O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Reencontros — Familiares diversos


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Meritória e abençoada premonição

— Estão aqui algumas fotos históricas do Instituto, que tenho comigo há muitos anos, e peço-lhe guardá-la, porque poderão ser úteis no futuro — disse-nos o dileto amigo Ítalo, entregando-nos, logo após uma reunião doutrinária, um envelope com dezenas de fotografias.

— Como? Eu guardar as fotos, após tantos anos em seu poder, com tanto carinho? — respondemos de pronto, surpreendido com aquela atitude do companheiro.

Com voz pausada e serena, que lhe era habitual, insistiu com o seguinte esclarecimento:

— Solicito-lhe receber, pois estou fazendo um acerto geral em meus papéis, e como você é o secretário, elas ficarão melhor em suas mãos.

Diante desse argumento o atendemos, nunca passando pela nossa mente que o incansável confrade Ítalo Scanavini, Diretor-Tesoureiro do Instituto de Difusão Espírita, de Araras, São Paulo, desde a sua fundação, estava se despedindo de todos nós — na atual romagem terrena —, colocando a sua documentação particular em tal ordem, como alguém que pretendesse ausentar-se por longo tempo…

De fato, uns trinta dias depois de nosso diálogo, ele partiria rumo ao Mais Alto, a 8 de março de 1979, deixando uma irreparável lacuna em todas as áreas de sua afetuosa, fraterna e dinâmica atuação, principalmente familiar, espírita e maçônica.

Ítalo, nascido em Araras, SP, a 29 de setembro de 1916, era filho do casal: José Scanavini-Joana Chignolli Scanavini.

Comprovando a premonição de nosso companheiro, sua família contou-nos o interessante fato:

Aproximadamente um mês antes do desenlace, fugindo completamente da rotina, Ítalo começou a trabalhar no seu lar, todas as noites, acertando as escritas de sua loja, com o auxílio de máquinas de escrever e de somar. A esposa e filhos estranharam esse trabalho extra, mas ele apenas explicava que precisava pôr os seus papéis em ordem, sem outros esclarecimentos…

A 2 de março, após o jantar, fortes dores precordiais provocariam a sua hospitalização de emergência. E, no dia seguinte, embora estando melhor, sob tratamento intensivo, afirmou à esposa: — “Velha, vai acontecer o pior, eu não vou voltar para casa”.

De fato, com a vestimenta carnal, Ítalo não mais regressaria ao seu ninho familiar.

As suas atitudes, indicativas de uma preparação para a Grande Viagem, só podem ser explicadas por abençoada e meritória premonição, isto é, um aviso dos Benfeitores Espirituais, muito discreto, mas capaz de induzi-lo a um comportamento mental introspectivo e levá-lo, com a motivação de uma pequena dor torácica, à relativa certeza de final de caminhada terrena. Nessa época, Ítalo não apresentava sinais de enfermidade, nem submetia-se a qualquer tratamento médico.

Somente mais tarde, por via mediúnica, ele esclareceria: “Os tempos últimos haviam sido para mim de muita reflexão. Meditava nas experiências da vida, até que percebi um ponto de dor que se abria em meu peito, à maneira de um aviso discreto de que o tempo na vida terrestre estava a terminar. Comecei atualizando nossas escritas e revisando tudo o que pudesse impor cuidados maiores ao seu coração de esposa e mãe, e, em verdade, acertei… Você se lembrará de que havia dito no Hospital a minha convicção de que não mais regressaria à nossa casa…”


Homenagem do “Anuário Espírita”


O Anuário Espírita 1980 publicou, em suas primeiras páginas, expressiva e carinhosa homenagem ao nosso inesquecível amigo e confrade Ítalo, sob o título: “Mais um anuarista retorna ao Mundo Maior”, que a seguir transcreveremos:

“No dia 8 de março de 1979, em Araras/SP, nosso querido companheiro de lutas doutrinárias, Ítalo Scanavini, regressou ao Mundo Maior, sob os efeitos de um enfarte que, em poucos dias, lhe desorganizou o veículo físico.

Foi um dos fundadores, em 1958, do Grupo Espírita Sayão, entidade espírita que, além das suas atividades doutrinárias, mantinha programa assistencial, através da assistência alimentar (sopa diária), serviço odontológico e albergue noturno. E que, no início da década de 1970, instalou oficina gráfica para impressão de livros espíritas. Sempre foi seu Tesoureiro.

Fez parte, também, do elenco de confrades que fundaram o Instituto de Difusão Espírita, em 1963, cujo programa de atividades tinha seu núcleo na edição de livros espíritas, especialmente o Anuário Espírita. Em muitas gestões foi seu Tesoureiro.

Em 1º de setembro de 1974 as duas instituições se fundiram, permanecendo o nome de Instituto de Difusão Espírita, enfeixando todas as atividades exercidas por ambas e, desde então e até a sua desencarnação, foi seu Diretor-Tesoureiro.

Homem humilde e zeloso no cumprimento do dever, sempre foi muito respeitado e querido por quantos lhe desfrutaram a convivência.

Fora das lides doutrinárias, foi membro ativo da Loja Maçônica “Fraternidade Ararense”, onde sempre conviveu com desmedido entusiasmo e dedicação, tendo ocupado muitos cargos de direção.

Foi um dos fundadores da Associação Atlética Ararense, de cujo Conselho Consultivo fez parte por longo tempo.

