O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

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EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Religião à luz do Espiritismo

TOMO III — ESPIRITISMO, O CONSOLADOR PROMETIDO POR JESUS
Módulo II — A Morte e seus Mistérios

Roteiro 1


O temor da morte


Objetivos: Explicar porque o momento da morte é, em geral, temido.Analisar características do processo de perturbação espiritual presente na desencarnação.Esclarecer, à luz do Espiritismo, como ocorre a desencarnação e quais são suas principais etapas.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Desinformações sobre a continuidade da vida em outro plano, o espiritual, produzem o temor da morte, pois, como ensina o Espiritismo, […] existência terrestre é transitória e passageira, espécie de morte, se comparada ao esplendor e atividade da vida espiritual. O corpo não passa de vestimenta grosseira que reveste temporariamente o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual ele se sente feliz em libertar-se. […]. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XXIII, item 8.

  • O […] sofrimento, que acompanha a morte, está subordinado à força adesiva que une o corpo ao perispírito; que tudo o que puder atenuar essa força, e acelerar a rapidez do desprendimento, torna a passagem menos penosa; e, finalmente, que, se o desprendimento se operar sem dificuldade, a alma deixará de experimentar qualquer sentimento desagradável. Allan Kardec: O Céu e o Inferno. Segunda parte, Capítulo I, item 5.

  • A […] perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. A proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação comparável à de um homem que desperta de profundo sono […]. Allan Kardec: O Céu e o Inferno. Segunda parte, Capítulo I, item 6.

  • Durante a desencarnação ou morte do corpo físico […] o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira [na reencarnação], e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito […]. Allan Kardec: A gênese. Capítulo XI, item 18.



 

SUBSÍDIOS


A morte do corpo físico, ou desencarnação segundo terminologia espírita, pode apresentar alguns mistérios, em geral fornecidos pelas religiões ou pela educação que foi transmitida ao Espírito, a despeito de ser a desencarnação um fenômeno natural e inexorável. Há muita superstição, fantasias e desin- formações sobre a morte do corpo físico, causando temores e até situações de desespero ou revolta.

Pode-se dizer, contudo, que o temor da morte está relacionado a dois fatores básicos: ignorância a respeito da vida no além-túmulo e processos de culpa ou remorso decorrentes da lembrança dos atos cometidos durante a existência física. Esclarece Allan Kardec que durante


a vida, o Espírito está preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial ou perispírito. A morte é apenas a destruição do corpo, e não a desse segundo envoltório, que se separa do corpo quando cessa neste a vida orgânica. A observação comprova que, no instante da morte, o desprendimento do perispírito não se completa subitamente; que se opera gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é bastante rápido, podendo se dizer que o momento da morte é também o da libertação; em outros, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica a existência, no corpo, da menor vitalidade, nem a possibilidade de um retorno à vida […]. (1)


Percebe-se, então, que a primeira providência é preparar-se para morrer. .Há necessidade do indivíduo aprender a libertar-se do jugo das influências materiais, porque elas são, todas, de caráter transitório, evitando apego excessivo a elas. É de fundamental importância que o Espírito reencarnado desenvolva, desde a infância, aprendizados de ordem moral, capazes de lhe fornecer certa dignidade espiritual, refletida nos seus atos cotidianos, independentemente das convicções religiosas que possua ou da forma como foi educado.

Não há dúvida que a consciência culpada, atormentada por remorsos, sofre durante e após a desencarnação, senão antes do final da existência física. Neste sentido, assinala Espírito Lacordaire “[…] O amor aos bens terrenos é um dos mais fortes entraves ao vosso adiantamento moral e espiritual […]”. (2)

Um fato que merece destaque é que, quando se aproxima o instante de retornar à vida espiritual, a pessoa é, geralmente, tomada por uma espécie de lucidez sobre as conseqüências dos seus atos e escolhas executados ao longo da reencarnação. Entretanto, já não há mais tempo, o que foi feito foi feito, não há como voltar atrás. Por conseguinte, o indivíduo sofre, deixando-se conduzir por medos, alguns até injustificados. São tormentos impostos ao indivíduo por ele mesmo, por efeitos de atos e comportamentos desenvolvidos, por ignorância ou imprudência.


