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Livro de Jonas


TEMAS CORRELATOS: Antigo Testamento. | Jonas.




No original hebreu o livro de Jonas é o quinto na ordem dos livros proféticos menores. Na Septuaginta é o sexto; não, todavia, em todas as edições. Pode ser dividido em três seções.  † 


I. Desobediência de Jonas (1). Foi-lhe ordenado ir a Nínive e pregar contra ela. Mas ele desejou a destruição da cidade, provavelmente porque sua punição humilharia um inimigo de Israel; e temeu que sua mensagem levasse o povo ao arrependimento e assim fosse salvo da destruição de sua nação. Assim tomou um navio em Jope com o fim de fugir para Társis. Uma grande tempestade surgiu. O navio estava em perigo. Então os marinheiros lançaram sortes para determinar a causa pela qual a tempestade havia caído sobre eles. A sorte caiu sobre Jonas. Ele disse a eles ser um adorador de Deus do céu que fez o mar e a terra firme; e também que, se o lançassem ao mar, o mar ficaria calmo. Com relutância obedeceram. O mar tornou-se tranquilo; e o profeta, que tinha desaparecido nas profundezas, foi engolido por um grande peixe que o Senhor havia preparado.


II. A oração de Jonas (2). Surpreso por achar-se vivo no meio do mar, o profeta deu graças a Deus por havê-lo livrado da morte e, agradecido expressou a esperança de sua libertação. Finalmente o peixe vomitou-o sobre a terra seca.


III. A mensagem de Jonas e seus resultados (3 e 4). Encarregado pela segunda vez de ir a Nínive, ele obedeceu e deu sua mensagem. Os ninivitas arrependeram-se publicamente e Deus poupou a cidade. Com isto Jonas ficou descontente; não que sua profecia tinha sido anulada pelo arrependimento do povo, porque ele e seus ouvintes esperavam que assim seria (3.9; 4.2), mas porque provavelmente sentiu que o destino de seu próprio país havia sido selado. Mas pelo definhamento de uma hera o Senhor lhe ensinou a lição da compaixão divina para com os homens e os animais em geral, independentemente da relação do homem com a igreja. O motivo que levou Jonas a fugir foi provavelmente um patriotismo estreito e equivocado. Temeu que Nínive se arrependesse e que Deus na sua misericórdia salvasse a cidade. Jonas desejava que Nínive perecesse (4.2,4,1); pois era um poderoso inimigo de Israel e, se não fosse destruída, o destino de Israel estaria selado. O propósito do livro é ensinar principalmente que as graças divinas não se limitam aos filhos de Abraão, mas que os gentios podem receber misericórdia ainda que estejam fora do alcance da lei de Israel. Mas além desta grande lição o livro de Jonas tem recursos para as ilustrações da verdade, que por sua natureza podem talvez mesmo ser consideradas como verdades típicas de ensino.


1. Nínive arrependeu-se pela pregação de um profeta; ao passo que Israel não arrependeu-se, embora muitos profetas houvessem sido-lhe enviados (cp. Mt 12.41).  Este fato parece ser um tipo de verdade a ser relacionado a uma visão futura da verdade geral, a de que os gentios aquiescem mais prontamente que Israel às doutrinas de Deus: não aquiescendo mais prontamente à lei moral de fato, mas à revelação divina como um todo, quanto ao exemplo e ao método de salvação como está esboçado em Oseias 14 (Cp. Isaías 2.2-5).


2. Jonas, na qualidade de israelita e de servo de Deus, sendo enviado a pregar aos gentios, é uma evidência da vontade divina de que os povos do Reino de Deus conduzirão os gentios ao arrependimento e a Deus. Jonas não foi o único israelita em quem esta verdade foi exemplificada: Elias foi enviado a uma mulher de Sarepta (1 Rs 17), Eliseu curou Naamã, o sírio (2 Rs 5), Cristo conversou com uma mulher de Samaria sobre as coisas de Deus e curou a filha de uma mulher sirofenícia (Mc 7; Jo 4).