Profissionalmente, foi conceituado comerciante. Espírito disciplinado, seu zelo chegava aos detalhes, sempre procurando o melhor em todas as atividades que participava emprestando seu concurso.

Nós, seus amigos mais íntimos, pelos laços profundos de afeição e de trabalho, não podemos regatear elogios à sua atuação ao longo de duas décadas de atividades espíritas, e o amigo leitor talvez não pudesse entrever nesse extravazamento afetivo, o que representou realmente a vida de nosso saudoso confrade na comunidade ararense, assim também as qualidades pessoais desse Espírito valoroso.

A Câmara Municipal de Araras, já em 26 de março de 1979, por iniciativa do vereador José Pedro Fernandes, aprovou por unanimidade indicação para que fosse dado o nome de Ítalo Scanavini, para uma via pública. A medida se concretizou através do Decreto editado pelo Prefeito Municipal, Dr. Valdemir Gesuíno Zuntini, que tomou o nº 2127, em 6 de abril de 1979.

(…) Mas, amigo leitor, o que poderá fazer transparecer melhor a personalidade do nosso querido e saudoso irmão, é a mensagem que endereçou aos seus familiares, já em 14 de julho de 1979, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba/MG, que temos o júbilo de transcrever em seguida.

(…) No seio da comunidade em que viveu, a memória de nosso irmão está perpetuada pela via pública à qual emprestou o nome.

Em nossos corações, nos corações daqueles que lhe partilharam as lutas terrenas, está perpetuada pelo carinho da sua amizade e pela pureza e desprendimento do seu Espírito, sempre pronto a calar, ajudar e perdoar.”


“AQUI, A LUTA PELA VITÓRIA DO BEM É UMA BATALHA SEM TRÉGUAS” n


PRIMEIRA CARTA

1 Querida Diva, n e meus queridos filhos, n peço a Deus nos abençoe.

2 Enterneço-me ao rever-nos juntos de novo, qual se houvéssemos trazido conosco o nosso lar da Nunes Machado. Creiam que me preparei tanto, a fim de escrever-lhes e, entretanto, as lágrimas se misturam com as minhas próprias letras.

3 Diva, agradeço a você por ter vindo. O tempo de nossa união foi curto demais para um amor tão grande e hoje desejava que as horas recuassem para que eu pudesse oferecer ao seu coração as alegrias que não lhe pude dar. 4 E você, com o seu carinho de sempre, me traz o prêmio de toda a minha vida: nossos filhos queridos, os corações amados que Deus permitiu nascessem ou renascessem dos nossos, para que a nossa estrada se fizesse felicidade e luz.

5 Revejo-os a todos, qual se fossem a nossa garotada de outro tempo. Para os pais os filhos jamais crescem, são sempre nossos meninos, anjos de nosso amor. Ainda estou vacilando para enfileirar nomes que sempre requisitam esforço de memória, mas se me esquecer de algum, me corrija. Temos aqui os nossos queridos Rui, Renato, Rosa Alice, João, Mírian, n Rodolfo, Mara, Ricardo, o nosso Lemão n genial. E temos em pensamento a nossa Marta e o companheiro, n porque o nosso Esem é também um filho que Deus nos enviou pelos caminhos do espírito.

6 Diva, como sou feliz, tomando a cada um nos próprios braços, qual se fossem pequeninos!

7 Peço a você, em especial, dizer à nossa Marta que ela está aqui também conosco, aquele mesmo amor de filha a quem devemos tanto. Penso em todos, revejo a nós ambos em todos eles e peço a Deus que os abençoe.

8 Você se lembrará de que havia dito no Hospital a minha convicção de que não mais regressaria à nossa casa…

9 Os tempos últimos haviam sido para mim de muita reflexão. Meditava nas experiências da vida, até que percebi um ponto de dor que se abria em meu peito, à maneira de um aviso discreto de que o tempo na vida terrestre estava a terminar. 10 Comecei atualizando nossas escritas e revisando tudo o que pudesse impor cuidados maiores ao seu coração de esposa e mãe, e, em verdade, acertei…

11 Não creia, querida, que acontecimentos humanos menos felizes me tivessem abatido o ânimo. A doutrina que se fez a nossa lâmpada clareava todas as situações do caminho… Sempre compreendi que um homem nunca pode pensar em colher flores exclusivamente nas sendas da vida e, por isso, habituei-me a facear as ocorrências do mundo como viessem… E, aliás, nada sucedeu que me pudesse haver marcado com esse ou aquele sofrimento maior.

12 Tive a melhor esposa que um homem pode receber de Deus e conquistamos da Bondade Divina filhos que somente alegria e paz nos trouxeram aos corações…

13 Creio que o corpo já carregava por si aquela disposição ao problema circulatório que acabou por separar-me do instrumento físico. E ainda aí, naqueles poucos dias de preparação final, n reconheci que tudo estava certo. 14 Doía-me vê-la aguardando o golpe que a situação desferiria sobre nós e agoniava-me com a ideia de ser obrigado a deixá-la sem meus braços de companheiro com os filhos e os netos de que fizemos o nosso querido jardim de amor.

