O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Tempo e amor — Autores diversos — F. C. Xavier/Clóvis Tavares


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Mensagem de Amaro Francisco n

1 Querida Nair, n Deus nos proteja.

2 Estou ainda hesitante. Quase menino de escola no primeiro ano do alfabeto. É a vida nova. Por isso, escrevo com auxílio. Como não podia deixar de ser e você compreende.

3 Choro, como é justo. Lágrimas de muita saudade, mas iluminadas pela fé em Jesus. Como eu queria ter palavras para dizer o que desejo! Mas, é tudo tão novo para mim que renuncio ao conforto de falar com mais segurança. Peço a você: ajude-me, como sempre. Não chore mais. Você dirá que tem feito força. Eu sei que é assim. Mas, a gente chora por dentro, conversando com a gente mesmo. Estamos ainda muito ligados na vida terrestre. Mas, aos poucos, nossa união subirá mais. A dor da separação será esperança, o anseio de comunhão será bênção. Tudo o que você sente e pensa repercute ainda em mim. Estou longe e perto, estamos separados e juntos. Não sei esclarecer ainda estes pontos, entretanto, um dia, entenderei os mecanismos dessas ligações.

4 Nossos filhinhos são nossas flores, nossa riqueza. Fale, minha querida, com eles, que não morri. Explique à nossa Ana, ao nosso Luís Carlos, ao nosso Carlos Roberto e à nossa Luciana n que a morte não existe. Ninguém deve recordar-me como no último dia do corpo que se foi. Lembremo-nos uns dos outros como nos dias mais felizes, porque tudo terminará mais tarde em felicidade completa.

5 Realmente, ainda tenho as marcas da transição. O choque, Nair, foi tão grande que não tive tempo para pensar. Tanto tempo guiando carro e, na hora de deixá-lo o processo foi rápido. Momentos apenas e vi que a máquina estava em frangalhos. Senti que as pernas haviam esmorecido. Depois é que vi que sofrera um esmagamento com que não contava.

6 Levantara-me de muito bom humor pela manhã e orara em silêncio, rogando a Jesus nos abençoasse. E Jesus nos abençoou, dando-nos o melhor que poderíamos receber… Avançava pela rua, pensando no trabalho e com muita atenção no trânsito, mas tudo estava programado nas leis que nos orientam. Não julgue que houve culpa no outro motorista. Quem poderá avaliar o que sofria ele pela manhã?… Que aflições ignoradas trazia? que provações experimentava?

7 Nem de leve pensei que ele pudesse ser responsabilizado. Num clarão súbito, de renovação, compreendi tudo… Revi, na imaginação, você, nossas crianças, meus pais queridos, como se retornasse à infância, nossos entes amados!… Especialmente, você estava na minha lembrança. 8 Vi que me conduziam ao hospital para o fim do corpo. Nem tinha dúvida. Mas, só via você, aflita, cansada, com a pressão alta. Não sei se consegui falar, mas creio que pedi, na sala de operações, para que tivessem cuidado, a fim de que não fosse informada de repente, quanto ao desastre, n explicando que a sua saúde não era resistente como eu queria… Ignoro se conversei, porque a hora grave não permitia pensar e comandar meus sentidos ao mesmo tempo. Lembro-me só que uma sensação de sono me absorveu e dormi… 9 Quando acordei, estava em nossa casa, mas a bênção da fé me reconfortava! O conhecimento da verdade me suprimia a ilusão. Nossa confiança em Jesus estava funcionando… Ainda assim, a dor de sentir a sua dor era forte demais e cambaleei, como se um novo desmaio me tomasse a cabeça. Então, fui afastado para o tratamento preciso.

10 Venho hoje até aqui com o nosso querido amigo Araújo. n Foi o primeiro amigo do mundo a trazer-me notícias de que todos os nossos papéis estavam organizados. Digo “primeiro”, porque me refiro aos que vi em nosso novo mundo, depois de meu regresso. Agradeci a ele, como agradeço a todos os companheiros do Banco tudo o que fizeram por nós. Nada fiz por merecer amigos tão dedicados. Nosso Walters n contou-me tudo.

11 Você, querida Nair, conserva a nossa vida simples. Auxilie nossos filhinhos a serem como são — estudiosos e bons — para que o futuro nos favoreça. Diminua sempre os gastos, sem abraçar necessidades voluntárias. Equilíbrio sempre. Nem privação, nem supérfluo. Deus nos ajudará. Agradeço a nossa querida Cirene n a companhia e o carinho que nos tem dado.

