O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Parnaso de Além-Túmulo — Autores diversos


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Um Desconhecido


Meditando

1 Eu fui daquelas almas que viveram
Sem conhecer da Terra os paraísos,
Que somente a amargura dos sorrisos
Pela noite das dores conheceram


2 Não que eu fosse infeliz e desditoso,
Pois fui também humano entre os humanos,
E através dos meus dias, dos meus anos,
Se eu quisesse gozar, teria o gozo.


3 É que ao sentir no âmago do peito
A atitude do homem nessa vida,
Coração enganado, alma iludida,
Afastado do Puro e do Perfeito,


4 O meu ser que sonhara a Humanidade
Qual um ramo de flores perfumosas,
Viu as almas tremerem, desditosas,
Sob o peso da própria iniquidade.


5 E isolado nos grandes sofrimentos
De ser só, na aspereza dos caminhos,
Encontrei o prazer pelos espinhos,
Ao trilhar os carreiros dos tormentos.


6 Pois no mundo pequeno da minhalma,
Quando em dor me envolvia a desventura,
Eu vislumbrava a luz brilhante e pura
Que me trazia a paz, bonança e calma:


7 — Era a luz que me vinha da visão
De ver o Cristo-Amor, entre cansaços,
E tinha então prazer de ver meus braços
Enlaçados na cruz da provação.




O nobre castelão

      1 No interior
Do esplêndido alcaçar,
Agonizava o senhor
Dos domínios extensos.
      O dono do solar
Nos espasmos intensos
      Da agonia,
Em torno dirigia
Um último olhar,
      E viu então
      O seu brasão
Invicto e glorioso,
Insculpido nas fúlgidas realezas
      Do castelo formoso,
Transbordante de glórias e riquezas!


      2 Mais alongando a vista,
Viu-lhe o feito da esplêndida conquista
      Nas grandiosas searas,
Que em suas mãos avaras
Foram armas cruéis, destruidoras,
Martirizando as almas sofredoras.
Contemplou seus tesouros passageiros,
E em espasmos convulsos, derradeiros,
      Opresso o coração,
Mergulhado no pranto mais profundo,
      Expirou para o mundo
      O nobre castelão.
A sua alma despida das grandezas,
Das terrenas, efêmeras realezas,
Bem após o transcurso de alguns anos
      De triste letargia,
      Foi um dia
Despertada em amargos desenganos:
Conturbado por agros dissabores,
Contemplou seu solar
Ocupado por outros moradores…
      A exclamar,
      Estranhou revoltado,
Que ninguém acudisse ao seu chamado.
      E em atitude austera,
      Tomado de energia,
      De cólera severa
      Já que ele era o senhor,
Reclamou os seus servos com calor
E, entretanto, nenhum lhe obedecia.
      Imerso em turbação,
      Somente, às vezes,
Escutava nos ditos mais soezes
      Terrível maldição
Das vítimas de antanho!
E o sofrimento era tamanho
Em ser incompreendido,
Que se julgou perdido
      Irremissivelmente.
Assim, constantemente,
Durante o transcorrer de muitos dias.
Conservou-se naquelas cercanias
      Como presa feroz
Do sofrimento atroz.
De contínuos pesares e agonias…
Todavia,
O pobre sofredor,
No auge do amargor,
Recordou-se que havia
Um Pai Onipotente
      E cheio de fervor,
      Humilde penitente,
      Implorou seu amor
Numa súplica em lágrimas de pena.
      Sua alma sofredora
Sentiu-se então mais calma e mais serena,
Penetrada de doce claridade,
De luz confortadora,
Que provinha de alguém
      Que lhe fazia
Meditar na grandeza da Verdade
      E lhe dizia
Da beleza do Amor, da Luz, do Bem: —
«O que sofres, amigo, é a consequência
Da equívoca existência
      Que levaste,
Já que sem piedade aniquilaste
Muitas almas e muitos corações,
Que hoje te envolvem os lúridos momentos
      Em rudes sofrimentos
      E estranhas maldições.


