O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os mensageiros — André Luiz


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Culto doméstico

(Sumário)

1. Nas primeiras horas da noite, Dona Isabel abandonou a agulha e convidou os filhinhos para o culto doméstico.

2 Notando o interesse que me despertavam as crianças, Aniceto explicou:

— As meninas são entidades amigas de “Nosso Lar”, que vieram para serviço espiritual e resgate necessário, na Terra. O mesmo, porém, não acontece ao pequeno, que procede de região inferior.

3 De fato, eu identificava perfeitamente a situação. O rapazola não se revestia de substância luminosa e atendia ao convite materno, não como quem se alegra, mas como quem obedece.

4 Com tamanha naturalidade se sentaram todos em torno da mesa, que compreendi a antiguidade daquele abençoado costume familiar. A filha mais velha, que atendia por Joaninha, trazia cadernos de anotações e recortes de jornais.

5 A viúva sentou-se na direção e, após meditar breves instantes, recomendou à pequena Neli, de nove anos, fizesse a oração inicial do culto, pedindo a Jesus o esclarecimento espiritual.

6 Todos os trabalhadores invisíveis sentaram-se, respeitosos. Isidoro e alguns companheiros mais íntimos do casal permaneceram ao lado de Dona Isabel, sendo quase todos vistos e ouvidos por ela.

7 Tão logo começou aquele serviço espiritual da família, as luzes ambientes se tornaram muito mais intensas.

Profunda sensação de paz envolvia-me o coração.

8 A pequena Neli, em voz comovente, fez a prece:

— Senhor, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus. Se está em vosso santo desígnio que recebamos mais luz, permiti, Senhor, tenhamos bastante compreensão no trabalho evangélico! Dai-nos o pão da alma, a água da vida eterna! Sede em nossos corações, agora e sempre. Assim seja!…

9 Dona Isabel pediu à filha mais velha lesse uma página instrutiva e consoladora e, em seguida, algum fato interessante do noticiário comum, ao que Joaninha atendeu, lendo pequeno capítulo de um livro doutrinário sobre a irreflexão, e um episódio triste de jornal leigo. 10 A primogênita de Isidoro, que revelava muita doçura e afabilidade, parecia impressionada. Tratava-se de uma jovem de bairro distante, vítima de suicídio doloroso. O repórter gravara a cena com característicos muito fortes. A leitora estava trêmula, sensibilizada.


2. Assim que Joaninha terminou, Dona Isabel abriu o Novo Testamento, como se estivesse procedendo ao acaso, mas, em verdade, eu via que Isidoro, do nosso Plano, intervinha na operação, ajudando a focalizar o assunto da noite. A seguir, fixou o olhar na página pequenina e falou:

2 — A mensagem-versículo de hoje, meus filhos, está no capítulo 13 do Evangelho de São Mateus. E lendo o versículo 31, fê-lo em voz alta:

— “Outra parábola lhes propôs, dizendo: — O Reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu campo.”

3 Observei, então, um fenômeno curioso. Um amigo espiritual, que reconheci de nobilíssima condição, pelas vestes resplandecentes, colocou a destra sobre a fronte da generosa viúva.

4 Antes que lhe perguntasse, Aniceto explicou em voz quase imperceptível:

— Aquele é o nosso irmão Fábio Aleto, que vai dar a interpretação espiritual do texto lido. 5 Os que estiverem nas mesmas condições dele, poderão ouvir-lhe os pensamentos; mas, os que estiverem em zona mental inferior, receberão os valores interpretativos, como acontece entre os encarnados, isto é, teremos a luz espiritual do verbo de Fábio na tradução do verbo materializado de Isabel.

