O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Somos seis — Familiares diversos


QUARTA PARTE


Jair Presente

Nascimento: Campinas, 10 de novembro de 1949 — Desencarnação: Americana, 03 de fevereiro de 1974. Pais: José Presente e Josefina Basso Presente. Irmã: Sueli Presente.


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A PRESENÇA DO JAIR


Estávamos no fim de tarde de uma segunda-feira de Carnaval. O crepúsculo surgia e o sol, imensa bola de fogo, debruçava-se sobre a linha do horizonte, pintando as nuvens brancas com suas radiações rubras.

Nossa visita ao Parque dos Flamboyants se encerrava; cemitério moderno, assentado sobre colinas gramadas, com alamedas de Flamboyants amarelos, cortando a relva verde, o Parque não apresenta qualquer diferenciação entre os jazigos, sendo estes representados externamente por uma pequena placa de bronze com a identificação dos mortos.

É a necrópole, em essência, um bem cultivado jardim, onde as flores depositadas pelos amigos e parentes dos mortos em pequenos copos que ladeiam a lápide de bronze, compõem com a grama cuidada e com os Flamboyants floridos a própria imagem da paz que todos imaginamos para o repouso derradeiro de nossos corpos.

A sepultura n.º 841 traz o nome de Irineu Leite da Silva, citado na mensagem de 19 de julho de 1975, de Jair Presente, psicografada pelo Chico. Na mensagem o Jair diz que Irineu “vestiu o paletó de madeira a 7 de junho”, pouco mais de 40 dias antes da página psicografada a que nos referimos.

A citação que Jair faz do Irineu deu muito o que pensar. Sem considerarmos que a família do Jair jamais ouvira falar de Irineu ou de seus pais, e muito menos Chico Xavier tinha qualquer informação a respeito desse jovem campineiro, absolutamente desconhecido de todos, há que se destacar o episódio que vamos relatar e que confirma mais uma vez, a exuberância da revelação mediúnica.

Como o leitor amigo poderá observar na mensagem, intitulada As Dicas do Fantasma-Sorriso, Jair conta que estava presente no Parque Flamboyant, colaborando no socorro dos recém-desencarnados, quando o Irineu foi sepultado. Diz mais, que o Irineu estava em Espírito, como ele, junto do Chico e pedia aos pais Sérgio e Rita que se consolassem. Muito bem, após o recebimento da mensagem, a irmã de Jair Presente, Sueli, procurou localizar a família do jovem Irineu, já que nenhum dos presentes à reunião de Uberaba o conhecia.

Voltando a Campinas, telefonou ao Administrador do Parque Flamboyant, Renato Manjaterra, pedindo-lhe que verificasse se no dia 7 de junho ou no dia seguinte havia o registro do sepultamento de Irineu Leite da Silva. Consultando os apontamentos, o Sr. Renato disse que não havia nada a respeito de Irineu.

Como, pensou Sueli, Jair teria se enganado? Será que o Irineu não existia? Para dirimir dúvidas começou a investigar pelos jornais da época e eis que o Correio Popular, em sua edição de 8 de junho de 1975, notifica o falecimento de Irineu Leite da Silva, citando o nome de seus pais, Sérgio e Rita e falando do sepultamento no Parque Flamboyant.

De posse do recorte do jornal, que reproduzimos adiante, Sueli procurou o administrador do cemitério e mostrou-lhe a notícia. Surpreso, Sr. Renato voltou aos apontamentos e pôde constatar que nada encontrara a respeito de Irineu, porque o seu primeiro nome havia sido escrito errado. No diário de sepultamento constava a 8 de junho o nome de Pirineu Leite da Silva e não Irineu. Engano perfeitamente compreensível, pois no diário, segundo nos explicou o Sr. Manjaterra, os nomes são anotados inicialmente por informação telefônica, para posteriormente, de posse da certidão de óbito, transcrever-se no Livro de Registro todos os dados referentes ao sepultamento.

Aparentemente incompreensível, se não o entendermos à luz do conhecimento espírita, é o fato de Jair ter falado no nome correto de Irineu, quando no próprio cemitério seu nome estava escrito errado. A seguir reproduziremos cópias de documentos que exemplificam o exposto. Assim, o leitor poderá analisar a publicação do Correio Popular, de 8 de junho do ano passado, que serviu de ponto de referência, para Sueli desvendar o equívoco, criado com a informação do administrador do Parque Flamboyant. Adiante reproduzimos também a página do livro de anotações diárias do cemitério, com o nome Irineu rasurado, podendo-se observar claramente a correção feita a posteriore.

