O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vida nossa vida — Familiares diversos


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Carlos Alberto Elisei

Filho único de Edson Elisei e Elvira Martins Elisei, Carlos Alberto nasceu em São Paulo, SP, a 5 de junho de 1957 e faleceu na capital paulista às vésperas do Natal de 1977, no dia 18 de dezembro.

Com vinte anos, deixou-nos, vitimado por metástase cerebral de melanoma que havia extirpado dez meses antes.

A respeito do filho, assim se expressou a mãezinha, quando de nossa entrevista:


DEPOIMENTO


“Nossa vida era um mar de rosas; Carlos Alberto, um filho maravilhoso, muito querido de todos. Trabalhava na metalúrgica do pai e estudava Eletrônica.

Entre ele e o pai havia uma estreita amizade; estavam sempre juntos, não havia noite em que não conversavam, passando a limpo as novidades do dia.

Fomos a Uberaba, para conversar com Chico Xavier, na esperança de receber algum recado de nosso filho, pelas mãos amigas de D. Yolanda Cezar a quem dedicamos eterna gratidão.

A mensagem que o Cá nos mandou, através do Chico, nos fez viver, abriu em nossa vida uma luz imensa. Hoje, buscamos trabalhar na Seara do Mestre, ajudando e procurando compreender nosso semelhante.

Tenho absoluta certeza de que não só meu filho, mas todos os filhos que partem continuam vivos.”


MENSAGEM


1 Querida mamãe Elvira e querido papai Edson, peço-lhes a bênção de sempre que me resguarda o coração para Deus.

2 Embora várias vezes tenha procurado transmitir aos pais queridos a certeza de que prossigo vivendo, confirmo nas palavras que escrevo tudo quanto tenho desejado dizer.

3 Mãezinha Elvira, sei quantas lágrimas lhe nasceram do coração com a partida inesperada a que tive de obedecer.

4 Creiam os queridos pais que naquelas horas de hospital, fiz tudo para articular a conversação que tanto esperei efetuar. Conseguia registrar o que se falava em torno de mim, escutar os mínimos sussurros, no entanto, a palavra n era um instrumento que eu já não conseguia manejar.

5 Pensava em todos os nossos e especialmente os pensamentos da vovó Maria José Pina n me preocupavam, porque sabia que ela se achava abatida e doente, mas foi impraticável qualquer tentativa para o nosso diálogo.

6 Notava-lhes a tristeza que se espelhava no coração e sentia em mim tudo o que experimentavam, em matéria de aflição…

7 Observei que o papai se inclinava sobre mim como a buscar-me as últimas frases que eu pudesse dizer, contudo, uma voz interior me solicitava paciência e aceitação da vontade de Deus.

8 A dor moral superava as dores físicas pela minha impossibilidade de comunicação, entretanto, chegou o instante em que me entreguei, de todo, ao Eterno Pai e roguei a Jesus fizesse de mim aquilo que estava nos desígnios do Mais Alto. Foi quando me senti longe, qual se forças imensas me conduzissem para local diferente…

9 Um alívio inesperado me banhou os sentidos e dormi profundamente.

10 Quanto tempo gastei nesse repouso inconsciente, ainda não sei, mas ao despertar, com evidentes melhoras, foi o padrinho Antônio Guerra n a primeira pessoa a abraçar-me. Confesso que a surpresa era para mim alegria e sofrimento, porque não me restavam dúvidas, quanto à realidade…

11 Quisera tanto haver regressado a nossa casa para retomar a nossa vida tranquila e, constrangido, reconheci, de chofre, que passara a outro gênero de vivência.

12 O padrinho Antônio, de cuja fisionomia me lembrava, principalmente nos retratos, reconfortou-me, comprometendo-se a auxiliar-me…

13 E, depois de conscientizado em minha nova situação, senti que a dor e a saudade dos pais queridos, da vovó e de todos os nossos, doíam em mim com o rigor de feridas que me fossem abertas no coração…

14 O tempo passou rápido entre o meu despertar e a chegada da vovó Maria até nós e, misturando felicidade e pranto, esperança e amargura, tenho procurado melhorar-me, a fim de lhes ser o filho, na Espiritualidade, que não pude ser na Terra.

