O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Luz bendita — Emmanuel — Depoimentos diversos


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… Chico apontou um roteiro de luz em minha vida…

Vovó, espírita convicta, residindo em Caratinga, e com muita vontade que mamãe pudesse estudar, matriculou-a na Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora, na cidade de Ponte Nova, onde mamãe ficou interna desde a infância até a idade adulta. Portanto, todo ensinamento e base religiosa de mamãe foi católica.

Mamãe casou-se e após sete anos perdeu seu primeiro filho, João Campos Bittencourt. Nesse passamento recebeu seu primeiro livro espírita das mãos do poeta Vallado Rosas que fazia parte do grupo Espírita familiar, juntamente com titia Adelaide Coutinho, conhecida mais por Dadá. Nessa época era muito difícil falar em Doutrina Espírita.

Ainda de convicção católica e em Caratinga, perdeu mais um filho, Antônio Bittencourt (Tonico).

Em 1930 a família mudou-se para o Rio de Janeiro, quando conheceu Aura Celeste, fundadora do Asilo Espírita João Evangelista.

Dessa época em diante mamãe abraçou o Espiritismo como sua Doutrina, com muito entusiasmo.

Em 1º de maio de 1943, passou-se a desencarnação de minha irmã Agar, médica. Apesar de seguidores da Doutrina, não contínhamos as lágrimas da saudade.

Em setembro desse mesmo ano, dentro do nosso relacionamento comum, conhecemos o Sr. Manoel Quintão, então Presidente da Federação Espírita Brasileira, por intermédio de minha cunhada, Eunice Quintão Rangel Bittencourt, sua sobrinha.

Para nossa felicidade, em uma das costumeiras visitas que Chico fazia ao Sr. Manoel Quintão, viemos a conhecê-lo. Isto em 19.9.1943 e, nesse mesmo encontro, ampliou-se nossa felicidade, pois recebíamos a primeira mensagem de Agar.

O tempo passava e Maria Aparecida, outra irmã, também médica, vem através de desencarnação por acidente automobilístico, enfeixar uma vez mais a tristeza em nosso lar. Isto em 16.1.1951.

O importante, que Chico telefona para nossa família para nos consolar e mediunizado, Agar por seu intermédio falou diretamente com mamãe, (Veja o artigo: Um espinho na carne histórica da França) confortando e consolando-a, dizendo-lhe que Maria Aparecida partira com acervo espiritual muito grande.

Em certa ocasião, numa confirmação pura de sua mediunidade, Chico nos surpreende com um recado de Maria Aparecida, que estava presente dizendo que: “A pulseira que sua madrinha Adelaide Pinto Duarte lhe dera por ocasião de suas núpcias, perdera-se no acidente”.

Como sabíamos desse seu presente, após sua desencarnação a família procurou-o, não o encontrando.

Aconteceu o passamento do meu quinto irmão, Antônio Ildefonso Bittencourt Filho, jornalista. Mamãe nesse dia estava em Pedro Leopoldo e, antes que qualquer contato fosse feito, Chico tomou conhecimento por seus amigos espirituais logo que ocorreu o acidente automobilístico em 5.3.1953. Não sabia como falar à mamãe.

Quando começou a dizer “Dona Esmeralda, houve um acidente, o Antônio…”, não precisou dizer mais nada, mamãe percebeu o que acontecera e imediatamente voltou ao Rio.

Os queridos leitores poderão notar que Chico apresentou-se em nossa vida da maneira mais benéfica que se possa imaginar. As mensagens e os recados dos amigos es rituais e dos familiares, são inúmeros, haja visto que mamãe, devotada e agradecida, compilou juntamente com Ismael Gomes Braga, que atuou em suas diagramações, os quatro livros, Relicário de Luz, Dicionário da Alma, Cartas do Coração e Nosso Livro, onde muitas mensagens ali estão impressas.

Ninguém que convive com Chico pode deixar de se impressionar com sua bondade e com suas alegrias em amparar as criaturas humanas.

Coisas lindas pude observar ao lado de Chico; por volta de 1956, estávamos na sua residência e, como sempre; fazíamos as reuniões à noite. Havia um grupo de confrades de Belo Horizonte. Feita a prece, percebíamos que as pessoas dessa cidade traziam retratos de amigos desencarnados e Sheilla aplicava substância fluorescente nesses retratos. Mamãe pesarosa dizia: “Que pena, não trouxe os retratos das meninas.”

Sheilla, captando seus pensamentos, falou: “Que pena, não Esmeralda!”

Quando mamãe menos esperava, em seu colo estavam os retratos de Meimei, Agar e Maria Aparecida.

