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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO II — ENSINOS E PARÁBOLAS DE JESUS — PARTE II
Módulo VI — Aprendendo com fatos extraordinários

Roteiro 3


Jesus caminha sobre as águas


Objetivos: Fornecer a explicação espírita para o fenômeno de Jesus andar sobre as águas. — Analisar as implicações espirituais do feito.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Jesus, embora estivesse vivo, pôde aparecer sobre a água, com uma forma tangível, estando alhures o seu corpo. Allan Kardec: A gênese, Capítulo 15, item 42.

  • Jesus produziu muitos fenômenos, considerados milagres. Hoje, porém, tais prodígios são plenamente explicados pelo Espiritismo, revelando que não aconteceu nenhuma derrogação das leis naturais. Assim, […] no campo da fenomenologia física ou metapsíquica objetiva, identificamo-lo em plena levitação, caminhando sobre as águas […]. André Luiz: Mecanismos da mediunidade, Capítulo 26, item: Divina mediunidade — Efeitos físicos.



 

SUBSÍDIOS


1. Texto evangélico

  • E logo ordenou Jesus que os seus discípulos entrassem no barco e fossem adiante, para a outra banda, enquanto despedia a multidão. E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só. E o barco estava já no meio do mar, afoitado pelas ondas, porque o vento era contrário. Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, caminhando por cima do mar. E os discípulos, vendo-o caminhar sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram, com medo. Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo. Tende bom ânimo, sou eu; não temais. E respondeu-lhe Pedro e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas. E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me. E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e disse-lhe: Homem de pequena fé, por que duvidaste? E, quando subiram para o barco, acalmou o vento. (Mateus, 14.22-32)

Dois fenômenos se destacam no texto, ambos considerados milagrosos: Jesus caminhar sobre as águas e acalmar o vento. Em relação ao primeiro, pode-se pensarem duas hipóteses:

  • Jesus andou em Espírito sobre as águas, enquanto o seu corpo dormia, fora do barco, no local onde fora orar.

  • Jesus levitou sobre as águas.

Acalmar ventos e tempestades não representava dificuldade para o Mestre, que tinha controle sobre os elementos materiais e espirituais do Planeta que governa.

O texto evangélico traz também lições relativas ao auxílio e à fé.


2. Interpretação do texto evangélico

  • E logo ordenou Jesus que os seus discípulos entrassem no barco e fossem adiante, para a outra banda, enquanto despedia a multidão. E, despedida a multidão, subiu ao monte para orar à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só. E o barco estava já no meio do mar, afoitado pelas ondas, porque o vento era contrário. Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, caminhando por cima do mar. E os discípulos, vendo-o caminhar sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram, com medo. (Mt 14.22-26).

Allan Kardec considera viáveis as duas possibilidades: aparição e levitação.


Jesus, embora estivesse vivo pôde aparecer sobre a água, com uma forma tangível, estando alhures o seu corpo. É a hipótese mais provável. Fácil é mesmo descobrir-se na narrativa alguns sinais característicos das aparições tangíveis. Por outro lado, também pode ter sucedido que seu corpo fosse sustentado e neutralizada a sua gravidade pela mesma força fluídica que mantém no espaço uma mesa, sem ponto de apoio. Idêntico efeito se produz muitas vezes com os corpos humanos. (1)


Vamos considerar, primeiramente, que o surgimento do Cristo, junto aos apóstolos, no momento em que o barco era açoitado pelas ondas, como uma aparição tangível. Tais aparições se assemelham muito às materializações de Espíritos, diferindo, entretanto, destas, por serem mais fluídicas ou vaporosas. A Ciência costuma classificá-las como alucinações.


Os que não admitem o mundo.incorpóreo e invisível julgam tudo explicar com a palavra alucinação. Toda gente conhece a definição desta palavra. Ela exprime o erro, a ilusão de uma pessoa que julga ter percepções que realmente não tem. Origina-se do latim hallucinari, errar, que vem de ad lucem. Mas, que saibamos, os sábios ainda não apresentaram a razão fisiológica desse fato. (4)


Na linguagem comum, as aparições são, genericamente, denominadas “fantasmas”.


As aparições propriamente ditas se dão quando o vidente se acha em estado de vigília e no gozo da plena e inteira liberdade das suas faculdades. Apresentam-se, em geral, sob uma forma vaporosa e diáfana, às vezes vaga e imprecisa. A princípio é, quase sempre, uma claridade esbranquiçada, cujos contornos pouco a pouco se vão desenhando. Doutras vezes, as formas se mostram nitidamente acentuadas, distinguindo-se os menores traços da fisionomia, a ponto de se tornar possível fazer-se da aparição uma descrição completa. […] Podendo tomar todas as aparências, o Espírito se apresenta sob a que melhor o faça reconhecível, se tal é o seu desejo. […] Coisa interessante é que, salvo em circunstâncias especiais, as partes menos acentuadas são os membros inferiores, enquanto que a cabeça, o tronco, os braços e as mãos são sempre caramente desenhados. Daí vem que quase nunca são vistos a andar, mas a deslizar como sombras. […] Os Espíritos superiores têm uma figura bela, nobre e serena; os mais inferiores denotam alguma coisa de feroz e bestial […]. (3)


Materializações e aparições são fenômenos mediúnicos diversos, raramente confundíveis.


