O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO I — CRISTIANISMO E ESPIRITISMO
Módulo II — O Cristianismo

Roteiro 7


Fenômenos psíquicos no Evangelho


Objetivos: Conceituar milagre segundo a Doutrina Espírita. — Analisar alguns fenômenos psíquicos provocados por Jesus [vide nota no final].



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Um dos caracteres do milagre propriamente dito é o ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com exclusão das leis naturais. É tanto essa a ideia que se lhe associa, que, se um fato milagroso vem encontrar explicação, se diz que já não constitui milagre, por muito espantoso que seja. O que, para a Igreja, dá valor aos milagres é, precisamente, a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem explicados. Allan Kardec: A Gênese. Capítulo 13, item 1.

  • O Espiritismo, pois, vem, a seu turno, fazer o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis e explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis. Esses fenômenos, é certo, se prendem à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo material e isso é, dizem, o em que consiste o sobrenatural. Mas, então, fora mister se provasse que os Espíritos e suas manifestações são contrárias às leis da Natureza; que aí não há, nem pode haver, a ação de uma dessas leis. Allan Kardec: A Gênese. Capítulo 13, item 4.

  • A possibilidade da maioria dos fatos que o Evangelho cita como operados por Jesus se acha hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, como fenômenos naturais. Allan Kardec: Obras Póstumas. Primeira parte, p. 140.



 

SUBSÍDIOS


1. Milagres


Os Fenômenos psíquicos realizados por Jesus, por seus apóstolos e demais discípulos eram tidos como milagres ou de ordem sobrenatural. A Doutrina Espírita veio esclarecer quanto à origem e à forma de manifestação desses fenômenos, provando a possibilidade deles. (13)


Na acepção etimológica, a palavra milagre (de mirari, admirar) significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente. A Academia definiu-a deste modo: Um ato do poder divino contrário às leis da Natureza, conhecidas. Na acepção usual, essa palavra perdeu, como tantas outras, a significação primitiva. De geral, que era, se tornou de aplicação restrita a uma ordem particular de fatos. No entender das massas, um milagre implica a ideia de um fato extranatural; no sentido teológico, é uma derrogação das leis da Natureza, por meio da qual Deus manifesta o seu poder. Tal, com efeito, a acepção vulgar, que se tornou o sentido próprio, de modo que só por comparação e por metáfora a palavra se aplica às circunstâncias ordinárias da vida. Um dos caracteres do milagre propriamente dito é o ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com exclusão das leis naturais. É tanto essa a ideia que se lhe associa, que, se um fato milagroso vem a encontrar explicação, se diz que já não constitui milagre, por muito espantoso que seja. O que, para a Igreja, dá valor aos milagres é, precisamente, a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem explicados. […] Outro caráter do milagre é o ser insólito, isolado, excepcional. Logo que um fenômeno se reproduz, quer espontânea, quer voluntariamente, é que está submetido a uma lei e, desde então, seja ou não seja conhecida a lei, já não pode haver milagres. (1)


É por este motivo que certos fatos científicos são, igualmente, considerados milagrosos, uma vez que o vulgo desconhece as leis que regem a sua manifestação. Da mesma forma, o desconhecimento dos mecanismos que originam os fenômenos psíquicos, mediúnicos ou anímicos, induz as pessoas a considerá-los como misteriosos ou sobrenaturais.


Entretanto […] o conhecimento do princípio espiritual, da ação dos fluidos sobre a economia geral, do mundo invisível dentro do qual vivemos, das faculdades da alma, da existência e das propriedades do perispírito, facultou a explicação dos fenômenos de ordem psíquica, provando que esses fenômenos não constituem, mais do que os outros, derrogações das leis da Natureza, que, ao contrário, decorrem quase sempre de aplicações destas leis. Todos os efeitos do magnetismo, do sonambulismo, do êxtase, da dupla vista, do hipnotismo, da catalepsia, da anestesia, da transmissão do pensamento, a presciência, as curas instantâneas, as possessões [subjugações], as obsessões, as aparições e transfigurações, etc., que formam a quase totalidade dos milagres do Evangelho, pertencem àquela categoria de fenômenos. Sabe-se agora que tais efeitos resultam de especiais aptidões e disposições psicológicas; que se hão produzido em todos os tempos e no seio de todos os povos e que foram considerados sobrenaturais pela mesma razão que todos aqueles cuja causa não se percebia. (15)


Sendo assim, o Espiritismo não produz milagres nem prodígios de qualquer natureza. Há uma explicação lógica e racional para a manifestação dos fenômenos psíquicos.


