O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Vozes da Outra Margem — Familiares diversos


CAPÍTULO 6


Em excursão aérea, preparando-se para a desencarnação

A desencarnação de Dª Amélia do Nascimento Vasques, ocorrida na cidade paulista de Franca, foi absolutamente inesperada, sendo encontrada sem vida física em sua casa, quando estava só, vestida com seus trajes da noite, como se estivesse dormindo.

Tal forma de desenlace ocasionou, naturalmente, preocupações em seus filhos. Ela teria sentido mal por efeito de medicamentos? Essa suspeita foi levantada porque ela havia iniciado, há apenas uma semana, um novo tratamento com seu cardiologista. Teria faltado algum auxílio à velhinha querida? Teria permanecido muito tempo naquele leito entre a desencarnação e a chegada dos familiares? Pois, foi encontrada na tarde do dia 28 de agosto de 1984, tudo indicando que não se levantou na manhã deste dia, pairando; então, a duvida se o desenlace ocorreu na noite de 27 ou na madrugada de 28.

Mas essas preocupações foram desfeitas meses após, com o recebimento de carinhosa carta redigida pelo próprio punho de Dª Amélia, psicografada por Chico Xavier, em Uberaba, na noite de 24 de maio de 1985. Nessa mensagem, além de transmitir tantas bênçãos de paz e consolo, a amorosa mamãe esclarece, com detalhes, o interessante processo de seu passamento, como veremos a seguir:


CARTA DE Dª AMÉLIA


1 Querida Martha Ione, n minha querida filha, Deus nos abençoe.

2 É um grande reconforto para mim a possibilidade de lhe trazer algumas palavras sem que me reconheça preparada para isso.

3 Venho até aqui, sobretudo, para solicitar ao seu carinho não se amofinar com ideias que devemos considerar superadas. Nem eu mesma poderia informar se a minha retirada do corpo físico se verificou a 27 ou 28. 4 Acontece que me vi desligada de casa, em companhia da querida mãe Amélia Florisbela da Trindade. n Era tudo uma novidade maravilhosa. De mãos dadas com a protetora, sentia-me arrebatada pela força que ela me transmitia e reconhecia-me leve, flutuando à distância da paisagem terrestre. n

5 Nunca havia pensado que alguém pudesse voar com a tranquilidade dos passarinhos. A beleza do acontecimento me impelia à despreocupação pelos horários. 6 A querida benfeitora, depois de uma longa excursão aérea, com estações de pouso em topos de montes, iluminados e belos, me trouxe novamente à casa; 7 no entanto, eu que não era amiga da morte, segundo é de seu conhecimento, me senti subitamente desajustada. Por que retomar o corpo pesado e doente, quando me fora possível efetuar a viagem maravilhosa a que me referi?

8 A querida mãe Amélia, porque para mim ela se fizera naqueles instantes minha verdadeira mãe, me recordou que estava em meu arbítrio fazer a opção: ficar com ela na vida espiritual ou regressar ao convívio dos meus entes queridos. n

9 Senti saudade intraduzível da Sara Renata e da Alessandra, n e me vi atraída por você, para nossa Martha Amélia, n para o nosso estimado João Batista; n entretanto, a diferença que passara a conhecer pesou na balança e entre permanecer sempre enferma e queixosa, e a existência nova que se achava ao meu dispor, meditei igualmente no trabalho que lhes impunha e, verificando que me seria possível prosseguir trabalhando espiritualmente em nosso grupo, em auxílio de nossas crianças, não mais vacilei na escolha. 10 Bastou que me manifestasse favorável à renovação para que meu coração doente fizesse o sinal de satisfação por se ver livre da pressão de minha vontade de continuar vivendo com vocês.

11 À medida que lhe notava os movimentos cada vez mais vagarosos, fortaleci na mente o propósito de me transferir para o lado em que os nossos Amigos Espirituais trabalham tanto e, em minutos breves, o órgão fatigado me entregava a demissão do corpo, estacionando de todo. Era dia ou noite? Seria o dia 27 ou dia 28, aquele que me conferia a independência?

12 Não consegui saber porque o desligamento de meu veículo físico me impunha um certo delíquio, que eu não poderia estudar de momento.

13 Dirá você, por mim, à nossa Martha Amélia, que não culpe os remédios que sempre me foram propícios. Ninguém me obrigou a escolher entre este mundo e o outro, em que presentemente me vejo. Espero que minha filha permaneça sossegada a respeito de minha decisão.