Materialização é o fenômeno pelo qual os Espíritos se corporificam, tornando-se visíveis a quantos estiverem no local das sessões. Não é preciso ser médium para ver o Espírito materializado. Materializando-se, corporificando-se, pode o Espírito ser visto, sentido e tocado. Podemos abraçá-lo, sentir-lhe o calor da temperatura, ouvir-lhe as pulsações do coração e com ele conversar naturalmente. Aparição é o fenômeno pelo qual o Espírito é visto apenas por quem tiver vidência. A materialização é um fenômeno objetivo e a aparição é um fenômeno subjetivo. (5)


A aparição do Cristo pode também ser considerada como uma levitação. Nesta situação, imaginamos que o Cristo, percebendo, à distância, o perigo que os apóstolos enfrentavam, dentro de um barco no mar da Galileia — forma usual de referir-se ao lago de Genesaré ou de Tiberíades — se deslocou até onde eles se encontravam, levitando ou volitando.


Levitação é o fenômeno pelo qual pessoas, animais ou coisas erguem-se do solo, elevando-se no ar a pequenas ou consideráveis alturas, com eventuais deslocamentos, sem evidente causa física. Há casos em que a pessoa ou o objeto levitado vai até o teto ou paira sobre as copas das árvores ou sobre a crista de montes. […] Não só a literatura espírita, mas também a Bíblia e o próprio Hagiológico da Igreja Católica narram casos de médiuns, de profetas e de santos que se elevaram no ar, ou levitaram em ambientes fechados, templos e ao ar livre. (6)


Kardec explica que quando alguém ou um objeto “[…] é posto em movimento, levantado ou atirado para o ar, não é que o Espírito o tome, empurre e suspenda, como o faríamos com a mão. O Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinando com o do médium […].” (2) Dessa forma, cria uma substância (força ou energia) intermediária e própria para a realização dos fenômenos de levitação.

É difícil discernir se o fenômeno foi de levitação ou de simples aparição. Há quem considere como aparição, pelo fato de os discípulos terem afirmado: “É um fantasma” (versículo 26). Por outro lado, os estudiosos que defendem a hipótese da levitação, afirmam que Jesus entrou no barco e lá permaneceu com os apóstolos, como informa o texto que se segue.

  • Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo. Tende bom ânimo, sou eu; não temais. E respondeu-lhe Pedro e disse: Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas. E ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me. E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e disse-lhe: Homem de pequena fé, por que duvidaste? E, quando subiram para o barco, acalmou o vento. (Mt 14.27-32).

É natural que os discípulos se assustassem com o surgimento inesperado do Cristo, ainda mais deslizando sobre as águas, mesmo que tivessem presenciado inúmeros prodígios realizados por Jesus. Tiveram medo e pensaram, no primeiro momento, que era um fantasma cuja aparência lembrava o seu Mestre. Foi por esse motivo que Pedro disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas”. E o Senhor responde, prontamente: “Vem”.


A dúvida é um sentimento atroz, que nos lança numa situação de conflito íntimo. Neste sentido, afirmava o apóstolo Tiago em sua epístola: “[…] porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento e lançada de uma para outra parte” (Tg 1.6).


A dúvida, no plano externo, pode auxiliar a experimentação, nesse ou naquele setor do progresso material, mas a hesitação no mundo íntimo é o dissolvente de nossas melhores energias. Quem duvida de si próprio, perturba o auxílio divino em si mesmo. Ninguém pode ajudar àquele que se desajuda. (10)


Confiando/desconfiando, Pedro atendeu, de certa forma, à solicitação do Mestre de ir até ele, andando sobre as águas. Entretanto, a dúvida foi maior que a confiança, por isso ele começou a afundar nas águas do lago de Genesaré. É possível que lhe tenha faltado fé, não no Mestre, mas em si próprio.