Do […] mesmo modo que a Física, a Química, a Astronomia e a Geologia revelaram as leis do mundo material, ele revela outras leis desconhecidas, as que regem as relações do mundo corpóreo com o mundo espiritual, leis que, tanto quanto aquelas outras da Ciência, são leis da Natureza. Facultando a explicação de certa ordem de fen8menos incompreendidos até o presente, ele destrói o que ainda restava do domínio do maravilhoso. […] Esse é um dos resultados do desenvolvimento da ciência espírita; pesquisando a causa de certos fenômenos, de sobre muitos mistérios levanta ela o véu. (17)


A Doutrina Espírita esclarece “[…] o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis e explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis. Esses fenômenos, é certo, se prendem à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo material e isso é, dizem, o em que consiste o sobrenatural.” (2)

O Espiritismo desmistifica o caráter sobrenatural dos fenômenos psíquicos, explicando-os de forma simples e consistente.


A intervenção de inteligências ocultas nos fenômenos espíritas não os torna mais milagrosos do que todos os outros fen8menos devidos a agentes invisíveis, porque esses seres ocultos que povoam os espaços são uma das forças da Natureza, força cuja ação é incessante sobre o mundo material, tanto quanto sobre o mundo moral. Esclarecendo-nos acerca dessa força, o Espiritismo faculta a elucidação de uma — imensidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio e que, por isso, passaram por prodígios nos tempos idos. Do mesmo modo que o magnetismo, ele revela uma lei, senão desconhecida, pelo menos mal compreendida; ou, melhor dizendo, conheciam-se os efeitos, porque eles em todos os tempos se produziram, porém não se conhecia a lei e foi o desconhecimento desta que gerou a superstição. Conhecida essa lei, desaparece o maravilhoso e os fenômenos entram na ordem das coisas naturais. (3)


2. Jesus e os fenômenos psíquicos


Os fenômenos psíquicos intermediados por Jesus, em razão da excelsitude do seu Espírito, são por demais complexos para supô-los como de natureza mediúnica. É difícil imaginar que Jesus tenha agido como médium de outro Espírito.


 Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrícolas. Enviado de Deus, Ele foi à representação do Pai junto do rebanho de filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria, cuja tutela lhe foi confiada nas ordenações sagradas da vida no Infinito. Diretor angélico do orbe, seu coração não desdenhou a permanência direta entre os tutelados míseros e ignorantes, […]. (18)


Os fatos relatados no Evangelho nada tiveram de milagroso, no sentido teológico do termo. Estavam fundamentados nas faculdades e nos atributos excepcionais do seu Espírito.


Jesus como […] homem, tinha a organização dos seres carnais; porém, como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível. A sua superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria e da do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres. Sua alma, provavelmente, não se achava presa ao corpo, senão pelos laços estritamente indispensáveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e superior de muito à que de ordinário possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se, nele, com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispirituais ou psíquicos. A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa força magnética, secundada pelo incessante desejo de fazer o bem. Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus. (4)


Contudo, independentemente de o Espiritismo explicar com clareza como se realiza um fenômeno mediúnico, não podemos esquecer que o próprio Jesus qualificou alguns dos seus feitos como milagrosos.


É […] que nisto, como em muitas outras coisas, lhe cumpria apropriar sua linguagem aos conhecimentos dos seus contemporâneos. Como poderiam estes apreender os matizes de uma palavra que ainda hoje nem todos compreendem? Para o vulgo, eram milagres as coisas extraordinárias que ele fazia e que pareciam sobrenaturais, naquele tempo e mesmo muito tempo depois. Ele não podia dar-lhes outro nome. Fato digno de nota é que se serviu dessa denominação para atestar a missão que recebera de Deus, segundo suas próprias expressões, porém nunca se prevaleceu dos milagres para se apresentar como possuidor de poder divino. (16)


3. Alguns fenômenos psíquicos provocados por Jesus


3.1 FENÔMENO DE DUPLA VISTA


Este fenômeno pode ser atestado, a título de exemplo, nas seguintes citações evangélicas:

  • “Ide à aldeia que está defronte de vós e logo encontrareis uma jumenta presa e um jumentinho com ela; desprendei-a e trazei-mos.” (Mateus, 21.2)

  • “E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze. E, enquanto eles comiam, disse: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair.” (Mateus, 26.20,21)

  • “E, quando acabou de falar, disse a Simão: faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, porque mandas, lançarei a rede. E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede.” (Lucas, 5.4-6)


Nada apresentam de surpreendentes estes fatos, desde que se conheça o poder da dupla vista e a causa, muito natural, dessa faculdade. Jesus a possuía em grau elevado e pode dizer se que ela constituía o seu estado normal, conforme atesta grande número de atos de sua vida, os quais, hoje, têm a explicá-los os fenômenos magnéticos e o Espiritismo. A pesca qualificada de miraculosa igualmente se explica pela dupla vista. Jesus não produziu espontaneamente peixes onde não os havia; ele viu, com a vista da alma, como teria podido fazê-lo um lúcido vigil, o lugar onde se achavam os peixes e disse com segurança aos pescadores que lançassem aí suas redes. (7)