Para complementação do estudo do “caso Irineu” apresentamos ainda a página do Livro de Registro Geral de sepultamentos, com o nome correto, baseado na certidão de óbito, e um fac-símile da certidão de óbito, para que se confrontem os dados referidos pelo Jair na mensagem, ou seja, o nome completo do Irineu, o nome dos seus pais, o dia do óbito e o local do sepultamento. [v. fac-símiles às pág. 154 e 155 do livro impresso]

Como diz um de seus amigos, esse Jair não tem jeito, mesmo!!!


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AS DICAS DO FANTASMA-SORRISO


1 Minha querida madre, pater meu e minha sorela Sueli, somos presentes dando presença. E não quero começar papeando sem dar a Deus, nosso Criador e Pai, o respeito nosso.

2 O que há na paróquia é que vocês estão querendo aquelas conversadas de espírito de família. E acontece que na cuca do meu grupo a lembrança me bate forte. Não posso dar a silenciada; é preciso falar, porque os nossos daqui me permitem aquela boa gíria dos amizades fiéis.

3 Às vezes, penso que é preciso acabar com essas dicas de fantasma-sorriso; mas, e a vida que é nossa? e como deixar de ser nós mesmos dentro da vida? Nesse sentido, minhas palas hoje são melhores, estou incrementado nos estudos para retirar todos os meus grilos xexelentos. Quero carregar outra moringa nos ombros. E o negócio é esse aí: se não trabalhar, não entendo; se não entendo, não vale estudar.

4 Quando vim prá cá, percebi, de repente, que não passava de sabereta, embrulhando muitas lições aprendidas aí em bobagens que não tinham tamanho. Agora, vou tirando letra em muita cousa que necessito guardar em mim para ser melhor.

5 Muita gente bem de nossas turminhas deram para pensar que sou Espírito vagau perdido na marginalia. Pobres meninos patetas que éramos; querendo inventar uma língua nova, complicamos os comunicados nas melhores comunicações.

6 Entretanto, para Deus o sentimento é que tem valor, o coração é que fala. Posso latinizar as notícias da maneira mais sofistique, mas, se não der de mim aquela sinceridade, tou na lona da paranoia e isso eu não quero mais. Esse negócio de dar fio nas patotas que mandam fumo ou avançam no lesco-lesco dos comeretes a se arrancarem para umas e outras é perigo na certa. Quero pensamento joia para falar mesmo, sem alinhavar as palavras fora da costura da boa gíria.

7 Mandem-se para cá e vocês vão ver como é duro varar o arco e virar a bola de pé prá frente no quadrado das notícias. Assim sendo, vocês todos podem perdoar os cabeludos que vieram prá cá sem preparação, bancando caretas nas lições de Cristo. Perdão sim, porque seria difícil prá mim, falar francês, no português brasileiro, exibindo qualidades que não tenho.

8 De uma cousa, porém, vocês fiquem sabidos: é que já sei que trabalhar para os outros é o caminho melhor. Digo isso, embora esteja parado como nos tempos da Geografia, explicando pro professor como se vai à Guiana Inglesa sem nunca ter ido lá, nem prá inglês ver.

9 Já sei; isso é progresso. Disposição mesmo prá fazer o que sei, penso que só amanhã. Apesar de tudo, Sueli, digo a você: mediunidade é servir para sermos servidos. Todos precisamos de alguma cousa. Estender as mãos para o auxílio a quem sofre é o mesmo que receber outras mãos que chegam do Alto prá carregar-nos sobre as lutas de cada dia.

10 Para mim, caridade é o melhor negócio da vida. A pessoa ajuda e recebe muito mais do que dá. Geralmente, querida irmã, somos alguém a servir, mas a pessoa servida representa em si um grupinho grande. E o grupinho se inclina prá nosso lado e dá uma melhorada geral em nossos caminhos. 11 Aqui vejo muita gente fora da Terra aprendendo isso! entregando benefícios e recebendo benefícios maiores. Não estou ensinando você a paparicar Deus com papos furados ou com caldos melosos de conversa amolecida na adulação. Estou fazendo as palas do ato, porque o assunto mais importante é agir mesmo.

