas pelo autor espiritual vide Glossário de gírias.


Texto extraído da 5ª edição desse livro.

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