O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Presença de Chico Xavier — Depoimentos diversos / Mensagens familiares


5 n


Depoimento de Joaquim Alves (Jô)

NO CAMPO DA PSICOGRAFIA

Tivemos os pesadelos do materialismo.

Acordamos, porém, com a premente necessidade do exercício da mediunidade curativa, com nossos braços, tornada impotente a nossa vontade, levantando-se num gesto de paz e harmonia, sempre que éramos compelidos a defrontar-nos com algum enfermo.

Nossos dedos formigavam, nesses instantes!

Foi o contato vivo, informal, com o Espiritismo.

Pouco adestrados, frequentando reuniões em que éramos levados a trabalhar no campo abençoado da dor redentora, alimentávamos naturais conflitos de um coração sedento de luz e estraçalhado pelas aflições que desfilavam aos nossos olhos, qual se toda a Humanidade chagada e sofredora se mostrasse panoramicamente à nossa visão.

Quisemos conhecer o médium Chico Xavier.

Em Pedro Leopoldo a vida era muito calma e serena e Chico, inesperadamente entrando pelas portas do Hotel em que nos hospedávamos pela primeira vez, convidou-nos a ir à reunião noturna, no Centro Espírita “Luiz Gonzaga”.

Naquele encontro, Emmanuel nos dirigiu mensagem psicografada, ferindo o conflito que sustentávamos para iniciar o exercício da mediunidade de cura, afirmando que, através do encontro amigo com os enfermos, resgataríamos, por essas moedas de amor, todo o nosso passado obscuro e nos convocou a permanecer juntos de sofredores e aflitos, em todos os setores da dor humana.

Desnudou-nos e despiu-nos dos receios.


Era 2 de novembro.

Na oração da manhã, proferida em companhia de Chico e outros companheiros de ideal, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, após a mensagem que Dr. Bezerra dirigira a alguns, as mãos do médium, orientadas por amigos espirituais, procuraram um lápis com ponta nova, a fim de escrever.

O modo de tomar e segurar o lápis foi diferente, qual se uma criança de sete anos o tomasse, na escola, para as suas primeiras garatujas.

A mensagem que se grafou e que íamos acompanhando, por estar ao seu lado, era a nós dirigida e, na hora, pensávamos que fosse de papai:


1 “Joaquim, meu filho. Deus guarde os nossos corações.

2 Sim, meu filho — não estamos sós. Levante o seu ânimo!

3 A noite das provações está cheia de estrelas de amor, se acendermos a luz da prece olhando para cima.

4 Muita serenidade, meu filho. Muita fé.

5 Falemos amando e edificando, trabalhando para a felicidade dos que Deus nos confiou ao caminho!

6 Hoje é dois de novembro. Muitos procuram os entes amados nos túmulos, mas nós buscamos nossas afeições na bênção da vida.

7 Meu filho, meu filho! Deus abençoe os seus passos, Deus ampare o seu coração…

8 A saudade com alegria é uma força que parece arrebentar nossa alma.

9 Meu filho, sempre ao seu lado… não posso escrever mais,


Maria do Rosário.”


Era minha mãe!

Um soluço profundo se fez ouvir, através do médium. A emoção de mamãe era tal, escrevendo-me pela primeira vez, que não se conteve e não terminou as linhas de afeto e saudade.

Após suspender a anotação e Chico ter lido a missiva, com muita emoção, dissemos:

— Quando mamãe partiu, era analfabeta.

— Realmente, ela me disse — informou Chico. — E disse-me também, Jô, que ela está fazendo um curso de alfabetização no Plano espiritual.

Uma pausa e nova informação do médium:

— A sua mãezinha para escrever, Jô, pousou a sua mão sobre a minha e Dr. Bezerra a encimou, orientando-a carinhosamente.




Alguns anos, após, mamãe já recomposta, escreve-nos:


1 “Quim, meu filho! Deus nos abençoe.

2 Sou eu mesma, tua mãe. Venho pedir ao teu coração confiança e alegria.

3 Tenho ouvido tuas preces, teus pensamentos.

4 Sim, meu filho do coração, trabalhar e abençoar sempre. O caminho para Deus é de baixo para o alto. Nosso Senhor Jesus-Cristo nos mostrou o d’Ele numa cruz.

5 Ele, Quim, abençoará teus passos, dará novas forças ao teu coração.

6 Eu também estou aprendendo e trabalhando, graças a Deus.

7 Quem julgue ser a morte um descanso não deve ter pensado em amor. Principalmente as mães não conseguirão pensar em repouso. Deus colocou em nosso coração uma ânsia de querer bem aos filhos que, às vezes, sinto que trago uma labareda na alma.

8 Agradeço ao teu carinho, filho meu, os estímulos à caminhada nova. Os anos correram e vejo-me mais forte. A ternura parou a expressão de meu rosto. Tantas lágrimas de saudade e esperança, dor e alegria chorei, que os dias não mudaram as expressões no caminho com que me uno aos filhos queridos.

9 Transformei-me, sim, por dentro. Sou outra, considerando a necessidade em que me vi para a mudança espiritual.

10 Louvado seja Deus! Ele, nosso Pai de bondade eterna, dará à tua bondade filial as riquezas e as bênçãos que não tenho.

11 Sofre, meu filho, mas auxilia e ama sempre. Luta, mas conserva em teu coração os tesouros de amor que Jesus te deu para guardar.