O homem vive incessantemente em busca da felicidade, que lhe escapa a todo instante, porque a felicidade sem mescla não existe na Terra. Entretanto, apesar das vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais, em vez de procurá-la nos prazeres da alma, que são um gozo antecipado das alegrias celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo que o possa agitar e perturbar e, coisa curiosa! O homem parece criar para si, propositadamente, tormentos que está nas suas mãos evitar. Haverá maiores tormentos do que os causados pela inveja e pelo ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febris. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias; os sucessos dos rivais lhes dão vertigem; são movidos apenas pela vontade de sobrepujar seus vizinhos; toda a sua alegria consiste em excitar, nos insensatos como eles, a raiva e o ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, não pensam que amanhã, talvez, terão de deixar todas essas futilidades, cuja cobiça lhes envenena a vida! […]. (3)


Dessa forma, o Espírito preso às paixões inferiores sofre, sim, com a morte do corpo físico, que lhe parece perda irreparável, uma dolorosa tragédia. Daí a preocupação e o temor demonstrados no instante da morte.

Na verdade, ele já se encontrava morto, em termos espirituais, pela cegueira que se conduziu vida afora. Estava morto, mesmo quando o corpo físico se encontrava em plena vitalidade. Para ele, por ora, cabe apenas o conselho de Jesus: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos” (Lucas, 9.6. Bíblia de Jerusalém), considerando que essa pessoa ainda não revela possuir o necessário discernimento para buscar os valores espirituais. É um aprendizado que está por fazer, mas que, cedo ou tarde, lhe será concedido nas inúmeras experiências reencarnatórias.

Situação diversa acontece com o Espírito que durante a existência física se deixou conduzir por uma vida mais simples, sem ganâncias ou ambições exageradas; que procurou desenvolver virtudes, combatendo imperfeições; que praticou a caridade, promovendo o bem; que cumpriu seus deveres familiares, profissionais e sociais.

A sua desencarnação será mais amenizada, os sofrimentos ou angústias dos momentos finais serão perfeitamente suportados, porque tem consciência de que “fez o melhor que lhe foi possível”. E mais: mesmo que essa pessoa não possua maiores informações sobre o plano espiritual para onde se encaminha, sua conduta moral responsável durante a existência tem o poder de atrair Espíritos benfeitores que, voluntariamente posicionados ao seu lado, o ampara e lhe ameniza possíveis sofrimentos nessa fase de transição. Tocado pelas vibrações superiores e pelo apoio dos amigos espirituais, adquire a necessária tranquilidade para atravessar os momentos finais da desencarnação. Nesta situação, é comum o Espírito adquirir certa lucidez e perceber, intuitivamente, que a vida não acaba com a morte do corpo físico. Verifica, então, que a


vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito; sua existência terrestre é transitória e passageira, espécie de morte, se comparada ao esplendor e atividade da vida espiritual. O corpo não passa de vestimenta grosseira que reveste temporariamente o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual ele se sente feliz em libertar-se. […]. (4)


1. O desligamento perispiritual durante a desencarnação


Os Orientadores da Vida Maior informam que, a rigor, não é dolorosa a separação da alma do corpo no momento da desencarnação, uma vez que, em geral, o Espírito encontra-se em estado de inconsciência: “Na morte natural, a que resulta do esgotamento dos órgãos,'em conseqüência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.” (5)

Outra informação, não menos importante, é de que nos instantes limítrofes entre a morte do corpo físico e o desligamento perispiritual,


[…] a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo a que se restituiu subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e se confundem, de modo que o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o prendiam: eles se desatam, não se quebram. (6)