12 Aqui está conosco o Joãozinho Alves e pede aos pais aquela confiança em Deus que não desanima; ele está melhor e mais forte. 13 E outro amigo aqui ao lado de seu adoidado irmão é o amigo Irineu Leite da Silva, um moço do fino que vestiu o paletó de madeira em sete de junho passado. Estava eu entre aqueles que trabalhavam no Parque dos Flamboyant quando ele foi considerado pessoa de sono eterno. Mas acordou junto de nós e está bem; pede para que os pais Sérgio e Rita se consolem.

14 Afinal de contas essas paqueradas da morte acontecem com qualquer um. E os caras do mundo precisam contar com isso. Não queremos que ninguém morra. Queremos que todos os nossos irmãos do mundo, transitem por todos os consultórios de plástica, tirando sarro nas rugas que chegam com as janeiradas, de natalício a natalício. Desejamos que todos cheguem aqui mambeando de velhice, sem coragem de olhar pros retratos solenes de vinte ou quarenta anos de retaguarda; 15 mas esse debi da morte é um estripitisi de amargar. Dizemos amargar porque só colocamos giló nesse assunto, com tanto choro de lado que os panos do último dia é que são mesmo de amedrontar qualquer um. Pensemos na morte com fé em Deus. Afinal de contas, aí no mundo quem dorme está sempre treinando para ressuscitar.

16 Meu pai, abrace Sérgio, Wilson e todos os meus sócios de pensadas e notas. Não creio que a rapaziada esteja acreditando muito no que digo. De vez em vez, escuto algum deles a dizer — “Mas esse Jair não tem jeito, não”. Mas isso é bobagem da grossa. Quem tem mesmo jeito para melhorar e consertar é só aquele Cristo, amoroso e bom de todos os dias. Mas, isso é isso.

17 Se fosse eu o vivo da história, talvez não acreditasse no amigo morto e ficaria ainda mais vivo, se ouvisse mensagens dos que houvessem caído em algum barato do pró-terra-de-pedra e cipreste, antes de mim.

18 Sueli, aos corações do Grameiro, o meu “muito obrigado”; aos companheiros do Grupo de Meimei, aquela saudação embandeirada de preces pela felicidade de todos.

19 Agora é parar. Terei falado o que não soube dizer. Estava com saudade de dar uma falada com vocês e dei papo. Deus me perdoe, é o que peço. Entretanto, vamos deixar seriedades prá lá e vamos dar aquele abraço da finalizada.

20 Pai, mamãe, Sueli, estou feliz vendo vocês unidos. Tchau prá vocês. Tudo de bom. Noite calma e tempo de bênçãos. Ponho aqui a saudade prá quebrar. Um beijão do filhote adoidado e do irmão agradecido, mas que lhes oferece nestas páginas o maior amor da paróquia.


Jair

19 de julho de 1975


IRINEU OU PIRINEU?


Quatro meses após sua última mensagem, publicada em JOVENS NO ALÉM, Jair Presente volta com sua comunicação fácil. É o rapaz alegre, simples que conversa conosco, através da escrita mediúnica.

Assim é que suas páginas são invariavelmente carregadas na pontuação repetitiva, servindo os pontos e as vírgulas, mais numerosos que no habitual dos textos, como elementos ativos de caracterização de um bate-papo completamente informal. Ao lermos as palavras de Jair, temos a impressão de estar ouvindo-o, em conversa gostosa e descontraída.

Também o tempo maior de experiência e adaptação no Plano Espiritual, e na utilização da psicografia, como meio de intercâmbio conosco aqui da Terra, tornaram o Jair mais arguto em suas observações, de tal forma que o leitor encontra na leitura da mensagem muitos conceitos de rara oportunidade.

Na análise desses conceitos, não nos vamos deter, posto que a exposição de Jair está muito clara e objetiva. Vamos, sim, estudar os elementos de identificação da mensagem, evidenciando mais uma vez a mediunidade de Chico Xavier brilhando na clareza meridiana dos fatos.

Quando diz que “aqui está conosco o Joãozinho Alves”, Jair se refere ao jovem falecido em acidente rodoviário na Estrada Campinas — Paulínia. n

Irineu Leite da Silva que Jair diz ter socorrido no Parque Flamboyant, já foi identificado anteriormente, com seus pais, Sérgio e Rita. O quiprocó havido com Irineu no cemitério foi, cremos, uma lição autêntica da Espiritualidade para nós, pois tivemos uma série de comprovações irrefutáveis.