3. Jonas, um israelita e servo de Deus, que foge do dever, é lançado ao mar, mas é salvo a fim de que possa cumprir sua missão. Isto ilustra a doutrina profética de que os filhos de Israel, infiéis à tarefa que lhes foi confiada, seriam expulsos de sua terra natal; mas um resto, principalmente do reino do sul, seria poupado para cumprir a missão de Israel no mundo (Is 42.1-4; 49.1-13; cp. 2.1-4; 2.2-4; 11.10).


4. Jonas, um israelita e servo de Deus é lançado nas profundezas de Sheol, mas trazido vivo à tona, para fora do fosso (Jn 2.2,6), ilustra e provavelmente prediz a morte e a ressurreição do Messias pelos pecados, não seus, um verdadeiro israelita e perfeito servo do Senhor (Mt 12.40).


Insinuou-se que o livro de Jonas em parte alguma reivindica ter sido escrito por esse profeta. Mas o título (1.1) é como o título de Oseias, Joel, Miqueias, Sofonias, Ageu e Zacarias, livros cuja autoria não é disputada.


Insinua-se ainda mais, que o livro foi escrito muito tempo depois da época de Jonas, porque: 1. Na oração atribuída a ele estão algumas citações contidas nos salmos (Jn 2.3 com o salmo 4.7; Jn 2.5 com o salmo 69.2; Jn 2. 9 com o Sl 50.14). Mas os salmos podem também igualmente conter citações de Jonas. 2. A linguagem contém elementos do Aramaico e construções gramaticais que são encontradas nos últimos livros. Mas elas são encontradas nos primeiros livros também. Jonas pertenceu ao reino do norte, e as características linguísticas do livro assemelham-se àquelas das primeiras produções do norte; por exemplo, a canção de Débora, as narrativas de Elias e Eliseu, e as profecias de Oseias. A palavra ta’am, classificada como Aramaico em seu significado, é a palavra assíria para uma ordem real, e assim é usada no livro de Jonas na boca do rei assírio. 3. A falta do nome do rei assírio indica que era desconhecido do autor. Mas a referência é somente ao regente como tal; e o rei de Nínive é declarado assim como o são o rei dos filhos de Amon (Jz 11.12,13), o rei de Moabe (1 Sm 22.3), o rei de Edom (2 Rs 3.12), o rei da Assíria (23.29; 2 Cr 33.11), o rei de Damasco (2 Cr 24.23, embora plenamente conhecidos, cp. 2 Rs 12.17, 18), cujos nomes pessoais não exigiram menção. Ordinariamente os hebreus falavam do rei que governava em Nínive como o rei da Assíria, mas aqui ele é chamado de o rei de Nínive. Então eles falavam de Seom como o rei dos Amoritas (Nm 21.21,29; Dt 1.4; 3.2; 4.4), mas também como o rei de Hesbom (Dt 2.26; Js 2.10; 13.27), onde ele residia; e a Benadade eles chamavam o rei da Síria (1 Rs 20.1), mas também como rei de Damasco (2 Cr 24.23); e Acabe eles intitularam o rei de Israel, mas também o rei de Samaria (1 Rs 21.1). 4. Contra uma data adiantada indica-se a doutrina anterior que aparece no livro. No entanto, antes dos dias de Jonas, Elias e Eliseu haviam sido enviados pelo Deus de Israel em missões ao estrangeiro. E nos dias de Jonas a universalidade do governo moral de Jeová (Gn 6-8; 18.25), e o caráter condicional das suas predições (Ex 32.14; Is 5.1-7; 6.10; 38.1, 5) foram compreendidos por Israel.


A profecia pode ser datada para antes ou logo depois do término do reinado de Jeroboão II (2 Rs 14.25) Cronologicamente talvez pertença à época depois de Amós (Am 1.1) e provavelmente antes do reino vigoroso de Tiglate-Pileser sobre a Assíria, que começou em 745 A. C.