15 Sabia, no íntimo, que o assunto estava consumado; entretanto, em preces, rogava a Jesus a fortalecesse e nos amparasse os filhos inesquecíveis com a união de todos eles, para que uns amparassem os outros e não sei que tristeza me dominava naqueles momentos preparatórios da grande mudança de que me sentia perto. 16 Digo tristeza incompreensível porque não poderia, de minha parte, receber maiores bênçãos de Deus. Lamentar-nos seria ingratidão e, por esse motivo, o conflito imanifesto em que vivi nos dias últimos da vestimenta física foi enorme.

17 Chegada a hora, revi tudo, tudo o que fora a nossa vida em família, as horas de felicidade que foram sempre uniformes, porquanto em meu coração de esposo e pai só encontrava razões para ser agradecido.

18 A dor, a princípio, foi perceptível para mim… Depois, tudo me pareceu um desmaio de que não conseguia fugir, embora pusesse todo o meu esforço de homem na resistência para ficar… 19 Ficar ainda em sua companhia e trabalhar pela felicidade de trabalhar sempre mais; no entanto, um torpor que não sei definir começou a paralisar-me… 20 Em seguida, foi o sono de que possuía prévio conhecimento em tantas descrições de companheiros desencarnados.

21 A compaixão dos Céus, pelo menos em meu caso, não nos deixa ver os quadros que remanescem da morte, porque nada mais vi senão que despertava em outro ambiente. Era, a meu ver, um outro hospital, em cujo ambiente percebi, de imediato, que já não mais vivia em estrutura da Terra. A luz muito clara no aposento, o ar leve que me alimentava os pulmões e aqueles rostos que me cercavam, estendendo-me auxílio, não me deixavam dúvida.

22 Nenhuma face de Araras, nenhum semblante que pudesse identificar… Confesso a você e aos meus filhos que chorei muito… Era então aquilo a morte. Uma transferência irreversível sem apelo a qualquer regresso em moldes físicos para a retaguarda…

23 Pensei em você, em nossos meninos e em nossos netos, nos amigos, nas tarefas que ficavam para trás… Senti, por intuição, que os seus pensamentos me cercavam de saudade e de amor, que a imagem dos filhos me visitava no espelho da memória; no entanto, chorava ignorando se a alegria do dever cumprido ou a dor da separação compulsória se faziam motivos para aquelas emoções a se repetirem por dentro de mim.

24 Ah! mas o homens mais fortes se transformam em crianças, quando encontram a possibilidade de reencontrarem as mães que lhes deram a vida… Quando mais forte se fazia a minha noção de perda, vi que nossa mãe Joaninha n entrou para ver-me.

25 — “Então, meu filho, quem disse a você que as mães esquecem? Descanse. Você está regressando ao lar… Diva e os meninos estão amparados… Deus vela por todos…”

26 Não sei descrever a surpresa que me tomou de assalto. Vi-me novamente menino para rezar com aquela a quem devemos tanto amor.

27 Logo após, outros amigos vieram ver-me… O Bertolini, n o Giacomini, n o Zurita, n o Denardi n e tantos companheiros do ideal de trabalho se achavam ali que, muito embora sem apagar a sua presença e a presença da família no livro do coração, passei a sentir-me menos só para o recomeço… Agora, tudo se reajusta.

28 Noto-a, porém, algo abatida e fatigada. Peço-lhe que se refaça. Recorde Mara e o nosso Lemão precisando de seus cuidados, e nossa Marta com a família que começou a organizar é uma plantação de carinho que não podemos esquecer.

29 Se posso pedir alguma cousa, rogo-lhe fortalecer-se e apresentar o mesmo porte de alegria e discreto comando de nosso mundo familiar. Os filhos reclamam isso.

30 Não estou assim distante. Habitue-se a mentalizar-me ao seu lado e você me observará consigo, mais do que imagina. Lembre-se do orgulho sadio de seu marido ao vê-la forte e feliz e capacite-se de que o nosso amor não apresenta mudança. Conto em que os filhos saberão auxiliar-me nesse sentido, no sentido de lhe reconhecermos a restauração. O nosso companheirismo não sofreu qualquer pausa.

31 Nossa tia Maria Álvares Leite n veio assistir esse reencontro em ritmo de perto-longe. A realidade, no entanto, é a de que nos achamos sempre mais juntos.

32 Desejava escrever mais, sabendo embora que já escrevi demasiadamente, mas devo encerrar estas minhas notícias.

33 Amigos da Maçonaria e da Doutrina me auxiliaram a expressar o que sinto.

34 A letra não é a mesma. n Devo submeter-me a uma orientação de urgência a que não me acostumei; entretanto, preferi arriscar-me à manifestação com insegurança a perder a oportunidade.

35 Peço aos filhos dizerem de minha parte ao Arceu, ao Salvador, ao Pizarro, ao Hércio n e a outros irmãos de atividade espiritual que tudo o que fizermos pela divulgação de nossos princípios é muito pouco, diante do que se tem a fazer. 36 Aqui, a luta pela vitória do bem e pela sustentação da luz é uma batalha sem tréguas, na qual o Cristo é e será sempre o Grande Vencedor. Mas isso é outro assunto que transcende os meus propósitos.

37 Queria unicamente dizer a você e aos nossos rapazes, às nossas filhas, incluindo o genro e as noras, igualmente filhos de coração, que continuo vivendo e amando a família cada vez mais.