Cabe aqui um pequeno esclarecimento.

Mamãe estava com esses retratos trancados em seu armário, deixando a chave com minha irmã Maria Auxiliadora, com medo das crianças tirarem ou mexerem no seu cantinho de relíquias.

Em Pedro Leopoldo ainda, o Antônio meu segundo irmão desencarnado, apareceu ao Chico e trouxe seu recado simples de criança, no qual perguntava à mamãe:

“A senhora lembra se daquele roseiral tão lindo, que papai plantou para nós em Caratinga? Pois é, nós estamos também preparando um para a senhora quando voltar e encontrar-se conosco aqui.”

Realmente, em nossa casa em Caratinga havia um roseiral em forma de túnel, trabalhado por papai, que saia da porta de nossa cozinha, atravessava todo o terreno e terminava na beira do rio. Formava um caminho florido, deixando muito alegre o ambiente em casa.

Ainda uma vez em suas reuniões, Chico viu “papai grande”, meu bisavô, que ganhou esse apelido por ser um homenzarrão. Apareceu a Chico como em vida.

Por problema físico, pois estava com cirrose hepática, via-se obrigado a escrever sentado em uma cadeira de braços, apoiado sobre uma tábua colocada transversalmente sobre a cadeira, e despachava seus serviços.

Pois foi exatamente assim que trouxe seu recado, para ma mãe, pedindo ao Chico que o lesse:

“Deus te abençoe minha neta”.

O importante neste recado é que ele escreveu o diretamente na tábua e, quando meu bisavô falecera, mamãe contava apenas cinco anos de idade, era a única lembrança que tinha dele.

Certa época, voltando de Pedro Leopoldo a Belo Horizonte no trenzinho que fazia a ligação, Chico gentilmente nos acompanhou e, em dado momento, disse-me que tinha um recado de Vallado Rosas. Pediu-me um pedaço de papel. Não tínhamos.

Levava algumas laranjas embrulhadas em papel jornal, e nesse papel é que foi feita sua mensagem.

Na noite de 17.7.48, recebemos onze mensagens de parentes e amigos espirituais tais como:

Adelaide Coutinho, tia, João Coutinho, tio, Jurandir Campos, primo, Casimiro Cunha, amigo, Bibita (apelido) tia, Vallado Rosas, amigo, Zizinha, bisavó, João Ildefonso, tio-avô, Nicandro Campos, tio, Silos, tabelião em Caratinga, amigo, Mariquinhas, amiga, e, fechando essa reunião, Emmanuel trouxe a mensagem que muitos já conhecem, ` Oração Dominical, publicada em livros e folhetos.

A autenticidade dessas mensagens, é que todas estão com letras e assinaturas diferentes. Com todas essas mensagens, foi preenchido na sua totalidade um bloco de papel pautado.

Portanto amados leitores, se fôssemos descrever aqui tudo o que recebemos desse abnegado coração de infinitos raios de amor, daria um livro à parte.

Chico apontou um roteiro de luz em minha vida e me fez assumir responsabilidades ante à divulgação da Doutrina Espírita.

Devemos nos conscientizar de que Chico é um missionário e feliz é o Brasil de ter sido berço de um espírito de seu valor. Nas comemorações dos 50 anos de atividades mediúnicas de

Chico Xavier, rogo a Deus conceder ao querido médium suas bênçãos de paz e amor, multiplicando-lhe as alegrias e consolações que nos permitiu receber em tantos anos de devotamento ao Bem.

A seguir, com permissão dos queridos leitores, publicarei a primeira mensagem de minha irmã Agar e umas trovas de meu tio João Coutinho.


Carta de Agar

1 Mamãe muito querida, abençoe-me.

2 Guarde sua filha nos braços e no coração, como noutros tempos. Não se recorda?

3 A noite vinha com a paz envolvente das sombras e seu colo amenizava meus receios.

4 Agora, mamãe, mais que nunca preciso de sua coragem. Enquanto a criança transita nos prados verdes, não importam as quedas sem importância. Os tropeços ensinam a andar. Mas… quando aparecem abismos, quando surge a ameaça dos monstros o coração maternal chama a criança ao mais íntimo do seio. Esta dor de hoje, mamãe, é um sofrimento assim, que necessitamos atravessar muito unidas, para que as angústias se atenuem nas nossas almas.

5 Presentemente seus olhos afetuosos não poderiam lobrigar senão a filha devotada, ativa, dedicada ao dever, entretanto, trinta e três anos, constituem espaço de tempo excessivamente curto, em face dos muitos séculos que se desdobram no caminho da vida.