Assim, a citação do nome de Irineu Leite da Silva e de seus pais, embora não houvesse um conhecido sequer da família em Uberaba, durante a reunião em que Chico recebeu a mensagem; a referência do dia do óbito — 7 de junho — sem que nem ao menos o administrador do cemitério o tenha identificado, quando procurado inicialmente pela irmã do Jair, para tentar obter dados a respeito do Irineu; a menção correta do cemitério em que Irineu foi sepultado, quando há três cemitérios em Campinas, são realidades que nos dão o que pensar.

Mas não ficam aí as travessuras mediúnicas do Jair. Quando diz: “Mas esse Jair não tem jeito, não”, referindo-se às observações jocosas dos amigos, a família Presente confirma que um de seus amigos disse textualmente isso, numa ocasião em que comentavam suas páginas psicográficas, em reunião familiar.

Sem dúvida, o Espírito de Jair estava presente a essa reunião.

Ao fim da mensagem, o jovem fala em Grameiro e no Grupo Meimei. Trata-se respectivamente do Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, conhecido como Casa da Sopa do Grameiro, nome do bairro onde se localiza a instituição e da Casa da Criança Meimei, entidade beneficente, também de Campinas.

Joia, genial mesmo, são as despedidas de Jair: “Um beijão do filhote adoidado e do irmão agradecido, mas que lhes oferece nestas páginas o maior amor da paróquia.”


3


PAPO INFORMAL


1 Queridos pais, Sueli, campineiros em família, pensemos em Deus.

2 Estamos aqui. Não quero dizer que estou deixando cair a minha milonga. Reconheço o rapaz pobre ou o pobre rapaz que ainda sou. Mas sou trazido a papear.

3 Não sei. Linguagem de moço careta desejando mostrar cara e coragem. Creio só isto que tenho. A patota manda. E manda que eu vire a bola do agradecimento; temos aqui nossas madres, nossas melhores amigas e temos o nosso editor.

4 Obrigado pelo rancho todo. Nosso grupinho está feliz. Um livro de cartas e São Bernardo tirando letras no caprichado.  n Amparo igual a esse, muito difícil. A companheirada está lendo grande parte.

5 E muitos amigos balançam; será? não será? A perguntação vai caindo nas cucas e os grilos vão desaparecendo. Creio foi o Augusto quem falou em desengrilar. Pois a desengrilada é um sucesso, uma parada legal. E a conversada principia no silêncio. Os mestres diriam “diálogo” nós preferimos papo informal. O cara lê e a retomada de ideias vai começando. Uma luta boa esta.

6 Trocar palavras com livro já pronto.  n Esta é mesmo de livro. Gente, vocês não calculam a satisfação. Rapazes realizados no outro mundo, através de mensagens mais ou menos birutadas. É um plá sensacional. E agradecemos. É isso aí. Levar o couro para as redes. Formar times novos. Partidas de paz e amor em que as nossas pensadas consigam dar um chega-prá-lá nas ideias negativas. Um mundo novo está nascendo. Acredito que muita oportunidade de trabalhar vai aparecer, prá todos, prá nós todos.  n

7 Estamos por aí cansados de barulho e massacre. Temos sede de Deus. Admitimos isso aqui.

8 Não é o caso de se tentar a novidade com erva no crâneo, por dentro da moringa esquentada de tantas saberenças.

9 O negócio é não dar aquelas de alucinados e olhar serenamente nos problemas. Nada de sermos reclamões. Aceitar as dificuldades e procurar examinadas de perto.

10 Se pudesse dizer quanto estamos incrementados com o fato de dar papos mediúnicos, falaria de quanto nos achamos todos ouriçados para estudar e mostrar uma trabalhada geral.  n Mas a gente vai pouco a pouco, no degrau por degrau, no passo. Assim é que é; sem isso, ficaria a gente no deixa estar como está, para ver como fica.

11 Repito nossa gratidão ao amigo Rolando e associados.  n A diretoria do nosso basquete brilhou. Não entendo muito de orações por enquanto, mas já sei falar qualquer cousa em Deus. E peço a Deus nos faça jambrar nesse campo de luz. Realizar a realizada, fazer o que deve ser feito.

