O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Ouvindo instruções

(Sumário)

1. No grande salão, Aniceto esperava-nos, acolhedor.

Fileiras enormes de assistentes enchiam o espaço vastíssimo.

2 Homens e mulheres, aparentando idades diversas, permaneciam recolhidos, a demonstrar, porém, expectativa e interesse.

— Hoje, — explicou o nosso orientador, dirigindo-se a Vicente de maneira particular, — teremos a palavra de Telésforo, antigo lidador da Comunicação, que pediu a presença de todos os aprendizes do trabalho de intercâmbio entre nós e os irmãos encarnados.

3 Sentamo-nos, confortavelmente, aguardando, por nossa vez.

Daí a minutos, Telésforo n penetrava no recinto, sob harmoniosas vibrações de simpatia geral.

Aniceto e outros instrutores instalaram-se ao lado dele, em torno da mesa nobre, onde se localizava a direção da assembleia.

4 Após saudar a assistência numerosíssima, formulando votos de paz e incentivando-nos aos testemunhos redentores, Telésforo atingiu o assunto principal que o levara até ali.

— Agora, — disse com autoridade sem afetação, — conversaremos sobre as necessidades da representação de nossa colônia nos trabalhos terrestres. 5 Aqui se encontram companheiros fracassados nas intenções mais nobres e irmãos outros desejosos de colaborar nas tarefas que condizem com as nossas responsabilidades atuais. Referimo-nos às laboriosas atividades da Comunicação, no Plano carnal. 6 Vemos nesta reunião grande parte dos cooperadores de “Nosso Lar”, que faliram nas missões da mediunidade e da doutrinação, bem como outros muitos colegas que se preparam para provas dessa natureza, nos Círculos da Crosta.

7 Nossa repartição vem promovendo grande movimento de auxílio a irmãos encarnados e desencarnados, que se revelam incapazes de qualquer ação, além da superfície terrestre.

Nossa tarefa é enorme. Precisamos disseminar ensinamentos novos, relativamente à preparação dos que habitam nossa colônia, considerando os esforços e realizações do presente e do porvir.

8 É indispensável socorrer os que enfrentam, corajosos, as profundas transformações do planeta.

As transições essenciais da existência na Terra encontram a maioria dos homens absolutamente distraídos das realidades eternas. A mente humana abre-se, cada vez mais, para o contato com as expressões invisíveis, dentro das quais funciona e se movimenta. Isto é uma fatalidade evolutiva. 9 Desejamos e necessitamos auxiliar as criaturas terrestres; todavia, contra a extensão de nosso concurso fraterno, operam dilatadas correntes de incompreensão. Não relacionamos apenas a ação da ignorância e da perversidade. Agem, contraditoriamente, nesse particular, grande número de forças do próprio espiritualismo. 10 Combatem-nos algumas escolas cristãs, como se não colaborássemos com o Mestre Divino. A Igreja Romana classifica-nos a cooperação como diabólica. A Reforma Luterana, em seus matizes variados, persegue-nos a colaboração amistosa. 11 E há correntes espiritualistas de elevado teor educativo, que nos malsinam a influência, por quererem o homem aperfeiçoado de um dia para outro, rigorosamente redimido a golpe instantâneo da vontade, sem realização metódica.

12 No campo de nosso conhecimento da vida, não podemos condená-los pelo desentendimento atual. O catolicismo romano tem suas razões ponderáveis; o protestantismo é digno de nosso acatamento; as escolas espiritualistas possuem notáveis edificações. Toda expressão religiosa é sagrada, todo movimento superior de educação espiritual é santo em si mesmo. 13 Temos, então, diante de nós, a incompreensão dos bons, que constitui dolorosa prova para todos os trabalhadores sinceros, porque afinal, não estamos fazendo obra individual e sim promovendo movimento libertador da consciência humana, a favor da própria ideia religiosa do mundo.

14 Sacerdotes e intérpretes dos núcleos organizados da religião e da filosofia, não percebem ainda que o espírito da Revelação é progressivo, como a alma do homem. 15 As concepções religiosas se elevam com a mente da criatura. Muitas igrejas não compreendem, por enquanto, que não devemos espalhar a crença nos tormentos eternos para os desventurados, e sim a certeza de que há homens infernais criando infernos para si mesmos.