Ensina a Doutrina Espírita que, durante a reencarnação, o perispírito acha-se enraizado no corpo físico. Com a desencarnação, “[…] o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira [na reencarnação], e o Espírito é restituído à liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito. […] (7)

Entretanto, é preciso considerar que as


[…] as sensações que precedem e se sucedem à morte, bem como a duração do processo de rompimento dos laços fluídicos que unem a alma ao corpo físico, variam de caso para caso, dependendo das circunstâncias do trespasse e da maior ou menor elevação moral do trespassado. Via de regra, nas mortes repentinas e violentas, o desprendimento da alma é tanto mais prolongado e penoso quanto mais fortes sejam aqueles liames, ou, em outras palavras, quanto mais vitalidade exista no organismo, sendo que os suicidas se mantêm presos ao corpo por muito tempo, às vezes até à sua decomposição completa, sentindo, horrorizados, “os vermes lhes corroerem as carnes”. Depois de longa enfermidade, ou quando a velhice tenha debilitado as forças orgânicas, o desprendimento, em geral, se efetua fácil e suavemente, semelhando-se a um sono muito agradável. Para os que só cuidaram de si mesmos, os que se deixaram empolgar pelos gozos deste mundo, os que se empenharam apenas em amontoar bens materiais, os malfeitores e os criminosos, a hora da separação é angustiosa e cruel; agarram-se, desesperados, à vida que se lhes esvai, porque a própria consciência lhes grita que nada de bom podem esperar no futuro. […]. (8)


Assim, é preciso desenvolver um sentimento de compaixão e de solidariedade para com os Espíritos que desencarnam em situações difíceis, como acontece nos casos de morte violenta e nos suicídios. Nestas condições, o Espírito pode apresentar um estado de perturbação extremamente variável, conforme o peso das causas geradoras da desarmonia. Uma forma de manifestar atenção e piedade para esses sofredores é orar por eles. A prece ameniza-lhes o sofrimento.


Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem pense neles, sentem-se menos abandonados, menos infelizes. Mas, a prece tem sobre eles uma ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e pode desviar-lhes o pensamento do mal. É nesse sentido que a prece pode não apenas aliviar, como abreviar seus sofrimentos. (9)


O destino que é dado aos despojos do corpo físico pode, em alguns casos, ser motivo de desarmonia espiritual. Há indivíduos que têm horror ao sepultamento, outros são indiferentes. Sendo assim, os familiares ou amigos mais relacionados devem obter informações a respeito, na possibilidade de não existir uma decisão expressa. É uma forma fraterna de facilitar a desencarnação de um ente querido.

Nos dias atuais, há cada vez mais preferência pela cremação, invés do sepultamento. Realmente, como medida sanitária a cremação é mais indicada. Mas este não deve ser o único critério que deve guiar a tomada de decisão. Um deles é que tenha ocorrido anterior manifestação escrita ou verbal do desencarnado. Importa também considerar:


[…] Na cremação, faz-se mister exercer a piedade com os cadáveres, procrastinando por mais horas o ato de destruição das vísceras materiais, pois, de certo modo, existem sempre muitos ecos de sensibilidade entre o Espírito desencarnado e o corpo onde se extinguiu o “tônus vital”, nas primeiras horas seqüentes ao desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que ainda solicitam a alma para as sensações da existência material. (10)


Outra situação, bastante atual diz respeito à doação de órgãos. É importante avaliar se não haveria a possibilidade de o doador ficar preso às vísceras. Perguntando a Chico Xavier a respeito, ele nos responde por meio das seguintes considerações:


[…] Sempre que a pessoa cultiva desinteresse absoluto por tudo aquilo que ela cede para alguém, sem perguntar ao beneficiado o que fez da dádiva recebida, sem desejar qualquer remuneração, nem mesmo aquela que a pessoa humana habitualmente espera com o nome de compreensão, sem aguardar gratidão alguma, isto é, se a pessoa chegou a um ponto de evolução em que a noção da posse não mais a preocupa, esta criatura está em condições de doar, porque não vai afetar o perispírito em coisa alguma. […] Quando o doador é pessoa habituada ao desprendimento da posse […], a doação prévia de órgãos que lhe pertençam, por ocasião da morte física, não afeta o corpo espiritual do doador […]. (11)


