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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO I — CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
Módulo II — O Cristianismo

Roteiro 15


As epístolas de Paulo de Tarso (2)


Objetivo: Analisar os principais ensinos existentes nas epístolas destinadas aos gálatas, aos efésios, aos filipenses e aos colossenses.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Na epístola aos gálatas, Paulo faz uma súplica continuada e apaixonada sobre as necessidades dos cristãos se manterem fiéis ao Evangelho.

  • Em efésios, o missivista evidencia preocupação de a comunidade cristã de Éfeso não se deixar conduzir pelas ideias dos filósofos, artistas, retóricos e historiadores contrárias aos ensinos evangélicos.

  • Na carta dirigida aos filipenses encontramos refletidos o amor e consideração que o apóstolo dos gentios tinha pelos cristãos de Filipos, dedicados servidores do Cristo.

  • A epístola de colossos recebe de Paulo alertas contra ideias estranhas, oriundas das práticas pagãs, que poderiam contaminar a mensagem do Evangelho.



 

SUBSÍDIOS


1. Epístola aos gálatas


Os gálatas viveram na Galácia, antiga província romana, região situada no centro da Ásia Menor (atualmente, fica próxima de Ancara, na Turquia). A Galácia original era formada de diversos povos e abrigava várias comunidades cristãs primitivas. (1)


Os gálatas originais eram celtas que, vindo da Europa central, tinham invadido a Ásia Menor e se estabeleceram ali no século III a.C. Mas os soberanos da Galácia estenderam seu poder sobre os territórios vizinhos, povoados por outros grupos étnicos; esses grupos foram incluídos na província da Galácia e eram gálatas no sentido político, embora não no sentido étnico. Alguns desses grupos pertenciam as cidades de Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe, que foram evangelizadas por Paulo e Barnabé por volta de 47 d.C. (2)


Nessa carta, escrita, possivelmente, entre 48 e 55, foi enviada, em especial às igrejas de Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe e, talvez, à Galácia étnica. Paulo faz uma apaixonada súplica aos cristãos das diferentes igrejas para que não se desviem do Evangelho. (3)


Eles […] estavam propensos a dar ouvidos a certos mestres que os exortavam a acrescentar à sua fé em Cristo alguns traços característicos do Judaísmo, em particular a circuncisão. Esses mestres tentavam também diminuir a autoridade de Paulo, insistindo em que ele estava em dívida para como os líderes eclesiais de Jerusalém por sua delegação apostólica e não tinham nenhum direito de desviá-los da prática [judaica] de Jerusalém. A epístola pode ser lida contra o pano de fundo do ressurgimento do nacionalismo militante da Judeia nos anos após 44 d.C. Esses militantes (que vieram a ser chamados de zelotes) tratavam os judeus que confraternizavam com gentios como traidores. (3)


1.1 Síntese dos principais ensinos da epístola aos gálatas


A análise dos ensinamentos que se seguem deve considerar, sempre, a ação dos zelotes que desejavam, por um lado, que os judeus convertidos voltassem ao Judaísmo, e, por outro, desmoralizar a mensagem cristã e a Paulo, considerado traidor por ter-se tornado cristão.

  • CONSTÂNCIA NA FÉ CRISTÃ

“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo: se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema. Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo. Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo. […] Nós somos judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios. Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é, porventura, Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma. […] Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gl 1.8-12; 2.15-17; 3.1-4)

  • FIDELIDADE AO CRISTO

“É evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé. Ora, a lei não é da fé, mas o homem que fizer estas coisas por elas viverá. […] De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.” (Gl 3.11,12, 22-29)

  • O HOMEM COM O CRISTO É LIVRE

“Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. […] Porque nós, pelo espírito da fé, aguardamos a esperança da justiça.Porque, em Jesus Cristo, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas, sim, a fé que opera por caridade. […]Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pela caridade. Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. […] Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. (Gl  5.1,2,5,6, 13,14,22-25)

A carta aos gálatas sintetiza a necessidade de se manter fiel ao Cristo em benefício do próprio progresso espiritual.