3 Por que ocultaste as flores formosas
      Que na Terra colheste,
      Flores lindas que nunca ofereceste
      Às almas desditosas?
Por que não concedeste um só bocado
      Do teu pão abundante
      Ao pobre esfomeado?
Ocupando-te em gozo, a todo o instante,
Jamais vestiste os nus, nem consolaste
      Aquele que sofria;
Desprezavas o fraco e nunca amaste
      Quem de ti carecia!
      A caridade,
O sentimento-luz, a flor-tesouro,
Não tiveste em teus dias de maldade
      No grande sorvedouro!
Porém, o Deus de Amor
É sempre o magnânimo Senhor,
E permite que voltes aos humanos,
Para que se dissipem teus enganos
      No amargor;
      Voltarás,
Porém, já não terás
Efêmeras venturas,
Serás agora escravo e não senhor…
      Conhecerás
As dores e amarguras,
As mágoas escabrosas
Pelas estradas rudes e espinhosas!


4       Abençoa o Senhor
Que te concede a dor,
Para assim compreenderes
Que os reais e legítimos prazeres
Que da vida nos vêm.
Não residem no Mal e sim no Bem.»




Nesga de Céu

1 A alma extasiada
Sobe… sobe…
Há toda uma amplidão iluminada
À sua vista…


2 A estrada
É uma etérea alfombra
Sem resquícios de sombra!
É o domínio da luz que ela conquista!


3 Vibra no ar
Dulcíssima harmonia,
Como se fora feita
De luar,
De alegria…
De alegria perfeita.


4 Parece um hino de amor
Dos Paganinis siderais,
A ventura, o fulgor.
Transformados em notas musicais.


5 Além, fulguram sóis;
Em tudo há um misto
Nunca visto
De manhãs e arrebóis.


6 Aos clarões dessa aurora.
A alma chora
Em êxtase profundo.


7 E lembra-se que sofreu,
Que amou, que padeceu.


8 Ao longe, muito ao longe,
O mundo
É um ponto negro que gira…


9 Ainda além, mais além,
A Via-Láctea transluz,
Como um éden de luz
E de amor.


10 Nesgas do céu, imagens de esplendor,
Cenários majestosos,
Soberbas harmonias
Nos mundos luminosos!


11 Seres que passam rápidos, flutuantes,
Sorridentes, radiantes,
Nos espaços sem termos, onde a vida
É a imortalidade
Anelada, querida,
De pureza, de beleza,
De perfeição e de felicidade!


12 Em baixo as vastidões,
Em cima, as emoções
Do Ilimitado.


13 Atrás a noite e as mágoas de agonia
Do passado;
E, em frente,
Um futuro esplendente
Pintalgado de rosas,
Da mais pura alegria.


14 Feito de éter, de sonho,
O caminho é risonho,
Recamado de flores perfumosas.


15 Melodia, luz, aroma!…
De repente,
Numa nesga de céu resplandecente
Assoma
Uma rútila Esfera,
Como um país de doce primavera,
Intérmina de gozos!…


16 A alma se extasia
Na luz do Eterno Dia.
Com os pensamentos puros e radiosos,
Ora a Deus:


17 Recorda em prece os sofrimentos seus,
Evoca as lágrimas vertidas!
Contempla panoramas de outras vidas,
Vidas de estranha dor…


18 Mas cada gota amarga dos seus prantos

Agora
É um raio de aurora,
Que um a um
Vão formando uma auréola
De brilhos santos,
Que a engrinalda de luz.


19 Em suavíssima unção,
A pobre alma orando,
Chorando,
Nessa prece
Reconhece
A alvorada de sua redenção!


Anônimo


Texto extraído da 6ª edição desse livro. — Revista e ampliada pelos autores espirituais.

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