2. Não podemos, porém, perder tempo no exame da teimosia alheia. Temos serviços complexos e dilatados. 2 E, como dizíamos, a Humanidade terrena aproxima-se, dia a dia, da Esfera de vibrações dos Invisíveis de condição inferior, que a rodeia em todos os sentidos. 3 Mas, segundo reconhecemos, esmagadora percentagem de habitantes da Terra não se preparou para os atuais acontecimentos evolutivos. E os mais angustiosos conflitos se verificam no sendal humano. 4 A Ciência progride vertiginosamente no planeta, e, no entanto, à medida que se suprimem sofrimentos do corpo, multiplicam-se aflições da alma. Os jornais do mundo estão cheios de notícias maravilhosas, quanto ao progresso material. 5 Segredos sublimes da Natureza são surpreendidos nos domínios do mar, da terra e do ar; mas a estatística dos crimes humanos é espantosa. Os assassínios da guerra, apresentam requintes de perversidade muito além dos que foram conhecidos em épocas anteriores. 6 Os homicídios, os suicídios, as tragédias conjugais, os desastres do sentimento, as greves, os impulsos revolucionários da indisciplina, a sede de experimentação inferior, a inquietação sexual, as moléstias desconhecidas, a loucura, invadem os lares humanos. 7 Não existe em país algum preparação espiritual bastante para o conforto físico. Entretanto, esse conforto tende a aumentar naturalmente. O homem dominará, cada vez mais, a paisagem exterior que lhe constitui moradia, embora não se conheça a si mesmo. 8 O corpo atendido, porém, revelará as necessidades da alma e vemos agora a criatura terrestre assoberbada de problemas graves, não só pelas deficiências de si própria, senão também pela espontânea aproximação psíquica com a Esfera vibratória de milhões de desencarnados, que se agarram à Crosta planetária, sequiosos de renovar a existência que menosprezaram, sem maior consideração aos desígnios do Eterno.


3. A rigor, também nós compreendemos que os serviços da Comunicação, no mundo, deveriam realizar-se apenas no Plano da inspiração divina para os Círculos terrenos, do superior para o inferior; 2 mas, como agir diante de milhões de enfermos e criminosos nas zonas visíveis e invisíveis da experiência humana? Pelo simples culto externo, como pretende a Igreja de Roma? Pelo ato de fé, exclusivamente, como espera a Reforma Protestante? Por mera afirmação da vontade, conforme pontificam certas escolas espiritualistas? 3 Não podemos, no entanto, circunscrever apreciações, na visão unilateral do problema. Concordamos que a reverência ao Pai, a fé e a vontade são expressões básicas da realização divina no homem, mas não podemos esquecer que o trabalho é necessidade fundamental de cada espírito. 4 Que outros irmãos nossos perseverem, tão somente, nas especulações teológicas; encaremos, porém, os serviços do Senhor, como se faz indispensável.

5 A Humanidade terrena, atualmente, é como um grande organismo coletivo, cujas células, que são as personalidades humanas, se envolvem no desequilíbrio entre si, em processo mundial de reajustamento e redenção.

6 Quantos cooperam conosco, veem a extensão dos cipoais em que se debate a mente humana. Criminosos agarram-se a criminosos, doentes associam-se a doentes. Precisamos oferecer, no mundo, os instrumentos adequados às retificações espirituais, habilitando nossos irmãos encarnados a um maior entendimento do Espírito do Cristo. 7 Para consegui-lo, todavia, necessitamos de colaboradores fiéis, que não cogitem de condições, compensações e discussões, mas que se interessem pela sublimidade do sacrifício e de renunciação com o Senhor.

8 A essa altura, Telésforo imprimiu longo estacato à lição em curso, e, fixando o olhar percuciente na assembleia, tornou em voz mais alta:

— Quem não deseje servir, procure outros gêneros de tarefa. A Comunicação não comporta perda de tempo nem experimentação doentia, sem grave prejuízo dos cooperadores incautos. 9 Noutros Ministérios, a designação de trabalhadores define, com precisão, todos os que colaboram com o Divino Mestre. Aqui, porém, acima de trabalhadores, precisamos servidores que atendam de boa vontade.

10 Nesse instante, em vista doutra longa pausa, identifiquei a forte impressão dos ouvintes, que se entreolhavam com inexprimível espanto.


André Luiz



[1] Telésforo. — Vide origem desse nome na Mitologia Greco-romana.


Os capítulos do n.º 5 ao 12, dizem respeito às observações e estudos efetuados por André Luiz em uma reunião no Centro de Mensageiros.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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