Um dos maiores desastres no caminho dos discípulos é a falsa compreensão com que iniciam o esforço na região superior, marchando em sentido inverso para os círculos da inferioridade. Dão, assim, a ideia de homens que partissem à procura de ouro, contentando-se, em seguida, com a lama do charco. […] Observamos enfermos que se dirigem à espiritualidade elevada, alimentando nobres impulsos e tomados de preciosas intenções; conseguida a cura, porém, refletem na melhor maneira de aplicarem as vantagens obtidas na aquisição do dinheiro fácil. […] Numerosos aprendizes persistem nos trabalhos do bem; contudo, eis que aparecem horas menos favoráveis e se entregam, inertes, ao desalento, reclamando prêmio aos minguados anos terrestres em que tentaram servir na lavoura do Mestre Divino e plenamente despreocupados dos períodos multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor. Tais anomalias espirituais que perturbam consideravelmente o esforço dos discípulos procedem dos filtros venenosos compostos pelos pruridos de recompensa. Trabalhemos, pois, contra a expectativa de retribuição, a fim de que prossigamos na tarefa começada, em companhia da humildade, portadora de luz imperecível”.


2. Epístola aos efésios


Os efésios eram os habitantes de Éfeso, cidade situada na costa ocidental da Ásia Menor, atualmente pertencente à Turquia. Era […] sede da comunidade cristã a que a Epístola aos efésios é dirigida. Geralmente reconhecida como a primeira e a mais notável metrópole da província romana da Ásia. Éfeso desempenhou um papel histórico no movimento do Cristianismo desde a Palestina até Roma. Atos [dos Apóstolos] descreve Éfeso como o ponto culminante da atividade missionária de Paulo, e foi de Éfeso que Paulo escreveu as Epístolas aos coríntios. […] Do período clássico ao bizantino, Éfeso exerceu hegemonia na região jônica. Era famosa pelos seus filósofos, artistas, poetas, historiadores e retóricos. […]. Não admira que Paulo seja visto ensinando “todos os dias na escola de Tirano”, em Éfeso, durante dois anos (Atos, 19.9), que João tenha, ao que se conta, escrito o Quarto Evangelho em Éfeso, e que tenha sido o local da conversão de Justino Mártir o primeiro filósofo cristão. (4)


A época da instalação do Cristianismo primitivo, Éfeso possuía cerca de 250 mil habitantes, constituindo-se um dos centros urbanos e comerciais que mais rapidamente cresceram nos domínios romanos do Oriente. Segundo Flávio Josefo, embora na cidade existisse uma expressiva comunidade judaica, de onde saíram inúmeros cristãos convertidos, a cidade também era famosa como centro de magia e taumaturgia. Havia inúmeros exorcistas, judeus e gentílicos, como o famoso pagão Apolônio de Tiana. Existiam também, ali, inúmeros templos e panteões, objeto de cultos e rituais aos deuses, sendo o mais importante o templo consagrado à deusa Artemisa, que foi considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. (4)

A epístola aos efésios foi escrita entre os anos 61-63, quando Paulo estava preso, possivelmente em Roma, e faz parte do grupo das cartas denominadas “epístolas do cativeiro”. (Ef 1.1; 3.1-13; 4.1; 6.19-22) (4)

A autenticidade dessa epístola é questionada. Em 1729, o teólogo inglês Edward Evanson colocou publicamente, pela primeira vez, a questão. No século dezenove, estudiosos alemães chegaram à mesma conclusão: a epistola não era de Paulo. Este é o pensamento atual, mantido pela maioria dos pesquisadores.