12 Muitos amigos estão aqui, ao nosso lado, nosso amigo Virgílio Paula, n nosso Dr. Filipe, n nosso amigo e seu pai Francisco, n nosso irmão Bonifácio n e tantos outros!

13 Mas, é preciso terminar esta carta beijando as suas mãos. Querida Nair, nunca desanime com a luta purificada na Terra. Tenhamos paciência para vencer com Jesus, vencendo em nós mesmos tudo o que seja capaz de nos afastar da verdadeira felicidade. Em toda prova, não olvide a prece. A oração é uma luz, sempre uma luz.

14 Rogo a Deus abençoar-nos, abençoando os nossos filhinhos. Ainda estou fraco e mesmo assim, com a força da saudade e com o apoio de nossos Amigos Espirituais, escrevi tanto!…

15 Juntos com a bênção de Deus, peço a você receber, como sempre, todo o coração do seu


Amaro


ANOTAÇÕES


1 - Amaro Francisco de Souza — Nasceu no Município de Campos (Carvão) a 14 de fevereiro de 1931. Aos dez anos transferiu-se para a cidade, ingressando no curso primário. Em 1953 fez concurso para o Banco do Brasil, onde trabalhou dezesseis anos e tornou-se estimado de todos. Era dedicado obreiro da Doutrina Espírita, trabalhando ativamente na Escola Jesus Cristo em diversos setores, incansavelmente. Excelente e devotado professor de Evangelho nas classes de crianças da Escola, companheiro sempre presente ao Culto da Assistência Auta de Souza, Amaro era o confrade prestimoso, sincero e consagrado às tarefas do Bem. Libertou-se da vida material no dia 11 de março de 1970.

2 - Nair — Nair Batista de Souza, sua esposa, também, quanto Amaro, devotada obreira da Escola Jesus Cristo, havendo trabalhado durante muitos anos na “Casa da Criança”, educandário-abrigo da instituição, antes de seu casamento.

3 - Ana, Luís Carlos, Carlos Roberto e Luciana — Filhos do casal:

4 - Precisão absoluta do texto da mensagem: Amaro, no centro cirúrgico da Santa Casa de Misericórdia de Campos, segundo testemunho dos médicos que o socorreram, mal podendo falar, solicitava, com dificuldade, que tivessem cuidado com a esposa… usando a expressão “pressão alta”. Exatíssimo.

5 - Araújo — Referência a Walter Araújo, colega de serviço de Amaro no Banco do Brasil, desencarnado algum tempo antes.

6 - Referência nº 5.

7 - Cirene — Professora Cirene Batista, sua cunhada. Dedicada obreira da Doutrina, havendo exercido diversas tarefas na Escola Jesus Cristo. Professora de Evangelho, qual Amaro, em classes de crianças e adolescentes. Fundadora e diretora da Escola de Evangelho Maria João de Deus, filial da Escola Jesus Cristo no bairro de Bezamat. Co-fundadora do Departamento Feminino Djanira Bastos de Souza, da Escola Jesus Cristo. Prestou serviços a outras associações espíritas da cidade, havendo desencarnado sete anos após Amaro, em 13 de fevereiro de 1978.

8 - Virgílio Paula — Inesquecível figura, realmente ímpar, da Doutrina Espírita em Campos. Possuidor de sólida cultura, foi um cristão exemplar — “cristão de corpo inteiro”. Durante muitos anos foi presidente da Escola Jesus-Cristo. Chico Xavier, quando de sua primeira visita à Escola, em 1940, denominou-o evangelicamente — “o Ancião da igreja”. Fundou em sua terra natal uma filial da Escola Jesus Cristo, a Escola Maria de Betânia (Santo Antônio do Imbé, município de S. Maria Madalena). Desencarnou no dia 7 de fevereiro de 1960.

9 - Dr. Filipe Uébe — Dedicado médico, de excepcional cultura profissional e inteiramente consagrado à pobreza de Campos. Desencarnou no dia 24 de dezembro de 1943 e a cidade inteira chorou sua morte. É um dos dedicados obreiros espirituais da Escola Jesus-Cristo; que o tem na conta de carinhoso Benfeitor.

10 - Francisco — Francisco Florentino Batista, sogro de Amaro, desencarnado em 18 de junho de 1937.

11 - Bonifácio — Bonifácio de Carvalho, devotadíssimo companheiro de Doutrina, inesquecível Diretor da Escola Jesus-Cristo e grande amigo de Chico Xavier. Desencarnou no dia 3 de abril de 1941.


Clovis Tavares


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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