12 Sueli, muito obrigado prá você. Você tem mostrado como podemos fazer força. Você está outra. A fé mudou seu rosto e fez plástica em meu pai e em minha mãe.

13 Você, irmã, está irradiando fé no sorriso. Parabéns! Isso é joia. Procuremos estar no trabalho, enquanto o repouso não for necessário como remédio. Uma colher de chá de cadeira para um bule quilométrico de serviço. Este é o papo firme.

14 Agradeço a sua coragem no cemitério. Até hoje conhecia os pró-terra-dos-novos-vivos, por lugares de paúra. E você aclarou o nosso prezado Manjaterra.  n Bom amigo arrepiado e correto que nos ajudou. Você fez bem, formulando pesquisadas; Irineu e Pirineu e outros cupinchas são amigos queridos. E vamos prá frente. Acender luz nos pensamentos sem espanador para as teias de aranha do nosso mundão.

15 Peço à nossa madre Galgani  n abraçar o nosso caro Sérgio. Do Jair primo,  n posso dizer que está bem, ainda de leito. Chegou até nós desbaratinado, mas as melhoradas estão chegando. É isso, irmã. Cada qual chega por aqui de um jeito ou de outro.

16 Nossa irmã Elizabeth e nosso, companheiro  n choram os filhos. Pensem no tempo em que eles não existiam aí prá nós. Isso dá consolo, conformadas gerais. Marcelo e o irmão  n foram trazidos para cá com a finalidade de melhora. Quem sabe o amanhã? Poderão voltar e voltar em casa mesmo. Prá isso, é preciso paz e alegria. O choro é bom quando agradece. Só prá esse fim, porque nos outros cantos do assunto é um tal de queimar por dentro e por fora da criatura que o carvão de tanto incêndio não está no gibi da vida.

17 Aqui nos ensinam que a noite pode ser uma roupa de sombra para a Terra, mas o Sol não concorda com isso e toda manhã veste a Terra de luz em nome de Deus.

18 Façamos força. A luta pro bem é a luta de que ninguém deve dar as de vila diogo. Permanecer firmes e deixar cair o granizo da prova. Deus quer o bem e a Lei de Deus é sempre o bem. Nossa irmã Regina  n — Maria Regina, apelou prá nós. Peçam àquela menina coragem. O pai não morreu; foi transformado, mas estará no eito de enxada nas mãos. Não esquecerá mulher e filha. Estará no batente, protegendo e trabalhando.

19 Os amigos, dois deles, da cidade do prestimoso Coronel Norris,  n estão conosco neste momento. Luiz pede calma  n e esperança à nossa irmã Jocelyna e está acompanhado pelo irmão Medon  n que dispensa ao rapaz todo o carinho. 20 E o Amaury diz aos pais  n que tem estado no ponto, dando presença. Ainda não acertou os meios de falar por aqui, mas prossegue com aquela dedicação junto dos pais amigos que endereçam a ele aquela ternura. Diz que tem dado as colaboradas possíveis pela irmã — não sei se ouço bem, no entanto, imagino estar ouvindo as palavras “de Catanduva”.  n

21 Tantos companheiros presentes, mas é o fim do papo de hoje. Amanhã será um dia consagrado a quem não existe: “os mortos”. Deixarei o cuntrunco para dar aquela de Viajante nas pedras. Não sei se ofendo os bons costumes; no entanto, as palavras “descanso eterno” nos cemitérios são a maior piada da paróquia.

22 Procurem doar o que puderem pros vivos de nosso mundo. O que puderem: flores, velas, preces ou até mesmo “lágrimas”. Façam o que quiserem, mas auxiliem a alguém naqueles nomes de que se recordam. Um pão para quem está de panela vaga, uma peça de roupa usada para quem já não aguenta alfinete e remendo. Oi, gente, caridade pros vivos de cá, porque ocês todos tão na onda e a praia pode estar perto. Digo isso desejando a todos a melhor velhice possível, com aposentadoria no movimento do bem.

23 Meu pai, querida mãe e querida Sueli, agora um beijo.

24 Augusto traz, diz ele, aquele abraço das melhores telefonadas para a mamãe Yolanda e, os companheiros de livro, Tato e Vadeco lembram as famílias.