3.2 FENÔMENOS DE CURA


De todos os fatos que dão testemunho do poder de Jesus, os mais numerosos são, não há contestar as curas. Queria ele provar dessa forma que o verdadeiro poder é o daquele que faz o bem; que o seu objetivo era ser útil e não satisfazer à curiosidade dos indiferentes, por meio de coisas extraordinárias. Aliviando os sofrimentos, prendia a si as criaturas pelo coração e fazia prosélitos mais numerosos e sinceros, do que se apenas os maravilhasse com espetáculos para os olhos. (9

  • “E certa mulher, que havia doze anos tinha um fluxo de sangue, e que havia padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha, nada lhe aproveitando isso, antes indo a pior, ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua vestimenta. Porque dizia: Se tão somente tocar nas suas vestes, sararei. E logo se lhe secou a fonte do seu sangue, e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal. E logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou- se para a multidão e disse: Quem tocou nas minhas vestes? E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: .Quem me tocou? E ele olhava em redor, para ver a que isso fizera. Então, a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade.E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal.” (Marcos, 5. 25-34)


Estas palavras: conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra, são significativas. Exprimem o movimento fluídico que se operara de Jesus para a doente; ambos experimentaram a ação que acabara de produzir-se. É de notar-se que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizar a cura. (6)

  • “E chegou a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego e rogaram-lhe que lhe tocasse. E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa. E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens, pois os vejo como árvores que andam. Depois, tornou a pôr-lhe as mãos nos olhos, e ele, olhando firmemente, ficou restabelecido e já via ao longe e distintamente a todos.” (Marcos, 8.22-25)


Aqui, é evidente o efeito magnético; a cura não foi instantânea, porém gradual e consequente a uma ação prolongada e reiterada, se bem que mais rápida do que na magnetização ordinária. A primeira sensação que o homem teve foi exatamente a que experimentam os cegos ao recobrarem a vista. Por um efeito de óptica, os objetos lhes parecem de tamanho exagerado. (7)

  • “E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galileia; e, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe. E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós! E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz.” (Lucas, 17.11-15)


Os samaritanos eram cismáticos, mais ou menos como os protestantes com relação aos católicos, e os judeus tinham em desprezo, como heréticos. Curando indistintamente os judeus e os samaritanos, dava Jesus, ao mesmo tempo, uma lição e um exemplo de tolerância; e fazendo ressaltar que só o samaritano voltara a glorificar a Deus, mostrava que havia nele maior soma de fé e de reconhecimento, do que nos que se diziam ortodoxos. (8)


3.3 RESSURREIÇÕES

  • “E eis que chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus pés, e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva.E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava. […] E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço e os que choravam muito e pranteavam. E, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais?A menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina e os que com ele estavam e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talitá cumi, que, traduzido, é: Menina, a ti te digo: levanta-te. E logo a menina se levantou e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto.” (Marcos, 5.21-43; 38-42)

  • “E aconteceu, pouco depois, ir ele à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão. E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela e disse-lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam) e disse: Jovem, eu te digo: Levanta-te. E o defunto assentou-se e começou a falar. E entregou-o à sua mãe. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo. E correu dele esta fama por toda a Judeia e por toda a terra circunvizinha.” (Lucas, 7.11-17)


Contrário seria às leis da Natureza e, portanto, milagroso, o fato de voltar à vida corpórea um indivíduo que se achasse realmente morto. Ora, não há mister se recorra a essa ordem de fatos, para ter se a explicação das ressurreições que Jesus operou. Se, mesmo na atualidade, as aparências enganam por vezes os profissionais, quão mais frequentes não haviam de ser os acidentes daquela natureza, num país onde nenhuma precaução se tomava contra eles e onde o sepultamento era imediato. É, pois, de todo ponto provável que, nos dois casos acima, apenas síncope ou letargia houvesse. O próprio Jesus declara positivamente, com relação à filha de Jairo: Esta menina, disse ele, não está morta, está apenas adormecida. Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de espantoso há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte, haja reanimado os sentidos em torpor que haja mesmo feito voltar ao corpo o Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda se não rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos tais; mas o que na realidade havia era cura e não ressurreição, na acepção legítima do termo. (10)


3.4 TRANSFIGURAÇÃO

  • “E, seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte, e transfigurou-se diante deles.E as suas vestes tornaram-se resplandecentes, em extremo brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia branquear. E apareceram-lhes Elias e Moisés e falavam com Jesus. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui e façamos três cabanas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias. Pois não sabia o que dizia, porque estavam assombrados. E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz, que dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi. E, tendo olhado ao redor, ninguém mais viram, senão Jesus com eles.” (Marcos, 9.2-8).