A autoria da carta é atribuída a Onésimo, “[…] o escravo foragido mencionado na epístola de Paulo a Filêmon, que é depois identificado também com o bispo de Éfeso que usava o nome Onésimo […].” (5)


2.1 Síntese dos principais ensinos da epístola aos efésios

  • A SALVAÇÃO PELA GRAÇA

Trata-se de pensamento, existente no capítulo dois da epístola, que contraria a salvação pela fé, defendido por Paulo na epístola aos romanos e na aos gálatas. Este deve ter sido um dos pontos que suscitaram dúvidas nos estudiosos. O estilo e a linguagem são também diferentes (são de natureza mais teológica). Analisemos a seguinte ordem de ideias: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência; entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus […]. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.” (Ef 2.1-6,8)

  • A UNIDADE DA FÉ NO CRISTO

“Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; que, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um […] Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.” (Ef 2.11-14; 4.1-7)

  • SANTIDADE DOS COSTUMES

“E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza. […] Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira.Não deis lugar ao diabo.Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.” (Ef 4.17-19,25-29)

  • A ARMADURA DE DEUS

“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo […]. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus […].” (Ef 6.10,11,13-17)

A epístola aos efésios indica que os aprendizes do Evangelho devem procurar levar uma vida simples e desprendida, vigiando os pensamentos e atos.


Cada criatura dá sempre notícias da própria origem espiritual. Os atos, palavras e pensamentos constituem informações vivas da zona mental de que procedemos. Os filhos da inquietude costumam abafar quem os ouve, em mantos escuros de aflição. Os rebentos da tristeza espalham o nevoeiro do desânimo. Os cultivadores da irritação fulminam o espírito da gentileza com os raios da cólera. Os portadores de interesses mesquinhos ensombram a estrada em que transitam, estabelecendo escuro clima nas mentes alheias. Os corações endurecidos geram nuvens de desconfiança, por onde passam. Os afeiçoados à calúnia e à maledicência distribuem venenosos quinhões de trevas com que se improvisam grandes males e grandes crimes.

Os cristãos, todavia, são filhos da luz. E a missão da luz é uniforme e insofismável. Beneficia a todos sem distinção. Não formula exigências para dar. Afasta as sombras sem alarde. Espalha alegria e revelação crescentes. Semeia renovadas esperanças. Esclarece, ensina, ampara e irradia-se. (12)


3. Epístola aos filipenses


Filipenses eram os habitantes de Filipos.


Importante […] cidade da Macedônia oriental, na Grécia, sede da comunidade cristã a que a Epístola de Paulo aos filipenses é dirigida. Após a batalha decisiva de 42 a.C., nas proximidades da cidade, o imperador Otaviano havia feito de Filipos uma colônia romana e dado a seus cidadãos os direitos e privilégios dos que nasciam e viviam em Roma. Segundo o relato de Atos, a igreja de Filipos começou assim: Paulo, em sua segunda viagem missionária, deixou Ásia Menor pela Macedônia, foi a Filipos, pregou o Evangelho; Lídia, uma mulher proeminente daquela região, e alguns outros se tornaram cristãos. Ao que parece a igreja foi abrigada inicialmente na casa de Lídia. Apesar dos seus começos modestos, cresceu e se tornou uma ativa comunidade cristã, desempenhando importante papel no evangelismo, partilhando prontamente suas próprias posses materiais, mesmo em meio a extrema pobreza, e enviando generosamente um dos seus para ajudar Paulo em seu trabalho para auxiliá-lo quando estava na prisão. Paulo visitou essa igreja em pelo menos três ocasiões. […] (6)


A epístola traz um apelo do apóstolo aos cristãos, pedindo-lhes “[…] que vivam de maneira condigna do Evangelho, em unidade, harmonia e generosidade, sem lamúrias nem queixas, mantendo sempre diante de si Jesus Cristo como modelo supremo de toda ação moral […].” (7)

A epístola destaca as qualidades de Timóteo e Epafrodito, exemplos de trabalhadores cristãos fiéis, prometendo enviá-los a Filipos. “[…] Adverte-os contra evangelistas judeus ou judaizantes cujos ensinamentos e práticas são contrários ao Evangelho […].” (7)

A autenticidade da epístola aos filipenses não é posta em dúvida. O que se supõe é que, originalmente, existiu um conjunto de bilhetes ou três pequenas cartas, posteriormente reunidos numa única epístola. (8)

A comunidade de Filipos devotava especial afeto ao apóstolo dos gentios, cumpriram fielmente as suas orientações e o auxiliou, dentro das suas possibilidades, quando caiu prisioneiro na Tessalônica e em Corinto. (7) Paulo lhes escreve agradecendo o auxílio, recebido por intermédio de Epafrodito. (Fl 4.10-20)