25 Todos os amigos sempre bacanas do nosso empório de comunicações espalham aqui saudações e saudades, agradecimentos e lembranças.

26 Tchau prá todos. Progresso pro geral aqui na sala. E por aqui estou indo prá frente com aquela esperança de rapaz adoidado, agora repleto de sentimentos diversos: cuca nova e melhor coração com o nosso admirável Jesus.

27 Té logo prá vocês, meus amigos. E digo isso com o pensamento em Jesus. Seja Ele quem inspira e compõe os assuntos, porque de mim mesmo, do pobre rapaz Jair Presente, sei que estou presente, mas não sei se disse, nem se falei.


Jair

01 de novembro de 1975


PAPO NO DIÁLOGO


O título Papo Informal é a nossa homenagem ao Jair que estabeleceu na comunicação mediúnica a singular inovação, juntamente com o Augusto, de conversar com os jovens da Terra na linguagem que lhes é familiar. Jair, nessa mensagem, teve o cuidado de ressaltar que ao invés de dizer diálogo prefere falar em papo informal, despojando assim a sua comunicação de qualquer barreira que a poderia tornar mais refratária no entendimento com os jovens.

Reconheçamos que em Papo Informal, Jair Presente esnoba mesmo em citações, deixando, talvez, o próprio médium, abismado com tantas revelações, a despeito de familiarizado com as notícias do Além. Vamos na sequência da mensagem identificar as revelações do Jair, elucidando uma que outra passagem, para facilitar a compreensão do leitor.

No início, observamos várias referências ao recente lançamento do livro Jovens no Além. Assim, os números indicativos de (1) a (5) falam do livro, estando presente no dia da recepção dessa mensagem, em Uberaba, o Sr. Rolando Ramacciotti, citado pelo Jair como editor, logo nas primeiras linhas.

Depois surgem as citações, tão numerosas e ricas, que somente as podemos compreender com clareza à luz da afirmação espírita de que após a morte os mortos se comunicam com os vivos, em constante interligação entre o Além e a Terra.

Vejamos os dados:


1 a 5 — Ver explicações três parágrafos acima.


6 — Nosso prezado Manjaterra — Renato Manjaterra, administrador do Cemitério Parque Flamboyant, já identificado no episódio “Irineu ou Pirineu”. Quando diz Jair: “bom amigo, arrepiado e correto”, o Espírito do jovem campineiro confirma o que ouvimos do Sr. Manjaterra, de que diante das complicações ocorridas com o “caso Irineu”, realmente ficou arrepiado.


7 — Madre Galgani — Rosalina Galgani, mãe do Sérgio, amigo íntimo de Jair que considerava D. Rosalina como uma segunda mãe, daí dizer “Madre Galgani”.


8 — Do Jair primo, posso dizer que está bem — Fala Jair de seu primo Jair Linhace que também desencarnou na Praia Azul, muito próximo do local onde anteriormente Jair Presente havia falecido. Jair Linhace morreu com 29 anos, no dia 22 de junho de 1975. Residia em Jundiaí; casado com a Sra. Sueli Emple Linhace, era filho de Paulo e Letícia Linhace.


9 — Nossa irmã Elizabeth e nosso companheiro — Trata-se de Elizabeth Maria Franco Lacorte e João Lacorte, residentes em Campinas. Os filhos, muito crianças ainda, faleceram com intervalo de um mês e meio. São citados abaixo.


10 — Marcelo e o irmão — Marcelo Luiz Franco Lacorte, falecido aos 2 de agosto de 1975, na capital paulista, com 6 anos de idade e Eduardo Augusto Franco Lacorte que morreu logo depois, a 20 de outubro, com pouco mais de 2 anos.


11 — Nossa irmã Regina — Maria Regina Rodrigues de Castro, jovem que perdera o pai, Armando Rodrigues de Castro, em 15 de julho de 1975, em Campinas.


12 —…da cidade do prestimoso Coronel Norris — Refere-se Jair a Americana, fundada pelo Coronel Robert Norris, oficial norte-americano que veio para o Brasil no século passado, descontente com o desfecho da Guerra da Secessão, participante que era das milícias dos estados separatistas do sul, derrotados pelas forças constitucionais de Abrahan Lincoln.