15 A vovó Maria Elisa n nos tem tratado, à vovó e a mim, como sendo novamente seus tutelados aqui e venho pedir-lhes confiança em Deus e confiança na vida.

16 Querida mãezinha Elvira, quanto lhe seja possível, auxilie-me com a sua coragem no trabalho do bem aos outros. O seu coração querido e o querido coração de meu pai possuem outros filhos que necessitam de apoio, agora mais do que eu mesmo…

17 Não se deixem anular pela influência da saudade que permanece entre nós, porque é possível transformar a saudade em serviço aos nossos irmãos que sofrem.

18 Quanto puderem fazer em auxílio aos outros, farão a mim próprio, de vez que fazendo de nossos companheiros menos felizes, parte integrante de nossa família, a nossa família, em nome de Deus, estará conosco em toda parte.

19 O tio José Martins n e a tia Maria estão igualmente agindo em nosso auxílio e falta-me vê-los mais profundamente consolados, a fim de que o equilíbrio, de todo, me favoreça.

20 Meus estudos n não foram interrompidos, porquanto aqui as escolas nos admitem no grau de conhecimento em que estejamos e, por isso mesmo, espero prosseguir em minha formação para atividades espirituais, em trabalho de utilidade junto dos homens, de maneira a não desapontá-los.

21 Peço-lhes para aceitarmos a nossa prova com serenidade e paciência. Não houve qualquer erro de meu tratamento, nos poucos dias de internação hospitalar. A verruga n era uma cortina pequena, ocultando uma situação grave que deveria terminar no ponto exato daquele dezembro em que o nosso Natal se fez amargo e triste.

22 Estejam, porém, na certeza de que vou melhorando sempre e é com a fé viva em Deus que lhes peço para aguardarmos tempos cada vez melhores para nós três.

23 Querido papai, não acredite que me perdeu, porquanto, sou o seu filho de sempre, na expectativa de crescer em conhecimentos e qualidade para servi-lo. O meu tempo seria realmente curto, como foi e não há motivo para nos queixarmos das leis de Deus. Espero que a paz continue conosco, orientando-nos a vida.

24 Estimaria prosseguir, mas o padrinho Antônio me recomenda terminar. É o que faço, deixando-lhes o meu coração reconhecido, com lembranças a todos os nossos entes queridos.

25 Na esperança de retornar ao nosso intercâmbio, reúne os dois num abraço de coração para coração, o filho sempre grato que, em nome de Jesus, lhes pertencerá sempre com as melhores esperanças e com os melhores ideais.

26 Recebam, pais queridos, todo o amor e a infinita gratidão do filho que lhes viverá sempre no coração, de vez que os tenho, em todos os dias, por dentro de minhalma.


Carlos Alberto

29 de outubro de 1981.    


ESCLARECIMENTOS


1 — A palavra: Carlos Alberto permaneceu dez dias em coma, no Hospital.


2 — Maria José Pina: Avó materna, desencarnada no ano seguinte ao da partida de Carlos Alberto, a 1 º de setembro de 1978.


3 — Antônio Guerra: Seu padrinho, Antônio Rodrigues Guerra, faleceu em 1970.


4 — Maria Eliza Madeira Pina, bisavó materna, no Plano Espiritual desde 1955.


5 — José Martins, tio de D. Elvira, genitora de Carlos Alberto, faleceu em 1954. Tia Maria, Maria Raimunda Elisei, desencarnou em 1965.


6 — Meus estudos: Oportuno lembrar que Carlos Alberto foi colega de Curso Primário, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, do bairro da Água Raza, em São Paulo, do nosso Wadyzinho, autor espiritual de Jovens no Além, Somos Seis e Venceram, livros editados pelo GEEM.


7 — A verruga: Referência ao melanoma, tumor maligno de pele que extirpara meses antes da complicação metastática.


Caio Ramacciotti


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