 A narrativa foi considerada diversamente como mito, lenda, parábola ou história. As interpretações principais são: 1. Alegoria ou parábola. Esta concepção da profecia está muito em voga, para evitar o milagre ou, se nenhum milagre for envolvido na fuga de Jonas, a natureza extraordinária do acontecimento. Interpreta Jonas como um tipo de Israel fugindo do dever imposto à nação para dar testemunho de Deus ao mundo. O mar simboliza, frequentemente, as nações enfurecidas; o sono de Jonas representa a indolência de Israel em cumprir sua missão para com os gentios, pelo que é entregue ao cativeiro do mundo, mas contudo é preservado vivo; tendo sido disciplinado, está pronto para empenhar a missão designada, mas é ainda obtuso e necessita ser ensinado sobre a longanimidade da misericórdia de Deus. Em favor deste ponto de vista cita-se Jeremias que fala de Nabucodonosor sob a figura de um dragão engolindo Israel, mas compelido a vomitar sua presa (Jr 51.34), e Oseias que representa o exílio de Israel com duração de três dias (Os 6.2). Se, entretanto, houver absolutamente qualquer empréstimo, tanto Jeremias é possível ter emprestado de Jonas como vice-versa. Oseias foi um profeta contemporâneo de Jonas no reino do norte, e poderia extrair uma lição da experiência de Jonas, se há qualquer interdependência de Os 6.2 e Jn 1.16. 2. História. O elemento milagroso é ampliado ou reduzido de acordo com o julgamento e o conhecimento individual. A concepção da narrativa como histórica tem estes argumentos:  (1) A forma do livro é histórica e deixa esta impressão em seus leitores. (2) Jonas é sem dúvida um personagem histórico. (3) Quando se concebe que as palavras do Cristo a respeito de Jonas na barriga do peixe e em Nínive não implicam sua opinião nos acontecimentos, é altamente provável que assim fosse, especialmente pelo fato de Jonas ser uma pessoa real (Mt 12.39; Lc 11.29,30). (4) A narrativa foi considerada pelos judeus como histórica (Antig. 9.10, 2). (5) O arrependimento dos ninivitas é crível, porque eles eram dados à superstição; a aflição nacional e o estado lastimável do império dispunha-os a escutar os avisos dos deuses; a chegada de um profeta estranho de um país estrangeiro, cuja história peculiar eles podem ter ouvido, pressupõe tê-los afetado; o Espírito de Deus obra quando e onde ele está. É argumentado, de fato, contra o caráter histórico do livro isso: (a) Que a conversão permanente dos ninivitas não aconteceu. Certamente que não, e em nenhuma parte foi afirmado que aconteceu. A declaração tão somente afirma que os homens dessa geração arrependeram-se sob a instigação de seu rei. Então os homens de Judá no reinado de Ezequias e de Josias santificaram-se sob a liderança desses reis. (b) Contra o caráter histórico do livro é argumentado também o tamanho atribuído a Nínive (3.3; 4.1). (c) Também o rápido crescimento da hera ou ricinus foi considerado com suspeita (4.10). Mas este crescimento foi miraculoso ou extraordinário? O versículo 10 é traduzido pelo Targum, “que nasceu numa noite, e numa noite feneceu”. Provavelmente as palavras descrevem tão somente o caráter efêmero da planta. Pela própria narrativa dos versículos 6-8, não se conclui que o crescimento foi sobrenaturalmente rápido (cp. Sl 90.6; Mt 6.30). (d) Argumenta-se ainda mais que o livro foi considerado como uma narrativa histórica quando o cânon hebreu foi organizado, ou seria colocado entre os históricos, e não entre os livros proféticos. Mas os acontecimentos registrados são tipicamente proféticos, como os narrados em Zc 6.9-15. E, ainda mais, o cânon hebreu não faz a distinção entre livros históricos e proféticos. Os escritos em prosa dos profetas oficiais são agrupados por si. Exceto Rute, os livros de Josué até o 2º livro dos Reis, inclusive, são classificados como proféticos. Esta coleção forma uma história contínua, e é imediatamente seguida por um segundo grupo denominado profético, contendo todos os livros restantes que trazem o nome de um profeta oficial. Jonas pertence corretamente a eles, e aqui o livro foi colocado. Veja CÂNON. — (Dicionário da Bíblia de John D. Davis©


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