13 — Luiz pede calma — Luiz Bianco Neto, falecido aos 18 anos na Via Anhanguera, próximo de Americana, no dia 16 de janeiro de 1972. Seus pais residem em Americana — o Dr. Jessyr Bianco, advogado e jornalista e a Sra. Jocelyna Medon Bianco. Curioso notar que a mãe do Luiz, D. Jocelyna, é conhecida pelo apelido de Joyce, de tal modo que poucos lhe sabem o nome correto. Como o Jair foi descobrir que D. Joyce se chama realmente Jocelyna não é fácil de entender…


14 — Irmão Medon — Eduardo da Silva Medon, avô materno do jovem Luiz Bianco Neto, falecido em Americana no dia 28 de dezembro de 1967.


15 — E o Amaury diz aos pais… — Amaury Aparecido Godoy Gallinari, estudante do 2.º ano de Medicina em Catanduva. Filho de Gelio Gallinari e de Alda Aparecida Godoy Gallinari. Amaury desencarnou com 19 anos, no dia 25 de junho de 1972, em acidente na Via Washington Luiz, próximo a Taquaritinga. Era um domingo e Amaury voltava de Americana, onde residia, para Catanduva, em atendimento aos compromissos universitários.


16 — O Jair descobriu a ex-namorada do Amaury em Catanduva… — É a Srta. Marisa Pelegrino que nos autorizou a citação de seu nome, para melhor esclarecimento do texto.


Permitam-nos lembrar duas tiradas sensacionais do Jair, nessa mensagem. A primeira é quando, valorizando o trabalho, ele diz que papo firme é “uma colher de chá de cadeira para um bule quilométrico de serviço”. E a segunda, palavras de otimismo aos pais saudosos dos filhos queridos mortos, encerra vigoroso ensinamento, a respeito da presença de Deus em nossas vidas. Fala Jair: “Aqui nos ensinam que a noite pode ser uma roupa de sombra para a Terra, mas o Sol não concorda com isso e toda manhã veste a Terra de luz, em nome de Deus”.

Essa vigorosa metáfora do Jair, pelo peso de sua significação mais profunda, nos leva a Vianna Moog que concentra a força de expressão semelhante no encerramento de seu ensaio sociológico, Um Rio Imita o Reno, ao falar de feixes de luz que “entravam em jorros pelas janelas, espancando as sombras que se tinham adensado naquela sala, havia pouco ainda, povoada de fantasmas”.


4


BILHETE DE IRMÃO


1 Querida Sueli, este bilhete é seu. Papo engrenado de irmão para irmã.

2 Peço a você: nada de fossa, tristeza já era para quem conhece o que conhecemos. Não se deixe levar na conversa furada que vem das bandas onde o vento encosta o lixo. Digo a você de orelhada. A vida não quer ferrugem, muito menos na cabeça.

3 Não quero dizer a você, irmã, para se fazer de gata borralheira, querendo o papel de cinderela. Não é isso; o negócio é viver, prestigiando a vida. Olhe prá frente. E quando o azarão apareça nalguma quina de casa ou rua, diga “joia” e mande a bola para diante.

4 Penso que você parece estar encontrando papai bravo, mas peço uma revisada; papai é amigo e amigo daqueles que significam ponta firme. Você sabe, irmã. Mundo novo é mundo velho. Terra é terra. E de qualquer modo somos Espíritos, catando progresso na estrada que, às vezes, pouca gente procura ver.

5 Não inveje a estrada de quem se diz livre para pensar; vejo muitas dondocas e goiabinhas empinando cotovelos. Lar mesmo, poucas irmãs estão desejando. E sem lar, a Terra é aquele mundo velho sem porteiras.

6 Espere o melhor. Resista. Aqui, viemos reconhecer muita cousa estragada nas mesas em que varamos tempo. Horas não somente vazias, mas claramente ocupadas de loucura e bobagem. Agradeçamos a Deus a casa em que nascemos. Recorde aquela peça engraçada: toda moça (na peça dizíamos donzela), toda moça tem um pai que é uma fera.

7 Creia, irmã, a jaula bem guardada vale mais que certos picadeiros. Sabemos. O circo é uma escola de bênçãos; o palhaço é um benfeitor, mas na arena da vida humana aparecem picadeiros de amargar. Não me acredite promovido a pregador. Continuo na minha, entretanto, isso não quer dizer que não estou procurando as melhoradas.

