O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Ponderações de Vicente

(Sumário)

1. Não estava farto de lições, mas, para o momento, havia aprendido bastante. Impressionado com o que me fora dado observar, não insisti com Vicente para prolongar nossa demora no Centro de Mensageiros.

2 Deixando grandes grupos em conversação ativa, reconstituindo projetos e refazendo esperanças, segui o companheiro que me convidava a visitar os imensos jardins. Roseirais enormes balsamizavam a atmosfera leve e límpida.

3 — Sinto-me fortemente impressionado, — murmurei. — Quem diria pudessem caber tantas responsabilidades a essas criaturas? Não conheci pessoalmente nenhum médium ou doutrinador do Espiritismo, justificando agora minha surpresa.

4 Vicente sorriu e ponderou:

— Você, meu caro, procede das Câmaras de Retificação, onde os trabalhos são muito reservados e circunscritos. Talvez sua impressão provenha dessa circunstância. Verá, porém, com o tempo, que existem aqui locais de conversações dessa natureza, referentes a todas as oportunidades perdidas. Já visitou alguma dependência do Ministério do Esclarecimento?

— Não.

5 — Localizam-se, ali, os enormes pavilhões das escolas maternais. São milhares de irmãs que comentam, por lá, as desventuras da maternidade fracassada, buscando reconstituir energias e caminhos. 6 Ainda ali, temos os Centros de Preparação à Paternidade. Grandes massas de irmãos examinam o quadro de tarefas perdidas e recordam, com lágrimas, o passado de indiferença ao dever. 7 Nesse mesmo Ministério, temos a Especialização Médica. Nobres profissionais da Medicina, que perderam santas oportunidades de elevação, lá discutem seus problemas.

8 Nesse instante o interrompi, observando:

— Entretanto, somos médicos e não nos achamos lá.

— Sim, — explicou Vicente, bondoso, — infelizmente para nós ambos, caímos em toda a linha. Não só na qualidade de médicos, mas muito mais como homens, pois que, se disse a você o que sofri, ainda não contei o que fiz.

— É verdade, — concordei, desapontado, recordando minha condição de suicida inconsciente.

9 — Ainda no Esclarecimento, — prosseguiu o companheiro, — temos o Instituto de Administradores, onde os Espíritos cultos procuram restaurar as forças próprias e corrigir os erros cometidos na mordomia terrestre. 10 Nos Campos de Trabalho, do Ministério da Regeneração, existem milhares de trabalhadores que se renovam para a recapitulação das grandes tarefas da obediência.

11 Somos numerosos, — continuou, sorridente, — os falidos nas missões terrestres e note-se que todos os que hajam chegado a zonas como “Nosso Lar” devem ser levados à conta dos extremamente felizes. 12 Temos aqui dois Ministérios Celestiais, como o da Elevação e o da União Divina, cuja influenciação santificante eleva o padrão dos nossos pensamentos sem que o percebamos de maneira direta. 13 O estágio aqui, André, representa uma bênção do Senhor, e, por muito que trabalhássemos, nunca retribuiríamos a esta colônia na medida de nosso débito para com ela. Nossa situação é a de abrigados em verdadeiro paraíso, pelo ensejo de serviço edificante que se nos oferece. Quanto a outros companheiros nossos…


2. Fez longo hiato e continuou:

— Quanto a muitos, estão fazendo angustiosas estações de aprendizado nas regiões mais baixas. São infelizes prisioneiros uns dos outros, pela cadeia de remorsos e malignas recordações. 2 No que concerne à Medicina, os colegas em bancarrota espiritual são inúmeros. A saúde humana é patrimônio divino e o médico é sacerdote dela. Os que recebem o título profissional, em nosso quadro de realizações, sem dele se utilizarem a bem dos semelhantes, pagam caro a indiferença. Os que dele abusam são, por sua vez, situados no campo do crime. 3 Jesus não foi somente o Mestre, foi Médico também. Deixou no mundo o padrão da cura para o Reino de Deus. Ele proporcionava socorro ao corpo e ministrava fé à alma. Nós, porém, meu caro André, em muitos casos terrestres, nem sempre aliviamos o corpo e quase sempre matamos a fé.

4 As palavras sensatas do amigo caíam-me nalma como raios de luz. Tudo era a verdade, simples e bela. Ainda não pensara, de fato, em toda a grandeza do serviço divino de Jesus Médico. Ele expulsara febres malignas, curara leprosos e cegos de nascença, levantara paralíticos, mas nunca ficava apenas nisto. Reanimava os doentes, dava-lhes esperanças novas, convidava-os à compreensão da Vida Eterna.


3. Engolfara-me em pensamentos grandiosos, quando o companheiro voltou a falar:

2 — Tenho um amigo, nosso colega de profissão, que se encontra nas zonas inferiores, há alguns anos, atormentado por dois inimigos cruéis. Acontece que ele muito faliu como homem e médico. 3 Era cirurgião exímio, mas, tão logo alcançou renome e respeito geral, impressionou-se com as aquisições monetárias e caiu desastradamente. 4 Nos dias de grandes negócios financeiros, deslocava a mente das obrigações veneráveis, colocando-a distante, na esfera dos banqueiros comuns. Não fosse a proteção espiritual, essa atitude teria comprometido oportunidades vitais de muita gente. 5 A colaboração do pobre amigo tornara-se quase nula, e alguns desencarnados nas intervenções cirúrgicas que ele praticava, notando-lhe a irresponsabilidade, atribuíram-lhe a causa da morte física, quando não a esperavam, votando-lhe ódio terrível. 6 Amigos do operador prestaram esclarecimentos justos a muitos; entretanto, dois deles, mais ignorantes e maldosos, perseveraram na estranha atitude e o esperaram no limiar do sepulcro.

— Horrível! — Exclamei. — Se ele, porém, não é culpado da desencarnação desses adversários gratuitos, como pode ser atormentado desse modo?

7 Explicou Vicente, em tom mais grave:

— Realmente, não tem a culpa da morte deles. Nada fez para interromper-lhes a existência física. Mas é responsável pela inimizade e incompreensão criadas na mente dessas pobres criaturas, porque, não estando seguro do seu dever, nem tranquilo com a consciência, o nosso amigo julga-se culpado, em razão das outras falhas a que se entregou imprevidentemente. 8 Todo erro traz fraqueza, e, assim sendo, o nosso colega, por enquanto, não adquiriu forças para se desvencilhar dos algozes. 9 Perante a Justiça Divina, portanto, ele não resgata crimes inexistentes, mas repara certas faltas graves e aprende a conhecer-se a si mesmo, a entender as obrigações nobres e praticá-las, compreendendo, por fim, a felicidade dos que sabem ser úteis com a segurança da fé em Deus e em si mesmos. 10 A noção do dever bem cumprido, André, ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado travesseiro para a noite. O nosso colega, tendo abusado da profissão, entrou em dolorosa prova.

11 — Ah! Sim! — Exclamei, — agora compreendo. Onde exista uma falta, pode haver muitas perturbações; onde apagamos a luz, podemos cair em qualquer precipício.

— Justamente.

12 Calou-se o amigo, andando, muito tempo, ao meu lado, como se estivesse surpreendido, como eu, defrontando as avenidas de rosas. Depois de longas meditações, convidou-me fraternalmente:

— Regressemos ao nosso núcleo. Creio devamos ouvir Aniceto, ainda hoje, referentemente ao serviço comum.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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