6 Acreditei demasiadamente em minhas forças e caí no grande despenhadeiro. O passado fez-se ouvir e lá, no silêncio profundo de meu coração, que desejava crer e viver, servir e sentir, o adversário venceu, compelindo-me a perdas amargurosas. 7 Mas Deus, mamãe, é o Senhor da Justiça impoluta. Os homens julgam, Deus ama. 8 No mundo opiniões escabrosas que ferem o espírito mais que o aço contundente, todavia, no plano eterno, encontramos a bondade sublime do Criador. 9 Há sempre, na Terra, quem saiba maldizer e raros que se dispõem a ensinar e a servir com Jesus. Compreendeu a diferença, mamãe? Encontro-me, pois, numa fase nova de serviços redentores. Façamos o possível por não recordar a extensão das sombras. Aceitemos o dia novo.

10 Ah! quanto venho lutando por arrebatá-la aos sentimentos negativos de tristeza e derrota espiritual. Com que angústia despejei o meu vaso de lágrimas no seu coração amoroso nos primeiros dias do doloroso despertar! No entanto, agora, sei que posso contar com seu entendimento de todos os dias. 11 Não estou em círculos infernais; fui conduzida ao serviço ativo. Minha queda amargosa recebeu do Pai, a bênção de novo ensejo de trabalho regenerador. E desdobro-me por alcançar novas oportunidades de compreender e servir a Jesus.

12 Sei, mamãe, quanto lhe custou a nossa separação, meu gesto foi rude demais, entretanto, nunca suponha que eu pudesse cometer a ingratidão para com o seu desvelado amor. Fiz tudo, mamãe, por vencer o inimigo das sombras e deveria ter feito ainda mais, por anular-lhe a influenciação inferior. 13 E seu coração carinhoso pode avaliar com que lágrimas venho levando o remorso de não ter pensado mais. Entretanto, façamos de conta que regressamos ao passado. Sou ainda sua filhinha e peço-lhe, com lágrimas, que me ajude e perdoe. 14 Quero resgatar minha falta no trabalho persistente sem repouso. Auxilie-me com sua força, confiando em Deus. 15 Lembre, mamãe, aquela Virgem Santíssima, que também foi mãe de um Filho Divino que expirou na Cruz. E Ele era o puro e santo por excelência, e eu, a pecadora endividada de outras encarnações. 16 Com o seu perfeito equilíbrio espiritual vou conseguir cada vez mais, nos trabalhos diferentes a que me vou consagrando, ao lado de nossa irmã Olímpia. Tenhamos coragem. Jesus não nega oportunidades santas aos que recorrem a Ele de boa vontade. E eu recorri, de todo o meu coração. 17 Reconheço que errei, mamãe, dando ouvidos às forças destruidoras, que me aniquilaram muitas esperanças e envenenaram o ambiente de nossa casa feliz; todavia, também sei que sua alma generosa me perdoou aquelas setenta vezes sete vezes. Mais tarde saberá tudo.

18 Agora, preocupemo-nos com o trabalho salvador. Hei de ajudá-la na restauração de suas forças orgânicas.

19 Seja alegre e otimista, não percamos a fé no Poder de Jesus. As nuvens são fenômenos atmosféricos simplesmente. A realidade está no infinito dos céus, onde a luz do Senhor nos abençoará para sempre. Vamos juntas ao trabalho no bem de nossos semelhantes. E unida consigo cada vez mais, elevo ao Pai de Infinita Bondade o meu cântico de agradecimento e fé. Tudo no mundo é expressão transitória. Aproveite pois, mamãe, a dor como bênção.

20 No planeta, quase toda alegria é perigosa, talvez por isso mesmo, o Pastor Divino preferiu conduzir as ovelhas pela porta da cruz. E você, minha querida Bibi? Não se esqueça que a sua Dina está mais viva do que nunca. Console mamãe, não a deixe entristecer. Os sofrimentos dela agravariam minha situação.

21 Estou atualmente em aprendizado mais belo e preciso amparar-me em todas vocês. Agradeço seu devotamento, minha querida irmã, e espero que continue sempre dedicada à felicidade de nossos pais, fazendo o que não me foi possível fazer.

22 E agora, mamãe, aqui encerro minhas notícias escritas com o coração, pedindo a Deus abençoe a senhora e ao papai, concedendo-lhes muita paz e muita energia na luta. Não desdenhemos o Calvário que o destino nos reservou e que minhas fraquezas agravaram. 23 Dia virá em que as pedras estarão convertidas em pão, os espinhos em flores e as cruzes em caminhos redentores da eternidade.