Filipenses faz parte do grupo das “epístolas do cativeiro”. Paulo se encontrava prisioneiro quando a escreveu, não se sabe exatamente onde: em Roma, em Cesareia da Palestina ou em Éfeso. (7)

A carta aos filipenses é de natureza pouco doutrinária. “[…] É uma efusão do coração, uma troca de notícias, uma advertência contra os “maus operários” que destroem alhures os trabalhos do Apóstolo e bem poderiam atacar também os seus caros filipenses […].” (8) A epístola destaca também o valor da humildade. (8)


3.1 Síntese dos principais ensinos da epístola aos filipenses

  • EXEMPLO DE VIVÊNCIA DO EVANGELHO

Os filipenses cristãos formavam uma comunidade pobre de bens materiais, mas sinceramente devotada ao Evangelho. Os filipenses jamais esqueceram as lições que lhes foram ensinadas por Paulo, auxiliando-o quando esteve preso e, recebendo deste, os sentimentos de afeto e reconhecimento. Os filipenses foram cristãos que souberam colocar em prática a vivência da caridade.

“Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo. Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho. Porque Deus me é testemunha das saudades que de todos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo. E peço isto: que a vossa caridade aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento.” (Fl 1.3-9)

  • EXORTAÇÃO À PERSEVERANÇA, AO AMOR FRATERNAL E À HUMILDADE

“Somente deveis portar-vos dignamente conforme o Evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. [… ] Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. […] De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; retendo a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão.” (Fl 1.27; 2.3, 12-16)

  • CUIDADOS CONTRA OS MAUS OBREIROS. CULTIVO DOS BENS ESPIRITUAIS

“Resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor. Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós. Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão! […] Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.[…] Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados. […] Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos. Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor. Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças.E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” (Fl 3.1,2, 13,14; 4.1,4-8)

A carta de Paulo aos filipenses atesta que estes representavam um exemplo de cristão que absorveu o sentido espiritual do Evangelho: fora da caridade não há salvação.


A caridade é, invariavelmente, sublime nas menores manifestações, todavia, inúmeras pessoas muitas vezes procuram limitá-la, ocultando-lhe o espírito divino. Muitos aprendizes creem que praticá-la é apenas oferecer dádivas materiais aos necessitados de pão e teto. Caridade, porém, representa muito mais que isso para os verdadeiros discípulos do Evangelho. […] Caridade essencial é intensificar o bem, sob todas as formas respeitáveis, sem olvidarmos o imperativo de autosublimação para que outros se renovem para a vida superior, compreendendo que é indispensável conjugar, no mesmo ritmo, os verbos dar e saber. […] Bondade e conhecimento, pão e luz, amparo e iluminação, sentimento e consciência são arcos divinos que integram os círculos perfeitos da caridade. Não só receber e dar, mas também ensinar e aprender. (13)


4. Epístola aos colossenses


Paulo enviou três cartas às comunidades cristãs da província romana da Ásia. Colossos foi uma delas, cidade localizada a aproximadamente duzentos quilômetros de Éfeso.


Colossos localizava-se no oeste da Ásia Menor, ao sul do rio Meandro (atual Menderes), 6,4 km a leste de Denilzli na Turquia de hoje. Era uma cidade comercial até ser incorporada pela vizinha Laodiceia, e abrigou a comunidade cristã a quem foi dirigida a epístola aos colossenses. (9)


Paulo teve contato com os colossenses a partir do seu trabalho missionário em Éfeso (Atos dos Apóstolos, capítulo 19) e auxiliado por muitos companheiros, através dos quais diversas igrejas cristãs foram erguidas na Ásia romana,como as do Vale do Lico, da Laodiceia e de Hierápolis. As comunidades cristãs fundadas nessas localidades dependeram do esforço de Epafras, dedicado discípulo de Paulo, que o via como “leal ministro do Cristo.” (9)

A epístola aos colossenses faz parte do grupo das “epístolas do cativeiro”.