38 Diva, querida esposa, com os nossos filhos queridos, incluindo todos os que se reuniram a nós dois nos caminhos da vida e os netos que nos continuam a existência, receba todo o coração reconhecido do companheiro de sempre, sempre o seu


Ítalo


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Carta recebida em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na cidade de Uberaba, Minas, pelo médium Francisco Cândido Xavier, na noite de 14/7/1979.


2 — Diva — D. Diva Álvares Leite Scanavini, esposa.


3 — Nunes Machado — Nome da rua, na cidade de Araras, SP, onde reside sua família.


4 — Rui, Renato, João, Rodolfo, Mara e Ricardo: Filhos, presentes à reunião.


5 — Rosa Alice e Mírian — Rosa Alice Ruegger Bueno Scanavini e Mírian Elizabeth Severino Finardi Scanavini, noras, presentes à reunião.


6 — Marta e o companheiro, porque o nosso Esem é também um filho — Marta Elisa, filha, casada com Esem Pereira Cerqueira.


7 — Lemão — Apelido familiar do filho Ricardo.


8 — Naqueles poucos dias de preparação final Refere-se ao período em que ficou hospitalizado, de 2 a 8 de março de 1979.


9 — Mãe Joaninha — Sua progenitora era chamada, na intimidade, de Joaninha.


10 — Bertolini — Augusto Bertolini nasceu em Luca, Itália, a 2/11/1878, e faleceu em São Paulo, Capital, a 28/8/1961. Nas últimas décadas de sua vida residiu em Limeira, SP, exercendo a profissão de viajante. Colaborou ativamente nas campanhas pró construção do Sanatório Antônio Luiz Sayão, de Araras, inclusive participando de longas viagens pelo país. Quando da organização da primeira diretoria deste hospital, assumiu o cargo de vice-presidente, e sua esposa, D. Alice, integrou o Conselho Consultivo.


11 — Giacomini — João Giacomini Sobrinho (1909-1974), companheiro e amigo de Ítalo, foi um dos fundadores do Instituto de Difusão Espírita. Ver sua biografia em Anuário Espírita 1975.


12 — Zurita — Ignácio Zurita Júnior, antigo comerciante e político influente em Araras. Ex-Prefeito Municipal da cidade, faleceu em 29/11/1944.


13 — Denardi — Vitório Denardi, desencarnado em 22/9/1933, foi padrinho de batismo de Ítalo.


14 — Tia Maria Álvares Leite — Tia paterna de D. Diva, faleceu em Limeira, SP, a 8/12/1970.


15 — A letra não é a mesma — Um dos seus filhos, presentes à reunião pública, estando de pé, próximo à cabeceira da mesa, onde se assentava Chico Xavier, pôde acompanhar o trabalho psicográfico do médium, identificando, assim, a carta de seu pai desde as primeiras páginas. No decorrer do recebimento da mesma, pensou, sem dizer a ninguém, da possibilidade de seu progenitor encerrar aquela carta com assinatura igual à que tinha quando em vida material.


16 — Arceu, Salvador, Pizarro e Hércio — Arceu Scanavini (irmão), Salvador Gentile, José Pizarro Garcia e Hércio Marcos C. Arantes, companheiros de ideal espírita.


SEGUNDA CARTA n


“Quem dirá que existe a morte, quando a vida resplende por toda a parte?”

1 Querida Diva, peço a Jesus nos abençoe.

2 Estamos aqui na emoção de quem relembra o alvorecer do dia de março que nos separou, n do ponto de vista físico.

3 O coração se emociona e as lágrimas me sobem do íntimo para os olhos — entretanto são as boas lágrimas da alegria de quem agradece a Deus as bênçãos recebidas.

4 Temos todos os nossos filhos queridos conosco, neste momento, representados pelo João, com Renato, Ricardo e Mara, com o nosso prezado José Luiz, n que é igualmente nosso filho pelo coração, e junto de nós temos os amigos, na pessoa de nossa irmã de sempre, dona Nega, n e pelo amigo José Sebastião, n aliás, complementando a família de irmãos que temos no recinto. Agradeço os pensamentos de paz e amor que você, querida esposa, me traz com os corações queridos do lar.

5 O primeiro aniversário da morte é também o natalício da verdadeira vida. Trezentos e sessenta e seis dias de saudade n que a nossa fé em Deus enfeitou com a esperança. 6 Dizem que o amor imenso, e o afeto das entranhas da alma, pertencem às mães; entretanto, fui pai e estou assim qual você própria, na hipótese de se reconhecer à distância dos filhos queridos. 7 Graças à Divina Providência, não é você em minha situação, porque, em verdade, insubstituível é a presença materna para conservar a estabilidade da família. Conforto-me ao saber que sou eu o suposto ausente, embora reconheça quanto nos dói a todos a separação ilusória. 8 Foi justa, como sempre, a Lei que me arrebatou ao convívio de casa, porquanto, sem a sua companhia no Plano Físico, não saberia, por mim mesmo, de que modo agir para manter a aglutinação de todos os nossos, em torno da nossa confiança recíproca dentro da reunião de que necessitamos para seguir à frente, com o desempenho de nossas obrigações.

