O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão | Estudos Espíritas

Índice| Página inicial | Final

EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita — Programa II — Filosofia e Ciência Espíritas


Roteiro 33


Civilização

Objetivos:

» Caracterizar civilização.

» Analisar os principais instrumentos do processo civilizatório.

» Relacionar as ideias filosóficas que tratam do assunto com o pensamento espírita.



IDEIAS PRINCIPAIS

  • Civilização é o mesmo que progresso social, representado pela aquisição de elementos materiais, intelectuais e espirituais, usufruídos pela sociedade.

  • O Espiritismo faz distinção entre civilização parcial (ou incompleta) e civilização completa. A primeira […] é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos da homem no estado primitivo; mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. A medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, e esses males desaparecerão com o progresso moral. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 793-comentário.

  • A civilização completa é reconhecida pelo seu pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque fizestes grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque vos alojais e vos vestis melhor do que os selvagens. Contudo, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando houverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que só percorreram a primeira fase da civilização. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 793.



 

SUBSÍDIOS


O conhecimento é a base da civilização. Sem ele não há progresso civilizatório. Entretanto, é importante conhecer um pouco mais do assunto, tendo em vista a necessidade de se informar sobre a sua abrangência e aquisição.

No uso comum, conhecimento é o ato ou efeito da capacidade humana, de apreender intelectualmente ou por efeito da experiência. (1) Neste sentido especificamos o ato de conhecer, propriamente dito, que é objeto da razão, ou ao produto do conhecimento, transmitido pela experiência e perpetuado pela tradição. (1)

Assim, através da epistemologia  †  ou teoria do conhecimento, “[…] um aspecto do saber filosófico que se revela através da reflexão pela qual a inteligência toma consciência de si mesma e de seu poder, verifica, de algum modo, seus métodos e seus processos, na medida que avança na constituição do próprio saber. (2)

A reflexão epistemológica nos conduz, contudo, a dois problemas básicos: a) o problema da natureza ou essência do conhecimento; b) a questão do seu valor ou de suas possibilidades. (3)

Na primeira possibilidade, a natureza ou essência do conhecimento, suscita uma série de questionamentos, nem sempre concordantes, cuja questão crucial é: como descrever o ato de conhecer?

Para o filósofo alemão Nicolai Hartmann (1882-1950)  † , a essência do ato de conhecer repousa no seguinte entendimento: (3) (4) (5)

1) há um conhecedor e um conhecido, isto é, sujeito e objeto, sendo que a relação entre ambos constitui o próprio conhecimento;

2) a função do sujeito é apreender o objeto e, a do objeto de ser apreendido pelo sujeito;

3) para apreender o objeto, o sujeito tem de sair dos limites de si mesmo, desenvolvendo habilidades e ou conhecimentos;

4) ao conhecer o objeto, o sujeito se transforma e adquire mais conhecimento.

Esses quatro passos podem ser sintetizados em três tempos distintos: o sujeito sai de si; o sujeito está fora de si; o sujeito reencontra a si mesmo.

Na segunda possibilidade — valor ou possibilidades do conhecimento — os filósofos concordam que o ato de conhecer implica atividade, em geral determinada por valores, que relaciona conhecimento e consciência. Neste sentido, os nossos saberes e sentimentos são experimentados diante dos fatos e das pessoas, de acordo com os valores que atribuímos à realidade. Esses valores serão sempre uma atribuição do sujeito (quem é capaz de atribuir valores) e não do objeto.

Para a Doutrina Espírita, o conhecimento resulta dos esforços individuais, favorecidos pela lei de progresso, pela aquisição de experiências vividas nas sucessivas reencarnações e nos estágios no plano espiritual, pois o ser humano foi criado para progredir, afastando-se do estado primitivo (ou de natureza) ao longo da caminhada evolutiva.


O estado de natureza é o estado primitivo e o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. Sendo o homem perfectível e trazendo em si o gérmen do seu aperfeiçoamento, não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza, como não foi destinado a viver eternamente na infância. O estado de natureza é transitório e o homem dele sai em razão do progresso da civilização […] (6)


O aprendizado anterior, realizado em outras existências, surge na mente do Espírito encarnado sob a forma de ideias inatas ou tendências instintivas. Neste sentido, nos esclarecem os Espíritos Superiores:


Os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; liberto da matéria, o Espírito sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que deles guarda lhe auxilia o progresso, sem o que estaria sempre a recomeçar. Em cada nova existência o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se encontrava em sua existência anterior. (7)


1. TIPOS DE CONHECIMENTO


O conhecimento pode se classificado em sensível e inteligível. Conhecimento sensível é o que se realiza por meio dos sentidos. Tradicionalmente, o conhecimento sensível é subdividido em sensorial e perceptivo.

A sensação é um conhecimento cognitivo simples e que se concretiza após uma excitação sensorial (visual, auditiva, gustativa, olfativa ou táctil). Na sensação não haveria conhecimentos conscientes do objeto. Esta consciência ou conhecimento real aconteceria pela percepção, já que consegue projetar o objeto no tempo e no espaço. A percepção é entendida, então como conhecimento mais complexo e que envolve todas as experiências vividas pelo sujeito. (8)


O conhecimento inteligível (ou intelectual) é o adquirido por intermédio da razão. É o mundo intelectivo do possível, segundo a lógica e a razão que, pela abstração, o conhecimento é processado. (8)

O conhecimento intelectual está, por sua vez, subdividido em vulgar ou senso comum, e científico. O primeiro é adquirido sem controle metodológico, de forma que fatos, aceitos como verdadeiros, são mantidos pela tradição ou segundo a interpretação do “acho que”, “suponho que”. Dessa forma, não são caracterizados como verdades científicas. O segundo se reveste do rigor do método científico, edificando-se por meio do controle empírico que afirma peremptoriamente: “nenhuma sentença (fato, fenômeno) será aceita como expressão científica se não permitir imediata verificação. ”

O Espiritismo apresenta visão mais ampla do assunto, pois considera a abrangência da vida em Planos diferentes: o físico e o espiritual. Assim, Emmanuel ensina que a inteligência ou


[…] valores intelectivos representam a soma de muitas experiências, em várias vidas do Espírito, no plano material. Uma inteligência profunda significa um imenso acervo de lutas planetárias. Atingida essa posição, se o homem guarda consigo uma expressão idêntica de progresso espiritual, pelo sentimento, então estará apto a elevar-se a novas esferas do Infinito, para a conquista de sua perfeição. (9)


É equívoco supor que apenas o conhecimento intelectual produz civilização. Se fosse assim, a inteligência humana já teria resolvido os problemas do sofrimento, do egoísmo, da maldade, enfim, das paixões inferiores presentes na humanidade.


Há duas espécies de progresso que, embora apoiando-se mutuamente, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os estímulos desejáveis. Por isso mesmo atingiu um grau até hoje desconhecido. Muito falta para que o segundo esteja no mesmo nível e, contudo, comparando-se os costumes sociais de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Por que, então, essa marcha ascendente haveria de parar, de preferência com relação ao moral, do que com relação ao intelectual? (10)


Na verdade, sem as aquisições morais, que abrandam os costumes e fazem o homem transformar-se em pessoa de bem, a inteligência pode ser mal dirigida. Neste contexto, diz-se que a civilização é ainda incompleta.

Para a Doutrina Espírita, a


civilização, como todas as coisas, apresenta gradações. Uma civilização incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado primitivo; mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. A medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, e esses males desaparecerão com o progresso moral. (11)


Neste sentido, é relativamente fácil perceber quais povos são mais civilizados:


De dois povos que tenham chegado ao mais alto grau da escala social, somente pode considerar-se o mais civilizado, na verdadeira acepç3o do termo, aquele onde exista menos egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais; onde a inteligência possa desenvolver-se com maior liberdade; onde haja mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; onde os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos arraigados, porque tais preconceitos são incompatíveis com o verdadeiro amor ao próximo; onde as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para todos, tanto para o último, como para o primeiro; onde a justiça se exerça com menos parcialidade; onde o fraco encontre sempre amparo contra o forte; onde a vida do homem, suas crenças e opiniões sejam mais bem respeitadas; onde haja menos infelizes; enfim, onda todo homem de boa vontade esteja certo de não lhe faltar o necessário.”


Se existe um povo na face da Terra que age assim, podemos afirmar, com segurança, que ele é civilizado. Caso contrário, o processo de civilização está em vias de acontecer.


ORIENTAÇÕES AO MONITOR


1. Sugerir aos participantes que façam leitura atenta e silenciosa dos subsídios deste Roteiro de Estudo, destacando os pontos considerados importantes.

2. Dirigir-lhes, em plenária, as questões que se seguem, avaliando se ocorreu bom entendimento do assunto:

  • Utilizando as próprias palavras, explique as ideias de Nicolai Hartmann, relativas à essência do conhecimento.

  • O que é estado de natureza? Por que o ser humano não permanece nele?

  • O que acontece com o conhecimento adquirido em precedentes reencarnações?

  • Apresente a divisão e características do conhecimento.

  • Quais são os dois tipos de progresso e como eles se manifestam?

  • O que é civilização, civilização incompleta e civilização completa?

3. Entregar aos participantes cópia da mensagem Momento da Transição (veja em anexo), de Bezerra de Menezes, recebida pela psicofonia de Divaldo Pereira Franco, no encerramento do III Congresso Espírita Brasileiro e Centenário de Nascimento de Chico Xavier, em 18 de abril de 2010, em Brasília-DF.

 4. Pedir a um participante que leia em voz alta o texto psicografado.

 5. Destacar os pontos principais da mensagem, correlacionando-os com o assunto estudado.


OBSERVAÇÃO: essa mensagem está gravada em vídeo nos seguintes endereços eletrônicos:

Veja link Vídeos, Webpage da FEB: www.febnet.org.br

 Mensagem com imagens e música de fundo. https://www.youtube.com/watch?v=WceAcaeRjN8

 Psicofonia da mensagem por Divaldo P Franco: https://www.youtube.com/watch?v=90CwC0FmCz8

 

ANEXO


Momento da Gloriosa Transição (12)

(YouTube)


Estamos agora em um novo período.

Estes dias assinalam uma data muito especial, a data da mudança do mundo de provas e expiações para mundo de regeneração.

A grande noite que se abatia sobre a terra lentamente cede lugar ao amanhecer de bênçãos. Retroceder não mais é possível.

Firmastes, filhas e filhos da alma, um compromisso com Jesus, antes de mergulhardes na indumentária carnal, o de servi-lo com abnegação e devotamento. Prometestes que lhe seríeis fiel, mesmo que vos fosse exigido o sacrifício.

Alargando-se os horizontes deste amanhecer que viaja para a plenitude do dia, exultemos juntos, os Espíritos desencarnados e vós outros que transitais pelo mundo de sombras. Mas, além do júbilo que a todos nos domina, tenhamos em mente as graves responsabilidades que nos exornam a existência do corpo ou fora dele.

Deveremos reviver os dias inolvidáveis da época do martirológio.

Seremos convidados não somente ao aplauso, ao entusiasmo, ao júbilo, mas também ao testemunho, o testemunho silencioso nas paisagens internas da alma, o testemunho por amor àqueles que não nos amam, o testemunho de abnegação no sentido de ajudar àqueles que ainda se comprazem em gerar dificuldades, tentando inutilmente obstaculizar a marcha do progresso.

Iniciada a grande transição, chegaremos ao clímax e, na razão direta em que o planeta experimenta as suas mudanças físicas, geológicas, as mudanças morais são inadiáveis.

Que sejamos nós aqueles Espíritos Espíritas que demonstremos a grandeza do amor de Jesus em nossas vidas.

Que outros reclamem, que outros se queixem, que outros deblaterem, que nós outros guardemos, nos refolhos da alma, o compromisso de amar, e amar sempre, trazendo Jesus de volta com toda a pujança daqueles dias que vão longe, e que estão muito perto. Jesus, filhas e filhos queridos, espera por nós.

Que seja o nosso escudo o amor, as nossas ferramentas o amor, e a nossa vida um hino de amor, são os votos que formulamos os espíritos espíritas aqui presentes e que me sugeriram representá-los diante de vós.

Com muito carinho, o servidor humílimo e paternal de sempre,

Bezerra.

Muita paz, filhas e filhos do coração.



REFERÊNCIAS

1. ABBRAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia - Google Books. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 624-630.

2. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil. Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1995, volume 6, p. 2743.

3. Idem ibidem: p. 2744.

4. Fenomenologia do conhecimento. Disponível em: http://www.filoinfo.bem-vindo.net/Fenomenologia-do-Conhecimento

5. ABBRAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Op. Cit. 174-183.

6. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Questão 776, p. 473-474.

7. Idem: Questão 218-a, p. 194.

8. ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. Op. Cit., p. 2746.

9. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Questão 117, p. 98.

10. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Op. Cit. Questão 785-comentário, p. 478.

11. Idem: Questão 793-comentário, p. 370-371.

12. FRANCO, Divaldo Pereira. Momento da Gloriosa Transição. Por Adolfo Bezerra de Menezes. Mensagem psicofônica transmitida em 18 de abril de 2010. In: III Congresso Espírita Brasileiro e Centenário de Nascimento de Chico Xavier. Memórias do Congresso. Coordenação João Pinto Rabelo; organizado por Marta Antunes Moura e Geraldo Campetti. Rio de Janeiro: FEB, 2010. 2ª parte (Mensagens Mediúnicas recebidas durante o Congresso), item 4.1, p.381-382.


Abrir