Paulo estava na prisão (provavelmente em Roma) […]. A epístola aos colossenses parece ter sido escrita bastante cedo no período que Paulo estava na prisão, por volta de 60-61 a.C. Epafras fizera uma visita a Paulo em Roma e o informara do estado das igrejas no vale do Lico. Embora grande parte do relato fosse animador, uma característica inquietante era o ensinamento atraente, mas falso recentemente introduzido na congregação; se não fosse contido, subverteria o Evangelho e poria os colossenses numa servidão espiritual. (9)


A dificuldade relatada por Epafras estava relacionada à idolatria e aos maus costumes pagãos (liberalidade sexual), uma vez que as comunidades cristãs, da região, eram basicamente constituídas de gentios convertidos.

Existem dúvidas se a carta aos colossenses é de autoria de Paulo. Alguns estudiosos entendem que o estilo pesado e repetitivo não é o usualmente utilizado pelo apóstolo. Há dúvidas também relacionadas a certas ideias teológicas, principalmente as que fazem alusão ao corpo do Cristo, ao Cristo como cabeça do corpo e à igreja universal. (8) São ideias semelhantes às divulgadas pelos gnósticos no século II d.C. Outras ideias que são combatidas, pretensamente por Paulo, estão relacionadas a conceitos essênicos, comuns entre os judeus que seguiam os preceitos dos essênios (poderes celestes e cósmicos), seita existente à época do Cristo. (10)


4.1 Síntese dos principais ensinos da epístola aos colossenses

  • EXORTAÇÃO À ESPIRITUALIDADE E AO AMOR FRATERNAL

“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra […]. Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência e a avareza, que é idolatria […]. Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos. […] Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição.

E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Cl 3.1,2,5,8-9,12-17)

A carta dirigida à comunidade cristã de Colossos evidencia o amor fraternal, o espírito de cooperação que deve reger as relações interpessoais.


É impossível qualquer ação de conjunto, sem base na tolerância. Aprendamos com o Cristo. A queixa desfigura a dignidade do trabalho, retardando-lhe a execução. Indispensável cultivar a renúncia aos pequenos desejos que nos são peculiares, a fim de conquistarmos a capacidade de sacrifício, que nos estruturará a sublimação em mais altos níveis. Para que o trabalho nos eleve, precisamos elevá-lo. Para que a tarefa nos ajude, é imprescindível nos disponhamos a ajudá-la. Recordemos que o supremo orientador das equipes de serviço cristão é sempre Jesus. Dentro delas, a nossa oportunidade de algo fazer constitui só por si valioso prêmio. Esqueçamo-nos, assim, de todo o mal, para construirmos todo o bem ao nosso alcance. E, para que possamos agir nessas normas, é imperioso suportar-nos como irmãos, aprendendo com o Senhor, que nos tem tolerado infinitamente. (14)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Realizar exposição introdutória e panorâmica do assunto. Formar grupos para o estudo dos principais ensinos existentes nas epístolas citadas neste Roteiro, destacando o pensamento espírita.




ANEXO


Citação de filipenses, 3.13,14



Referências:

1. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002. Item: Introdução às epístolas de São Paulo, p. 1960.

2. Idem, ibidem - p. 1961.

3. Idem, ibidem - p. 1962.

4. DICIONÁRIO DA BÍBLIA. Vol. 1. As pessoas e os lugares. Organizado por Bruce M. Metzger, Michael D. Coogan. Traduzido por Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, Item: Colossos, p. 43.

5. Idem - Item: Éfeso, p. 65.

6. Idem, ibidem - p. 66.

7. Idem - Item: Filipos, p. 92-93.

8. Idem - Item: Galácia, p. 95.

9. Idem, ibidem - p. 95-96.

10. Idem, ibidem -p. 96.

11. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. 35. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 163 (Aprendamos com Jesus), p. 397-398.

12. Idem - Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 155 (Contra a insensatez), p. 325-326.

13. Idem - Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 116 (Não só), p. 263-264.

14. Idem - Capítulo 160 (Filhos da luz), p. 357-358.


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