9 Aqui encontrei disposições da Vida Espiritual que me surpreenderam pelo sentido humanitário que as inspira. Os amigos desencarnados, de cuja legião agora participo, se trazem algum equilíbrio, desfrutam a possibilidade de prosseguir ao lado daqueles entes amados, aos quais se vinculam desde que se ofereçam para trabalhar em benefício da vida comunitária de que procedem. 10 Quem aspire à elevação usufrui o direito de buscar o Mais Alto; entretanto, os que se acham presos pelos laços afetivos — os mais sublimes — preferem as tarefas do ambiente em que viveram e de que foram partícipes nas realizações da retaguarda, e foi assim que preferi estar tanto tempo, quanto me seja possível, em Araras, a terra florida de bênçãos em que Deus nos permitiu constituir o ninho doméstico.

11 Procuro servir de algum modo, junto aos companheiros do ideal e especialmente nas tarefas da Fraternidade Ararense, n nas quais o esforço maçônico é dos mais amplos e mais dignos, especialmente no lado da Vida em que presentemente me encontro.

12 É por isso que em todos os seus momentos de tristeza, sinto-me positivamente atingido por suas lembranças e quanto se me faculta o trabalho, de retorno à intimidade familiar, eis-me compartilhando com você de todas as preocupações e incertezas que lhe alcançam a sensibilidade.

13 Como vê, não é fácil desencarnar o amor, quanto se desencarna o habitante transitório do corpo físico. Pela força do amor, prosseguimos unidos àqueles que amamos e nem poderia ser de outro modo, porque de que serviria um céu de alegrias fáceis para mães e pais que se apartassem dos filhos — tesouros de Deus que Deus nos confiou?

14 Peço-lhe, por isso, esperança e otimismo, diante de quaisquer ocorrências da Vida. Recorde, querida companheira, que todos os acontecimentos vão passando, como se estivéssemos aí no mundo inseridos num caleidoscópio a funcionar em câmara lenta. Basta lembrar projetos e realizações nossos de vinte a vinte e cinco janeiros atrás e você perceberá a legitimidade do que afirmo.

15 Não perca a sua paciência e igualmente não se afaste da sua alegria de viver. Conserve o seu contentamento e a sua confiança na Vida. Nossos filhos e nossos netos, nossos familiares e amigos necessitam de nós, quais fôssemos peças lubrificadas com segurança para o melhor funcionamento da engrenagem social de que participamos. 16 Não permita que a tristeza lhe ensombre a face e, nas situações consideradas piores, não arquive o sorriso com que você sempre me abençoava nas lutas de homem que a Bondade do Senhor transformara em pai de família. 17 E não deseje vir ao meu encontro, antes do instante certo. Isso poderia alterar os planos de serviço que abracei a fim de esperá-la com mais recursos de paz e felicidade no futuro. Continue aconchegando nossas novas crianças no coração.

18 Os netos são amores de nossos meninos, desses doces meninos a que estamos enlaçados para a realização do melhor ao nosso alcance. Creia que afago a todos eles com a mesma ternura e são eles, as riquezas nossas, que me estimulam no aprendizado de servir e de ser mais útil onde me encontro, na continuidade da ventura de prosseguir ao seu lado.

19 Estimaria relacionar a todos pelos nomes, a fim de marcar-lhes a presença em minhas lembranças escritas, mas dos que estão aí com você, personalizo em nossa pequenina e terna Lucila, de Marta e do Esem, n o jardim dos netos queridos; e daqueles com os quais convivo na Espiritualidade, antes mesmo de se corporificarem na Terra, n simbolizo na querida Marinazinha, de João e Mírian, a nossa garotada que virá. Não importa me veja aqui, porquanto sei que do lado humano está você repartindo o nosso coração com todos.

20 Por vezes, querida Diva, as saudades de pai são tão grandes que procuro na região de minha nova moradia visitar as crianças, que formam em nossos recantos verdadeiros conjuntos de esperança e carinho. E então que me consolo ao abraçar os pequeninos do Parque da Esperança, n que desfruta a direção criteriosa e nobre da nossa irmã Rosa Zurita n e de muitas companheiras da irmã Yolanda Cabianca, n admiráveis amigas da infância carente de amor.

21 E os diálogos de amizade se desdobram. São irmãos da Fraternidade que estudam novos métodos de auxiliar aos semelhantes, são os amigos Franzini, n Rodini, n Padre Atílio, n Nunes n e tantos outros com os quais me entretenho, a fim de assimilar ensinamentos de solidariedade que desconhecia.

22 Ao nosso grupo se associou o nosso companheiro Roberto Mercatelli n e você pode avaliar quantas faixas de serviço se ampliam presentemente em nosso favor. O nosso Michielin n é outro amigo a esforçar-se intensivamente na retomada das construções educativas a que se dedicou na bondade que lhe conhecemos, e Araras prossegue em nós e por nós, à busca do porvir em conjunto com todos aqueles que amamos, que ficaram e que vieram, porque vieram em nosso carinho e em nossa saudade, à maneira de âncoras a nos resguardarem firmes na disciplina do trabalho em pleno mar da vida terrestre.

23 Peco a você dizer ao nosso Rui e à nossa estimada Maria que o irmão Pedro Pôncio n está igualmente em nosso campo de ação e, qual me vejo docemente acorrentado à família, também ele se observa carinhosamente agrilhoado à nossa irmã Sebastiana, a companheira querida e digna, que ele deixou na retaguarda.

24 Elos divinos! Quem dirá que existe a morte, quando a vida resplende por toda parte? Em nenhum lugar a solidão nem o vazio, porque, ao que me parece, a Natureza de Deus deve ser o oceano de amor em que todos nos achamos imersos.