12 Tudo vai passando na Terra; fica apenas o Bem, porque o Bem é a parte de Deus em nós.

13 Meu Filho, meu filho… Estou contente e reconhecida aos Amigos que me auxiliaram a escrever-te esta carta…

14 Pensa, meu filho, nas alegrias com que me preparei, pouco a pouco, a fim de escrever-te e receber com todos os nossos o coração de tua mãe sempre ao teu lado.


Maria.”


Aí está uma das provas da imortalidade, experiência sempre individual, que nos penetra profundamente no coração e que nos veio através da faculdade de Francisco Cândido Xavier, no campo da psicografia.


A derradeira mensagem psicografada, que depositaremos nesta intimidade mediúnica, é um verdadeiro hino de ternura de esposo para esposa.

Ele partira em direção da Pátria Espiritual e ela, seis meses após, esteve conosco em Uberaba, ocasião em que, pela proximidade do seu desenlace, não julgávamos que pudesse ocorrer qualquer comunicação direta.

Nilo, o esposo, é de Santos.

Espírita convicto, ele e toda a sua família, teve uma vida pontilhada de angustiantes sofrimentos, embora profundamente resignado e fortalecido pela fé na imortalidade da alma.

Gozara de boa situação financeira e transformara os bens da fortuna em precioso auxílio aos caiçaras, lá das praias de Santos, São Vicente, levando a bênção do reconforto em peregrinações emocionantes. Repletava o seu veículo de gêneros alimentícios, caminhando com um coração resplendente de Evangelho, entre os humildes.

Sua desencarnação foi tranquila.

Nos instantes derradeiros de sua existência física, psicografou versos — ocorrência inusitada até então, mas que evidenciava o seu estreitamento maior com a Espiritualidade, nesse prenúncio do até-breve.

Nesta oração matinal, Dr. Bezerra falou:

“— Meus filhos, Jesus nos abençoe.

Nosso Nilo está presente, à feição dos redivivos do Evangelho.

Bendizendo a infinita bondade do Senhor, compreensivelmente não se vê habilitado, do ponto de vista da emoção, a escrever como desejaria.

O coração repleto de amor, que lhe conhecemos, jaz como que afogado de alegria ao reencontro e solicita-nos dizer à esposa que está jubiloso e reconhecido, conquanto a saudade, a companheira de nossos espíritos, permaneça, até que nos vejamos unidos uns aos outros para sempre.

Algumas palavras dele transcreveremos para nossa irmã Geni, pela felicidade e consolação que elas encerram.”


A mensagem de Nilo, a seguir, foi escrita, sendo que o médium nos explicou, mais tarde, que o esposo encostou bem os lábios nos ouvidos do Dr. Bezerra, por estar emocionado demais para grafar ele mesmo:


1 “Minha querida Geni, anjo de meus dias, beijo as tuas mãos.

2 Seu velho está feliz. Embora o vazio que sua ausência me impôs à alma… entretanto, oh! meu Deus! Haverá vazio onde o amor sabe esperar?

3 Não, querida Geni. Estamos juntos, quando você se recolhe em cada noite; quando você se retira da atividade para lembrar e pensar; quando fita os nossos retratos com o seu carinho ou quando se detém na conversação com nossos entes amados: seu pensamento se desenha nas telas de minha memória.

4 Recebo a mensagem de sua ternura, reconfortado com sua lembrança.

5 Ainda não sei como dominar esses fenômenos de reflexão, nos quais eu ignoro se sou a imagem e você o espelho ou vice-versa.

6 Ah! Geni! Minha querida Geni! Quero você assim serena, valorosa, firme na fé, resignada e tolerante.

7 Amor de meu coração, Deus cubra o seu coração de bênçãos constantes. Nunca esmoreça em nossas tarefas e ideais.

8 O dia do seu velho terminou calmo. O entardecer estava repleto das estrelas da confiança em Deus e em você. Tanta confiança em você, que eliminei a carta última em que me propunha gravar os derradeiros propósitos da existência.

9 Para que o testamento do coração, se você era o meu próprio coração que eu deixava?

10 E você, querida, retratou meus menores desejos, executando-os. Abençoada seja você, minha esposa, minha filha.

11 A saudade é grande, mas a esperança é maior em seu caminho. Estaremos juntos sempre, sempre juntos.

12 Sei de todas as suas preocupações em família e partilho com você o trabalho bendito que o Senhor nos confiou.

13 Nossos filhos são nossos amores, mas igualmente nossos compromissos. Louvemos os sacrifícios que eles nos impõem, em louvor de nossa própria felicidade.

14 Querida Geni, guarde meu coração com você. Distribua minhas lembranças com os filhos queridos e com os netinhos abençoados.

15 Junto de você e com você deponho aos pés de Jesus os nossos problemas e deixo com você todo o meu coração, todo o coração do seu

Nilo.”


Aí está uma carta de sentimentos profundos, transmitindo tão quente alegria à sua destinatária, que nos irmanamos em suas lágrimas, louvando o Céu pela bênção de tão límpido intercâmbio, onde foi abundante o detalhe, com fatos que eram de conhecimento exclusivo do casal.

Todas as mensagens de amor, através de Chico, trazem o orvalho da felicidade, consolando milhares e milhares de criaturas, de várias partes de nosso mundo.


Joaquim Alves


Elias Barbosa



[1] In Roque Jacintho, “Chico Xavier — 40 anos no mundo da Mediunidade”, EDICEL, São Paulo, 1ª edição, 1967, págs. 95-103.


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