É ainda nas propriedades do fluido perispirítico que se encontra a explicação deste fenômeno. A transfiguração, é um fato muito comum que, em virtude da irradiação fluídica, pode modificar a aparência de um indivíduo; mas, a pureza do perispírito de Jesus permitiu que seu Espírito lhe desse excepcional fulgor. Quanto à aparição de Moisés e Elias cabe inteiramente no rol de todos os fenômenos do mesmo gênero […]. De todas faculdades que Jesus revelou, nenhuma se pode apontar estranhas às condições da humanidade e que se não encontre comumente nos homens, porque estão todas na ordem da Natureza. Pela superioridade, porém, da sua essência moral e de suas qualidades fluídicas, aquelas faculdades atingiam nele proporções muito acima das que são vulgares. Posto de lado o seu envoltório carnal, ele nos patenteava o estado dos puros Espíritos. (11)


3.5 APARIÇÃO DE JESUS, APÓS A SUA CRUCIFICAÇÃO

  • “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco! E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.E, havendo dito isso, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. […] E, oito dias depois, estavam outra vez os seus discípulos dentro, e, com eles, Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco! Depois, disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; chega a tua mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente.Tomé respondeu e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram! (João, 20.19-22; 26-30)


Antes da aparição aos discípulos, Jesus se manifesta perante Maria Madalena e outras mulheres (Marcos, 16.1-7), confirmando, assim, a sua ressurreição. Aparece, mais tarde, aos dois discípulos, no caminho de Emaús (Lucas, 24.13-35).


Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não permitem se duvide da realidade do fato. Elas, aliás, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, cuja história, antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser fluídico. Aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o veem, outros não […]. Jesus, portanto, se mostrou com seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o vissem. Se estivesse com seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos não se apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam atenção. Desde que viam o Senhor e o tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo ressuscitado. (14)


Como reflexão final, refletimos que os fatos extraordinários da vida de Jesus marcaram a sua passagem entre nós, no Plano físico. Entretanto, esses não foram os seus maiores feitos.


O maior milagre que Jesus operou, o que verdadeiramente atesta a sua superioridade, foi a revolução que seus ensinos produziram no mundo, mau grado à exiguidade dos seus meios de ação. Com efeito, Jesus, obscuro, pobre, nascido na mais humilde condição, no seio de um povo pequenino, quase ignorado e sem preponderância política, artística ou literária, apenas durante três anos prega a sua doutrina, […]. Tinha contra si tudo o que causa o malogro das obras dos homens, razão por que dizemos que o triunfo alcançado pela sua doutrina foi o maior dos seus milagres, ao mesmo tempo que prova ser divina a sua missão. Se, em vez de princípios sociais e regeneradores, fundados sobre o futuro espiritual do homem, ele apenas houvesse legado à posteridade alguns fatos maravilhosos, talvez hoje mal o conhecessem de nome. (14)



ORIENTAÇÃO AO MONITOR: Debater, inicialmente, o conceito milagre, destacando o significado espírita. Dividir a turma em pequenos grupos, orientando-os na realização de leitura e análise dos fenômenos psíquicos produzidos por Jesus, incluídos neste roteiro. Após o trabalho em grupo, os participantes devem apresentar a conclusão do trabalho, em plenária.



 

ANEXO


Citação de Atos dos Apóstolos, 2.1-4



Referências:

1. KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 50. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 13, item 1, p. 297-298.

2. Idem - Item 4, p. 299.

3. Idem - Item 13, p. 305.

4. Idem - Capítulo 15, item 2, p. 354-355.

5. Idem - Item 9, p. 359.

6. Idem - Item 11, p. 361.

7. Idem - Item 13, p. 362.

8. Idem - Item 17, p. 364.

9. Idem - Item 27, p. 372.

10. Idem - Item 39, p. 379-380.

11. Idem - Item 44, p. 383-384.

12. Idem - Item 61, p. 398.

13. Idem - Item 62, p. 399.

14. Idem - Item 63, p. 399-400.

15. Idem - Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 39. ed. Rio de Janeiro: FE8,2006.Primeira parte. (Estudo sobre a natureza do Cristo). Capítulo 2, p. 140.

16. Idem, ibidem - p. 126.

17. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 125. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 21, item 7, p. 362-363.

18. XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB. 2006, q. 283, p. 168.


Nota:

19. [Nesse eLivro os “fenômenos psíquicos” ou “poderes psíquicos” apresentam-se como “manifestações da mediunidade ou do animismo”. Com relação aos fatos maravilhosos em que os poderes do Cristo ficaram demonstrados, assim como o quanto a fé pode fazer, não devemos nos esquecer de que embora Jesus agisse por si mesmo em virtude do seu poder pessoal, o Cristo foi também médium de Deus, conforme dito acima no item 2 dos subsídios.]


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