6 Nosso mentor não poderia ser mais explícito. Em poucas palavras fornecera-me a súmula da extensa lição.


3. Notei que a viúva de Isidoro entrara em profunda concentração por alguns momentos, como se estivesse absorvendo a luz que a rodeava. Em seguida, revelando extraordinária firmeza no olhar, iniciou o comentário:

2 — “Lemos hoje, meus filhos, uma página sobre a irreflexão e a notícia de um suicídio em tristíssimas circunstâncias. Afirma o jornal que a jovem suicida se matou por excessivo amor; entretanto, pelo que vimos aprendendo, estamos certos de que ninguém comete erros por amar verdadeiramente. 3 Os que amam, de fato, são cultivadores da vida e nunca espalham a morte. A pobrezinha estava doente, perturbada, irrefletida. Entregou-se à paixão que confunde o raciocínio e rebaixa o sentimento. E nós sabemos que, da paixão ao sofrimento, ou à morte, não é longa a distância. 4 Lembremos, todavia, essa amiga desconhecida, com um pensamento de simpatia fraternal. Que Jesus a proteja nos caminhos novos. Não estamos examinando um ato, que ao Senhor compete julgar, mas um fato, de cuja expressão devemos extrair o ensinamento justo.

5 “A mensagem evangélica desta noite assevera, pela palavra do nosso Divino Mestre aos discípulos, que o Reino dos Céus é também “semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu coração”. Devemos ver, neste passo, meus filhos, a lição das coisas mínimas. 6 A Esfera carnal onde vivemos está repleta de irreflexões de toda sorte. Raras criaturas começam a refletir seriamente na vida e nos deveres, antes do leito da morte física. 7 Não devemos fixar o pensamento tão só nessa jovem que se suicidou em condições tão dramáticas, ao nos referirmos aos ensinos de agora. Há homens e mulheres, com maiores responsabilidades, em todos os bairros, que evidenciam paixões nefastas e destruidoras no campo dos sentimentos, dos negócios, das relações sociais. 8 As mentes desequilibradas pela irreflexão permanecem, neste mundo, quase por toda a parte. É que nos temos descuidado das coisas pequeninas. Grande é o oceano, minúscula é a gota, mas o oceano não é senão a massa das gotas reunidas. 9 Fala-nos o Mestre, em divino simbolismo, da semente de mostarda. Recordemos que o campo do nosso coração está cheio de ervas espinhosas, demorando, talvez, há muitos séculos, em terrível esterilidade. Naturalmente, não deveremos esperar colheitas milagrosas. É indispensável amanhar a terra e cuidar do plantio. 10 A semente de mostarda, a que se refere Jesus, constitui o gesto, a palavra, o pensamento da criatura. Há muitas pessoas que falam bastante em humildade, mas nunca revelam um gesto de obediência. 11 Jamais realizaremos a bondade, sem começarmos a ser bons. Alguma coisa pequenina há de ser feita, antes de edificarmos as grandes coisas. 12 O Senhor ensinou, muitas vezes, que o Reino dos Céus está dentro de nós. Ora, é portanto em nós mesmos que devemos desenvolver o trabalho máximo de realização divina, sem o que não passaremos de grandes irrefletidos. 13 A floresta também começou de sementes minúsculas. E nós, espiritualmente falando, temos vivido em densa floresta de males, criados por nós mesmos, em razão da invigilância na escolha de sementes espirituais. 14 A palestra de uma hora, o pensamento de um dia, o gesto de um momento, podem representar muito em nossas vidas. Tenhamos cuidado com as coisas pequeninas e selecionemos os grãos de mostarda do Reino dos Céus. 15 Lembremos que Jesus nada ensinou em vão. Toda vez que “pegarmos” desses grãos, consoante a Palavra Divina, semeando-os no campo íntimo, receberemos do Senhor todo o auxílio necessário. Conceder-nos-á a chuva das bênçãos, o sol do amor eterno, a vitalidade sublime da Esfera superior. Nossa semeadura crescerá e, em breve tempo, atingiremos elevadas edificações. 16 Aprendamos, meus filhos, a ciência de começar, lembrando a bondade de Jesus a cada instante. O Mestre não nos desampara, segue-nos amorosamente, inspira-nos o coração. Tenhamos, sobretudo, confiança e alegria!”

17 Reparei que Fábio retirou a mão da fronte da viúva e observei que ela entrava a meditar, como quem sentira o afastamento da ideia em curso.

18 Havia grande comoção na assembleia invisível às crianças que, por sua vez, também pareciam impressionadas.

Dona Isabel voltou a contemplar os filhos, maternalmente, e falou:

— Procuremos, agora, conversar um pouco.


André Luiz


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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