O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Volta Bocage… — Manuel M. B. du Bocage


Soneto V

29-11-1946

1 Doce Mãe, Sereníssima Senhora,
Dos teus olhos velados de Doçura
Nasce fresca a alvorada, que fulgura
Na infortunada sombra de quem chora!


2 Quando meu ser vagava em noite escura,
Nas angústias do abismo que apavora,
Estendeste-me os braços, vendo, embora,
Minhas chagas de treva e de loucura…


3 Ante o Regaço Fúlgido consente
Que minha fé se exalte, embevecida,
Prosternada, ditosa, reverente.


4 Recebe no dossel de Graça e Vida
O louvor de teu filho penitente,
No clarão de minh’alma convertida.
 n


Mel. Mª de Barbosa du Bocage


Depois de nos prevenir contra os vícios, quais o orgulho, a vã curiosidade, a concupiscência e a vaidade o poeta nos dá exemplo de submissão e de reconhecimento pelos bens recebidos. Assim, ele se dirige, humilde, a Maria Imaculada, pondo-lhe aos pés sua gratidão, pela graça de socorrê-lo na treva, e louvando-a, por lhe ter convertido a alma, agora iluminada. Desta maneira, o poeta nos apresenta a prece como dever da criatura, que espera dos Espíritos superiores o auxílio nas situações aflitivas em que se encontre; e esse precioso auxílio lhe vem nas horas de cegueira dalma ou nos momentos de perturbação e desatino do Espírito.

O soneto acima parece ser consequência deste outro, que o poeta compôs na Terra e em que invoca o amparo da mesma “Virgem das Virgens”:


Tu, por Deus entre todas escolhida,
Virgem das virgens, tu, que do assanhado
Tartáreo monstro com teu pé sagrado
Esmagaste a cabeça entumescida:


Doce abrigo, santíssima guarida
De quem te busca em lágrimas banhado,
Corrente com que as nódoas do pecado
Lava uma alma, que geme arrependida:


Virgem, de estrelas nítidas c’roada,
Do Espírito, do Pai, do Filho eterno
Mãe, filha, esposa, e mais que tudo amada:


Valha-me o teu poder, e amor materno;
Guia este cego, arranca-me da estrada,
Que vai parar ao tenebroso inferno!


Mel. Mª de Barbosa du Bocage


Eis, pois outra faceta da prece: a súplica de amparo, nunca negado a quem pede com sinceridade e condição: “Cor contrictum et humiliatum Deus non despiciet.”


L. C. Porto Carreiro Neto



[1] Este soneto foi escrito enquanto nosso confrade Ismael Gomes Braga fazia a prece de encerramento da sessão pública, que se estendera por três horas de trabalhos mediúnicos ininterruptos. O presidente implorava a proteção de Maria para os sofredores encarnados e desencarnados. — Nota do mesmo confrade. [Confrade Ismael Gomes Braga, citado acima.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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