25 Aqui se encontra em nossa companhia o amigo Ferdinando Pinton n que igualmente se nota ligado à nossa estimada Dona Nega e, qual assinalamos, as conexões da alma nunca se desfazem.

26 Ao nosso estimado José Luiz desejamos anunciar a presença da irmã Della Torre n que, como nos sucede, se incorpora gradativamente à moldura da Vida Espiritual.

27 Todos nós, os amigos liberados das inibições físicas, aqui estamos e nos rejubilamos com as preces e com os ensinamentos ouvidos.

28 Da comunidade familiar notei a sensação de estranheza com a ausência dos nomes de meus irmãos em minhas notícias, mas sem possibilidade de nomear a todos, em nosso Luís e em nossa irmã Ida, n abraço a quantos permanecem no veludo de recordações da mamãe Joaninha.

29 Diva, peça ao Renato e ao João transmitirem aos nossos companheiros do Instituto n o meu apelo a que prossigam atentos.

30 O trabalho na extensão do conhecimento libertador é uma bênção que os nossos Mentores nos concederam, creio que por empréstimo de essência divina, tamanhas são hoje aos meus olhos a responsabilidade e a alegria de que se revestem.

31 E agora, muito carinho a todos os nossos. Peço à Mara e ao nosso querido Lemão permanecerem atentos aos seus bons avisos e rogo ao seu coração beijar a todos os rebentos de nossos rebentos, a começar da Lucilinha.

32 A todos os meus filhos e nossos amigos a minha dedicação e o meu reconhecimento de todos os dias e para você, querida Diva, neste primeiro ano de muita saudade e de mais amor, de tanta distância e de maior aconchego através da luz de nossa união, para nós divina, todos os sentimentos de ternura e gratidão, de esperança e fé viva em Deus, do esposo e companheiro que foi, é e será sempre o seu


Ítalo


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


17 — Carta psicografada pelo médium Francisco C. Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas, na noite de 7/3/1980.


18 — Ítalo desencarnou às 14:45 horas, do dia 8/3/1979.


19 — José Luiz, que é igualmente nosso filho pelo coração — José Luiz Cóser, grande amigo de Renato, sempre frequentou a casa de Ítalo. Estava presente à reunião.


20 — Nossa irmã de sempre, dona Nega — Maria Duarte Pinton, mais conhecida por D. Nega, grande amiga da família.


21 — Amigo José Sebastião — Namorado de Mara, filha de Ítalo.


22 — Trezentos e sessenta e seis dias de saudade — Ao final da reunião, Chico comentou com a família que ao ler a carta, de público, estranhou o número 366, pensando que tivesse havido uma falha na captação mediúnica: o certo seria 365 dias. Mas, o Espírito de Ítalo, ao seu lado explicou que o texto estava certo pois o ano de 1980 fora bissexto.


23 — Fraternidade Ararense — Loja Maçônica “Fraternidade Ararense”, a qual Ítalo pertencia.


24 — Nossa pequenina e terna Lucila, de Marta e do Esem — Na época em que escreveu esta carta, sua netinha Lucila contava com um ano de idade.


25 — E daqueles com os quais convivo na Espiritualidade, antes mesmo de se corporificarem na Terra, simbolizo na querida Marinazinha, de João e Mírian, a nossa garotada que virá — Este é um dos mais lindos trechos da carta de Ítalo, descortinando-nos a evolução de uma família nos dois Mundos: Material e Espiritual, através de abençoadas reencarnações. Quando ele a redigiu, a neta Marinazinha já estava de regresso ao Plano Espiritual havia 2 anos; e, desde então, nasceram mais dois netos: Luciana, filha de Rodolfo e Mirângela; e Ítalo, filho de Marta e Esem.


26 — É então que me consolo ao abraçar os pequeninos do Parque da Esperança — Ver comentário sobre o futuro das crianças no Mundo Espiritual no Capítulo 5 (Nota 3).


27 — Rosa Zurita — Rosa Padula Zurita, esposa de Ignácio Zurita Júnior (Identificado na Nota 12 deste Capítulo), faleceu em 24/4/1961. “Esposa devotada e mãe amantíssima, fez de sua existência uma lição e um exemplo.” Uma das Vilas, o seu Centro Comunitário e um dos Parques Infantis da cidade receberam o nome: “Dona Rosa Padula Zurita” — justas homenagens à sua memória.


28 — Yolanda Cabianca — Yolanda Sales Cabianca, dedicada e estimada professora, lecionou, por muitos anos, na Fazenda Santa Cruz, do município de Araras. Faleceu em São Paulo, a 15/8/1971, sendo sepultada em Pirassununga, SP, onde residia. Em 1974, foi homenageada pelo Governo do Estado com a denominação de Escola Estadual de 1º Grau “Profª. Yolanda Sales Cabianca” a um grande estabelecimento de ensino do bairro Jardim Marabá, em Araras.


29 — Franzini — Narciso Franzini, amigo e companheiro de diretoria da Associação Atlética Ararense. Faleceu em 3/4/1965.


30 — Rodini — José Dante Rodini (9/9/1904 — 22/11/1962), amigo e companheiro de diretoria da Associação Atlética Ararense.