2. Etapas da desencarnação


Os Espíritos nos relatam algumas características inerentes ao momento da desencarnação, o que nos leva a supor que existe certo padrão no processo. Existe a informação bem conhecida de que durante a desencarnação a criatura nunca está a sós. Mas o tipo de companhia pode ser categorizada em dois grupos.

O primeiro é constituído de benfeitores espirituais e de Espíritos especializados nos processos que conduzem à desencarnação. Encontram-se também familiares e amigos queridos, já desencarnados, que ali permanecem aguardando ou auxiliando o processo de desligamento final. No segundo grupo os desencarnantes que não souberam amealhar amizades, que levaram uma existência marcada por ações más, podem defrontar-se com entidades malévolas, direta ou indiretamente ligadas a ele, causando-lhe transtornos dos mais variados e intensos.

De qualquer forma, há sempre benfeitores espirituais que, como voluntários, auxiliam o desencarnante, mesmo que este não possua grandes méritos: “[…] O esforço e abnegação dos Mentores Espirituais, na desencarnação de determinadas criaturas, é realmente digno de menção. Cooperados especializados aglutinam esforços no afã de desligarem, sem incidentes, o Espírito eterno do aparelho físico terrestre […].” (12)

Há indicações de que o processo de desligamento perispiritual, operado por esses Espíritos especialistas, se desenvolve em etapas, devendo haver, naturalmente, variações, conforme as condições apresentadas pelo Espírito desencarnante e o tipo de morte (suicídio, morte natural etc.).

Esse processo se desenrola, de forma ampla, segundo informações retiradas do livro Voltei (13) cujo autor espiritual, Irmão Jacob (pseudônimo de Frederico Figner), relata a própria desencarnação, revelando-nos que a seqüência de todas as etapas perdurou por mais de trinta horas seguidas, antes que ocorresse o desligamento final.

  • A […] operação inicial é efetuada na região do ventre, à qual se acha ligado o Centro Vegetativo, como sede das manifestações fisiológicas. Com essa providência, o moribundo começa a esticar os membros inferiores, sobre- vindo, logo após, o esfriamento do corpo.

  • Atuando os Espíritos Superiores, a seguir, sobre o Centro Emocional, sediado no tórax e representando a zona dos sentimentos e desejos, novos sintomas se verificam: desregularidade do coração, aflição, angústia e pulso fraco. […].

  • A […] operação final é no cérebro, onde fica situado o Centro Mental, a região mais importante. O trabalho magnético se realiza inicialmente sobre a fossa romboidal, que a Medicina define mais ou menos com as seguintes palavras: “Assoalho do quarto ventrículo, que, por sua vez, é uma cavidade situada na face posterior do bulbo e protuberância, portanto anteriormente ao cerebelo.” […] Após essa última operação magnética, sobre a fossa romboidal, […] sobrevém o estado de coma, embora o Espírito esteja ligado e bem ligado ao veículo físico. […].

  • Por fim, o ocorre o último desatamento do laço fluídico, em nível de sistema nervoso central. Só então está concluído desligamento perispiritual do corpo físico, concluindo a desencarnação.

Importa ponderar que, a despeito de ter ocorrido o desligamento perispiritual, propriamente dito, há Espíritos que permanecem ligados aos despojos do corpo físico, às vezes por muitos anos. Trata-se de uma situação dolorosa, cujas causas residem na vida que o Espírito levou quando encarnado, e que podem estar associadas ao gênero de morte (suicídio, por exemplo).

