O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice | Página inicial | Continuar

Lázaro redivivo — Irmão X


31


Com franqueza de irmão

1 Pergunta você como iniciar um trabalho eficiente no Rio, ( † ) em favor da confortadora doutrina que os Espíritos Consoladores semeiam na Terra.

2 Francamente, sua pergunta denuncia muita despreocupação do grandioso movimento que os espiritistas sinceros desenvolvem nos mais diversos ângulos do Brasil, mormente na Capital da República. n

3 Esclarece que deseja fazer uma obra de conformidade com os seus programas de ação, dando expansão aos seus propósitos e desejos, fundamentando-se nos princípios que você julga excelentes. 4 Depois da morte, porém, meu amigo, quando, de fato, nos desvencilhamos das ilusões maiores, é muito difícil acreditar nos possessivos singulares. Fala-me você de “seus pontos de vista”, mas acreditará, porventura, que todos estejam pensando de conformidade com você? Desejará matricular-se na escola de esgrimistas ou propõe-se ao serviço da fraternidade universal?

5 As lutas mais detestáveis da Terra são as que se efetuam em nome da religião. Os judeus que tramaram a crucificação de Jesus agiram na qualidade de fanáticos infelizes, mas os guerreiros das Cruzadas, que já conheciam a plataforma do Cristianismo, baseada em amor a Deus e ao próximo, foram conquistadores cruéis, a massacrarem multidões, disputando alguns palmos de solo em nome d’Aquele que não possuía uma pedra onde repousar a cabeça.

6 Refiro-me a isso, considerando os termos de sua solicitação. Você pretende manejar o dardo, a fim de corrigir e compelir, golpear e vergastar. Assegura que organizará um empreendimento de vastas proporções, que fale bem alto de suas intenções regeneradoras, no capítulo da doutrinação. Entretanto, meu amigo, a verdadeira obra de Jesus não é essa.

7 Já pensou em auxiliar, antes de criticar? Analisou pessoas e situações com espírito fraternal? Refere-se muitas vezes ao Cristo em suas palavras, mas meditou bastante no Cristo? Não se declare sem programas de trabalho, não diga que lhe faltam diretrizes. Como discípulo fervoroso da verdade, que afirma ser, terá esquecido os ensinamentos do Mestre?

“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei!” ( † )

“Quem quiser ser o maior no Reino dos Céus seja servo de todos!” ( † )

“Brilhe a vossa luz diante dos homens!” ( † )

8 Não estarão contidos somente nessas três enunciações vastíssimos projetos de realização espiritual? Medite, pois, antes de assumir as responsabilidades graves em que pretende envolver-se.

9 O Rio de Janeiro possui beneméritas organizações doutrinárias aguardando cooperadores dedicados e eficientes. Como vê, o problema não é o de criar novos arcabouços de associação, mas o de executar com fidelidade o planejamento levado a efeito. A inteligência já fez o debuxo precioso; agora, é imprescindível que o coração realize a sua obra.

10 No íntimo, talvez estranhe o que afirmo. Não fui aí no mundo um companheiro de lutas, no grande serviço que o Espiritismo cristão desenvolve no Brasil; todavia, cerrada a visão obscura do corpo, não me ausentei da cultura espiritualista, nem da realização espiritual necessária. E se você pede sugestões aos desencarnados, deve relevar as respostas cabíveis.

11 O que tenho aprendido, acima de tudo, depois da morte, é que, nas Esferas imediatas à existência humana, as entidades desencarnadas são, quase sempre, tão bem-intencionadas e tão imperfeitas como os homens. A evolução é obra paciente dos séculos e alguns dias de experiência, quais os que se verificam na carne, desde o berço risonho ao sepulcro sombrio, não bastam à iluminação efetiva da alma. 12 Vocês vivem rodeados de pessoas desencarnadas, cheias de desejos inferiores, não obstante oriundos das boas intenções, votadas às disputas de toda espécie. Abra uma casa destinada a exclusivo movimento verbalístico de doutrinação combativa e não faltará o concurso das inteligências invisíveis discutidoras, viciadas nas polêmicas sem-fim, como o supercivilizado que se habituou ao uso do ópio ou como o caboclo ignorante que se acostumou à cachaça.

13 Se você deseja, de fato, servir na obra do Cristo, vá cooperar com os irmãos valorosos que bracejam no grande mar das fundações já feitas, auxiliando-os com espírito de amor. Não compareça diante deles com a fumaça dos críticos. Em todos os lugares você encontraria um convite para exercer esse terrível ofício. 14 Aproxime-se com a sincera disposição de servir cristãmente. Ame os companheiros e ajude-os. Não perca tempo em disputas vãs. Cuide de realizar a Vontade do Senhor, dentro de si mesmo. Como último recurso, use a tribuna em seu ministério, mas, antes de faze-lo, distribua o valor dos bens imperecíveis da alma.

15 Não muito longe do seu lar, existem leprosos e loucos, tuberculosos e velhinhos sedentos de afeto, crianças e jovens desamparados. Não atente para a maneira através da qual aceitam as interpretações religiosas. Preocupe-se com as possibilidades de edificação, simplesmente. A prática do bem ainda é a maior escola de aperfeiçoamento individual, porque conjuga em seus cursos a experiência e a virtude, o raciocínio e o sentimento.

16 Não repita que lhe faltam roteiros. Cale os pruridos do cérebro, a fim de ouvir o coração.

17 Lembre-se de Jesus e colabore com os amigos. Acreditamos que o Espiritismo precisa agora, mais que nunca, dos que edifiquem nas próprias vidas o Reino Cristão que ensinam aos outros…

18 É provável que você não aceite o meu alvitre e funde uma nova organização separatista, consagrada às divergências religiosas. É natural. Você é humano, como ainda sou, mas consola-me a certeza de que, um dia, você chegará também às mesmas verdades a que eu cheguei.


Irmão X

(Humberto de Campos)


[1] [A cidade foi, sucessivamente, capital da colônia portuguesa do Estado do Brasil (1763–1815), depois do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815–1822), do Império do Brasil (1822–1889) e da República dos Estados Unidos do Brasil (1889–1968). — Fonte Wikipedia.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir