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EPM — Estudo e Prática da Mediunidade

PROGRAMA II — MÓDULO DE ESTUDO Nº V
FUNDAMENTAÇÃO ESPÍRITA — ATENDIMENTO AOS ESPÍRITOS COMUNICANTES

Roteiro 3


Esclarecimentos aos Espíritos que sofrem (1)


Objetivo específico: Esclarecer a respeito do atendimento espírita aos Espíritos que sofrem e se comunicam na reunião mediúnica.



SUBSÍDIOS

Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu irmão. João (1 João, 4.20, 21)


A manifestação mediúnica dos Espíritos que sofrem e o atendimento que se lhes presta representa a principal atividade das reuniões mediúnicas. O estado de sofrimento é a característica predominante nas suas comunicações, daí ser necessário oferecer-lhes condições harmônicas de auxílio, por meio do apoio evangélico-doutrinário.


E […] porque se detiveram. deliberadamente na ignorância ou na crueldade, não encontram agora senão as próprias recordações para viver e conviver. Encerravam-se na avareza e prosseguem na clausura da sovinice. Abandonavam-se à viciação e transformam-se em vampiros, à procura de quem lhes aceite as sugestões infelizes. Abraçavam a delinquência e sofrem o látego do remorso, nos recessos da própria alma. Confiavam-se à preguiça e carreiam a dor do arrependimento. Zombavam das horas e não sabem o que fazer para que as horas não zombem deles. São tantas as aflições que descobrem nas paisagens atormentadas da mente iludida, que são eles — homens e mulheres que escarneceram da vida — os verdadeiros autores de todas as concepções de inferno, além da morte, que hão aparecido no mundo, desde a aurora da razão no campo da Humanidade. (14)


É importante que o dialogador tenha segurança doutrinária para melhor atendê-los. Ponderando a respeito, Emmanuel aconselha:


Podes, assim, vê-los e ouvi-los, nos círculos medianímicos, registrando-lhes as narrativas inquietantes e as palavras amargosas; no entanto, ajuda-os com respeito e carinho, como quem socorre amigos extraviados. Não te gabes, porém, de doutriná-los e corrigi-los, porque a Divina Bondade nos permite atendê-los, buscando, com isto, corrigir-nos e doutrinar-nos na Terra e além da Terra, a fim de que saibamos evitar todo erro, enquanto desfrutamos o favor do bom tempo. (15)


Presenciamos nas reuniões mediúnicas manifestação de Espíritos que ignoram totalmente sua nova situação, após a morte do corpo físico. Nem sempre se revelam como criaturas más. Várias demonstram certo nível de bondade e de sensibilidade. Outras se apresentam aturdidas e confusas, prisioneiras que se encontram de conceitos equivocados e distorcidos a respeito da vida após a morte, o que lhes impede de ver as coisas com mais nitidez. Noutras ocasiões, manifestam-se Espíritos que demonstram conhecimento intelectual elevado, mas que não conseguem se libertar de teorias e ideias materialistas que defendiam quando encarnados. A maioria dos comunicantes ignora a ausência do veículo físico e nem se veem como Espírito liberto das amarras materiais.

Dialogar com tais Espíritos requer preparo. A boa vontade não é suficiente. O conhecimento da Doutrina Espírita e o apoio moral do Evangelho são fatores preponderantes. Considerando, assim, a relevância, a seriedade e a importância do diálogo com esses Espíritos, relacionamos, em seguida, alguns pontos considerados importantes na realização da tarefa.


1. O ESTADO DE PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL


Na transição da vida corporal para a espiritual, durante a desencarnação, produz-se um fenômeno denominado perturbação espiritual.


Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações. É como se disséssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro. Dizemos quase nunca, porque há casos em que a alma pode contemplar conscientemente o desprendimento […]. A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. À proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação comparável à de um homem que desperta de profundo sono; as ideias são confusas, vagas, incertas; a vista apenas distingue como que através de um nevoeiro, mas pouco a pouco se aclara, desperta-se-lhe a memória e o conhecimento de si mesma. Bem diverso é, contudo, esse despertar; calmo, para uns, acorda-lhes sensações deliciosas; tétrico, aterrador e ansioso, para outros, é qual horrendo pesadelo. (1)


Nas mortes violentas, por acidentes, homicídios ou suicídios, o estado de perturbação é mais intenso e pode se arrastar por muito tempo, de acordo com a evolução espiritual do desencarnante. Neste tipo de desencarnação, corta-se abruptamente a vida orgânica que «[…] em plena exuberância de força é subitamente aniquilada. Nestas condições, o desprendimento só começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente. O Espírito, colhido de improviso, fica como que aturdido e sente, e pensa, e acredita-se vivo [encarnado], prolongando-se esta ilusão até que compreenda o seu estado.» (2)

O estado de perturbação espiritual é maior nos Espíritos que se revelam presos à vida material, nos que não possuem moralidade elevada e naqueles que desconhecem a realidade do além-túmulo. O Espírito não percebe, então, que morreu, confunde o seu perispírito como o corpo físico que possuía e experimenta todas as sensações da vida orgânica. (3)


Há […] uma série infinita de modalidades que variam segundo os conhecimentos e progressos morais do Espírito. Para aqueles cuja alma está purificada, a situação pouco dura, porque já possuem em si como que um desprendimento antecipado, cujo termo a morte mais súbita não faz senão apressar. Outros há, para os quais a situação se prolonga por anos inteiros. É uma situação essa muito frequente até nos casos de morte comum, que nada tendo de penosa para Espíritos adiantados, se torna horrível para os atrasados. No suicida, principalmente, excede a toda expectativa. Preso ao corpo por toda as suas fibras, o perispírito faz repercutir na alma todas as sensações daquele, com sofrimentos cruciantes. (3)


 A situação do Espírito por ocasião da morte pode ser assim resumida: «Tanto maior é o sofrimento, quanto mais lento for o desprendimento do perispírito; a presteza deste desprendimento está na razão direta do adiantamento moral do Espírito; para o Espírito desmaterializado [mais evoluído], de consciência pura, a morte é qual um sono breve, isento de agonia, e cujo despertar é suavíssimo.» (4)

O doutrinador deverá demonstrar muita paciência no atendimento a esses Espíritos, procurando acalmá-los com bondade. O esclarecimento deve ser dosado porque, conforme o grau de perturbação revelado, talvez nem seja possível uma conversa direta. A prece e o passe são recursos que lhes são disponibilizados, acrescidos da informação de que se encontram num hospital, em uma casa de oração, entre amigos etc.


2. O APEGO MATERIAL DEMONSTRADO POR ESPÍRITOS COMUNICANTES


O apego a pessoas, bens, cargos ou posições que alguns Espíritos necessitados demonstram traduz-se em grande sofrimento, manifestado em suas comunicações mediúnicas. «A passagem da vida terrestre à espiritual oferece, é certo, um período de confusão, de perturbação para a maioria dos que desencarnam. Alguns há, no entanto, que, desprendidos dos bens terrenos ainda em vida, realizam essa transição tão facilmente como uma pomba que se eleva no ar.» (6)

Desconhecendo o seu estado de desencarnação, tais Espíritos agem, no Plano espiritual, como se estivessem encarnados. «Uma das condições de sua cegueira moral é aprisionar mais violentamente nos laços da materialidade e, conseguintemente, de os impedi que se afastem das regiões terrestres ou similares à Terra.» (7)

A pessoa materialista estabelece fortes laços com a matéria, mesmo que não se dê conta disso. «Quanto mais o homem viveu materialmente, quanto mais seus pensamentos foram absorvidos nos prazeres e nas preocupações da personalidade, tanto mais tenazes são aqueles laços.» (5)

Entre os Espíritos comunicantes que revelam possuir apego às sensações da matéria, destacamos alguns tipos mais comuns:


2.1 — Os que viveram na carne convictos de que nada existia além do mundo físico


«A despeito da descrença em qualquer tipo de realidade póstuma, não foram intrinsecamente maus, apenas desencantados, indiferentes, desarvorados intimamente, embora, na aparência, [sejam] seguros e tranquilos. São mais acessíveis, e mais prontamente aceitam a nova realidade.» (8) Outros materialistas, no entanto, «[…] entregaram-se de corpo e alma ao culto desenfreado da matéria. […] Disputam fortunas a ferro e fogo, intrigando, matando, se preciso fosse, promovendo negociatas, roubando, falsificando, ao mesmo tempo em que se deixaram arrastar pelo sensualismo pesado, que avilta todos os sentidos e anestesia cada vez mais as faculdades e a sensibilidade.» (9)


2.2 — Espíritos que não aceitam a desencarnação


Perplexos diante da nova realidade manifestam através da psicofonia toda a sua confusão mental. Não aceitam que estão mortos.


[…] Lembram-se das doenças que tiveram, mas se recusam admitir que “morreram”, porque isto implicaria reconhecer que o materialismo que professavam é inteiramente falso. […] É preciso conduzi-los com tato e paciência. A súbita e inoportuna revelação da nova condição em que se encontram, poderá colocá-los em lamentável estado de choque emocional. Temos de compreender é difícil àquele que não acredita na sobrevivência admitir que, a despeito da descrença em si mesmo, ele sobreviveu.» (10)


O Espírito André Luiz também recomenda cautela quanto à revelação da morte: «[…] não fale da morte ao Espírito que a desconhece, clareando-lhe a estrada com paciência, para que ele descubra a realidade por si mesmo.» (13)


3. ESPÍRITOS PRESOS A IDEOPLASTIAS


O atendimento a Espíritos portadores de fixação mental ou ideoplastia, pelo diálogo, não é fácil. O doutrinador deve possuir bom conhecimento doutrinário, intuição aguçada, empatia com o Espírito e sincero desejo em auxiliá-lo. A «[…] ideoplastia é o fenômeno pelo qual o pensamento é plasmado, na atmosfera psíquica, mediante a criação de formas e imagens, de maior ou menor duração, conforme a persistência da onda em que se expressam. […]» (11)

Nesta situação, o Espírito necessitado mantém a mente fixada em algo, projetando ideias e imagens mentais exclusivamente relacionadas ao fato que o perturba. Permanece, em geral, alheio ao que acontece à sua volta, abstraindo da realidade onde se encontra. É comum encontrar em tais Espíritos mutilações ou deformidades perispirituais.