Outra situação, digna de nota, diz respeito ao relato dos desencarnados de que, quando tomam consciência que, de fato, estão desencarnados, surge-lhes uma visão panorâmica e retrospectiva da última existência corporal. Parece que há um mecanismo interno, presente nos refolhos da memória integral do Espírito, que é acionado no momento dessa tomada de consciência, a fim de que o Espírito possa, por ele mesmo, rever, em toda riqueza de detalhes, as próprias ações realizadas, erros e acertos, julgando-as por si mesmo. O livro A crise da morte (14), de Ernesto Bozzano, é uma das obras espíritas clássicas que informa a respeito dessa visão panorâmica. Merece ser lido.


3. Perturbação espiritual no momento da desencarnação


Já estamos plenamente informados de que a


[…] extinção da vida orgânica resulta na separação da alma em conseqüência do rompimento do laço fluídico que a une ao corpo. Essa separação, contudo, nunca é brusca: o fluido perispirítico só pouco a pouco se desprende de todos os órgãos, de sorte que a separação só é completa e absoluta quando não resta nenhum átomo do perispírito ligado à molécula do corpo. […]. (15)


Ainda que o desencarnante possua títulos de virtudes e méritos, não se furta aos momentos finais, o do desligamento perispiritual, que caracteriza o fim da existência física.


Daí resulta que o sofrimento que acompanha a morte está subordinado à força adesiva que une o corpo ao perispírito; que tudo o que puder atenuar essa força e acelerar a rapidez do desprendimento, torna a passagem menos penosa; e, finalmente, que se o desprendimento se operar sem dificuldade, a alma não experimentará nenhuma sensação desagradável. (16)


Allan Kardec denominou de Perturbação o espaço de tempo que se inicia com os processos agônicos e que se conclui com o desligamento perispiritual. Acrescenta que, mesmo que este estado seja muito breve e não provoque maiores desconfortos, nesse


“[…] instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações. É como se disséssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro. Dizemos quase nunca porque há casos em que a alma pode contemplar conscientemente o desprendimento […]. (17)


[…] A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. A proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação comparável à de um homem que desperta de profundo sono; as idéias são confusas, vagas, incertas; a vista apenas distingue como que através de um nevoeiro, mas pouco a pouco se aclara, desperta-se-lhe a memória e o conhecimento de si mesma. Bem diverso é, contudo, esse despertar; calmo, para uns, acorda-lhes sensações deliciosas; tétrico, aterrador e ansioso, para outros, é qual horrendo pesadelo. (17)


O estado de maior ou menor sofrimento que acontece nos estertores da agonia, no momento da desencarnação, resulta da situação moral do desencarnante, como ensina o Codificador:


O estado moral da alma é a causa principal maior ou menor facilidade de desprendimento. A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria, que atinge o seu máximo no homem cujas preocupações dizem respeito exclusiva e unicamente à vida e gozos materiais. Ao contrário, nas almas puras, que antecipadamente se identificam com a vida espiritual, o apego é quase nulo. E desde que a lentidão e a dificuldade do desprendimento estão na razão do grau de pureza e desmaterialização da alma, de nós somente depende o tornar fácil ou penoso, agradável ou doloroso, esse desprendimento. (18)


Analisamos, em seguida, outros pontos importantes relacionados ao estado de perturbação que acompanha os momentos finais da existência no Espírito que, conforme as circunstâncias, pode prolongar-se após o desligamento perispiritual.

  • O grau de lucidez que acompanha a perturbação não é o mesmo grau para todos os desencarnantes. “[…] Depende da elevação de cada um. Aquele que está mais purificado se reconhece quase que imediatamente, porque se libertou da matéria durante a vida no corpo. Ao passo que o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria. (19)

  • O conhecimento espírita a respeito da desencarnação e da vida no Além é importante, pois exerce influência “[…] muito grande, visto que o Espírito já compreendia de antemão a sua situação. Mas a prática do bem e a confiança pura exercem maior influência. (20)

