O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Luz acima — Irmão X


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O Espírito que faltava

1 Quando D. Arlinda chegou ao grupo espiritista, desejosa de curar-se das perturbações que a assediavam, foi atendida pelo orientador Dagoberto, dedicado protetor espiritual dos necessitados.

— Quero sarar — dizia a iniciante — e servir à Doutrina. A mediunidade é um ministério celestial. Se Deus me achar digna, aqui estarei para trabalhar com afinco e devotamento.


2 Reparando-lhe as boas disposições, o diretor da casa facilitou-lhe o acesso aos fluidos renovadores.

— Preciso de Espíritos que me curem! — reclamava a obsidiada, lamuriando-se — e, tão logo me refaça, seguirei a verdade e servi-la-ei até ao fim de meus dias…


3 O benfeitor deu-se pressa em angariar a colaboração de clínicos competentes da espiritualidade, que a ajudassem na recuperação do equilíbrio.

Em breve, D. Arlinda estava robustecida, feliz. Perdera as fobias inquietantes. Estava curada, enfim.


4 Prosseguia frequentando as pequenas assembleias doutrinárias, mas mudara a conversa…

— Se Amaro, meu marido, obtivesse um emprego, sentir-me-ia mais disposta ao trabalho mediúnico. Mas assim…

E terminava, suspirando:

— Se os Espíritos caridosos nos amparassem…

Dagoberto interveio, solicitando a cooperação de alguns benfeitores que, indiretamente, agindo sem alarde, através dos fios invisíveis da inspiração, lhe situaram o esposo em serviço digno, convenientemente remunerado.


5 D. Arlinda, agora, era menos pontual às sessões iluminativas; fazia-se, contudo, portadora de novas alegações.

— Como contribuir na lavoura da mediunidade? Meus dois filhos, Fernando e Rodolfo, cercam-me de preocupações infindáveis… Sabemos que as atividades dessa natureza exigem paz… Com as angústias que trago na cabeça, a calma é impossível. Se os Espíritos me ajudassem a encaminhá-los…

Voltou o protetor a socorrê-la, trazendo-lhe à casa o decisivo concurso de sábios educadores desencarnados que modificaram as tendências dos rapazes, melhorando-lhes os impulsos e conduzindo-os a louváveis institutos de ensino.


6 Solucionado o problema, D. Arlinda encontrou nova necessidade:

— Graças a Deus — afirmava —, tenho sido muito feliz em minhas súplicas. Mas, como iniciar a colaboração nos círculos da mediunidade? Enquanto não nos mudarmos de residência, qualquer tentativa seria improfícua. Imaginem que sou diariamente hostilizada pelos vizinhos. Necessito, antes de tudo, afastar-me do ambiente. Enquanto isto não se der.


7 E rematava:

— Se os Espíritos me auxiliassem a favor da mudança…

Dagoberto, prestativo, correu a cooperar. Não dispunha de corretores no “outro mundo”, mas conhecia amigos que sabiam amparar sem prejuízo de ninguém.


8 Em poucas semanas, a senhora permutava o domicílio acanhado por residência arejada e espaçosa.

Beneficiada de tantos modos diferentes, teve dificuldade de alinhar pretextos de ordem material e falou, supostamente preocupada, aos companheiros do grupo:

— Estou pronta para a tarefa mediúnica,… Entretanto, como encetá-la? Aguardo a influência dos irmãos invisíveis, em nossa mesa de orações, tempo enorme!… Qual nada! Não registro a menor vibração diferente, em torno de mim! estou mesmo sem rumo…


9 E concluía, reticenciosa:

— Se os Espíritos me desenvolvessem…

O benfeitor de sempre movimentou as possibilidades imediatas e trouxe companheiros esclarecidos que passaram a colaborar no esforço de iniciação da candidata.

D. Arlinda foi crivada de apelos e advertências. Os amigos do Além falaram-lhe da caridade, da educação, do serviço ao próximo. Conduziram doentes ao seu coração, proporcionando-lhe valiosas oportunidades de praticar a ciência de elevação. Necessitados sem-número, tangidos por forças imponderáveis, sitiaram-lhe a porta. Era convidada às manifestações do bem, através de todos os clarins da vida espiritual.


10 A futura missionária, porém, negou-se redondamente. Queria o ministério mediúnico, mas não suportava a visão de doenças, experimentava receios indefiníveis ante as pessoas perturbadas, não dissimulava o desequilíbrio nervoso que a acabrunhava, em qualquer ação de socorro às entidades sofredoras. Temia complicações, não desejava ser julgada pela opinião pública.

Reproduzia queixas e fugas, duas vezes por semana, ante os colegas espantados, quando Dagoberto, o prestimoso amigo espiritual, certa noite se comunicou no grupo, satisfeito e bem-humorado, como de costume. Finda a preleção, na qual distribuiu precioso encorajamento, Dona Arlinda interpelou-o, suplicando:

— Meu protetor, ajude-me! Preciso progredir! Poderei contar com a sua ajuda para meu desenvolvimento? O interpelado respondeu, enigmático:

— Sim!… A mediunidade, antes de ser um fenômeno, é trabalho aos semelhantes!…


11 D. Arlinda pretendia promessas mais claras e aduziu:

— Os protetores me auxiliarão?

Dagoberto sorriu e ajuntou:

— Eu, agora, minha irmã, só conheço um Espírito que pode socorrê-la. Um, apenas. Sem ele, sua felicidade nunca virá.

— Oh! qual? — interrogou a senhora, dominada pela volúpia de implorar proteção diferente — farei preces, incluí-lo-ei em minhas súplicas diárias!…


12 Com surpresa geral, Dagoberto informou:

— É o espírito da boa vontade. Para encontrá-lo, não precisa dirigir-se ao “outro mundo”. Ele está em seu mundo mesmo.


Pesado silêncio caiu sobre todos e a sessão foi encerrada, sem outras consultas.


Irmão X

(Humberto de Campos)

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