31 — Padre Atílio — Padre Attílio Cosci nasceu na cidade de Salerno, Itália, em 1868. Recebeu a batina das mãos de D. Bosco, em Turim, e logo em 1892 embarcou para o Brasil. Em 1903, trabalhando em Guaratinguetá, SP, destacou-se pela caridade com que recebia os salesianos atacados pela febre amarela. Era o único que tinha coragem de ficar com os doentes até o momento da morte. Em 1905, fundou em Batatais, SP, um colégio da congregação. Exerceu sua missão em Araras, SP, de 1923 a 1926, e posteriormente, de 1930 a 19/7/1941, data de seu falecimento. Dotado de grandes virtudes, amigo e conselheiro de todos que o procuravam, até hoje é lembrado com saudades pelo povo ararense, que visita seu túmulo frequentemente. Revelando alto espírito ecumênico, cultivava um bom relacionamento, e mesmo amizade, com líderes de outras religiões, dentre eles, o Dr. Roberto Mercatelli, com quem fazia tratamento dentário. A importante Avenida Padre Atílio, em Araras, é uma expressiva homenagem póstuma à sua memória.

Além dessa referência na carta de Ítalo, há outra mensagem mediúnica que mostra a operosidade desse sacerdote no Mundo Espiritual. Em Pedro Leopoldo, MG, com a presença de uma caravana de Araras, dirigida pelo Dr. Lauro Michielin, que buscava orientação espiritual para a campanha pró Sanatório A.L. Sayão, Chico Xavier psicografou, em 7/4/1950, mensagem de Antônio Michielin, avô do Dr. Lauro, da qual destacaremos o seguinte trecho: “Aqui nos achamos com a caravana fraterna diversos companheiros, dentre os quais destaco o Padre Zabeu, o Padre Attílio, o irmão Brito e outros, que aguardam, confiantes, o prosseguimento das tarefas de todos, no rumo de nosso instituto de amor fraternal com o Mestre e Senhor.”


32 — Nunes — João Nunes Rollo, um dos fundadores da Loja Maçônica “Fraternidade Ararense”, foi amigo, confrade e irmão maçônico de Ítalo. Desencarnou em 18/2/1978.


33 — Roberto Mercatelli — (23/4/1904 — 17/7/1979). Amigo e companheiro de Doutrina. Um dos fundadores do Sanatório A. L. Sayão. Ver sua biografia em Anuário Espírita 1980, sob o título: “Roberto Mercatelli, um incansável servidor”. (Veja Nota 1 do Cap. 5.)


34 — Michielin — Dr. Lauro Michielin, advogado e professor de Sociologia, foi um dos fundadores do Sanatório A. L. Sayão e da Loja Maçônica “Fraternidade Ararense”. Escreveu várias obras, sob o pseudônimo de Jacques Garnier, dentre elas: Meditações (Ed. IDE), até hoje em sucessivas reedições. Editou o 1º número do Anuário Espírita (1964). Voltou ao Plano Maior em 24/6/1975, aos 55 anos de idade. Ver sua biografia em Anuário Espírita 1976.


35 — Pedro Pôncio — Pai de D. Maria Aparecida Pôncio Scanavini, esposa de Rui Scanavini. Faleceu em Araras, a 19/4/1965. Deixou viúva D. Sebastiana, atualmente residente em Sumaré, SP.


36 — Ferdinando Pinton — Faleceu em 14/1/1979, deixando viúva D. Nega (D. Maria Duarte Pinton), residente em Araras, presente à reunião pública.


37 — Della Torre — Márcia Della Torre (19/1/1965 — 16/6/1979) residia em Mogi Mirim, SP, e faleceu em acidente automobilístico. Seu primo, José Luiz, presente à reunião, em papel colocado sobre a mesa dos trabalhos, havia pedido notícias de seu estado no Mundo Espiritual.


38 — Luís e Ida — Luís Scanavini e Ida Scanavini, irmãos, residentes em Araras.


39 — Companheiros do Instituto — Refere-se ao Instituto de Difusão Espírita (IDE).


TERCEIRA CARTA n


“Por aqui, não temos senão um objetivo: somar forças para que o bem de todos se levante no território do beneficio geral.”

1 Querida Diva, Deus nos abençoe.

2 Não posso furtar-me ao propósito de endereçar a vocês algumas palavras que, de antemão, já sei não se farão uma carta reduzida, embora não disponha de recursos no tempo, a fim de me evidenciar como desejo.

3 Abraço em você, o Renato, o Ricardo e todos os nossos queridos ausentes, acrescentando minhas saudações fraternas ao Hércio e à nossa irmã Nazaré. n

4 Diva, agradeço a sua dedicação por tudo de bom e de belo com que você e os nossos filhos me cumulam de reconforto.

5 Rui e Maria, Renato e Rosa Alice, Rodolfo e Mirângela, João e Mírian, Marta e Esem com a nossa Mara e com o nosso Lemão n e todo o estado menor da família permanecem cada vez mais vivos em minha lembrança. Simbolizo em nosso pequeno Ítalo a presença de todos os nossos pequenos e em nossa irmã Sebastiana, junto ao Rui e Maria a comunidade dos nossos amigos. Dos irmãos igualmente não me esqueço. Ida e Luís, Santo e Arceu com os mais me povoam os pensamentos. O Rubens, o Gastão, a Angelina, a Mariquinha, a Odila, o Ronaldo e todos os familiares estão comigo.