  • O tempo de duração do estado de “[…] perturbação que se segue à morte é muito variável. Pode ser de algumas horas, bem como de vários meses e até de muitos anos. […].” (21)

  • A perturbação varia, também, de pessoa para pessoa, apresentando “[…] circunstâncias particulares, de acordo com as características individuais e, principalmente, com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia [sufocamento], ferimentos, etc., o Espírito fica surpreendido, espantado, não acredita que esteja morto e sustenta esta idéia com obstinação. No entanto, vê o seu corpo, sabe que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele: acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não entende por que elas não o ouvem. Esta ilusão dura até o completo desprendimento do perispírito.” (21)

  • Importa considerar que a perturbação pode ser agravada nas mortes violentas: “Como não houve nenhuma desagregação parcial capaz de levar a uma separação antecipada entre o corpo e o perispírito, a vida orgânica é subitamente aniquilada no auge da exuberância. Nestas condições, o desprendimento só começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente. O Espírito, colhido de improviso, fica como aturdido: sente, pensa e acredita-se vivo, prolongando-se esta ilusão até n que compreenda a sua posição. (22)

  • No suicida, essa situação é, principalmente, “[…] mais aflitiva. Preso ao corpo por todas as suas fibras, o perispírito faz repercutir na alma todas as sensações daquele, com atrozes sofrimentos.” (23)

ORIENTAÇÕES AO MONITOR:


1. Dividir a turma em dois grandes grupos.

2. Solicitar a um dos grupos que descreva, com as próprias palavras, o processo da desencarnação, após a leitura do item 1, deste Roteiro de Estudo: O desligamento perispiritual durante a desencarnação.

3. Empregar com o outro grupo o mesmo critério, mas após a leitura do item 3. Perturbação espiritual no momento da desencarnação.

4. Fazer a integração da aula por meio de breve exposição do item 2 do Roteiro (Etapas da desencarnação)


Observação: para a próxima reunião, os participantes serão incumbidos de pesquisar na internet, em periódicos ou livros subsídios referentes às mortes prematuras (suicídio, aborto, eutanásia e homicídios), oferecendo condições de debater estes temas com mais profundidade.




Referências:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, questão 155-a, comentário, p. 161.

2. Idem - O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo XVI, item 14, p. 326.

3. Idem - Capítulo V, item 23, p. 135.

4. Idem - Capítulo XXIII, item 8, p. 419.

5. Idem - O Livro dos Espíritos. Op. Cit., questão 154-comentário, p. 160.

6. Idem - Questão 155-a, p. 160.

7. Idem - A gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Capítulo XI, item 18, p. 272.

8. CALLIGARIS, Rodolfo. Páginas de espiritismo cristão. 6ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Capítulo 22, p. 77-78.

9. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Op. Cit. Capítulo XXVII, item 18, p. 466-467.

10. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Pergunta 151, p. 122.

11. Lições de sabedoria: Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita. 1ª ed. São Paulo: Editora Fé, 1997. item: Doações de órgãos, p. 47.

12. PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 34, p. 243-244.

13. XAVIER, Francisco Cândido. Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 26 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. p. 29-32.

14. BOZZANO, Ernesto. A crise da morte: segundo o depoimento dos espíritos que se comunicam. Tradução de Guillon Ribeiro. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

15. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Segunda parte, Capítulo I, item 4, p. 221.

16. Idem, ibidem, segunda parte, Capítulo I, item 5, p. 222.

17. Idem, ibidem, segunda parte, Capítulo I, item 6, p. 222.

18. Idem, ibidem, segunda parte, Capítulo I, item 8, p. 223.

19. Idem - O Livro dos Espíritos. Op. Cit., questão 164, p. 164.

20. Idem, ibidem, questão 165, p. 164.

21. Idem, ibidem, questão 165-comentário, p. 165.

22. Idem - O Céu e o Inferno. Op. Cit. Segunda parte, Capítulo I, item 12, p. 225.

23. Idem - Capítulo I, item 12, p.226.


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