O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Novamente em casa — Familiares diversos


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Tânia Paes Leme de Barros

Rio de Janeiro (RJ) — 04 de junho de 1953
Rio de Janeiro (RJ) — 13 de novembro de 1975

Filha de João Ribeiro de Barros e Elza Paes Leme de Barros, Tânia faleceu no Rio de Janeiro em acidente automobilístico, aos 22 anos.

Formada em Secretariado, trabalhava na Diretoria do Unibanco quando partiu. Dividia o convívio familiar com os irmãos, Manoel, Vilma, Sandra, Hélio, Celso e Cláudio.

Após o depoimento de seu genitor, apresentamos mensagem da Tânia, recebida em 1976.




APÓS A REVOLTA O CONSOLO


Diante de tanto sofrimento causado pela perda de nossa querida filha, tivemos a assistência de diversos amigos espíritas.

Entre estes o Sr. Ceslau, frequentador assíduo da Associação Espírita do Rio de Janeiro e os tios da Tânia, D. Carlota Paes Leme Brilhante da Costa e seu marido Djalma que são mencionados nas mensagem, ambos fazendo parte do Centro Espírita de Bangu.

Graças a Deus, através dos livros espíritas e principalmente do Evangelho, aceitamos com mais resignação o ocorrido. Confesso que fiquei revoltado, porém, foram os irmãos acima citados que nos encorajaram a procurar esta criatura maravilhosa que é Chico Xavier,

Foi assim que em companhia de D. Carlota e Djalma, em Uberaba, no Grupo Espírita da Prece, recebemos a primeira mensagem de nossa querida filha, causando-nos grande emoção e alegria.

As palavras da Tânia significaram grande lenitivo para os nossos corações.




Mensagem


1 Querido papai, querida mãezinha, peço-lhes a bênção.

2 Aquela bênção de Deus com que sempre me fizeram feliz. Nossa festa de aniversário realizou-se. Um bolo de preces. Preces e flores invisíveis, as flores que trago para significar agradecimento.

3 Eu sei, papai, todo sacrifício que fizeram para vir. Compreendi tudo.
Era uma ânsia de dois lados. Uma dor que a palavra saudade não consegue dizer. Estamos como quem se abraça num cais de muito carinho e de muito amor, acenando lenços molhados de nossas lágrimas. Lágrimas de gratidão a Deus, porque, graças a Deus, não choramos sem conformação.

4 A ideia de cais me veio agora, conosco entre dois lados da vida, mas sinceramente, não sei se estou ficando e partindo ou se os meus entes queridos estão partindo e ficando. 5 O tio Joaquim n que me auxilia a escrever me corrige e recomenda-me dizer “sempre juntos”. É mesmo, quem se sentirá separado quando ama? Penso que isto é impossível.

6 Paizinho, minha querida mãe, não chorem mais por mim. Recordem os outros corações queridos que Deus lhe confiou na família. Meu tempo era reduzido. Estou partindo dos 23 junhos para outros campos de tempo, em que estaremos sempre unidos.

7 Se lhes peço para não chorarmos mais assim com tamanha dor, rogo igualmente e em especial ao papai querido para que não pesem culpas sobre o Carlos n que não conseguiu controlar o veículo.

8 Paizinho, tudo foi num momento. Nesses acontecimentos, hoje, creio que ninguém sabe o ponto exato do tempo em que um acidente fatal ocorre. Coisa de segundos, contas impossíveis de fazer, e ele sofre muito, o que absolutamente sua filha não deseja.

9 Mãezinha me falara na inconveniência do passeio, parecia adivinhar qualquer sombra, no entanto, eu já me havia comprometido.

10 Papai, o senhor sabe que sua filha podia ser muito alegre, mas, não irresponsável. Agradeço o crédito que o senhor e mamãe sempre me deram. Ademais, eu sempre tive muita fé, aquela abençoada fé que o seu coração paternal me ensinou.

11 O que sucedeu tinha que acontecer. Aqui, estudarei isso melhor. Não acreditem que eu tenha sofrido. 12 Parece que de todos os amigos que me socorreram o tio Joaquim foi aquele que se fez mais visível, porque ele estava tão claro em nossa saudade, em nossa lembrança. 13 Animou-me, e, aos poucos, dormi num sono semelhante ao dos anestésicos.