24 A noite passou. Vamos a um novo dia e nunca esqueça de abençoar a filha do seu coração e sempre sua


Agar


Notícias fraternas


Zita querida irmã, que Deus te ajude

A conservar a lâmpada da crença,

Concedendo-te a luz por recompensa,

Nas estradas dá prova ingrata e rude.


Arrebatou a morte inesperada!

Para sofrer-lhe o golpe para vê-la

Bastou-me a dor junto ao Café da Estrela

Que me impeliu a vida renovada…


Esperavam-me laços prediletos,

Entretanto, apesar dos novos brilhos,

Sinto a amarga distancia de meus filhos

E a saudade de todos os afetos.


Lembro, além de meus velhos desenganos,

Nossos dias floridos e tranquilos,

As palestras do Lázaro e do Silos,

Em nossa Caratinga de outros anos!…


E seguindo-te as lagrimas e as dores,

Rogo ao Mestre do Amor te siga os passos,

Suprimindo-te a sombra nos cansaços

De teus padecimentos remissores.


Não temas! Atravessa os temporais!…

Em seguida ao caminho doloroso,

Encontrarás o Ninho de Repouso,

Na luz do Céu que não se apaga mais!…


No depoimento de D. Isabel Bittencourt de Souza (D. Bibi, na intimidade), transpareceu-nos a situação cármica de sua mãe. Tem-se, que sua passagem nas vidas anteriores, D. Esmeralda e seus filhos tiveram grande influência na fatídica noite de São Bartolomeu.

No Reformador de novembro de 1975, reportagem completa, inclusive com mensagem de Emmanuel à D. Esmeralda Bittencourt, esclarecendo-a de sua situação no passado.

Francisco Cândido Xavier, ligado ao seu problema, esclarece a D. Bibi, através de carta endereçada, quando de sua estada na França, Paris.

Abaixo transcreveremos trecho dessa carta, que também está inserido no Reformador de novembro de 1975.

“… Hoje, escrevo a você com a emoção que você pode imaginar, pois, alguns poucos dias antes da partida do nosso Antônio, Dona Esmeralda e eu nos achávamos em reunião íntima em nossa casa, junto à casa de Luiza, quando, finalizadas as nossas preces e encerrada a reunião, comentamos as lutas que haviam ficado no mundo, depois da perseguição aos nossos irmãos das igrejas evangélicas na França de Catarina de Médicis… (Vide artigo: Os gritos da noite de São Bartolomeu) Dona Esmeralda e eu comentávamos os vários aspectos das provações a que me referi, quando ela solicitou que eu perguntasse a Agar, então presente, se eu, Chico, estava também no círculo de provas por motivo da perseguição aludida, ao que ela respondeu:

— Sim, mamãe, de algum modo, embora indiretamente…

Dona Esmeralda então indagou em voz alta:

— Minha filha, quando terminarão essas provas?

Agar respondeu, com palavras de que não me lembro, afirmando que, quando ela, D. Esmeralda e eu nos encontrássemos de novo, num 24 de agosto, em uma oração no Palácio do Louvre, isso seria o sinal de que as nossas provações (naturalmente, pelo menos quanto a mim, que reconheço ser uma alma infinitamente devedora perante as Leis de Deus, somente as provações que se referem à perseguição de São Bartolomeu) estariam terminadas. Agar sorriu e despediu-se. D. Esmeralda e eu encerramos a conversação com bom humor e alegria, e concordamos em que, com certeza, isso se verificaria quando nós ambos, ela e eu, estivéssemos no Mundo Espiritual. Passou o tempo; e a palestra, como tantas, ficou aparentemente esquecida. Pois hoje; Bibi, eu que nunca imaginei poder vir a Paris e demorar-me aqui, entre nossos irmãos franceses, estive no Louvre (hoje, grande museu) e, em prece rápida, pude ver Dona Esmeralda com Dona Isabel Cintra e outras afeições. Ela estava de fisionomia tranquila e feliz e, com lágrimas que não chegaram dos olhos, apenas me disse: “Chico, meu filho, Deus te abençoe.” O movimento no Louvre é muito grande e a visão como a prece foram ligeiras. Mas, você pode avaliar a minha emoção escrevendo a você, agora à noite, no hotel, como não podia deixar de fazê-lo, pois você é o coração capaz de compreender a beleza do acontecido.” (Esta a interessante carta remetida da Rue Bonaparte, 49 Paris. — Nota da Editora)


Isabel Bittencourt de Souza


(Rua Senador Nabuco, 335 - Rio de Janeiro, RJ)


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