 Para ser efetivamente beneficiado, é necessário que todos os participantes do grupo mediúnico envolvam o comunicante em vibrações salutares. O médium psicofônico, por trazer a mente e o próprio perispírito ligados ao comunicante espiritual, deve emitir sugestões mentais harmônicas contínuas, procurando desarticular os pontos ideoplásticos presentes na mente do necessitado. O doutrinador, por sua vez, emite outros tipos de sugestões, as provenientes do magnetismo da voz e da palavra fraterna. A prece e o passe são recursos de grande valia.

É importante considerar que a ideoplastia, em si, é neutra. Podemos projetar formas-pensamento belíssimas, harmônicas, equilibradas, quando irradiamos a nossa mente nas ações benéficas. Podemos, entretanto, fazer emissões mentais perturbadoras e desequilibradas. Se as emissões ideoplásticas de natureza inferior são continuamente alimentadas, ocorre a ideia fixa perturbadora.

É relativamente comum a manifestação de Espíritos que se mantêm presos a acontecimentos que ocorreram há séculos. Em outros, a ideoplastia reflete um estado de profundo choque emocional: suicídio ou outra morte violenta. De qualquer forma, as ideoplastias estão, a rigor, relacionadas a traumas psicológicos.

Conforme o grau de perturbação demonstrado na primeira manifestação mediúnica, é possível que esses Espíritos retornem mais vezes à reunião. O Espírito é, então, reconhecido pelo grupo, que o recebe com afeto. Os médiuns psicofônicos e videntes aprendem a captar-lhes detalhes ligados às causas de suas fixações mentais, proporcionando, assim, socorro mais efetivo.

O benfeitor Emmanuel nos apresenta a seguinte interpretação da palavras de João, (1Jo) citadas no início deste Roteiro:


Aprendamos para esclarecer. Entesouremos para ajudar. Engrandeçamo-nos para proteger. Eduquemo-nos para servir. Com o ato de fazer e dar alguma coisa, a alma se estende sempre mais além… Guardando a bênção recebida para si somente, o espírito, muitas vezes, apenas se adorna, mas, espalhando a riqueza de que é portador, cresce constantemente. Na prestação de serviço aos semelhantes, incorpora-se, naturalmente, ao coro das alegrias que provoca. No ensinamento ao aprendiz, liga-se aos benefícios da lição. […] Na distribuição de pensamentos sadios e elevados, converte-se em fonte viva de graça e contentamento para todos. No concurso espontâneo, dentro do ministério do bem, une-se à prosperidade comum. Dá, pois, de ti mesmo, de tuas forças e recursos, agindo sem cessar, na instituição de valores novos, auxiliando os outros, a benefício de ti mesmo. […] Aproveita a gloriosa oportunidade de expansão que a Esfera física te confere e ajuda a quem passa, sem cogitar de pagamento de qualquer natureza. Se buscas o Pai, ajuda ao teu irmão, amparando-vos reciprocamente, porque, segundo a palavra iluminada do evangelista, “se alguém diz: eu amo a Deus, e aborrece o semelhante, é mentiroso, pois quem não ama o companheiro com quem convive, como pode amar a Deus, a quem ainda não conhece?” (12)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução de Manuel Justiniano Quintão. 60. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda Parte. Capítulo 1 (O passamento), Item 6, p. 181-182.

2. Idem, ibidem - Item. 12, p. 184.

3. Idem, ibidem - p. 185.

4. Idem, ibidem - Item 13, p. 185.

5. Idem - Revista espírita. Jornal de estudos psicológicos. 1858. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Ano primeiro, mês de maio, nº 5. Item: Teoria das manifestações físicas (primeiro artigo), p. 195.

6. Idem - Revista espírita 1863. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Ano sexto, mês de maio, nº 5. Item: Questões e problemas — Espíritos incrédulos e materialistas, p. 222.

7. Idem, ibidem - p. 224.

8. MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as sombras. 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 2 (Os desencarnados), item: O materialista, p. 139.

9. Idem, ibidem - p. 139-140.

10. Idem, ibidem - p. 140.

11. NÁUFEL, José. Do abc ao infinito. Fenomenologia da mediunidade. Vol. 3. 2. ed. (Primeira edição da FEB), Rio de Janeiro: FEB, 1999. Capítulo 10 (Ideoplastia), p. 143.

12. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 34. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 71 (Aproveita), p. 187-188.

13. Idem - Instruções psicofônicas. Por diversos Espíritos. Organização de Arnaldo Rocha. 9. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006. Capítulo 48 (Sessões mediúnicas - mensagem do Espírito André Luiz), item 6.º, p. 210.

14. Idem - Seara dos médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Item: Espíritos perturbados, p. 159-160.

15. Idem, ibidem - p. 160.


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