14 Peço para que você cientifique à Maria, minha irmã, n quanto à ocorrência de que lhe dou as minudências.

15 Se eu estivesse de corpo sadio, com invejável saúde a me felicitar os dias terrenos, penso que teria sido ingrata para com vocês, os familiares; no entanto, carregava eu um fardo de sintomas indesejáveis. 16 Dores no peito, dispneias que voltavam sempre mais fortes, ameaças de intervenções cirúrgicas para garantir as coronárias, intervenções que eu não queria e todo um cortejo de sofrimentos corpóreos me proporcionaram a energia para aceitar o convite da protetora querida que assim procedia depois de examinar a irreversibilidade de minha situação.

17 Querida filha, que norma adotaria uma ave qualquer, em se vendo no espaço livre, a pensar na gaiola enferrujada que se lhe destinava à vivência? Deixo a pergunta em seu coração e no pensamento de sua irmã, porque já não mais me era fácil o retorno ao corpo cansado.

18 Foi assim que se deu a minha despedida e agradeço a coragem com que você assumiu as rédeas de nossas tarefas espirituais.

19 Não pude esperar a inauguração do “José de Anchieta”: n Desculpe-me por isso e não chore a minha ausência por que a separação não existe entre os que se amam.

20 Já me vejo reintegrada em nossas atividades espirituais e dou Graças a Deus por isso.

21 Agradeço à Martha Amélia os pensamentos de carinho e peço a Jesus abençoá-la com o Renato, com o Romualdo n e com todos os nossos, sem me esquecer da gratidão que devo ao seu pai André, que nos deixou para sermos mais juntas. n

22 Um beijo em Sara Renata e em Alessandra. E agradecendo a você pela paciência e dedicação para com a mamãe doente, que o seu belo coração estimaria ver sempre aí, mesmo enferma qual me achava, e com o meu reconhecimento por tudo de belo que você, filha querida, representa em meus dias, peço a Jesus abençoá-la sempre com todos os nossos.

23 A mamãe que tanto lhe deve e que lhe oferece um jardim de saudades com muitas e muitas rosas de esperanças e alegrias, sempre a mamãe agradecida,


Amélia do Nascimento Vasques n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Martha Ione — Martha Ione Vasques Guaraldo, filha, residente em Franca, SP, à Rua Antônio Corradini, 1246.

2 — querida mãe Amélia Florisbela da Trindade (…) porque para mim ela se fizera naqueles instantes minha verdadeira mãe. — Avó de Dª Amélia do N. Vasques, desencarnada em 1934.

3 — de mãos dadas com a protetora sentia-me arrebatada (…) flutuando à distância da paisagem terrestre. — Em processo de volitação, Dª Amélia foi levada a uma excursão de adestramento, utilizada pelos Benfeitores Espirituais em certas tarefas preparatórias para portadores de moléstias prolongadas que se aproximam da desencarnação. (Ver Obreiros da Vida Eterna, André Luiz, F. C. Xavier, FEB, cap. 12.)

4 — estava em meu arbítrio fazer a opção: ficar com ela na vida espiritual ou regressar ao convívio dos meus entes queridos. (…) a protetora querida assim procedia depois de examinar a irreversibilidade de minha situação. — Evidentemente, em face da irreversibilidade do seu estado de saúde, que era grave, Dª Amélia poderia ainda permanecer encarnada por muito pouco tempo. (Sobre a relativa fatalidade do instante da morte ver O Consolador, Emmanuel, F. C. Xavier, FEB, questão 146; e Obreiros da Vida Eterna, cap. 19.)

5 — Sara Renata e Alessandra — Netas, filhas do casal Martha Ione e João Batista.

6 — Martha Amélia — Martha Amélia Vasques Ramos, filha.

7 — João Batista — João Batista Guaraldo, genro.

8 — Maria, minha irmã — Maria José do Nascimento Costa.

9 — inauguração do “José de Anchieta” — Nome da sala de orações, situada numa casa anexa à residência de Martha Ione, onde são realizados, semanalmente, estudos do “Evangelho” e administradas aulas de evangelização infantil.

10 — Renato e Romualdo — Filhos.

11 — sem esquecer da gratidão que devo ao seu pai André, que nos deixou para sermos mais juntas. — André Vasques. “Meus pais estavam separados há 16 anos, mas sempre mantiveram muito respeito e amizade um pelo outro.” — escreveu-nos Martha Ione.

12 — Amélia do Nascimento Vasques — (Franca, SP, 28/9/1915 — 27 ou 28/8/1984) Formou-se em Belas Artes, integrando a 1ª Turma da Escola Profissional de Franca, hoje Escola Industrial Júlio Cardoso. De família católica, abraçou o Espiritismo tempos atrás, por ocasião de grave enfermidade.


Hércio Arantes


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