8 Você não precisa chegar aqui com as minhas necessidades. Não dê bola para certas badalações, nem se aflija se alguém considerar você idiota ou abobalhada. Mais livros, mais instruções, mais trabalho, mais dedicação ao próximo, curam qualquer fossa para que não estejamos fossilizados na ignorância. Você está com os nossos amigos do Grameiro; aquela comunidade está crescendo joia. Não se desligue do serviço e guenta as pontas com mamãe anjo e papai agarrado; tudo vai bem.

9 E olhe. Sexy é problema difícil que não deve impressionar a ninguém. Muito melhor aguardar soluções do Alto, através de silêncio e de prece, que montar banca de aflição por dentro de nós. Agir nas precipitadas nesse assunto não passa de entração canuda. Muita gente nossa, de nossas chamadas faixas etárias, pensa que resolveu nesse desafio, e apenas se transfere para a fumaça, quando não segue para o Viracopos, sem desejar ferir nosso aeroporto. E dos vidros tilintantes muitos amigos vão indo, vão indo até que acordam em pererecos e salseiros, com presença de errepê e cobertura de dona justa…

10 Sueli, casa é paz e amor, casa é bênção e segurança e, quando Deus permite, a gente aí deslancha de casa para fazer nova casa e viver no caprichado; largue a tristeza e deixe a sua esperança crescer.

11 Um abração para o David. Creio que fiz sentir ao amigão que ele não anda esquecido. David é aquele companheiro que fica na cuca, fazendo o pensamento jambrar na saudade, mas saudade para nós é certeza de que tudo dará certo.

12 Querida Sueli, receba com meu pai e nossos irmãos aquele carinho que não esmorece; guardo você com muitas cores de alegria no coração. Você, irmã, é nossa estrela, por isso é que não estou aqui para rachar o plá com você, mas sim para confirmar à sua confiança que o irmão está aí… E você sabe: Terra é isso aí: luta e mais luta a fim de que a gente aprenda a vencer para o bem.

13 Com você, irmã querida, um beijão e um tchau na moldura de muito carinho do seu


Jair

14 de fevereiro de 1976


ABRAÇO EM CAMPINAS


Conselhos à irmã, discussão de problemas que dizem respeito ao grupo familiar, muito mais do que isso, na página ora analisada, Jair faz observações francas e diretas aos jovens, como diz ele, “de nossas chamadas faixas etárias”.

Quando Jair fala em Viracopos, refere-se à região de Campinas, onde se circunscrevem irmãs nossas envolvidas nas tramas do sexo, mutilando as mais caras esperanças na edificação de lares felizes, com o sexo desvinculado da afeição e da afinidade e ligado a tristes consequências. Prudentemente, Jair ressalva que não se trata do Aeroporto, igualmente chamado de Viracopos.

O alegre Espírito de Jair termina a mensagem dando “um abração para o David”, complementando: “creio que fiz sentir ao amigão que ele não anda esquecido”. Esta referência ao David merece comentário. Quando Francisco Cândido Xavier esteve em Campinas, no dia 25 de janeiro de 1976, em Tarde de Autógrafos, solicitou a Sueli que localizasse o David Badur, a pedido do Jair que tinha um recado para ele.

Sueli não sabia quem era o David Badur e, consultando amigos do irmão, descobriu tratar-se do David Brihi Badur Jr., filho de David Brihi Badur e Henriqueta R. Vassão Badur, residentes em Campinas. Procurou o David que se encontrava viajando, mas os pais se interessaram em conhecer o Chico e foram até o Teatro Castro Mendes, onde se realizava a Tarde de Autógrafos. Chico lhes disse que o Jair queria cumprimentar o David porque aquele dia — 25 de janeiro — era o seu aniversário…

A pergunta que nos fazemos é a seguinte: Como pode o Chico chegar a uma cidade de 600 mil habitantes, perguntar à irmã do Jair Presente por um David de quem nem a família Presente se lembrou de momento, mas que acabou sendo identificado pelos outros amigos do Jair e que não ganhou o abraço de aniversário, por estar viajando??


Caio Ramacciotti



[1] Naturalmente por motivo de convicções religiosas os familiares do Joãozinho não desejaram identificar-se. Pelas mesmas razões deixamos também de oferecer detalhes a respeito do acidente.


Obs.: Para melhor compreensão de algumas expressões utilizadas pelo autor espiritual vide Glossário de gírias.


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