14 Acordei com tantas afeições queridas a me sustentarem. Minha avó Maria Emília, meu avô Francisco, a irmã Carlota  n que é, também, para mim aqui verdadeira outra mãe e tantos amigos outros!

15 Nem sei como agradecer a Deus tantas bênçãos. Acompanhei, logo que pude, o bem que me fizeram, as preces, os votos, as flores e os pensamentos bons, no entanto, querida mãezinha, foi tudo com tantas lágrimas que não sei de memória enumerar os benefícios.

16 Agradeço, também, e agradeço muito os tios Djalma e Carlota,  n o amparo que nos deram. Agradeço as preces de Ana, do Manoel,  n de tantos outros corações queridos. Nosso amigo Sr. Moretti  n me visitou e auxiliou muito.

17 Paizinho, sei que o senhor e mãezinha oraram muito com a preocupação de me encomendarem por causa de nossos princípios religiosos. Mas isso só me trouxe alegria.

18 Jesus é um só para nós todos — o imenso amor, que penso seja do tamanho do mar para caber todas as embarcações de nossas ideias. Aqui, a união é mais bela. Amamos Deus sem separações.

19 Estou bem. Ainda hospitalizada. Seis meses não dão para o refazimento que se precisa. Mas pude vir até aqui, com a licença necessária, porque precisava pedir-lhes por nosso estimado Carlos e para rogar-lhes esperança. Ninguém morre, somos transformados.

20 Aliás, querido paizinho, muitas vezes, ouvi em nossas missas a palavra venerável do sacerdote que não morremos e, sim, somos transformados. 21 Pois sua filha foi transformada para uma vida melhor, penso que Deus deixou a saudade entre os dois mundos, para que o esquecimento não apague em nós a chama do amor de uns pelos outros. Com o amor estamos juntos e venceremos.

22 Mais uma vez agradeço aos tios Brilhante terem vindo encorajar o nosso encontro. O aniversário está comemorado.  n As lágrimas são o orvalho nas flores que colhemos na noite de hoje no jardim do nosso amor.

23 Não me lembrem por filha morta, mas viva, e tanto quanto possível feliz, já que feliz totalmente, pelo menos por enquanto, não consigo ser sem a presença constante dos meus pais e a família querida.

24 Mas isso não quer dizer que estou triste. Deus nos fez para a luz da felicidade. Papai e mãezinha continuem com a nossa fé. Receberei da igreja e do lar orações que me enviarem. E fiquem felizes, porque Jesus não nos abandona.

25 Não posso escrever mais. Meu avô Manoel, o tio Joaquim e meu bisavô Leme  n dizem que escrevi o bastante e não tenho mais horário disponível.

26 Estou reconhecida e contente paizinho e mãezinha, amados pais do meu coração, amem-me como sempre. Lembrem-se de mim, perdoando alguma falta da menina que eu era. E ajudem-me.

27 Creiam. Nunca me afastei dos conselhos recebidos em casa e sou feliz por haver recebido de Deus os pais que eu tenho.

28 Recebam os dois, com muitas flores de ternura e gratidão, o amor imenso e as saudades de todos os dias da filha que os tem no coração, sempre dedicada e sempre reconhecida.


Tânia

04/06/1976. 



[1] Joaquim Ribeiro de Barros, desencarnado em 1975.


[2] Seu namorado que também se encontrava no veículo acidentado.


[3] Maria Emília Ferreira Barros e Francisco Ribeiro de Barros, avós paternos, falecidos em 1959. Irmã Carlota, ainda não identificada pelos familiares de Tânia.


[4] Tios de Tânia que acompanhavam seus pais até Uberaba.


[5] O irmão Manoel e a prima Ana Paes Leme Brilhante da Costa.


[6] Orientador Espiritual do Centro Espírita de Bangu.


[7] A mensagem foi recebida no dia do aniversário da Tânia.


[8] Manoel Augusto Paes Leme e Augusto Soares Paes Leme. O avô Manoel faleceu em 1961 e a data de desencarnação do bisavô Leme ainda não foi localizada pelos familiares.


Caio Ramacciotti


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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