6 Entretanto, chega de recorrer às listas da coruja, a dona do enternecimento doméstico e que a minha palavra seja para você, companheira e esposa de sempre, a certeza de que prossigo trabalhando, com todos os meus recursos para construir o futuro que aguardamos.

7 Estou na tarefa do joão-de-barro… De migalha em migalha edificarei o nosso novo refúgio e espero de Jesus a felicidade de continuar agindo para realizar o melhor.

8 Estimaria transmitir aos companheiros de Araras, a certeza de que tudo o que fizermos em matéria de plantação da luz espiritual será pouco, mas esse mesmo pouco será muito perante Deus, em face dos empeços que somos compelidos a atravessar para cumprir os deveres que assumimos. 9 A extensão do esforço engrandece a obra, ainda que essa obra se resuma a proporções diminutas semelhantes às medidas do grão de areia. Por aqui, não temos senão um objetivo: somar forças para que o bem de todos se levante no território do benefício geral.

10 O padre Casemiro n e o padre Alarico n estão unidos a nós outros, os espíritas e os maçons para a mesma utilidade e engrandecimento do progresso geral, com a felicidade possível para cada um.

11 O Augusto Bertolini recrutou, em Limeira, o Professor Antônio Lordelo n e com o Zurita, o Graziano, n o Michielin e o Mercatelli, estamos todos na mesma lavra de esperança e trabalho, apagando lembranças negativas que possam surgir e acentuando as recordações edificantes que nos sirvam de estímulo ao serviço por fazer.

12 Hoje reconheço que não é possível perder tempo no Plano Físico, enquanto podemos fazer o bem, tanto quanto quisermos, como pudermos, com quem for e seja onde for, desde que a consciência tranquila esteja governando a colmeia de nossos pensamentos.

13 Sou feliz com os meninos em ação nas tarefas que todos iniciamos juntos, e peço a Deus a todos abençoe, renovando-lhes as forças, para que produzam sempre mais nessa fonte bendita que nos foi confiada ao esforço de todos e de cada companheiro em particular.

14 Querida Diva, em meio de tudo isso, veja o meu coração, pulsando de amor e reconhecimento a você. Se não traço aqui um poema de carinho em sua homenagem, registrei as minhas preocupações de serviço, porque você sempre foi a minha inspiração e o meu incentivo na desincumbência de meus encargos.

15 Peço desculpas ao Esem por haver involuntariamente omitido o nome dele em minhas expressões de carinho paternal quando o Rui esteve aqui conosco. Foi um lapso de atenção que corrijo, porquanto, à medida que os dias se desdobram mais descubro no genro o amigo correto e generoso que ele é.

16 Peço aos amigos da família e do IDE não se preocuparem com a morte, mas tratarem convenientemente do corpo, a fim de guardarem a enxada nas mãos por mais tempo. O meu problema de infartoso desenhou muito receio oculto na paisagem de nossa gente e não há motivo para isso.

17 Para o Renato e Ricardo, representantes da “firma nossa”, o meu abraço de pai amigo e companheiro agradecido, rogando a você guardar comigo os melhores planos e as melhores aspirações, com todos o amor do seu


Ítalo

Ítalo Scanavini.


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


40 — Carta psicografada pelo médium Francisco C. Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas, na noite de 25/7/1981.


41 — Hércio e Nazaré — Hércio M. C. Arantes e Maria de Nazareth A. Arantes, casal amigo da família, presente à reunião.


42 — Ida, Luís, Santo, Arceu, Rubens, Gastão, Angelina, Mariquinha, Odila, Ronaldo — Irmãos de Ítalo, todos residentes em Araras, SP.


43 — Padre Casemiro — Padre Casemiro Continente Ross faleceu em Araras, a 29/9/1945, com 31 anos de idade, quando exercia, já por alguns anos, o seu ministério nesta cidade. Como expressiva homenagem póstuma, uma das ruas de Araras recebeu o seu nome.


44 — Padre Alarico — Padre Alarico Zacharias (1870-1942) exerceu o seu ministério em Araras, a partir de 1914. Foi eleito Prefeito em 1924; e de 1925 a 1928 ocupou o cargo de Vice-Prefeito. Fundou o Asilo N. S. do Patrocínio, ainda hoje uma das relevantes obras assistenciais da cidade, localizado na Avenida “Padre Alarico”.


45 — Professor Antônio Lordelo — Antônio Perches Lordello (Piracicaba/SP, 15/7/1885 — Limeira/SP, 17/2/1964) diplomou-se em 1914 pela, então, Escola Normal de Piracicaba. Em Limeira, lecionou nas Escolas Estaduais “Cel. Flamínio Ferreira de Camargo” e “Brasil”, aposentando-se em 1945. Foi um dos fundadores e proprietários do Externato São Luiz, de 1939 a 1944; e diretor do Colégio Santo Antônio, de 1956 a 1962. Há na cidade de Limeira uma rua com seu nome, bem como, é patrono de uma Escola pública: Escola Estadual de Primeiro Grau “Professor Antônio Perches Lordello”. (Informações do Prof. Paulo R. Lordello, seu filho.)


46 — Graziano — Francisco Graziano (1895-1970) foi Prefeito Municipal e 1º Tabelião do Cartório de Notas e Anexos de Araras.


Hércio Arantes


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