E façamos dentro de nós o silêncio preciso, emudecendo qualquer indisciplina mental. Sintonizemos o coração em ponto certo, ou, melhor, liguemos o pensamento para a Infinita Sabedoria, tendo o cuidado imprescindível para que a estática de nossas paixões e sensações não interfira com a recepção da bênção que nos advirá da Divina Bondade. (11)


Os versículos 29, 30 e 31, indicam que Pedro não conseguiu manter-se sobre as águas, afundando: “E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me. E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e disse-lhe: Homem de pequena fé, por que duvidaste”? Tal apontamento fornece inequívocas lições que devem ser refletidas mais profundamente:


A tempestade estabelecera a perturbação no ânimo dos discípulos mais fortes. Desorientados, ante a fúria dos elementos, socorrem-se de Jesus, em altos brados. Atende-os o Mestre, mas pergunta depois: — Onde está a vossa fé? O quadro sugere ponderações de vasto alcance. A interrogação de Jesus indica claramente a necessidade de manutenção da confiança, quando tudo parece obscuro e perdido. Em tais circunstâncias, surge a ocasião da fé, no tempo que lhe é próprio. Se há ensejo para trabalho e descanso, plantio e colheita, revelar-se-á igualmente a confiança na hora adequada. Ninguém exercitará otimismo, quando todas as situações se conjugam para o bem-estar. É difícil demonstrar-se amizade nos momentos felizes. Aguardem os discípulos, naturalmente, oportunidades de luta maior, em que necessitarão aplicar mais extensa e intensivamente os ensinos do Senhor. Sem isso, seria impossível aferir valores. Na atualidade dolorosa, inúmeros companheiros invocam a cooperação direta do Cristo. E o socorro vem sempre, porque é infinita a misericórdia celestial, mas, vencida a dificuldade, esperem a indagação: — Onde está a vossa fé? E outros obstáculos sobrevirão, até que o discípulo aprenda a dominar-se, a educar-se e a vencer, serenamente, com as lições recebidas. (8)


Importa destacar o cuidado e o amor do Cristo, auxiliando os discípulos em dois momentos específicos, citados no texto em estudo. Primeiro quando percebeu a agitação das águas: “E o barco estava já no meio do mar, açoitado pelas ondas, porque o vento era contrário. Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, caminhando por cima do mar” (Mt 14.24,25). Segundo quando evitou que Pedro se afogasse: “E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me. E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e disse-lhe: Homem de pequena fé, porque duvidaste”? (Mt 14.29-31) Na verdade, o Mestre está sempre presente quando precisamos do seu auxílio. É bom não esquecer.


Na localização histórica do Cristo, impressiona-nos a realidade de sua imensa afeição pela Humanidade. Pelos homens, fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação. Seus atos foram celebrados em assembleias de confraternização e de amor. […] Era amigo fiel dos necessitados que se socorriam de suas virtudes imortais. Através das lições evangélicas, nota-se-lhe o esforço para ser entendido em sua infinita capacidade de amar. A última ceia representa uma paisagem completa de afetividade integral. Lava os pés aos discípulos, ora pela felicidade de cada um… (9)


O registro de Mateus encerra-se com esta anotação: “E, quando subiram para o barco, acalmou o vento” (Mt 14.32). Considerando a prodigiosa personalidade do Cristo, o seu conhecimento sobre as coisas da “terra e do céu”, é natural que ele acalmasse ventos, tempestades e outros fenômenos da Natureza, com ou sem o auxílio de Espíritos que agiam como seus colaboradores. O que permanece, o que deve marcar o nosso Espírito, não são os seus atos exteriores, mas as suas lições sublimes, uma vez que a Jesus foi a manifestação do amor de Deus, a personificação de sua bondade infinita.” (7)



ORIENTAÇÕES AO MONITOR: Realizar breve exposição introdutória do assunto, destacando pontos relevantes. Em seguida, organizar a turma em dois grupos: um deverá defender o ponto de vista de que Jesus andou sobre as águas por meio de levitação; o outro grupo defenderá a ideia de aparição. Em ambas as defesas, os participantes justificam as ideias tendo como base os conteúdos espíritas desenvolvidos neste Roteiro. Ao final, fazer a integração do assunto debatido.



Referências:

1. KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 15, item 42, p. 382.

2. Idem - O Livro dos médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, Capítulo 4, item. 77, p. 103.

3. Idem - Capítulo 6, item 102, p. 146 - 147.

4. Idem - Item 111, p.153.

5. PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 42 (Materialização - I), p. 216.

6. NÁUFEL, José. Do abc ao infinito. Espiritismo experimental. 13. Vol. 2. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Capítulo 16 (Levitação), p. 146.

7. XAVIER, Francisco Cândido. Antologia mediúnica de natal. Por diversos Espíritos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Capítulo 66 (Jesus - texto de Emmanuel), p. 183.

8. Idem - Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo40 (Tempo de confiança), p. 95-96.

9. Idem - Capítulo 86 (Jesus e os amigos), p. 187.

10. Idem - Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Capítulo 165 (Não duvides), p. 401.

11. Idem - Segue-me. Pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Matão: 1992. Item: Confiaremos, p. 83-84.


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